Fui amigo intimo do presidente Jânio Quadros. Frequentei durante anos a casa desse homem carismático, situada na rua Nove de Julho, número 880, em frente à Chácara Flora, no bairro paulistano Alto da Boa Vista. Ele me estimulava a escrever a sua biografia e chegou a enviar-me uma carta com estas palavras,no dia 15 de agosto de 1972:
“Se vai ser o meu biógrafo, asseguro-lhe que meus ossos dormirão em paz.”
Certa ocasião, após almoçar com ele e dona Eloá, sua esposa, eu lhe disse:
-Presidente, o senhor me pediu para eu ser o seu biógrafo, porém preciso obter uma informação que é essencial nesse caso, embora não ignore a sua aversão pelo assunto.
Jânio Quadros fitou-me de maneira firme e respondeu:
-Já sei, Fernandinho (ele me chamava pelo diminutivo, carinhosamente), você quer saber a causa da minha renúncia.
-Sim, presidente.
-Veja, meu caro, estamos num país onde ninguém renuncia a nada. Apenas D. Pedro I, no ano de 1831, renunciou em favor do seu filho, D. Pedro de Alcântara, então com cinco anos de idade. E note, D. Pedro I não era brasileiro... Aqui todos se aferram aos seus cargos, às suas posições, de modo até feroz. O vereador, o deputado, o prefeito, o governador, o secretário de Estado, o ministro, o presidente da República, agarram-se aos seus cargos como os cães famélicos se atiram a um pedacinho de osso coberto de pouca carne. Perder o cargo, para essa gente, é como morrer, tornar-se vítima de uma tragédia sangrenta. E no entanto eu apresentei a minha renúncia ao Congresso, no dia 25 de agosto de 1961, depois de menos de sete meses de governo. Renunciei ao cargo supremo, num país, repito, onde ninguém renuncia a nada, a nada!
Nesse momento o rosto de Jânio ficou bem vermelho. Falava exaltado. Temendo pela sua saúde, pronunciei estas palavras:
-Presidente, se este assunto o desagrada, eu...
Ele me interrompeu:
-Não, não, você merece ouvir o que estou dizendo. Isto me faz bem, me alivia.
Mais sereno, Jânio prosseguiu, após tomar um gole de uísque:
-Eu havia prometido, a milhões dos meus eleitores, travar um combate ininterrupto ao clientelismo, ao empreguismo, à ineficiência administrativa, à corrupção endêmica e à burocracia obsoleta. Ansiei por alcançar, neste sentido, a minha total independência em relação a grupos e a partidos. E não foi sem dificuldades que consegui efetuar o corte dos subsídios às importações de trigo e petróleo, a fim de atrair os empréstimos do Exterior à nossa combalida economia. Também transpus barreiras, quando optei pela neutralidade do Brasil em plena Guerra Fria. Assacaram contra mim a pecha de comunista, por reatar as relações diplomáticas com a União Soviética e por não aderir ao boicote a Cuba de Fidel Castro, promovido pelos Estados Unidos do governo Kennedy. Resumindo, eu, como presidente da República, achava-me com as mãos atadas, incapaz de cumprir as solenes promessas que fizera ao povo. Não dispunha de maioria no Congresso, o PSB e o PTB dominavam a Câmara e o Senado, opunham-se à minha política clara, sadia, regeneradora.
Jânio colocou a sua mão direita no meu ombro e outra vez de fisionomia rubra, agitado, com o cabelo caindo na testa, emitiu esta frase:
-Ninguém pode governar o Brasil se não tiver o apoio maciço do Congresso, ninguém!
O rosto dele parecia estar congestionado e os seus olhos despendiam fagulhas. No intento de acalmá-lo, desviei a conversa para outro assunto.
De fato nenhum homem ou mulher pode governar o nosso país se não tiver o apoio da Câmara Federal e do Senado. Eis aí o drama da presidenta Dilma Rousseff. Devido aos compromissos políticos que ela assumiu, para receber o indispensável apoio do Congresso e com este apoio dirigir a nação, Dilma nomeou sete ministros no primeiro ano do seu mandato e todos acabaram sendo demitidos, ou por corrupção, ou por atos reprováveis.
Antonio Palocci, ministro da Casa Civil, foi demitido no dia 7 de junho de 2011, pelo motivo de não explicar como multiplicou o seu patrimônio, entre os anos de 2006 e 2010.
Alfredo Nascimento, ministro do Transportes, foi demitido no dia 6 de julho do mesmo ano, por causa de um esquema de superfaturamento em obras públicas.
Nelson Jobim, ministro da Defesa, foi demitido no dia 7 do mês seguinte, depois de chamar os integrantes do governo de idiotas.
Wagner Rossi, ministro da Agricultura, foi demitido no dia 17 do mesmo mês de agosto, por atos de corrupção.
Pedro Novais, ministro do Turismo, foi demitido no dia 14 do mês seguinte, sob a acusação de usar o dinheiro dos cofres públicos em beneficio próprio.
Orlando Silva, ministro do Esporte, foi demitido no dia 26 de outubro de 2011, por se encontrar envolvido diretamente num esquema de desvio de recursos do programa Segundo Tempo.
Carlos Lupi, ministro do Trabalho, foi demitido no dia 4 de dezembro de 2011, acusado, entre outras coisas, de desvio das verbas de ONGs e de acumulo de cargos na Câmara dos Deputados e na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Este ex-ministro declarou: só sairia do cargo se fosse “abatido à bala”.
Como uma professora que expulsa, da sala de aula, sete maus alunos, a presidenta Dilma Rousseff enxotou do seu governo sete ministros...
Ela, a ex-guerrilheira, é dinâmica, inteligente, capacitada, mas para governar o Brasil de modo eficaz, precisa libertar-se, no decorrer do seu mandato, dos compromissos partidários. Dilma só deveria nomear pessoas de comprovada honestidade, não indicadas por qualquer partido, nem pelo PT, nem pelo PDT, nem pelo PMDB, nem pelo PSDB, enfim, negar-se a atender os pedidos dos líderes das várias agremiações políticas. Se estas lhe retirarem o apoio, movidas pela vingança, e Dilma ficar com minoria no Congresso, apesar de submeter a ele a aprovação de medidas acertadas, o povo a apoiará entusiasticamente, obrigando o Poder Legislativo da República a prestigiar o seu governo.
Presidenta Dilma: mande para os confins do Judas os líderes desses partidos!
_______________________________________________________
Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, cuja 3ª edição foi lançada pela Editora Novo Século
domingo, 18 de dezembro de 2011
domingo, 11 de dezembro de 2011
QUATRO IMUNDOS INSULTADORES DE JESUS
Jesus Cristo continua a ser ultrajado. Já mostrei aqui, num dos meus bate-papos, os disparates da “teóloga” Marcella Althaus – Reid, professora de Ética Cristã e Teologia Prática na Universidade de Edimburgo. Obcecada por sexo, essa mulher de cara obscena, assustadora, cara que é um verdadeiro breviário contra a luxúria, defecou a seguinte blasfêmia, numa entrevista concedida à repórter Eliane Brum, da revista “Época”:
“Que sabemos da sexualidade de Jesus? Nada. O que dizem os Evangelhos? Dizem que foi circuncidado... Então por que não assumir que Jesus teria outra sexualidade? E qual teria sido? Busco elaborar um Bi-Cristo.”
Como é nojenta essa criatura! Marcella causa-me ânsia de vômito. O diabo já deve ter reservado uma sala especial para ela, lá no Inferno, onde ele a espera com um comprido ferro em brasa na mão, a fim de espetá-lo naquela sua murcha parte traseira, chamada vulgarmente de bumbum...
Bem antes da imunda Marcella, dois imundos escritores insultaram Cristo. Refiro-me a Richard Leigh e Michael Raigent. Ambos, no livro “Holy Blood, Holy Grail”, publicado em 1982, descrevem Jesus como um revolucionário inescrupuloso, que forjou a “lenda” da sua crucificação e fugiu com Maria Madalena para o sul da França.
Eu acredito, juro: Richard e Michael também estão sendo aguardados lá no Inferno, pelo impaciente rabudo. Este vai enfiar longuíssimos ferros em brasa no bumbum dos dois. Ferros que sairão nas suas cabeças, enquanto uma negra e sufocante fumaça se evolará dos seus corpos assados como churrasco...
A última canalhice infligida a Jesus Cristo se acha no livro “O Código Da Vinci”, do espertalhão norte-americano Dan Brown. Lançada em março de 2003, mais de 15 milhões de exemplares dessa obra já foram vendidos. Sem apresentar nenhum documento idôneo, o vigarista Dan Brown quer provar que a Igreja Católica foi fundada sobre uma mentira, em relação à vida de Jesus, porque o filho de Deus se casou com Maria Madalena, fugiu da Palestina e teve filhos!
O sucesso do livro “O Código Da Vinci” me convenceu de uma coisa: a humanidade não presta. Qualquer escritor que consiga inventar uma história falsa e engenhosa sobre Cristo, poderá lançar um livro capaz de lhe render milhões de dólares. E aos que negam a existência histórica de Jesus, eu afirmo: a “Bíblia” é por si mesma um autêntico documento histórico da existência do Salvador. Os Evangelhos são coincidentes. Respondam-me, ateus: o Cristianismo surgiu do nada? Existe o efeito sem causa?
Antes que me esqueça: o Pé-de-Gancho, lá do Inferno, também já preparou outro ferro em brasa, para o enfiar na fofa ou dura região glútea do blasfemo Dan Brown, autor do conto-do-vigário “O Código Da Vinci”.
“Que sabemos da sexualidade de Jesus? Nada. O que dizem os Evangelhos? Dizem que foi circuncidado... Então por que não assumir que Jesus teria outra sexualidade? E qual teria sido? Busco elaborar um Bi-Cristo.”
Como é nojenta essa criatura! Marcella causa-me ânsia de vômito. O diabo já deve ter reservado uma sala especial para ela, lá no Inferno, onde ele a espera com um comprido ferro em brasa na mão, a fim de espetá-lo naquela sua murcha parte traseira, chamada vulgarmente de bumbum...
Bem antes da imunda Marcella, dois imundos escritores insultaram Cristo. Refiro-me a Richard Leigh e Michael Raigent. Ambos, no livro “Holy Blood, Holy Grail”, publicado em 1982, descrevem Jesus como um revolucionário inescrupuloso, que forjou a “lenda” da sua crucificação e fugiu com Maria Madalena para o sul da França.
Eu acredito, juro: Richard e Michael também estão sendo aguardados lá no Inferno, pelo impaciente rabudo. Este vai enfiar longuíssimos ferros em brasa no bumbum dos dois. Ferros que sairão nas suas cabeças, enquanto uma negra e sufocante fumaça se evolará dos seus corpos assados como churrasco...
A última canalhice infligida a Jesus Cristo se acha no livro “O Código Da Vinci”, do espertalhão norte-americano Dan Brown. Lançada em março de 2003, mais de 15 milhões de exemplares dessa obra já foram vendidos. Sem apresentar nenhum documento idôneo, o vigarista Dan Brown quer provar que a Igreja Católica foi fundada sobre uma mentira, em relação à vida de Jesus, porque o filho de Deus se casou com Maria Madalena, fugiu da Palestina e teve filhos!
O sucesso do livro “O Código Da Vinci” me convenceu de uma coisa: a humanidade não presta. Qualquer escritor que consiga inventar uma história falsa e engenhosa sobre Cristo, poderá lançar um livro capaz de lhe render milhões de dólares. E aos que negam a existência histórica de Jesus, eu afirmo: a “Bíblia” é por si mesma um autêntico documento histórico da existência do Salvador. Os Evangelhos são coincidentes. Respondam-me, ateus: o Cristianismo surgiu do nada? Existe o efeito sem causa?
Antes que me esqueça: o Pé-de-Gancho, lá do Inferno, também já preparou outro ferro em brasa, para o enfiar na fofa ou dura região glútea do blasfemo Dan Brown, autor do conto-do-vigário “O Código Da Vinci”.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
O INGLÊS QUE ODIAVA O SEU NARIZ
Sei que várias pessoas não acham quase nenhuma utilidade no nariz. Monteiro Lobato, por exemplo, disse uma ocasião:
-Ora, ele só presta para servir de cavalo aos óculos!
Mas isto não é verdade, porque o nariz do homem tem a grande capacidade de destruir os micróbios quê por ele passam. É um fato científico.
O norte-americano Henry Lewis obteve estrondosas vitórias jogando bilhar com a ponta do nariz...
Gogol tem um personagem, chamado Kovaliev, que perde o nariz e após muitas peripécias o encontra. Diversos discípulos de Freud vêem na novela “O nariz” mais do que uma sátira. Descobrem nessa obra o reflexo caricaturesco da frustração sexual do autor de "Taras Bulba”.
Gregório de Matos cantou um
“Nariz de embono,
Com tal sacada,
Que entra na escada,
Duas horas primeiro que seu dono.”
Bernardo Guimarães divulgou no Rio de Janeiro, em 1858, o seu poema “O nariz perante os poetas", no qual faz esta pergunta:
“Se bem me lembro, a Bíblia em qualquer parte
Certo nariz ao Líbano compara;
Se tal era o nariz,
De que tamanho seria a cara?!...”
Alf Smith foi um inglês que sentiu pelo seu nariz uma repulsa sem limites. A sua tragédia iniciou-se em 1950, quando ele tomou parte numa briga, saindo dela com o nariz quebrado e rasgado por uma navalha. Smith adquiriu um aspecto tão grotesco que chegava a ter vergonha de sair de casa. Ficou obcecado pelo seu nariz em pandarecos. Certo dia resolveu procurar um especialista em cirurgia plástica. Submeteu-se a uma operação e ganhou novo nariz. Mas Smith não se sentiu satisfeito. O segundo nariz lhe desagradava enormemente. Voltou ao cirurgião e pediu-lhe outro, que estivesse mais de acordo com os traços do seu rosto. Foi feita uma segunda intervenção cirúrgica, que também surtiu o mesmo efeito negativo. Enraivecido, negou-se a pagar a operação...
Smith viveu torturado, num desolador estado de abatimento moral. Decidiu então consultar o melhor especialista britânico na matéria. Este, por setenta mil dólares, confeccionou-lhe um nariz invejável, digno de um deus grego. Smith, no entanto, ainda ficou aborrecido. Puxou uma pistola e apontando-a para o cirurgião, berrou:
-Quero outro nariz ou o mato!
A polícia prendeu-o e foi condenado a dez anos de prisão, dos quais cumpriu apenas um.
Conheço narizes de todos os tipos e condições sociais: petulantes, humildes, orgulhosos, plebeus, aristocratas.
O nariz possui tal força sugestiva que associamos seu aspecto aos sentimentos do dono. Um nariz pálido, não sei porquê, parece exprimir azedume, inveja. O arrebitado fornece impressão de jovialidade. O esguio, sugere um intelecto brilhante, inclinado à ironia.
Diversas caras estão com o nariz errado. Um narigudo tímido, medroso, em vez de ter um órgão nasal alongado, agressivo, devia ganhar um outro que fosse bem menor. Não se harmoniza ainda menos o nariz purpúreo, sanguíneo, nas feições impassíveis de uma pessoa fria, apática, carecida de entusiasmos.
_______________________________________________________
Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, cuja 3ª edição foi lançada pela Editora Novo Século
-Ora, ele só presta para servir de cavalo aos óculos!
Mas isto não é verdade, porque o nariz do homem tem a grande capacidade de destruir os micróbios quê por ele passam. É um fato científico.
O norte-americano Henry Lewis obteve estrondosas vitórias jogando bilhar com a ponta do nariz...
Gogol tem um personagem, chamado Kovaliev, que perde o nariz e após muitas peripécias o encontra. Diversos discípulos de Freud vêem na novela “O nariz” mais do que uma sátira. Descobrem nessa obra o reflexo caricaturesco da frustração sexual do autor de "Taras Bulba”.
Gregório de Matos cantou um
“Nariz de embono,
Com tal sacada,
Que entra na escada,
Duas horas primeiro que seu dono.”
Bernardo Guimarães divulgou no Rio de Janeiro, em 1858, o seu poema “O nariz perante os poetas", no qual faz esta pergunta:
“Se bem me lembro, a Bíblia em qualquer parte
Certo nariz ao Líbano compara;
Se tal era o nariz,
De que tamanho seria a cara?!...”
Alf Smith foi um inglês que sentiu pelo seu nariz uma repulsa sem limites. A sua tragédia iniciou-se em 1950, quando ele tomou parte numa briga, saindo dela com o nariz quebrado e rasgado por uma navalha. Smith adquiriu um aspecto tão grotesco que chegava a ter vergonha de sair de casa. Ficou obcecado pelo seu nariz em pandarecos. Certo dia resolveu procurar um especialista em cirurgia plástica. Submeteu-se a uma operação e ganhou novo nariz. Mas Smith não se sentiu satisfeito. O segundo nariz lhe desagradava enormemente. Voltou ao cirurgião e pediu-lhe outro, que estivesse mais de acordo com os traços do seu rosto. Foi feita uma segunda intervenção cirúrgica, que também surtiu o mesmo efeito negativo. Enraivecido, negou-se a pagar a operação...
Smith viveu torturado, num desolador estado de abatimento moral. Decidiu então consultar o melhor especialista britânico na matéria. Este, por setenta mil dólares, confeccionou-lhe um nariz invejável, digno de um deus grego. Smith, no entanto, ainda ficou aborrecido. Puxou uma pistola e apontando-a para o cirurgião, berrou:
-Quero outro nariz ou o mato!
A polícia prendeu-o e foi condenado a dez anos de prisão, dos quais cumpriu apenas um.
Conheço narizes de todos os tipos e condições sociais: petulantes, humildes, orgulhosos, plebeus, aristocratas.
O nariz possui tal força sugestiva que associamos seu aspecto aos sentimentos do dono. Um nariz pálido, não sei porquê, parece exprimir azedume, inveja. O arrebitado fornece impressão de jovialidade. O esguio, sugere um intelecto brilhante, inclinado à ironia.
Diversas caras estão com o nariz errado. Um narigudo tímido, medroso, em vez de ter um órgão nasal alongado, agressivo, devia ganhar um outro que fosse bem menor. Não se harmoniza ainda menos o nariz purpúreo, sanguíneo, nas feições impassíveis de uma pessoa fria, apática, carecida de entusiasmos.
_______________________________________________________
Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, cuja 3ª edição foi lançada pela Editora Novo Século
domingo, 30 de outubro de 2011
LIRA NETO? NÃO, TIRA NETO
Declarei no programa “Quebrando a banca”, no Canal 9, TV Aberta, do qual sou produtor e participante, e também no mesmo programa transmitido para todo o país pela Rede Brasil de Televisão, que o senhor Lira Neto deve passar a se chamar Tira Neto, pois nas suas biografias capengas de José de Alencar e do Padre Cícero, ele só soube usar a cola e a tesoura, isto é, essas biografias apresentam mais de 80% de aspas.
O senhor Lira Neto vive atacando o meu livro Getúlio Vargas e o seu tempo. Pura inveja gorda desse perito na arte de entupir as suas desastradas biografias com aspas. Eu lhe dei, portanto, de maneira justa, os apelidos de Aspudo e de Tira Neto.
Qualquer página dos livros dele serve de exercício para a correção de textos. Tira Neto não para de cometer gravíssimos erros de português. Já anotei mais de duzentos nos seus aleijões biográficos. Eu o aconselho: senhor Tira Neto, em vez de ser biografocida (assassino de biografias) abra uma fábrica de cola e uma fábrica de tesouras. Assim poderá recortar e colar os textos alheios com mais facilidade...
A biografia de José de Alencar, parida por Tira Neto, intitulada O inimigo do rei, além de ser confusa, mal escrita, tediosa, está repleta de disparates. Vejam este na página 231:
“...Petrópolis, onde o clima da floresta tropical deveria ajudar a restituir-lhe a energia perdida.”
Absurdo! Ele assegurou: Petrópolis tem o clima de floresta tropical! Tira Neto, o senhor estava bêbado, quando vomitou esta cretinice? Então o clima ameno da Cidade Imperial, um dos melhores do Brasil, é o da floresta amazônica? Vá depressa aprender Climatologia, senhor Tira Neto, o ramo da Geografia Física que estuda os climas do nosso planeta e os fenômenos com eles relacionados.
Os erros de natureza histórica abundam no livro O inimigo do rei, a pior biografia de José de Alencar, quase cem por cento inferior às biografias do autor de Iracema, escritas por Raimundo de Menezes, Oswaldo Orico e Luís Viana Filho. Contemplem este grave erro do Tira Neto, na página 81 da sua péssima biografia do escritor cearense:
“Em meio aos conchavos e viradas de mesa que caracterizariam todo o segundo império”...
Ora, como eu já salientei no meu livro As sandálias de Cristo, o Segundo Império nunca existiu no Brasil. O Império aqui foi apenas um, tendo havido, sim, o Segundo Reinado, o de D. Pedro II (1840-1889), continuação do Primeiro Reinado, de D. Pedro I (1822-1831), após a Regência Trina Provisória, de 1831; a Regência Trina Permanente, de 1831 a 1835; e a Regência Una, de 1835 a 1840. Esta última exercida pelo padre Diogo Antônio Feijó e depois por Pedro de Araújo Lima, o Visconde de Olinda.
Que erro, o do Tira Neto! Senhor biografocida (assassino de biografias, repito), adquira mais cultura, deixe de ser apedeuta, volte a ler os compêndios de História do Brasil, se é que de fato já os leu. Aspudo, procure se instruir, largue essa mania de tomar porres de aspas e memorize este pensamento do estadista inglês Benjamin Disraeli, inserido no seu livro Sybil, or the two nations, publicado em 1847:
“Ter consciência da própria ignorância é um grande passo em direção ao saber.”
(“To be conscious that you are ignorant is a great step to knowledge”)
Os erros de português se multiplicam no livro do Aspudo sobre José de Alencar. Eis um, da página 217:
“...a primeira edição, de mil exemplares, esgotou rapidamente”.
Correção: o verbo aí é pronominal, esgotou-se. Sem o pronome se, parece que a primeira edição esgotou a paciência do leitor...
Erro de atração pronominal do Tira Neto na página 275 do seu caótico livreco:
“Alencar respondia às críticas dizendo-lhe que o cargo de ministro da Justiça dava-lhe o pleno comando...”
Aspudo, aprenda: o que atrai o pronome lhe. Olhe esta frase correta do José de Alencar, vítima do senhor, pois o seu livro sobre ele é horroroso, um atentado contra o romancista de As minas de prata:
“...pedir ao velho que lhes ensine”...
Leia também, Aspudo, as seguintes palavras do insigne escritor luso Antônio Feliciano de Castilho:
“... por isso mesmo que lhes faleceu a força e a arte.”
Quer mais um exemplo, Aspudo?
Aí vai, é uma frase do padre Antônio Vieira, outro expoente da rica literatura portuguesa:
“Respondeu Apolo que, dali a sete dias, lhes concederia o que pedimos”.
Escreve mal, muito mal, o Tira Neto. A sua prosa é cheia de assonâncias, de palavras que rimam entre si, como neste trecho da página 199 do chatíssimo O inimigo do rei:
“Quando a crítica espinafrava ou silenciava sobre sua obra literária, José de Alencar ameaçava... Quando imaginava... proclamava... O irascível Alencar oscilava...”
É o estilo AVA-AVA-AVA-AVA. Creio que Tira Neto é um fanático admirador da atriz americana Ava Gardner...
Na página 233 encontrei isto no seu livro-aborto:
“... Rio de Janeiro de então.”
Puxa, eu não sabia que a Cidade Maravilhosa tem um dentão! Ela é uma tigresa faminta? Qual é o tamanho desse dentão, ò Lira Neto? Mede dois ou cinco metros de comprimento?
Escritor fraco, anêmico, a sua lengalenga sobre José de Alencar se mostra abarrotada de frases batidas, surradas, de expressões comuns tão comuns como é comum o sal nas águas oceânicas e a areia nas praias no Nordeste:
“... dizia não morrer de amores”... (página 17); “o clima era de profundo pesar” (página 79); “tentava defender-se da maré de acusações” (página 80); “crítica contundente” (página 116); “território praticamente inexplorado” (página 180); “fora fragorosamente derrotado” (página 194); “respeitável mãe de família” (página 229); “notório solteirão” (página 230); “no apagar das luzes do ano anterior” (página 302); “realidade brutal” (página 380).
Tira Neto, na página 388 da sua babilônica descrição da vida de José de Alencar, agradece a várias pessoas que o ajudaram a gerar o seu monstrengo biográfico. Ele devia agradecer também à tesoura e à cola, pois a primeira lhe permitiu recortar centenas de trechos alheios e a segunda a grudá-los na sua obra palavrosa, inchada de erros de português, de informações desnecessárias, supérfluas, onde as aspas se assemelham a uma devastadora praga de insetos hematófagos.
O senhor Lira Neto vive atacando o meu livro Getúlio Vargas e o seu tempo. Pura inveja gorda desse perito na arte de entupir as suas desastradas biografias com aspas. Eu lhe dei, portanto, de maneira justa, os apelidos de Aspudo e de Tira Neto.
Qualquer página dos livros dele serve de exercício para a correção de textos. Tira Neto não para de cometer gravíssimos erros de português. Já anotei mais de duzentos nos seus aleijões biográficos. Eu o aconselho: senhor Tira Neto, em vez de ser biografocida (assassino de biografias) abra uma fábrica de cola e uma fábrica de tesouras. Assim poderá recortar e colar os textos alheios com mais facilidade...
A biografia de José de Alencar, parida por Tira Neto, intitulada O inimigo do rei, além de ser confusa, mal escrita, tediosa, está repleta de disparates. Vejam este na página 231:
“...Petrópolis, onde o clima da floresta tropical deveria ajudar a restituir-lhe a energia perdida.”
Absurdo! Ele assegurou: Petrópolis tem o clima de floresta tropical! Tira Neto, o senhor estava bêbado, quando vomitou esta cretinice? Então o clima ameno da Cidade Imperial, um dos melhores do Brasil, é o da floresta amazônica? Vá depressa aprender Climatologia, senhor Tira Neto, o ramo da Geografia Física que estuda os climas do nosso planeta e os fenômenos com eles relacionados.
Os erros de natureza histórica abundam no livro O inimigo do rei, a pior biografia de José de Alencar, quase cem por cento inferior às biografias do autor de Iracema, escritas por Raimundo de Menezes, Oswaldo Orico e Luís Viana Filho. Contemplem este grave erro do Tira Neto, na página 81 da sua péssima biografia do escritor cearense:
“Em meio aos conchavos e viradas de mesa que caracterizariam todo o segundo império”...
Ora, como eu já salientei no meu livro As sandálias de Cristo, o Segundo Império nunca existiu no Brasil. O Império aqui foi apenas um, tendo havido, sim, o Segundo Reinado, o de D. Pedro II (1840-1889), continuação do Primeiro Reinado, de D. Pedro I (1822-1831), após a Regência Trina Provisória, de 1831; a Regência Trina Permanente, de 1831 a 1835; e a Regência Una, de 1835 a 1840. Esta última exercida pelo padre Diogo Antônio Feijó e depois por Pedro de Araújo Lima, o Visconde de Olinda.
Que erro, o do Tira Neto! Senhor biografocida (assassino de biografias, repito), adquira mais cultura, deixe de ser apedeuta, volte a ler os compêndios de História do Brasil, se é que de fato já os leu. Aspudo, procure se instruir, largue essa mania de tomar porres de aspas e memorize este pensamento do estadista inglês Benjamin Disraeli, inserido no seu livro Sybil, or the two nations, publicado em 1847:
“Ter consciência da própria ignorância é um grande passo em direção ao saber.”
(“To be conscious that you are ignorant is a great step to knowledge”)
Os erros de português se multiplicam no livro do Aspudo sobre José de Alencar. Eis um, da página 217:
“...a primeira edição, de mil exemplares, esgotou rapidamente”.
Correção: o verbo aí é pronominal, esgotou-se. Sem o pronome se, parece que a primeira edição esgotou a paciência do leitor...
Erro de atração pronominal do Tira Neto na página 275 do seu caótico livreco:
“Alencar respondia às críticas dizendo-lhe que o cargo de ministro da Justiça dava-lhe o pleno comando...”
Aspudo, aprenda: o que atrai o pronome lhe. Olhe esta frase correta do José de Alencar, vítima do senhor, pois o seu livro sobre ele é horroroso, um atentado contra o romancista de As minas de prata:
“...pedir ao velho que lhes ensine”...
Leia também, Aspudo, as seguintes palavras do insigne escritor luso Antônio Feliciano de Castilho:
“... por isso mesmo que lhes faleceu a força e a arte.”
Quer mais um exemplo, Aspudo?
Aí vai, é uma frase do padre Antônio Vieira, outro expoente da rica literatura portuguesa:
“Respondeu Apolo que, dali a sete dias, lhes concederia o que pedimos”.
Escreve mal, muito mal, o Tira Neto. A sua prosa é cheia de assonâncias, de palavras que rimam entre si, como neste trecho da página 199 do chatíssimo O inimigo do rei:
“Quando a crítica espinafrava ou silenciava sobre sua obra literária, José de Alencar ameaçava... Quando imaginava... proclamava... O irascível Alencar oscilava...”
É o estilo AVA-AVA-AVA-AVA. Creio que Tira Neto é um fanático admirador da atriz americana Ava Gardner...
Na página 233 encontrei isto no seu livro-aborto:
“... Rio de Janeiro de então.”
Puxa, eu não sabia que a Cidade Maravilhosa tem um dentão! Ela é uma tigresa faminta? Qual é o tamanho desse dentão, ò Lira Neto? Mede dois ou cinco metros de comprimento?
Escritor fraco, anêmico, a sua lengalenga sobre José de Alencar se mostra abarrotada de frases batidas, surradas, de expressões comuns tão comuns como é comum o sal nas águas oceânicas e a areia nas praias no Nordeste:
“... dizia não morrer de amores”... (página 17); “o clima era de profundo pesar” (página 79); “tentava defender-se da maré de acusações” (página 80); “crítica contundente” (página 116); “território praticamente inexplorado” (página 180); “fora fragorosamente derrotado” (página 194); “respeitável mãe de família” (página 229); “notório solteirão” (página 230); “no apagar das luzes do ano anterior” (página 302); “realidade brutal” (página 380).
Tira Neto, na página 388 da sua babilônica descrição da vida de José de Alencar, agradece a várias pessoas que o ajudaram a gerar o seu monstrengo biográfico. Ele devia agradecer também à tesoura e à cola, pois a primeira lhe permitiu recortar centenas de trechos alheios e a segunda a grudá-los na sua obra palavrosa, inchada de erros de português, de informações desnecessárias, supérfluas, onde as aspas se assemelham a uma devastadora praga de insetos hematófagos.
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Fernando Jorge, comentando os dois Livros de Tira Neto.
Declarei no programa “Quebrando a banca”, no Canal 9, TV Aberta e no mesmo programa da Rede Brasil de televisão, transmitido para todo o país, que o Sr. Lira Neto deve passar a se chamar Tira Neto, pois nas suas biografias capengas de José de Alencar e do Padre Cícero, ele só soube usar a cola e a tesoura, isto é, essas biografias apresentam mais de 80% de aspas.
O Sr. Lira Neto é perito na arte de entupir as suas desastradas biografias com aspas. Eu lhe dei portanto os justos apelidos de Aspudo e de Tira Neto.
Qualquer página dos seus livros serve de exercício para a correção de textos. Tira Neto não pára de cometer erros gravíssimos de português. Já anotei de mais 200 nos seus aleijões biográficos.
Eu o aconselho a em vez de ser biografocida (assassino de biografias) a abrir uma fábrica de cola e também uma fábrica de tesouras. Assim poderá recortar e colar os textos alheios com mais facilidade.
O Sr. Lira Neto é perito na arte de entupir as suas desastradas biografias com aspas. Eu lhe dei portanto os justos apelidos de Aspudo e de Tira Neto.
Qualquer página dos seus livros serve de exercício para a correção de textos. Tira Neto não pára de cometer erros gravíssimos de português. Já anotei de mais 200 nos seus aleijões biográficos.
Eu o aconselho a em vez de ser biografocida (assassino de biografias) a abrir uma fábrica de cola e também uma fábrica de tesouras. Assim poderá recortar e colar os textos alheios com mais facilidade.
domingo, 25 de setembro de 2011
COMO AS SOGRAS SÃO CALUNIADAS!
Conta Augusto de Lima que foi visitar, num dos arrabaldes de Ouro Preto, o romancista Bernardo Guimarães. O autor de A escrava Isaura vivia os seus últimos anos quase na miséria, numa deprimente e humilhante pobreza. Queixando-se da sorte, lamentou:
- O meu destino é de tal ordem, meu amigo, que a minha sogra tem o nome de Felicidade!...
Estaria sendo injusto o iniciador do sertanismo no romance nacional? Não compreenderia sua sogra, como Leandro, personagem de Aluisio de Azevedo? Afirma um dito popular, registrado por Perestrello da Câmara na sua Collecção de proverbios, adagios, rifãos, anexins, sentenças moraes e idiotismos da lingoa portuguesa, que “amizade de genro é sol de inverno”.
Pobres criaturas! Corno são caluniadas! Poucos sabem compreende-las. Tanto os povos selvagens como os civilizados vem revelando, através dos séculos, uma invencível sografobia...
Os cafres jamais vivem com elas. Nem lhe pronunciam, muito menos, o nome. Os índios omáguas, da América do Norte, não permitiam que tivessem comunicação direta com os genros. Em Minahaça era proibido, a estes, mencionar o nome da sogra. Se, por distração, o nome lhes escapava, cuspiam logo no solo, exclamando:
- Enganei-me!
Os espanhóis costumam soltar este provérbio:
Suegra, ni aun de azúcar es buena.
Mas nem todas sogras são inimigas íntimas...
Edgar Allan Poe teve em Marie Clemm, mãe de sua esposa, um anjo tutelar. A senhora Clemm lhe arranjava dinheiro quando não tinha um níquel, consolava-o nas desventuras, fazia-o adormecer perpassando a mão rechonchuda pela sua atormentada fronte. O poeta amou-a como se fosse sua progenitora. Numa carta, das últimas que escreveu, confessou:
“Você tem sido tudo... tudo para mim, querida e sempre amada mãe, a mais querida e verdadeira amiga."
E a mãe da meiga Virgínia, depois que o autor de "O Corvo" desapareceu, disse um dia:
"Jamais gostava de ficar sozinho, e eu costumava sentar-me com ele, muitas vezes até as quatro horas da madrugada. Ele, na sua mesa, escrevendo, e eu cochilando na minha cadeira. Quando estava compondo 'Eureka', costumávamos passear para lá e para cá no jardim, abraçados um ao outro, até ficar eu tão cansada, a ponto de não poder mais andar. Ele parava alguns minutos e me explicava as suas ideias, perguntando-me se o entendia. Sempre me sentava perto dele quando estava escrevendo, e dava-lhe uma xícara de café quente, de uma ou de duas em duas horas. Em casa era simples e afetuoso como uma criança e durante todos os anos que viveu comigo, não me recordo de uma só noite em que tenha deixado de vir beijar sua ‘mãe’, como me chamava, antes de ir para a cama."
Que dirão, lendo este sentimental depoimento, os inimigos das sogras?
Excelente sogra, não podemos deixar de lembrar, foi a imperatriz Maria Teresa da Áustria, que persuadiu sua filha, a leviana Maria Antonieta, a respeitar o augusto e bonachão marido, Luís XVl. Chegou mesmo, esta dedicada sogra, a passar severa descompostura na rainha de França, ao ver que esta se havia referido ao esposo de maneira irônica:
“Que linguagem! – exclama a austríaca numa carta dirigida à filha – Le pauvre homme! Onde estão o respeito e a gratidão por tanta bondade?”.
Terêncio escreveu no ano 165 antes de Cristo, uma comédia chamada Hecyra, na qual mostra uma sogra bondosa, simpática, ideal, cujo nome é Sostrata. Talvez, por causa disto, sua peça não obteve sucesso ao ser representada...
Goldoni, na comédia La famiglia dell’ antiquario, explorou o antagonismo de uma sogra com a nora. A sogra "satânica" chama-se Isabella e a nora "seráfica" Doralice...
Há uma curiosa narrativa de Salomão Jorge, da qual me permito, com ousadia, fazer uma transposição literária. Narra que certo califa recebeu como presente de um soberano chinês um estranho metal. Segundo afirmava o ofertante, este não se derretia de nenhum modo. Não existia fornalha capaz de torná-lo menos frio, mais inconsistente. Era um metal único na terra. O califa fez diversas experiências e verificou que realmente possuía natureza inamolgável. Não obstante, mandou apregoar por todo o país que se alguém conseguisse alterá-Io, ainda que fosse de maneira mínima, ganharia três valiosos prêmios. O primeiro era uma cornucópia de bronze, contendo mil rubis mais rubros do que as sedas de Damasco. O segundo, um palácio de alabastro, coberto de topázios, com portas de ouro, todo pavimentado de esmeraldas, onde num lago de águas verdes e nenúfares de flores amarelas, deslizavam peixes azuis e prateados. O terceiro, uma dançarina circassiana, de lábios mais vermelhos que os abrunhos escarlates, cútis tão alva como o lódão sagrado dos egípcios, e olhos merencórios, à semelhança de uma ave cujas asas estivessem partidas
Surgiram três candidatos. O califa mandou colocar o metal em cima de uma rígida pedra e reclinou-se em fofas almofadas de seda. Ia presenciar as experiências cercado por lânguidas odaliscas cobertas de véus transparentes. Guardavam sua sagrada pessoa trinta núbios de torsos desnudos, trajados de bombachas brancas e calçados com pantufas encarnadas.
O primeiro que surgiu, disposto a vergar o singular metal, era um homem de barba ruiva, carregando um alfanje esguio, curvo como o crescente. Trazia escudo oblongo, onde se desenhava um dragão alado, de bocarra ignescente. Vestia uma cota feita de couro de javali e via-se, pelo seu punhal de cabo lavrado, pelo seu elmo cintilante, que era um guerreiro. Avançou com passos hieráticos, marciais... Ergueu o alfanje e desferiu no metal um violento golpe, que silvou como a mais rápida das serpentes. Não aconteceu nada. Apenas sua arma encurvou-se ainda mais...
Depois surgiu um gigante de quase quatro metros de altura. Segurava, numa das manzorras calosas, um pesado machado de ferro. Cada brinco de cobre que pendia de suas orelhas acabanadas, semelhantes às de um orangotango, tinha a largura e a espessura de um grosso bracelete. Levantou, qual homem das cavernas, sua tosca arma, e arremessou-a, num relâmpago, sobre o metal. O machado pulverizou-se em estilhas, espalhando no ar uma tênue poeira clara.
Por fim apareceu um mercador franzino, rosto lívido, cabelos crescidos até as costas, traje curto e surrado, de mãos amarelas e finas como pergaminhos. Desamarrou, ante o olhar surpreso de todos, um minúsculo embrulho. Dentro se achava um pedacinho róseo, sanguíneo, de carne. Com muita delicadeza encostou, de leve, aquela matéria flácida, roxa, mal cheirosa, no elemento invencível, que por escárnio parecia rebrilhar com fulgor diabólico. Uma chispa acendeu-se e ouviu-se um pavoroso estrondo. A sala foi invadida por calor causticante. Todas fisionomias ficaram congestionadas e o ambiente, dando a impressão de haver sido incendiado, tornou-se purpúreo. O califa levantou-se, lesto, dos seus macios coxins e correu para perto do metal que se tinha transformado, ó milagre!, em matéria visguenta, pastosa, a esparramar-se pelo chão.
- Homem! - exclamou louco de espanto o califa - de que extraordinária substância é feito o teu talismã maravilhoso? Que naco de carne é este, tão virulento que é capaz de derreter o mais sólido, o mais vigoroso, o mais inabalável de todos os corpos? Diga-me, por Alá!
- Emir dos Crentes - respondeu o homenzinho - este talismã tão poderoso é apenas um pedaço da língua de minha sogra...
- O meu destino é de tal ordem, meu amigo, que a minha sogra tem o nome de Felicidade!...
Estaria sendo injusto o iniciador do sertanismo no romance nacional? Não compreenderia sua sogra, como Leandro, personagem de Aluisio de Azevedo? Afirma um dito popular, registrado por Perestrello da Câmara na sua Collecção de proverbios, adagios, rifãos, anexins, sentenças moraes e idiotismos da lingoa portuguesa, que “amizade de genro é sol de inverno”.
Pobres criaturas! Corno são caluniadas! Poucos sabem compreende-las. Tanto os povos selvagens como os civilizados vem revelando, através dos séculos, uma invencível sografobia...
Os cafres jamais vivem com elas. Nem lhe pronunciam, muito menos, o nome. Os índios omáguas, da América do Norte, não permitiam que tivessem comunicação direta com os genros. Em Minahaça era proibido, a estes, mencionar o nome da sogra. Se, por distração, o nome lhes escapava, cuspiam logo no solo, exclamando:
- Enganei-me!
Os espanhóis costumam soltar este provérbio:
Suegra, ni aun de azúcar es buena.
Mas nem todas sogras são inimigas íntimas...
Edgar Allan Poe teve em Marie Clemm, mãe de sua esposa, um anjo tutelar. A senhora Clemm lhe arranjava dinheiro quando não tinha um níquel, consolava-o nas desventuras, fazia-o adormecer perpassando a mão rechonchuda pela sua atormentada fronte. O poeta amou-a como se fosse sua progenitora. Numa carta, das últimas que escreveu, confessou:
“Você tem sido tudo... tudo para mim, querida e sempre amada mãe, a mais querida e verdadeira amiga."
E a mãe da meiga Virgínia, depois que o autor de "O Corvo" desapareceu, disse um dia:
"Jamais gostava de ficar sozinho, e eu costumava sentar-me com ele, muitas vezes até as quatro horas da madrugada. Ele, na sua mesa, escrevendo, e eu cochilando na minha cadeira. Quando estava compondo 'Eureka', costumávamos passear para lá e para cá no jardim, abraçados um ao outro, até ficar eu tão cansada, a ponto de não poder mais andar. Ele parava alguns minutos e me explicava as suas ideias, perguntando-me se o entendia. Sempre me sentava perto dele quando estava escrevendo, e dava-lhe uma xícara de café quente, de uma ou de duas em duas horas. Em casa era simples e afetuoso como uma criança e durante todos os anos que viveu comigo, não me recordo de uma só noite em que tenha deixado de vir beijar sua ‘mãe’, como me chamava, antes de ir para a cama."
Que dirão, lendo este sentimental depoimento, os inimigos das sogras?
Excelente sogra, não podemos deixar de lembrar, foi a imperatriz Maria Teresa da Áustria, que persuadiu sua filha, a leviana Maria Antonieta, a respeitar o augusto e bonachão marido, Luís XVl. Chegou mesmo, esta dedicada sogra, a passar severa descompostura na rainha de França, ao ver que esta se havia referido ao esposo de maneira irônica:
“Que linguagem! – exclama a austríaca numa carta dirigida à filha – Le pauvre homme! Onde estão o respeito e a gratidão por tanta bondade?”.
Terêncio escreveu no ano 165 antes de Cristo, uma comédia chamada Hecyra, na qual mostra uma sogra bondosa, simpática, ideal, cujo nome é Sostrata. Talvez, por causa disto, sua peça não obteve sucesso ao ser representada...
Goldoni, na comédia La famiglia dell’ antiquario, explorou o antagonismo de uma sogra com a nora. A sogra "satânica" chama-se Isabella e a nora "seráfica" Doralice...
Há uma curiosa narrativa de Salomão Jorge, da qual me permito, com ousadia, fazer uma transposição literária. Narra que certo califa recebeu como presente de um soberano chinês um estranho metal. Segundo afirmava o ofertante, este não se derretia de nenhum modo. Não existia fornalha capaz de torná-lo menos frio, mais inconsistente. Era um metal único na terra. O califa fez diversas experiências e verificou que realmente possuía natureza inamolgável. Não obstante, mandou apregoar por todo o país que se alguém conseguisse alterá-Io, ainda que fosse de maneira mínima, ganharia três valiosos prêmios. O primeiro era uma cornucópia de bronze, contendo mil rubis mais rubros do que as sedas de Damasco. O segundo, um palácio de alabastro, coberto de topázios, com portas de ouro, todo pavimentado de esmeraldas, onde num lago de águas verdes e nenúfares de flores amarelas, deslizavam peixes azuis e prateados. O terceiro, uma dançarina circassiana, de lábios mais vermelhos que os abrunhos escarlates, cútis tão alva como o lódão sagrado dos egípcios, e olhos merencórios, à semelhança de uma ave cujas asas estivessem partidas
Surgiram três candidatos. O califa mandou colocar o metal em cima de uma rígida pedra e reclinou-se em fofas almofadas de seda. Ia presenciar as experiências cercado por lânguidas odaliscas cobertas de véus transparentes. Guardavam sua sagrada pessoa trinta núbios de torsos desnudos, trajados de bombachas brancas e calçados com pantufas encarnadas.
O primeiro que surgiu, disposto a vergar o singular metal, era um homem de barba ruiva, carregando um alfanje esguio, curvo como o crescente. Trazia escudo oblongo, onde se desenhava um dragão alado, de bocarra ignescente. Vestia uma cota feita de couro de javali e via-se, pelo seu punhal de cabo lavrado, pelo seu elmo cintilante, que era um guerreiro. Avançou com passos hieráticos, marciais... Ergueu o alfanje e desferiu no metal um violento golpe, que silvou como a mais rápida das serpentes. Não aconteceu nada. Apenas sua arma encurvou-se ainda mais...
Depois surgiu um gigante de quase quatro metros de altura. Segurava, numa das manzorras calosas, um pesado machado de ferro. Cada brinco de cobre que pendia de suas orelhas acabanadas, semelhantes às de um orangotango, tinha a largura e a espessura de um grosso bracelete. Levantou, qual homem das cavernas, sua tosca arma, e arremessou-a, num relâmpago, sobre o metal. O machado pulverizou-se em estilhas, espalhando no ar uma tênue poeira clara.
Por fim apareceu um mercador franzino, rosto lívido, cabelos crescidos até as costas, traje curto e surrado, de mãos amarelas e finas como pergaminhos. Desamarrou, ante o olhar surpreso de todos, um minúsculo embrulho. Dentro se achava um pedacinho róseo, sanguíneo, de carne. Com muita delicadeza encostou, de leve, aquela matéria flácida, roxa, mal cheirosa, no elemento invencível, que por escárnio parecia rebrilhar com fulgor diabólico. Uma chispa acendeu-se e ouviu-se um pavoroso estrondo. A sala foi invadida por calor causticante. Todas fisionomias ficaram congestionadas e o ambiente, dando a impressão de haver sido incendiado, tornou-se purpúreo. O califa levantou-se, lesto, dos seus macios coxins e correu para perto do metal que se tinha transformado, ó milagre!, em matéria visguenta, pastosa, a esparramar-se pelo chão.
- Homem! - exclamou louco de espanto o califa - de que extraordinária substância é feito o teu talismã maravilhoso? Que naco de carne é este, tão virulento que é capaz de derreter o mais sólido, o mais vigoroso, o mais inabalável de todos os corpos? Diga-me, por Alá!
- Emir dos Crentes - respondeu o homenzinho - este talismã tão poderoso é apenas um pedaço da língua de minha sogra...
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Sou um colecionador de frases cretinas
Eu coleciono as frases imbecis das pessoas mais famosas do Brasil. Já tenho centenas dessas frases e pretendo publicar um livro, ao qual darei este titulo: Dicionário das frases cretinas dos brasileiros celebres.
Baseado em frias análises, cheguei à uma conclusão: o poder, diversas vezes, também emburrece, cretiniza. Foi a única explicação lógica que eu encontrei para compreender as frases idiotas de pessoas famosas, cujos nomes se acham em evidência nos jormais, nas revistas, nos programas das emissoras de televisão.
Há vários anos, aliás, as besteiras dessa gente frequentam os noticiários.
Após assumir a presidência da Republica em 15 de março de 1985, o maranhense José Sarney vomitou a seguinte asneira:
“Realmente, estamos importando alimentos, mas isso é ótimo, porque significa que quem não comia está comendo."
Oh raciocínio genial! Cérebro privilegiado, o do senhor José Sarney! Ele merece, não há duvida, ser membro da estéril Academia Brasileira de Letras. Amigo leitor, curve a cabeça diante da robusta inteligência do singular poeta do livro Maribondos de fogo, obra onde a poesia foi assassinada por esses insetos chamejantes!
Ficaram célebres as frases cretinas do senhor Mário Amato, na época em que era presidente da FIESP. No mês de abril de 1989, por exemplo, ele fez este elogio à senhora Dorothéia Werneck, ministra do Trabalho do presidente Sarney:
-Ela é muito inteligente, apesar de ser mulher.
A frase é tão cretina, mas tão cretina, que dispensa qualquer comentário. E comentar o quê? Assim como uma rosa é apenas uma rosa, conforme dizia a Gertrude Stein, a m. é apenas uma m.
Mais tarde, em 21 de junho de 1992, justificando a sonegação de impostos como "a defesa da sociedade contra a elevada carga tributária”, o senhor Mário Amato garantiu:
-Sonegar impostos é proteger a sociedade brasileira. O crime compensa. Ninguém pode atirar a primeira pedra: somos todos corruptos.
Estas frases imorais, insultuosas, cretinas, geraram o protesto indignado de 150 empresários gaúchos e do senhor Luíz Carlos Mandelli, presidente da Federação de Indústrias do Rio Grande do Sul. Vários gângsteres de Chicago e Nova York, inclusive o impiedoso Al Capone, enviaram do Inferno, onde cumprem as suas penas eternas, calorosos telegramas de aplauso ao senhor Mário Amato.
Três meses depois, em outubro de 1992, o Amato expeliu outra frase cretina:
-Quando a mocidade, que está despontando para a cidadania, sai para as ruas, isso me amedronta e apavora.".
Sentir medo da mocidade consciente, patriótica! Olhem aí o cúmulo do reacionarismo! Mário Amato deveria tremer, borrar as calças, se fosse o contrário. Se os jovens se acomodam diante do erro, do arbítrio, da corrupção, da patifaria, da injustiça, isto sim é condenável e maléfico. Viva pois a mocidade estuante, vibrante, apaixonada, a bela e generosa mocidade que sai das escolas, das universidades, e vai às ruas para reagir, protestar, combater a opressão, defender a democracia, lutar pela liberdade, a indômita e esplêndida mocidade de quente e rubro sangue novo! Ela é que é a verdadeira esperança de meu país, o seu futuro radioso!
Durante a campanha pelas eleições diretas, no ano de 1989, o doutor Paulo Salim Maluf deu este conselho em Belo Horizonte, na Faculdade de Ciências Médicas:
-O que fazer com um camarada que estuprou uma moça e matou? Tá bom, tá com vontade sexual, estupra, mas não mata.
Frases soberbas, notáveis! Eu soube que o presidente da Sociedade Brasileira de Estupradores convocou uma reunião extraordinária para os sócios desse grêmio poderem aplaudir de pé, entusiasticamente, o doutor Paulo Salim Maluf, defensor dessa nova e revolucionária prática sexual, chamada "Estupra, mas não mata". Convém dizer: o “Maniaco do Parque”, o Francisco de Assis Pereira, tentou acatar o conselho do doutor Maluf, porém ele não se dominava na hora "H" e acabou estuprando e matando dezenas de moças nas clareiras do Parque do Estado, uma das maiores áreas verdes da cidade de São Paulo. Francisco, menino mau, por que você não se limitou a estuprar as moças, seguindo o excelente conselho do doutor Maluf, por quê?
Em 1995, o doutor Maluf confessou:
-Me orgulho muito dos povos árabes, mas sou de origem libanesa.
Ora, eu pergunto, e o Líbano não é um país árabe? É tão árabe que 75 por cento da sua população é muçulmana. Basta salientar: em 1945 o Líbano ingressou na Liga Árabe. Eis os nomes árabes de localidades do país dos cedros: Al Laban, Batrum, Bent Jbail, Dayr al Qamar, El Khiyam, Qurnat al-Hamrã, etc, etc.
Bem, e qual é a minha firme conclusão? A minha firme conclusão é simples: de fato o poder em nosso país muitas vezes burrifica, imbeciliza. Os miolos de certos fulanos que exercem o poder se desconjuntam e ficam soltos, boiando nas suas cabeças. Eles passam a ter os cérebros em compotas. Devido a esta metamorfose, começam a defecar pela boca.
Baseado em frias análises, cheguei à uma conclusão: o poder, diversas vezes, também emburrece, cretiniza. Foi a única explicação lógica que eu encontrei para compreender as frases idiotas de pessoas famosas, cujos nomes se acham em evidência nos jormais, nas revistas, nos programas das emissoras de televisão.
Há vários anos, aliás, as besteiras dessa gente frequentam os noticiários.
Após assumir a presidência da Republica em 15 de março de 1985, o maranhense José Sarney vomitou a seguinte asneira:
“Realmente, estamos importando alimentos, mas isso é ótimo, porque significa que quem não comia está comendo."
Oh raciocínio genial! Cérebro privilegiado, o do senhor José Sarney! Ele merece, não há duvida, ser membro da estéril Academia Brasileira de Letras. Amigo leitor, curve a cabeça diante da robusta inteligência do singular poeta do livro Maribondos de fogo, obra onde a poesia foi assassinada por esses insetos chamejantes!
Ficaram célebres as frases cretinas do senhor Mário Amato, na época em que era presidente da FIESP. No mês de abril de 1989, por exemplo, ele fez este elogio à senhora Dorothéia Werneck, ministra do Trabalho do presidente Sarney:
-Ela é muito inteligente, apesar de ser mulher.
A frase é tão cretina, mas tão cretina, que dispensa qualquer comentário. E comentar o quê? Assim como uma rosa é apenas uma rosa, conforme dizia a Gertrude Stein, a m. é apenas uma m.
Mais tarde, em 21 de junho de 1992, justificando a sonegação de impostos como "a defesa da sociedade contra a elevada carga tributária”, o senhor Mário Amato garantiu:
-Sonegar impostos é proteger a sociedade brasileira. O crime compensa. Ninguém pode atirar a primeira pedra: somos todos corruptos.
Estas frases imorais, insultuosas, cretinas, geraram o protesto indignado de 150 empresários gaúchos e do senhor Luíz Carlos Mandelli, presidente da Federação de Indústrias do Rio Grande do Sul. Vários gângsteres de Chicago e Nova York, inclusive o impiedoso Al Capone, enviaram do Inferno, onde cumprem as suas penas eternas, calorosos telegramas de aplauso ao senhor Mário Amato.
Três meses depois, em outubro de 1992, o Amato expeliu outra frase cretina:
-Quando a mocidade, que está despontando para a cidadania, sai para as ruas, isso me amedronta e apavora.".
Sentir medo da mocidade consciente, patriótica! Olhem aí o cúmulo do reacionarismo! Mário Amato deveria tremer, borrar as calças, se fosse o contrário. Se os jovens se acomodam diante do erro, do arbítrio, da corrupção, da patifaria, da injustiça, isto sim é condenável e maléfico. Viva pois a mocidade estuante, vibrante, apaixonada, a bela e generosa mocidade que sai das escolas, das universidades, e vai às ruas para reagir, protestar, combater a opressão, defender a democracia, lutar pela liberdade, a indômita e esplêndida mocidade de quente e rubro sangue novo! Ela é que é a verdadeira esperança de meu país, o seu futuro radioso!
Durante a campanha pelas eleições diretas, no ano de 1989, o doutor Paulo Salim Maluf deu este conselho em Belo Horizonte, na Faculdade de Ciências Médicas:
-O que fazer com um camarada que estuprou uma moça e matou? Tá bom, tá com vontade sexual, estupra, mas não mata.
Frases soberbas, notáveis! Eu soube que o presidente da Sociedade Brasileira de Estupradores convocou uma reunião extraordinária para os sócios desse grêmio poderem aplaudir de pé, entusiasticamente, o doutor Paulo Salim Maluf, defensor dessa nova e revolucionária prática sexual, chamada "Estupra, mas não mata". Convém dizer: o “Maniaco do Parque”, o Francisco de Assis Pereira, tentou acatar o conselho do doutor Maluf, porém ele não se dominava na hora "H" e acabou estuprando e matando dezenas de moças nas clareiras do Parque do Estado, uma das maiores áreas verdes da cidade de São Paulo. Francisco, menino mau, por que você não se limitou a estuprar as moças, seguindo o excelente conselho do doutor Maluf, por quê?
Em 1995, o doutor Maluf confessou:
-Me orgulho muito dos povos árabes, mas sou de origem libanesa.
Ora, eu pergunto, e o Líbano não é um país árabe? É tão árabe que 75 por cento da sua população é muçulmana. Basta salientar: em 1945 o Líbano ingressou na Liga Árabe. Eis os nomes árabes de localidades do país dos cedros: Al Laban, Batrum, Bent Jbail, Dayr al Qamar, El Khiyam, Qurnat al-Hamrã, etc, etc.
Bem, e qual é a minha firme conclusão? A minha firme conclusão é simples: de fato o poder em nosso país muitas vezes burrifica, imbeciliza. Os miolos de certos fulanos que exercem o poder se desconjuntam e ficam soltos, boiando nas suas cabeças. Eles passam a ter os cérebros em compotas. Devido a esta metamorfose, começam a defecar pela boca.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
VIVA A ALEGRIA!
Numa época em que tanta gente morre em consequência de desastres, epidemias, guerras e mil outras calamidades, digam-me se não é uma ventura morrer de alegria, simplesmente. Pois isto aconteceu, conforme os jornais noticiaram, à senhora Becker, de Essen, na Alemanha. Em 1939, ela contava sessenta anos e era mãe de onze filhos, sendo também bisavó. Nesta idade sofreu um ataque de catarata, ficando cega. Os médicos, temendo complicações, não quiseram operá-Ia. Há pouco tempo, com setenta e oito anos, a senhora Becker submeteu-se a uma operação cirúrgica, coroada de êxito. A alegria de conseguir ver, por fim, seus vinte e nove netos, dezessete bisnetos e nove trinetos, foi tal, tão excessiva, que ela não resistiu: morreu de emoção.
Se todos os seres pudessem se despedir da vida assim, no auge da felicidade! Morrer sorrindo, eufórico, deve ser uma volúpia. Um belo epílogo reconcilia o homem com a existência, por mais ingrata e adversa que esta tenha sido. O lamentável é que Santo Agostinho sentenciou:
"Acabamos sempre humilhados pela vida".
Eis uma dolorosa verdade. Ao percorrermos as biografias dos homens célebres, o nosso coração se sente confrangido. Com uma e outra rara exceção, quase todos sucumbiram tragicamente: Cícero degolado, Menandro afogado no Pireu, Eurípides despedaçado por uma matilha de cães, Sócrates envenenado, Abimeleque triturado pela mó de um moinho, Sansão esmagado sob as ruínas de um templo, Pirro caiu numa rua de Argos, vítima de pesada telha que lhe foi atirada à cabeça por uma mulher do povo.
Santo Deus! - exclamará o leitor - então não existiu ninguém importante no mundo que morresse em paz, num clima benigno? É claro que houve. Mas são tão poucos! Uma das mortes mais poéticas que conhecemos é a do pintor Rafael. Esse artista possuía uma fisionomia seráfica. Nele tudo era suave: o olhar, o perfil, a voz, os gestos. Foi, como Fra Angélico, um santo da arte. Viveu só para ela, cercado por um séquito de admiradores e discípulos. Expirou mansamente no seu atelier, no meio dos seus quadros, dos inúmeros amigos, enquanto a tarde, tranquila como o rosto de suas madonas, enlanguescia numa auréola de matizes opalescentes.
Talvez se o homem não temesse tanto a morte, a vida seria mais calma, aprazível. Esta certeza absoluta do nosso perecimento físico nos deixa sempre inquietos, sobressaltados. Estamos atentos, todos os minutos, na defesa da nossa carcaça. "O receio da morte é pior que a própria morte", afirmou Públio Ciro nas Sentenças.
De Thou, no cadafalso, contemplando o cadáver palpitante do seu companheiro Cinq-Mars, e percebendo que o carrasco se preparava para executá-Io, voltou-se para a multidão e disse:
-Sou homem, temo a morte, e o corpo desse amigo, estendido a meus pés, me perturba. Peço, por caridade, que me ocultem os olhos. Qual dos senhores poderia ceder-me um lenço?
A senhora Becker não foi a única criatura que pôde morrer de alegria. Quilon, um dos sete sábios da Grécia, tombou trespassado de contentamento ao beijar seu filho, um dos vencedores dos Jogos Olímpicos. Anacreonte expirou num festim, ébrio, soltando gargalhadas. O poeta Filemon pereceu de ataque de riso, ao ver que um burrico, aproximando-se de uma mesa, devorava os figos bons e atirava fora os podres. Aretino também sucumbiu de tanto rir. Sófocles, em virtude do sucesso alcançado por uma de suas peças. Natale Constantine, célebre cantor italiano, quando soube que Verdi havia escrito uma parte especial para ele, na ópera Atila. Calchas, adivinho grego, ao comentar, exultante, com alguns amigos, o fato de se ter vencido o dia da sua morte, por ele mesmo anunciada num dos seus vaticínios.
Morrer de alegria é bem melhor do que passar deste mundo para o outro sem ser afogado, como o Duque de Clarença, num tonel de malvasia, ou sem ser, como Brunilde, filha de Atanagildo, rei dos visigodos, arrastada pela cauda de um cavalo xucro.
É preferível extinguir-se feliz, satisfeito, pois é um privilégio assaz raro, que não tiveram homens do porte de um Dante, falecido no desterro, de um Lavoisier, cuja cabeça foi decepada pela guilhotina. É bem melhor, em vez de chorar, de se desesperar, crer na sobrevivência da alma, ser superior, sorrir da morte. Dirão: é muito fácil dar conselhos... Mas afirmo que não é difícil também segui-Ios. O cínico Alphonse Karr dizia que emitir conselhos distrai bastante aquele que os distribui e não obriga à nada aquele que os recebe. Em todo o caso, ouvindo as recomendações de vozes sobrenaturais, Joana d' Arc salvou a França e o estouvado D. Pedro I, não fazendo ouvidos de mercador às sensatas palavras proferidas pelo seu pai, proclamou a independência do Brasil... As nossas exortações de resignação cristã ante o irremediável não terão eficácia se o leitor tiver a mentalidade do arqueólogo italiano Giacomo Boni, o qual explicava desta maneira o segredo de suas vitórias nas escavações que fazia:
-É muito simples. Recolho os informes do monumento ou do objeto procurado. E onde os tratados dizem que não deve existir coisa alguma, mando cavar e sempre encontro qualquer coisa...
Se tudo vai mal, se nada nos entremostra uma perspectiva risonha, se até os amigos, nos momentos infaustos, afastam-se do nosso convívio, não fiquemos desesperados nem lamuriosos. O Altíssimo, para nos consolar, ofereceu-nos o riso, esse broquel de ouro que protege a nossa alma dos vilipêndios da adversidade.
O ríspido Licurgo levantou na Lacedemonia uma estátua ao riso, tão necessário, afirmava, para mitigar o trabalho, as amarguras da vida, a dureza das regras que ele prescrevia.
Saibamos viver bem humorados, pois assim, no instante fatal, não será difícil contemplar a incomplacente ceifeira de olhos frios.
Instrui a Bíblia, nos Provérbios, que o "coração alegre constitui bom remédio, mas um espírito abatido seca os ossos."
Exaltemos, nesta época insípida e utilitarista, a Alegria, essa jucunda fada Viviana que transmuda, com o leve toque da sua varinha de cristal, cravejada de safiras, a capciosa víbora do pessimismo em cambiante colar de turmalinas, o lodo viscoso e infecto do Aqueronte em ametistas de tons rubentes, nas quais Merlin, o Mago, reteve cativas algumas gotas nevadas caídas do seio de uma sílfide.
Quando tudo nos parecer desfavorável, nas horas longas de tédio e desalento, quando estivermos despojados de todas fantasias da Ilusão, sem um vintém de Fé, sedentos de Ideal, voltemos nosso olhar fosco para ela, a rósea e radiante Alegria, deusa ornada pelas flores vermelhas e cetinosas do amaranto, imperatriz da azul Bizâncio dos meus sonhos, cujas almenaras, ostentando cúpulas douradas de faiança, são braços suplicantes de pedra, erguendo, às amplidões estelares, minhas ansiosas e esperançosas preces!
Quis me expressar assim, com esta linguagem ultra-poética. E se estou sendo ridículo, anacrônico, paciência...
Se todos os seres pudessem se despedir da vida assim, no auge da felicidade! Morrer sorrindo, eufórico, deve ser uma volúpia. Um belo epílogo reconcilia o homem com a existência, por mais ingrata e adversa que esta tenha sido. O lamentável é que Santo Agostinho sentenciou:
"Acabamos sempre humilhados pela vida".
Eis uma dolorosa verdade. Ao percorrermos as biografias dos homens célebres, o nosso coração se sente confrangido. Com uma e outra rara exceção, quase todos sucumbiram tragicamente: Cícero degolado, Menandro afogado no Pireu, Eurípides despedaçado por uma matilha de cães, Sócrates envenenado, Abimeleque triturado pela mó de um moinho, Sansão esmagado sob as ruínas de um templo, Pirro caiu numa rua de Argos, vítima de pesada telha que lhe foi atirada à cabeça por uma mulher do povo.
Santo Deus! - exclamará o leitor - então não existiu ninguém importante no mundo que morresse em paz, num clima benigno? É claro que houve. Mas são tão poucos! Uma das mortes mais poéticas que conhecemos é a do pintor Rafael. Esse artista possuía uma fisionomia seráfica. Nele tudo era suave: o olhar, o perfil, a voz, os gestos. Foi, como Fra Angélico, um santo da arte. Viveu só para ela, cercado por um séquito de admiradores e discípulos. Expirou mansamente no seu atelier, no meio dos seus quadros, dos inúmeros amigos, enquanto a tarde, tranquila como o rosto de suas madonas, enlanguescia numa auréola de matizes opalescentes.
Talvez se o homem não temesse tanto a morte, a vida seria mais calma, aprazível. Esta certeza absoluta do nosso perecimento físico nos deixa sempre inquietos, sobressaltados. Estamos atentos, todos os minutos, na defesa da nossa carcaça. "O receio da morte é pior que a própria morte", afirmou Públio Ciro nas Sentenças.
De Thou, no cadafalso, contemplando o cadáver palpitante do seu companheiro Cinq-Mars, e percebendo que o carrasco se preparava para executá-Io, voltou-se para a multidão e disse:
-Sou homem, temo a morte, e o corpo desse amigo, estendido a meus pés, me perturba. Peço, por caridade, que me ocultem os olhos. Qual dos senhores poderia ceder-me um lenço?
A senhora Becker não foi a única criatura que pôde morrer de alegria. Quilon, um dos sete sábios da Grécia, tombou trespassado de contentamento ao beijar seu filho, um dos vencedores dos Jogos Olímpicos. Anacreonte expirou num festim, ébrio, soltando gargalhadas. O poeta Filemon pereceu de ataque de riso, ao ver que um burrico, aproximando-se de uma mesa, devorava os figos bons e atirava fora os podres. Aretino também sucumbiu de tanto rir. Sófocles, em virtude do sucesso alcançado por uma de suas peças. Natale Constantine, célebre cantor italiano, quando soube que Verdi havia escrito uma parte especial para ele, na ópera Atila. Calchas, adivinho grego, ao comentar, exultante, com alguns amigos, o fato de se ter vencido o dia da sua morte, por ele mesmo anunciada num dos seus vaticínios.
Morrer de alegria é bem melhor do que passar deste mundo para o outro sem ser afogado, como o Duque de Clarença, num tonel de malvasia, ou sem ser, como Brunilde, filha de Atanagildo, rei dos visigodos, arrastada pela cauda de um cavalo xucro.
É preferível extinguir-se feliz, satisfeito, pois é um privilégio assaz raro, que não tiveram homens do porte de um Dante, falecido no desterro, de um Lavoisier, cuja cabeça foi decepada pela guilhotina. É bem melhor, em vez de chorar, de se desesperar, crer na sobrevivência da alma, ser superior, sorrir da morte. Dirão: é muito fácil dar conselhos... Mas afirmo que não é difícil também segui-Ios. O cínico Alphonse Karr dizia que emitir conselhos distrai bastante aquele que os distribui e não obriga à nada aquele que os recebe. Em todo o caso, ouvindo as recomendações de vozes sobrenaturais, Joana d' Arc salvou a França e o estouvado D. Pedro I, não fazendo ouvidos de mercador às sensatas palavras proferidas pelo seu pai, proclamou a independência do Brasil... As nossas exortações de resignação cristã ante o irremediável não terão eficácia se o leitor tiver a mentalidade do arqueólogo italiano Giacomo Boni, o qual explicava desta maneira o segredo de suas vitórias nas escavações que fazia:
-É muito simples. Recolho os informes do monumento ou do objeto procurado. E onde os tratados dizem que não deve existir coisa alguma, mando cavar e sempre encontro qualquer coisa...
Se tudo vai mal, se nada nos entremostra uma perspectiva risonha, se até os amigos, nos momentos infaustos, afastam-se do nosso convívio, não fiquemos desesperados nem lamuriosos. O Altíssimo, para nos consolar, ofereceu-nos o riso, esse broquel de ouro que protege a nossa alma dos vilipêndios da adversidade.
O ríspido Licurgo levantou na Lacedemonia uma estátua ao riso, tão necessário, afirmava, para mitigar o trabalho, as amarguras da vida, a dureza das regras que ele prescrevia.
Saibamos viver bem humorados, pois assim, no instante fatal, não será difícil contemplar a incomplacente ceifeira de olhos frios.
Instrui a Bíblia, nos Provérbios, que o "coração alegre constitui bom remédio, mas um espírito abatido seca os ossos."
Exaltemos, nesta época insípida e utilitarista, a Alegria, essa jucunda fada Viviana que transmuda, com o leve toque da sua varinha de cristal, cravejada de safiras, a capciosa víbora do pessimismo em cambiante colar de turmalinas, o lodo viscoso e infecto do Aqueronte em ametistas de tons rubentes, nas quais Merlin, o Mago, reteve cativas algumas gotas nevadas caídas do seio de uma sílfide.
Quando tudo nos parecer desfavorável, nas horas longas de tédio e desalento, quando estivermos despojados de todas fantasias da Ilusão, sem um vintém de Fé, sedentos de Ideal, voltemos nosso olhar fosco para ela, a rósea e radiante Alegria, deusa ornada pelas flores vermelhas e cetinosas do amaranto, imperatriz da azul Bizâncio dos meus sonhos, cujas almenaras, ostentando cúpulas douradas de faiança, são braços suplicantes de pedra, erguendo, às amplidões estelares, minhas ansiosas e esperançosas preces!
Quis me expressar assim, com esta linguagem ultra-poética. E se estou sendo ridículo, anacrônico, paciência...
domingo, 10 de julho de 2011
O deslumbramento de Matthew Shirts diante da espertalhona Camille Paglia
Matthew Shirts é um americano que se transformou em colunista de O Estado de S.Paulo. Só escreve a respeito de ninharias, de futilidades. Ler as suas crônicas é como ouvir uma conversa mole, tediosa, sonífera. Confesso, se estou com insônia, eu o leio e durmo logo. E agora pergunto: por que o Ruy Mesquita deixa a lenga-lenga desse gringo chatíssimo abusar da nossa paciência, no jornal onde Monteiro Lobato encantou os seus leitores? É a velha mania do brasileiro prestigiar o estrangeiro, sobretudo os patrícios de Obama, em vez de dar apoio aos nossos escritores e jornalistas de valor.
O paulificante Matthew Shirts, expulso da Chatolândia, o país dos chatos, por ser mais chato do que o rei de tal país, gatafunhou o seguinte na crônica “De Cleópatra a Justine Bieber”:
“Dia desses tive o privilégio de passar a tarde, aqui em São Paulo, com a superestrela intelectual Camille Paglia.”
Essa Camille é uma escritora malandra, metida a besta, especializada em causar escândalos, em soltar palavras completamente idiotas. Pariu um ensaio horroroso, intitulado Personas sexuais: arte e decadência, de Nefertite a Emily Dickinson, lido por milhões de leitores ignorantes, desprovidos de senso crítico. Obra publicada no Brasil, em 1993, pela Companhia das Letras, editora cujos livros se acham repletos de grosseiros erros de português. Louco de entusiasmo, em delírio, mergulhado num histérico alucinamento apoteótico, o verborrágico Matthew Shirts colocou nos cornos da lua o ensaio teratológico da ridícula vigarista. Eis um trecho do seu desvario:
“O livro (de Camille) é genial; pulsante é o adjetivo que me vem à cabeça. Uma obra-prima da história intelectual e da arte.”
Matthew Shirts não entende nada de literatura. Que péssima escolha, a do adjetivo pulsante! Já o critiquei no meu livro Vida e obra do plagiário Paulo Francis – O mergulho da ignorância no poço da estupidez, pois ele afirmou isto, na edição do dia 24 de junho de 1995 de O Estado de S.Paulo:
“Para quem se interessa pelos valores e emoções intelectuais das últimas décadas, recomendo muito o livro Trinta anos esta noite, de Paulo Francis.”
Eu o corrigi no meu livro. Declarei que ele, o frenético, o assanhadíssimo Matthew Shirts, devia ter escrito assim, de modo correto:
“Para quem se interessa por insultos pessoais, descrições de cenas pornográficas, ataques estúpidos aos árabes, ao Alcorão, a Portugal, ao general Castello Branco, às mulheres em geral, à Câmara Federal, e gosta também de ver graves erros de português, acompanhados de dezenas de informações erradas, recomendo muito o livro Trinta anos esta noite, de Paulo Francis.”
Explodindo de amor pela tapeadora Camille Paglia, que faz jus ao seu sobrenome, porque do ponto de vista literário ela é frágil como uma palha, o logorreico Matthew Shirts salientou na sua crônica intragável, com sabor de purgante fervido, que a irresistível, a incomparável, a maravilhosa, a divina Camille criticou o lesbianismo, apesar de ser lésbica. Após nos fornecer a notável informação, esse americano ansioso por virar paulistano caiu em êxtase diante desta cretinice da machona:
“... o homem, ao se tornar homossexual, fica 50% mais esperto; ao virar lésbica, uma mulher perde 25% da inteligência.”
Babou de admiração, o Matthew Shirts, depois de ler esta imensa besteira. Talvez até desfaleceu, soluçando:
-Ai, ai, ai, como a Camille Paglia é genial, como é genial! Ai, ai, ai, ai, ai, ai, eu não aguento! Eu a amo demais, demais!
Após almoçar com ela, Matthew chegou à redação da revista onde trabalha, a National Geographic Brasil, e não conteve o entusiasmo. Contou tudo para os colegas aos brados. Imagino como foi a sua gritaria:
-Eu adoro a Camille! Camille é gênio, gênio, gênio, gênio! Shakespeare estava certo! O powerful love, that in some respects makes a beast a man; in some other, a man a beast! (“Oh, amor todo poderoso, que de certa maneira fazes de uma besta um homem, e também de certa maneira fazes de um homem uma besta!”)
Matthew garante: Camille está vidrada pelo Brasil e já efetuou sete viagens para cá. Pudera! Essa embrulhona percebeu que em nosso país existem milhares de débeis mentais, capazes de adorá-la, de aplaudir todos os dias, em qualquer hora, as suas parvoíces, os seus raciocínios malucos, as suas frases tão ilógicas como a de um bêbado que ingeriu uma mistura de cocaína, maconha, vinho, vodca e cachaça.
Se a Camille Paglia equilibrar na sua cabeça tonta um penico cheio de cocô fedorento, e andar pelas nossas ruas vomitando disparates, ela vai encontrar milhares de fervorosos admiradores, dispostos a segui-la.
Christian Furchtegott Gellert (1715-1769), poeta e moralista alemão, acertou em cheio ao escrever estas palavras na sua obra Fabeln:
“Um tolo sempre encontra um outro ainda mais tolo, que o olha com admiração”.
(Ein Thor find allenmal noch einen grössern Thoren, der seinem Wert zu schätzen weiss).
O paulificante Matthew Shirts, expulso da Chatolândia, o país dos chatos, por ser mais chato do que o rei de tal país, gatafunhou o seguinte na crônica “De Cleópatra a Justine Bieber”:
“Dia desses tive o privilégio de passar a tarde, aqui em São Paulo, com a superestrela intelectual Camille Paglia.”
Essa Camille é uma escritora malandra, metida a besta, especializada em causar escândalos, em soltar palavras completamente idiotas. Pariu um ensaio horroroso, intitulado Personas sexuais: arte e decadência, de Nefertite a Emily Dickinson, lido por milhões de leitores ignorantes, desprovidos de senso crítico. Obra publicada no Brasil, em 1993, pela Companhia das Letras, editora cujos livros se acham repletos de grosseiros erros de português. Louco de entusiasmo, em delírio, mergulhado num histérico alucinamento apoteótico, o verborrágico Matthew Shirts colocou nos cornos da lua o ensaio teratológico da ridícula vigarista. Eis um trecho do seu desvario:
“O livro (de Camille) é genial; pulsante é o adjetivo que me vem à cabeça. Uma obra-prima da história intelectual e da arte.”
Matthew Shirts não entende nada de literatura. Que péssima escolha, a do adjetivo pulsante! Já o critiquei no meu livro Vida e obra do plagiário Paulo Francis – O mergulho da ignorância no poço da estupidez, pois ele afirmou isto, na edição do dia 24 de junho de 1995 de O Estado de S.Paulo:
“Para quem se interessa pelos valores e emoções intelectuais das últimas décadas, recomendo muito o livro Trinta anos esta noite, de Paulo Francis.”
Eu o corrigi no meu livro. Declarei que ele, o frenético, o assanhadíssimo Matthew Shirts, devia ter escrito assim, de modo correto:
“Para quem se interessa por insultos pessoais, descrições de cenas pornográficas, ataques estúpidos aos árabes, ao Alcorão, a Portugal, ao general Castello Branco, às mulheres em geral, à Câmara Federal, e gosta também de ver graves erros de português, acompanhados de dezenas de informações erradas, recomendo muito o livro Trinta anos esta noite, de Paulo Francis.”
Explodindo de amor pela tapeadora Camille Paglia, que faz jus ao seu sobrenome, porque do ponto de vista literário ela é frágil como uma palha, o logorreico Matthew Shirts salientou na sua crônica intragável, com sabor de purgante fervido, que a irresistível, a incomparável, a maravilhosa, a divina Camille criticou o lesbianismo, apesar de ser lésbica. Após nos fornecer a notável informação, esse americano ansioso por virar paulistano caiu em êxtase diante desta cretinice da machona:
“... o homem, ao se tornar homossexual, fica 50% mais esperto; ao virar lésbica, uma mulher perde 25% da inteligência.”
Babou de admiração, o Matthew Shirts, depois de ler esta imensa besteira. Talvez até desfaleceu, soluçando:
-Ai, ai, ai, como a Camille Paglia é genial, como é genial! Ai, ai, ai, ai, ai, ai, eu não aguento! Eu a amo demais, demais!
Após almoçar com ela, Matthew chegou à redação da revista onde trabalha, a National Geographic Brasil, e não conteve o entusiasmo. Contou tudo para os colegas aos brados. Imagino como foi a sua gritaria:
-Eu adoro a Camille! Camille é gênio, gênio, gênio, gênio! Shakespeare estava certo! O powerful love, that in some respects makes a beast a man; in some other, a man a beast! (“Oh, amor todo poderoso, que de certa maneira fazes de uma besta um homem, e também de certa maneira fazes de um homem uma besta!”)
Matthew garante: Camille está vidrada pelo Brasil e já efetuou sete viagens para cá. Pudera! Essa embrulhona percebeu que em nosso país existem milhares de débeis mentais, capazes de adorá-la, de aplaudir todos os dias, em qualquer hora, as suas parvoíces, os seus raciocínios malucos, as suas frases tão ilógicas como a de um bêbado que ingeriu uma mistura de cocaína, maconha, vinho, vodca e cachaça.
Se a Camille Paglia equilibrar na sua cabeça tonta um penico cheio de cocô fedorento, e andar pelas nossas ruas vomitando disparates, ela vai encontrar milhares de fervorosos admiradores, dispostos a segui-la.
Christian Furchtegott Gellert (1715-1769), poeta e moralista alemão, acertou em cheio ao escrever estas palavras na sua obra Fabeln:
“Um tolo sempre encontra um outro ainda mais tolo, que o olha com admiração”.
(Ein Thor find allenmal noch einen grössern Thoren, der seinem Wert zu schätzen weiss).
quinta-feira, 19 de maio de 2011
O sonho é a nossa alma que sai do corpo
Sim, acredito, o sonho é a nossa alma que sai do corpo. Embora católico, possuo forte mediunidade e não alimento a menor dúvida: nós, seres humanos, somos espíritos materializados. Chico Xavier, nas páginas 443 e 503 do seu livro Parnaso de além túmulo (10ª edição), referiu-se a essa minha mediunidade.
Quando sonho com pessoas afastadas de mim há longo tempo, elas já faleceram, sem antes eu ter sabido disso. No sonho a pessoa conversa comigo. Sinto, nesses encontros realizados num outro plano, uma sensação absoluta de felicidade. Extravaso ternura, amor, carinho. Ao acordar fico tão emocionado que choro. Podem me chamar de “anormal”, se quiserem...
Conheci, no meu tempo de adolescente, uma jovem nascida nos Estados Unidos. Era bem bonita e tinha quatorze anos. Havia sofrido um tombo, num dia de chuva, na calçada em frente do portão de entrada da Graded School, escola americana do bairro do Paraíso. Eu a socorri e levei-a a uma farmácia, pois o seu joelho sangrava sem parar. Após o curativo, acompanhei a menina até a sua casa.
Mostrou-se gratíssima. Se me via, pegava a minha mão para puxar conversa. Ela mal sabia se expressar em português e eu nem entendia direito o seu inglês, mas percebi que a linda menina americana ficou gostando de mim, um garoto magrinho, feio, desprovido de qualquer atrativo físico. Uma tarde, sentados num banco do grande jardim da escola, ela apertou a minha mão e disse:
-Querro ser seu namorrada.
Arregalei os olhos, surpreso. Ela repetiu:
-Seu namorrada.
Respondi, sem jeito:
-Mary, é melhor sermos apenas amigos, friends.
Quis saber porquê e expliquei:
-Você é americana e eu sou brasileiro. Somos muitos diferentes.
A resposta foi imediata:
-Love is blind (o amor é cego).
Eu tentei argumentar:
-Você é loura, anglo-saxônica, e sou um brasileiro descendente de árabes, de beduínos. Os seus pais não gostariam de vê-la namorar um fulano como eu...
Depois frisei que a família dela era de ascendência nobre, britânica. Ela, perto de mim, parecia uma princesa e eu um plebeu... Mary ouviu e pronunciou estas palavras:
-The course of true love never did run smooth.
Não entendi. Rindo, ela escreveu a frase num papel e com esforço procurou traduzi-la para o português. Guardo até hoje a tradução nesse papel:
O caminho do amor verdadeiro nunca foi fácil.
Esta frase, a rigor, é do personagem Lisandro no primeiro ato da peça A midsummer night’s dream (“Sonho de uma noite de verão”), de William Shakespeare.
As colegas americanas de Mary, sempre que a viam ao meu lado, soltavam risadas e lhe diziam, mas não na minha frente:
-O que você viu neste brasileiro feio, raquítico, magrinho? Está louca? Trocou a beleza pela feiúra, o Scott por esse tal Ferrnandoss?
Scott era um belo, alto e musculoso rapaz americano, jogador de basktball. As jovens gringas da Graded School achavam que ele se parecia com o Clark Gable, o sedutor astro do filme Gone with the wind (“E o vento levou”). Mary, como resposta, citava este velho provérbio:
Beauty is in the eye the beholder.
(“Quem o feio ama, bonito lhe parece”).
Não sei se fui de fato namorado completo da mocinha da pátria do presidente Truman ou apenas seu amigo. Jamais procurei beijá-la, mas ela me dava beijinhos no rosto, acariciando as minhas mãos. Sentia-me algo ridículo, meio atrapalhado. Talvez eu fosse vítima de um complexo esmagador, pois os brasileiros, naquela época, julgavam-se inferiores aos norte-americanos. Aliás, hoje milhões dos meus patrícios ainda se consideram uma sub-raça diante deles ou então se tornam seus imitadores, brazilian monkeys, macacos brasileiros...
Um dia, após dois anos de namoro singelo, no decorrer do qual eu lhe punha balinhas de caramelo na boca, Mary me disse com o rosto cheio de lágrimas:
-Ferrnadoss, eu voltar United States! Eu voltar!
As suas lágrimas quentes rolavam. Emocionei-me. Só nesse momento percebi que o meu afeto por ela ia além da amizade.
Mary regressou aos Estados Unidos. Nunca mais soube do seu destino, embora ela houvesse prometido que me enviaria cartas. Não as mandou. Há duas semanas, porém, a minha namoradinha americana me apareceu num sonho. Ria e beijava-me. Estava muito feliz. Eu também me sentia muito feliz ao seu lado. No sonho beijei-a pela primeira vez e experimentei uma sensação de imensa felicidade.
Acordei chorando, com a impressão de tudo ter sido real, e disse a mim mesmo:
-Não a vejo há mais de quarenta anos. Ela morreu, sinto isto. A minha alma se encontrou com a sua alma.
Ontem, uma ex-colega de Mary na Graded School me reconheceu. Perguntei:
-E a Mary?
A ex-colega me contou que ela, logo depois de voltar para os Estados Unidos, foi vítima de um acidente automobilístico e ficou numa cadeira de rodas, sem poder falar e movimentar as pernas, os braços, as mãos. E concluiu:
-Mary morreu há duas semanas.
Invadiu-me uma tristeza indescritível. Pensei: a minha alma, e a alma da mocinha americana que me amou, encontraram-se numa outra dimensão, graças a um sonho. Estiveram bem juntas, a fim de aliviar as saudades que eu sentia dela e ela sentia de mim...
Quando sonho com pessoas afastadas de mim há longo tempo, elas já faleceram, sem antes eu ter sabido disso. No sonho a pessoa conversa comigo. Sinto, nesses encontros realizados num outro plano, uma sensação absoluta de felicidade. Extravaso ternura, amor, carinho. Ao acordar fico tão emocionado que choro. Podem me chamar de “anormal”, se quiserem...
Conheci, no meu tempo de adolescente, uma jovem nascida nos Estados Unidos. Era bem bonita e tinha quatorze anos. Havia sofrido um tombo, num dia de chuva, na calçada em frente do portão de entrada da Graded School, escola americana do bairro do Paraíso. Eu a socorri e levei-a a uma farmácia, pois o seu joelho sangrava sem parar. Após o curativo, acompanhei a menina até a sua casa.
Mostrou-se gratíssima. Se me via, pegava a minha mão para puxar conversa. Ela mal sabia se expressar em português e eu nem entendia direito o seu inglês, mas percebi que a linda menina americana ficou gostando de mim, um garoto magrinho, feio, desprovido de qualquer atrativo físico. Uma tarde, sentados num banco do grande jardim da escola, ela apertou a minha mão e disse:
-Querro ser seu namorrada.
Arregalei os olhos, surpreso. Ela repetiu:
-Seu namorrada.
Respondi, sem jeito:
-Mary, é melhor sermos apenas amigos, friends.
Quis saber porquê e expliquei:
-Você é americana e eu sou brasileiro. Somos muitos diferentes.
A resposta foi imediata:
-Love is blind (o amor é cego).
Eu tentei argumentar:
-Você é loura, anglo-saxônica, e sou um brasileiro descendente de árabes, de beduínos. Os seus pais não gostariam de vê-la namorar um fulano como eu...
Depois frisei que a família dela era de ascendência nobre, britânica. Ela, perto de mim, parecia uma princesa e eu um plebeu... Mary ouviu e pronunciou estas palavras:
-The course of true love never did run smooth.
Não entendi. Rindo, ela escreveu a frase num papel e com esforço procurou traduzi-la para o português. Guardo até hoje a tradução nesse papel:
O caminho do amor verdadeiro nunca foi fácil.
Esta frase, a rigor, é do personagem Lisandro no primeiro ato da peça A midsummer night’s dream (“Sonho de uma noite de verão”), de William Shakespeare.
As colegas americanas de Mary, sempre que a viam ao meu lado, soltavam risadas e lhe diziam, mas não na minha frente:
-O que você viu neste brasileiro feio, raquítico, magrinho? Está louca? Trocou a beleza pela feiúra, o Scott por esse tal Ferrnandoss?
Scott era um belo, alto e musculoso rapaz americano, jogador de basktball. As jovens gringas da Graded School achavam que ele se parecia com o Clark Gable, o sedutor astro do filme Gone with the wind (“E o vento levou”). Mary, como resposta, citava este velho provérbio:
Beauty is in the eye the beholder.
(“Quem o feio ama, bonito lhe parece”).
Não sei se fui de fato namorado completo da mocinha da pátria do presidente Truman ou apenas seu amigo. Jamais procurei beijá-la, mas ela me dava beijinhos no rosto, acariciando as minhas mãos. Sentia-me algo ridículo, meio atrapalhado. Talvez eu fosse vítima de um complexo esmagador, pois os brasileiros, naquela época, julgavam-se inferiores aos norte-americanos. Aliás, hoje milhões dos meus patrícios ainda se consideram uma sub-raça diante deles ou então se tornam seus imitadores, brazilian monkeys, macacos brasileiros...
Um dia, após dois anos de namoro singelo, no decorrer do qual eu lhe punha balinhas de caramelo na boca, Mary me disse com o rosto cheio de lágrimas:
-Ferrnadoss, eu voltar United States! Eu voltar!
As suas lágrimas quentes rolavam. Emocionei-me. Só nesse momento percebi que o meu afeto por ela ia além da amizade.
Mary regressou aos Estados Unidos. Nunca mais soube do seu destino, embora ela houvesse prometido que me enviaria cartas. Não as mandou. Há duas semanas, porém, a minha namoradinha americana me apareceu num sonho. Ria e beijava-me. Estava muito feliz. Eu também me sentia muito feliz ao seu lado. No sonho beijei-a pela primeira vez e experimentei uma sensação de imensa felicidade.
Acordei chorando, com a impressão de tudo ter sido real, e disse a mim mesmo:
-Não a vejo há mais de quarenta anos. Ela morreu, sinto isto. A minha alma se encontrou com a sua alma.
Ontem, uma ex-colega de Mary na Graded School me reconheceu. Perguntei:
-E a Mary?
A ex-colega me contou que ela, logo depois de voltar para os Estados Unidos, foi vítima de um acidente automobilístico e ficou numa cadeira de rodas, sem poder falar e movimentar as pernas, os braços, as mãos. E concluiu:
-Mary morreu há duas semanas.
Invadiu-me uma tristeza indescritível. Pensei: a minha alma, e a alma da mocinha americana que me amou, encontraram-se numa outra dimensão, graças a um sonho. Estiveram bem juntas, a fim de aliviar as saudades que eu sentia dela e ela sentia de mim...
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Marta Suplicy não gostou de mim...
É verdade, amigo leitor, a Marta Suplicy não gostou de mim. Vou explicar o motivo. Quando ela foi candidata a prefeita de São Paulo pela segunda vez, a produção do programa “Resumo da Ópera”, dirigido pelo excelente comunicador Fernando Mauro e apresentado todas as sextas-feiras pela TV Aberta, Canal 9, das sete às oito da noite, convidou-me para ser um dos seus entrevistadores. Aceitei o convite.
Além de minha pessoa, mais três jornalistas compareceram, a fim de formular perguntas à candidata. Programa ao vivo, com grande audiência. Fernando Mauro é um comunicador nato, muito simpático, inteligente. Ele sabe conduzir o “Resumo da Ópera” de maneira firme, imparcial, e prender a atenção dos telespectadores.
Marta Suplicy se sentou a pouca distância do mediador. Ela estava vestida de forma discreta, mas notei que os seus pés, calçados com sandálias brancas, achavam-se empoeirados, não vou dizer sujos. Ao ver o meu olhar fixo nos seus alvos pés, ela os escondeu. Decerto, na sua campanha eleitoral, frenquentava os bairros da periferia, andando por ruas sem calçamento. Não era falta de higiene...
Os meus companheiros, no programa, lançavam as perguntas e Marta Suplicy respondia, desembaraçada. Tendo chegado a minha vez, o Fernando Mauro avisou-a, em tom de brincadeira:
-Cuidado com ele, o Fernando Jorge é especializado em pegadinhas.
Tranquilo, soltei estas palavras:
-Senhora Marta Suplicy, a senhora é candidata a prefeita da cidade de São Paulo e não ignora que quem concorre a um cargo público, como é o seu caso, deve sempre falar a verdade. Então, por favor, diga-me em qual fonte se baseou para declarar que hoje, em todo o Brasil, não existe uma só família onde alguém não esteja separado, ou o pai de um filho, ou a esposa de um marido, ou um irmão de um irmão, etc. A sua afirmativa foi publicada pela revista Veja – São Paulo, há duas semanas.
Algo nervosa, Marta Suplicy respondeu:
-Ah, meu Deus, nem é preciso citar nenhuma pesquisa! Isto é do conhecimento geral! Todo mundo sabe!
Repliquei, de modo sereno:
-Desculpe-me, mas se não citar a fonte na qual se baseou para declarar que hoje, em todo o Brasil, de sul a norte, de leste a oeste, não existe uma única família onde alguém não esteja separado, então a senhora generalizou, a sua afirmação não corresponde à verdade.
Marta Suplicy fitou-me com os seus olhos em chamas e a resposta veio rápida:
-Ah, meu Deus, o senhor é teimoso! Repito, isto é do conhecimento geral!
Voltei à carga:
-Senhora Marta Suplicy, sou amigo de mais de quarenta famílias e em nenhuma delas alguém está separado. Desculpe-me, a senhora generalizou.
Atrás da candidata, o meu caro amigo Fernando Mauro juntou as palmas das mãos, como que implorando para eu me conter.
Um companheiro do programa fez a ela a seguinte pergunta:
-A senhora tem mais alguma ambição política, além desta, de ser eleita prefeita de São Paulo?
Resposta da candidata:
-Não, não tenho mais nenhuma outra ambição política. Só quero ser eleita prefeita de São Paulo para ajudar esse povo sofrido, martirizado, que vive penando nos pontos de ônibus. Prometeram a esse povo querido mais de dez corredores de ônibus e até agora não lhe deram nenhum. Eu prometo, vou dar a ele mais linhas de ônibus e corredores novos.
Interrompi as palavras da candidata:
-A senhora me desculpe, mas está havendo aí uma incoerência, um paradoxo.
Com os olhos novamente em chamas, Marta Suplicy interrogou:
-Como assim? Que incoerência?
-A senhora tem mais uma ambição política, além desta de ser eleita prefeita de São Paulo.
-Não compreendo!
-A senhora, há pouco tempo, concedeu uma entrevista ao jornal O Globo do Rio de Janeiro e assegurou, nessa entrevista, que vai ser no Brasil a primeira mulher a se tornar presidente da República. Portanto a senhora alimenta uma ambição política ainda maior.
Procurando manter-se calma, Marta Suplicy me contestou:
-Ah, meu Deus, o senhor implicou comigo, resolveu pegar no meu pé!
Tive vontade de lhe dizer:
-Não quero pegar no seu pé, porque ele está muito empoeirado.
Ela começou a explicar:
-Eu disse de fato que ia ser a primeira mulher a se tornar presidente da República no Brasil, porém em outra circunstância, pois agora estou apoiando, com o Lula, a candidatura da minha amiga Dilma Rousseff.
Respondi, sempre calmo:
-Perdoe-me, o nome da Dilma já havia sido divulgado, quando a senhora afirmou que ia ser a primeira mulher no Brasil a alcançar a presidência da República. Posso provar isto, guardo no meu arquivo a sua entrevista, com a respectiva data.
Um pouco exaltada, Marta Suplicy não se conteve:
-É, não há dúvida, o senhor resolveu implicar comigo!
Tratei logo de responder:
-Em absoluto! Não tenho nada pessoalmente contra sua pessoa. E tanto é verdade, que eu já a defendi!
-O senhor me defendeu?
-Defendi-a na página 98 do meu livro Vida e obra do plagiário Paulo Francis, publicado pela Geração Editorial, pois ele, o Francis, desrespeitou a senhora num texto aparecido em novembro de 1992 no jornal O Estado de S.Paulo. Texto repleto de sentido erótico.
-Eu não soube disso.
-Vou enviar-lhe o meu livro contra o Paulo Francis, onde a defendo. E também a defendi num artigo publicado em agosto de 2005 na revista IMPRENSA, pois o jornalista Marcelo Coelho chamou-a de perua na revista Veja. Ora, segundo o dicionário Aurélio, um dos significados do substantivo perua no sentido chulo é meretriz. Critiquei o Marcelo, salientando que nunca é elegante chamar uma senhora de perua, porque esta palavra se aplica a uma prostituta ou a uma mulher de aparência e comportamento exagerados.
E conclui, como quem encerra uma premissa:
-Assim sendo, é fácil deduzir que venho agindo, em relação à senhora, com inegável imparcialidade.
Após o fim do programa, um pouco mais amistosa e sorrindo de leve, Marta Suplicy me disse:
-Sabe de uma coisa? Eu devia lhe dar um puxãozinho de orelha....
Além de minha pessoa, mais três jornalistas compareceram, a fim de formular perguntas à candidata. Programa ao vivo, com grande audiência. Fernando Mauro é um comunicador nato, muito simpático, inteligente. Ele sabe conduzir o “Resumo da Ópera” de maneira firme, imparcial, e prender a atenção dos telespectadores.
Marta Suplicy se sentou a pouca distância do mediador. Ela estava vestida de forma discreta, mas notei que os seus pés, calçados com sandálias brancas, achavam-se empoeirados, não vou dizer sujos. Ao ver o meu olhar fixo nos seus alvos pés, ela os escondeu. Decerto, na sua campanha eleitoral, frenquentava os bairros da periferia, andando por ruas sem calçamento. Não era falta de higiene...
Os meus companheiros, no programa, lançavam as perguntas e Marta Suplicy respondia, desembaraçada. Tendo chegado a minha vez, o Fernando Mauro avisou-a, em tom de brincadeira:
-Cuidado com ele, o Fernando Jorge é especializado em pegadinhas.
Tranquilo, soltei estas palavras:
-Senhora Marta Suplicy, a senhora é candidata a prefeita da cidade de São Paulo e não ignora que quem concorre a um cargo público, como é o seu caso, deve sempre falar a verdade. Então, por favor, diga-me em qual fonte se baseou para declarar que hoje, em todo o Brasil, não existe uma só família onde alguém não esteja separado, ou o pai de um filho, ou a esposa de um marido, ou um irmão de um irmão, etc. A sua afirmativa foi publicada pela revista Veja – São Paulo, há duas semanas.
Algo nervosa, Marta Suplicy respondeu:
-Ah, meu Deus, nem é preciso citar nenhuma pesquisa! Isto é do conhecimento geral! Todo mundo sabe!
Repliquei, de modo sereno:
-Desculpe-me, mas se não citar a fonte na qual se baseou para declarar que hoje, em todo o Brasil, de sul a norte, de leste a oeste, não existe uma única família onde alguém não esteja separado, então a senhora generalizou, a sua afirmação não corresponde à verdade.
Marta Suplicy fitou-me com os seus olhos em chamas e a resposta veio rápida:
-Ah, meu Deus, o senhor é teimoso! Repito, isto é do conhecimento geral!
Voltei à carga:
-Senhora Marta Suplicy, sou amigo de mais de quarenta famílias e em nenhuma delas alguém está separado. Desculpe-me, a senhora generalizou.
Atrás da candidata, o meu caro amigo Fernando Mauro juntou as palmas das mãos, como que implorando para eu me conter.
Um companheiro do programa fez a ela a seguinte pergunta:
-A senhora tem mais alguma ambição política, além desta, de ser eleita prefeita de São Paulo?
Resposta da candidata:
-Não, não tenho mais nenhuma outra ambição política. Só quero ser eleita prefeita de São Paulo para ajudar esse povo sofrido, martirizado, que vive penando nos pontos de ônibus. Prometeram a esse povo querido mais de dez corredores de ônibus e até agora não lhe deram nenhum. Eu prometo, vou dar a ele mais linhas de ônibus e corredores novos.
Interrompi as palavras da candidata:
-A senhora me desculpe, mas está havendo aí uma incoerência, um paradoxo.
Com os olhos novamente em chamas, Marta Suplicy interrogou:
-Como assim? Que incoerência?
-A senhora tem mais uma ambição política, além desta de ser eleita prefeita de São Paulo.
-Não compreendo!
-A senhora, há pouco tempo, concedeu uma entrevista ao jornal O Globo do Rio de Janeiro e assegurou, nessa entrevista, que vai ser no Brasil a primeira mulher a se tornar presidente da República. Portanto a senhora alimenta uma ambição política ainda maior.
Procurando manter-se calma, Marta Suplicy me contestou:
-Ah, meu Deus, o senhor implicou comigo, resolveu pegar no meu pé!
Tive vontade de lhe dizer:
-Não quero pegar no seu pé, porque ele está muito empoeirado.
Ela começou a explicar:
-Eu disse de fato que ia ser a primeira mulher a se tornar presidente da República no Brasil, porém em outra circunstância, pois agora estou apoiando, com o Lula, a candidatura da minha amiga Dilma Rousseff.
Respondi, sempre calmo:
-Perdoe-me, o nome da Dilma já havia sido divulgado, quando a senhora afirmou que ia ser a primeira mulher no Brasil a alcançar a presidência da República. Posso provar isto, guardo no meu arquivo a sua entrevista, com a respectiva data.
Um pouco exaltada, Marta Suplicy não se conteve:
-É, não há dúvida, o senhor resolveu implicar comigo!
Tratei logo de responder:
-Em absoluto! Não tenho nada pessoalmente contra sua pessoa. E tanto é verdade, que eu já a defendi!
-O senhor me defendeu?
-Defendi-a na página 98 do meu livro Vida e obra do plagiário Paulo Francis, publicado pela Geração Editorial, pois ele, o Francis, desrespeitou a senhora num texto aparecido em novembro de 1992 no jornal O Estado de S.Paulo. Texto repleto de sentido erótico.
-Eu não soube disso.
-Vou enviar-lhe o meu livro contra o Paulo Francis, onde a defendo. E também a defendi num artigo publicado em agosto de 2005 na revista IMPRENSA, pois o jornalista Marcelo Coelho chamou-a de perua na revista Veja. Ora, segundo o dicionário Aurélio, um dos significados do substantivo perua no sentido chulo é meretriz. Critiquei o Marcelo, salientando que nunca é elegante chamar uma senhora de perua, porque esta palavra se aplica a uma prostituta ou a uma mulher de aparência e comportamento exagerados.
E conclui, como quem encerra uma premissa:
-Assim sendo, é fácil deduzir que venho agindo, em relação à senhora, com inegável imparcialidade.
Após o fim do programa, um pouco mais amistosa e sorrindo de leve, Marta Suplicy me disse:
-Sabe de uma coisa? Eu devia lhe dar um puxãozinho de orelha....
domingo, 1 de maio de 2011
Palavras para o meu leitor casado com uma mulher barbuda
Recebi a carta de um leitor que declarou isto:
“Casei-me com uma jovem linda, bem feminina, de rosto delicado e voz suave. Mas após cinco anos de matrimônio, pêlos de barba surgiram na sua fisionomia. Eles não pararam de crescer e ela, cansada de cortá-los, tornou-se barbuda! Hoje carrega uma abundante barba negra. Muitos pensam que a minha esposa é homem!”
O meu leitor levou-a a um endocrinologista. Este, depois de examiná-la cuidadosamente, informou-lhe: a jovem não é hermafrodita, com genes dos dois sexos, nem transexual, criatura predisposta a mudar de sexo, do ponto de vista psicológico. Ela é mesmo mulher, porém vítima da anomalia chamada hipertricose ou hirsutismo, cuja característica é o acentuado aumento da pilosidade. Tal anomalia pode ser geral, em todo corpo, ou localizada no rosto, de caráter genético ou adquirido. E certos distúrbios provocam a hipertricose, como a insuficiência ovariana e o excesso de atividade das glândulas supra-renais.
Cheio de angústia, o meu leitor não sabe o que fazer. Ele a ama bastante e vive ao seu lado numa fazenda de Minas Gerais, longe do convívio social. A esposa barbuda está grávida do segundo filho. O meu leitor pergunta:
“Existiram mulheres barbudas que deram à luz? Se existiram, este fato me consolará um pouco. Verei que não sou o único homem que teve filhos com uma mulher barbuda.”
Prezado leitor, sim, existiram. Uma delas foi a alemã Lisa Schoeffer, nascida em Hamburgo, no século XIX. Dona de barba espessa, comprida, era lindíssima e gerou quatro filhas também muito bonitas, mas sem barbas.
Ficou famoso, na Espanha do inicio do século XX, o caso da sedutora Viola Mercedes. Desde a idade de três anos, ela começou a ter pêlos nas partes laterais das faces, ou melhor, suíças, que pouco a pouco se transformaram numa barba cerrada. Mercedes, bem feminina, de voz doce, envolvente, casou-se aos dezessete anos e as suas filhas não não apresentavam nenhuma anormalidade.
Um quadro do pintor espanhol José Ribera (1591-1652), mestre do realismo barroco, intitulado La mujer barbuda, exibe uma senhora de barba enorme, farta, junto do seu marido, e sustentando nos braços o filho recém-nascido. Um seio da barbuda aparece na tela. Pormenor interessante: o marido tem barba, mas a dela é bem maior do que a dele...
Portanto, prezado leitor, você não é o único homem do mundo cuja esposa barbuda virou mãe.
Sempre houve mulheres barbudas e várias ficaram famosas.
Anne de Vaux, no século XVII, heroína da cidade francesa de Lille, lugar-tenente no regimento de Mercy, tinha barba no queixo.
A mais célebre mulher barbuda dos Estados Unidos foi Annie Jones, do século XIX. Menina ainda, o audacioso empresário Phineas Taylor Barnum, incomparável showman, mostrou-a em Nova York, no picadeiro do seu circo. Ela possuía, desde os nove meses, além de vastos bigodes, uma barba opulenta. Annie fez a felicidade de três maridos e ficou viúva, pela última vez, aos vinte e sete anos. Ganhou milhares de dólares. Orgulhava-se tanto dos seus bigodes, da sua barba, que pediu no testamento para ser enterrada com ambos. Queria, até no além, ostentar os títulos de Super-Mulher Barbuda e Super-Mulher Bigoduda...
Outra americana barbuda famosa: a senhora Post Myers, na primeira década do século XX. Bem cedo, com pouca idade, a sua barba e o seu bigode nasceram. Post era dotada de beleza rara. Os rapazes enviavam-lhe cartas apaixonadas. E aos quatorze anos a barba da adolescente já media quinze centímetros de largura. Antes de completar dezoito anos, quatro moços a pediram em casamento, mas ela os rejeitou e só deu o seu coração a um senhor chamado Myers, que era homem de negócios. Depois de se casar, a encantadora jovem bigoduda e barbuda explicou:
“O meu marido gosta da minha barba. Ele a acha muito bonita e sempre me diz que se eu a cortar, abandona-me”.
Post Myers e o seu esposo tiveram três filhos: duas meninas e um menino. Morreram quando eram pequenos. O casal não conseguiu saber se as duas meninas iam herdar da mãe os pêlos faciais.
Evoquei todos estes fatos a fim de convencer o meu leitor a aceitar de modo natural a barba da sua esposa. Faço questão de aconselhá-lo a não ter preconceito. Ele, o preconceito, é a idiotice vitoriosa, a miopia da mente, das células cerebrais. Só admito um preconceito: o preconceito contra o preconceito.
Se é verdadeiro, o amor nos obriga a amar tudo na criatura amada: verruga, calvície, nariz meio torto, pé ou orelhas avantajados. A prova disso é que se a pessoa muito querida falece com uma dessas características, passamos a sentir saudades até de qualquer defeito do seu físico.
O gosto é caprichoso, pois inúmeras vezes gostamos de coisas que outros abominam. Reza a quadra popular, colocada por Afrânio Peixoto no livro Trovas brasileiras:
“Duas coisas neste mundo
São minha grande paixão:
Perna grossa cabeluda,
Peito em pé no cabeção”
Ora, se as pernas grossas cabeludas de uma mulher são amadas, por que um barbudo rosto feminino não pode ser?
“Casei-me com uma jovem linda, bem feminina, de rosto delicado e voz suave. Mas após cinco anos de matrimônio, pêlos de barba surgiram na sua fisionomia. Eles não pararam de crescer e ela, cansada de cortá-los, tornou-se barbuda! Hoje carrega uma abundante barba negra. Muitos pensam que a minha esposa é homem!”
O meu leitor levou-a a um endocrinologista. Este, depois de examiná-la cuidadosamente, informou-lhe: a jovem não é hermafrodita, com genes dos dois sexos, nem transexual, criatura predisposta a mudar de sexo, do ponto de vista psicológico. Ela é mesmo mulher, porém vítima da anomalia chamada hipertricose ou hirsutismo, cuja característica é o acentuado aumento da pilosidade. Tal anomalia pode ser geral, em todo corpo, ou localizada no rosto, de caráter genético ou adquirido. E certos distúrbios provocam a hipertricose, como a insuficiência ovariana e o excesso de atividade das glândulas supra-renais.
Cheio de angústia, o meu leitor não sabe o que fazer. Ele a ama bastante e vive ao seu lado numa fazenda de Minas Gerais, longe do convívio social. A esposa barbuda está grávida do segundo filho. O meu leitor pergunta:
“Existiram mulheres barbudas que deram à luz? Se existiram, este fato me consolará um pouco. Verei que não sou o único homem que teve filhos com uma mulher barbuda.”
Prezado leitor, sim, existiram. Uma delas foi a alemã Lisa Schoeffer, nascida em Hamburgo, no século XIX. Dona de barba espessa, comprida, era lindíssima e gerou quatro filhas também muito bonitas, mas sem barbas.
Ficou famoso, na Espanha do inicio do século XX, o caso da sedutora Viola Mercedes. Desde a idade de três anos, ela começou a ter pêlos nas partes laterais das faces, ou melhor, suíças, que pouco a pouco se transformaram numa barba cerrada. Mercedes, bem feminina, de voz doce, envolvente, casou-se aos dezessete anos e as suas filhas não não apresentavam nenhuma anormalidade.
Um quadro do pintor espanhol José Ribera (1591-1652), mestre do realismo barroco, intitulado La mujer barbuda, exibe uma senhora de barba enorme, farta, junto do seu marido, e sustentando nos braços o filho recém-nascido. Um seio da barbuda aparece na tela. Pormenor interessante: o marido tem barba, mas a dela é bem maior do que a dele...
Portanto, prezado leitor, você não é o único homem do mundo cuja esposa barbuda virou mãe.
Sempre houve mulheres barbudas e várias ficaram famosas.
Anne de Vaux, no século XVII, heroína da cidade francesa de Lille, lugar-tenente no regimento de Mercy, tinha barba no queixo.
A mais célebre mulher barbuda dos Estados Unidos foi Annie Jones, do século XIX. Menina ainda, o audacioso empresário Phineas Taylor Barnum, incomparável showman, mostrou-a em Nova York, no picadeiro do seu circo. Ela possuía, desde os nove meses, além de vastos bigodes, uma barba opulenta. Annie fez a felicidade de três maridos e ficou viúva, pela última vez, aos vinte e sete anos. Ganhou milhares de dólares. Orgulhava-se tanto dos seus bigodes, da sua barba, que pediu no testamento para ser enterrada com ambos. Queria, até no além, ostentar os títulos de Super-Mulher Barbuda e Super-Mulher Bigoduda...
Outra americana barbuda famosa: a senhora Post Myers, na primeira década do século XX. Bem cedo, com pouca idade, a sua barba e o seu bigode nasceram. Post era dotada de beleza rara. Os rapazes enviavam-lhe cartas apaixonadas. E aos quatorze anos a barba da adolescente já media quinze centímetros de largura. Antes de completar dezoito anos, quatro moços a pediram em casamento, mas ela os rejeitou e só deu o seu coração a um senhor chamado Myers, que era homem de negócios. Depois de se casar, a encantadora jovem bigoduda e barbuda explicou:
“O meu marido gosta da minha barba. Ele a acha muito bonita e sempre me diz que se eu a cortar, abandona-me”.
Post Myers e o seu esposo tiveram três filhos: duas meninas e um menino. Morreram quando eram pequenos. O casal não conseguiu saber se as duas meninas iam herdar da mãe os pêlos faciais.
Evoquei todos estes fatos a fim de convencer o meu leitor a aceitar de modo natural a barba da sua esposa. Faço questão de aconselhá-lo a não ter preconceito. Ele, o preconceito, é a idiotice vitoriosa, a miopia da mente, das células cerebrais. Só admito um preconceito: o preconceito contra o preconceito.
Se é verdadeiro, o amor nos obriga a amar tudo na criatura amada: verruga, calvície, nariz meio torto, pé ou orelhas avantajados. A prova disso é que se a pessoa muito querida falece com uma dessas características, passamos a sentir saudades até de qualquer defeito do seu físico.
O gosto é caprichoso, pois inúmeras vezes gostamos de coisas que outros abominam. Reza a quadra popular, colocada por Afrânio Peixoto no livro Trovas brasileiras:
“Duas coisas neste mundo
São minha grande paixão:
Perna grossa cabeluda,
Peito em pé no cabeção”
Ora, se as pernas grossas cabeludas de uma mulher são amadas, por que um barbudo rosto feminino não pode ser?
sexta-feira, 15 de abril de 2011
A bondade é a ponte de luz entre a lama da Terra e o Céu
A Bondade é a ponte de luz entre a lama da Terra e os páramos estelares, a escada argêntea que Jacó viu em sonhos, pela qual subiam e desciam anjos.
Um sacerdote quis incutir no coração de certo crente o sentimento da generosidade. Por isto começou a perguntar:
-Supõe, meu filho, que tu possuis duas casas e a igreja está na pobreza. Serias capaz de vender uma das casas para ajudar a tua igreja?
O crente respondeu:
-Sem dúvida, padre.
-E se possuísses duas fazendas, sacrificarias uma em favor da igreja, se preciso fosse?
-Claro, por que não?
O sacerdote prosseguiu:
-Se por acaso possuísses dois cavalos, não venderias um, doando o seu valor à Caixa de Socorro da igreja?
-Sim, sim, com toda certeza.
-Muito bem, meu filho. Mas se tivesses só duas vacas não venderias uma, a fim de auxiliar a igreja?
-Perfeitamente.
O religioso estava encantado com o espírito magnânimo do crente. De modo que voltou a indagar:
-Suponhamos que não possuísses senão duas cabritas. Venderias uma, para dar esmola à tua igreja?
-Isto não! – exclamou o crente – isto não!
-Estranho que negues uma cabrita em benefício da igreja – disse o padre, surpreso – foste tão generoso em sacrificar casa, fazenda, cavalo e vacas...
-O motivo – explicou o crente – é que eu não possuo nem casas, nem fazendas, nem cavalos, nem vacas. Tenho apenas duas cabritas!
Quanta gente é semelhante a este homem! Quanta gente só consegue ser generosa com aquilo que não tem! Mas na hora do desprendimento, da filantropia, quando se pede o mínimo sacrifício em prol de uma ação meritória, a boa vontade desaparece, evapora-se como fumaça, restando apenas os despojos inúteis das palavras vãs...
São João, o Esmoler, gostava de contar a história do senhor Pierre, um recebedor da fazenda pública que vivia em Alexandria. Funcionário endinheirado, nunca dava esmolas, repelindo os pobres com expressões ásperas.
Um mendigo, certa vez, perguntou aos companheiros:
-Qual de nós conseguiu receber esmolas do senhor Pierre?
Os infelizes se calaram. Um deles afirmou:
-Pois bem, irei à procura do senhor Pierre e me comprometo a obter uma esmola.
Tentaram dissuadi-lo. Mas ele se dirigiu à casa do mau cristão. Ao chegar encontrou o padeiro sobraçando uma cesta de pães. O senhor Pierre apareceu e o pedinte logo lhe solicitou uma “esmolinha, pelo amor de Deus”.
-Vagabundo – bradou o impiedoso – vá embora!
O mísero, porém, insitiu. Colérico, o senhor Pierre abaixou-se para apanhar uma pedra, a fim de jogá-la no desgraçado. Não a encontrando, agarrou um dos pães e o lançou à cabeça do importuno:
-Retira-te, sem vergonha!
O mendigo pegou o pão e escapuliu:
-Obrigado, senhor Pierre, obrigado! Que o bom Deus vos recompense pela esmola que acabais de me conceder!
À noite, o inclemente recebedor da fazenda pública teve um sonho tétrico. Havia morrido e achava-se no tribunal do Padre Eterno. Ecoava um côro lúgubre de vozes celestiais, enquanto o envolvia uma atmosfera pressaga. Enxergou em frente de si uma balança, cujo prato da esquerda continha todos os pecados da sua vida. Apavorado, ele os contemplava. O medo cresceu ao observar que não existia uma única obra louvável no prato direito. Jesus Cristo, ali perto, cercado de querubins, apresentava um rosto severo. Os arcanjos repetiam, tristemente:
-Não há nada para colocar no lado direito!...
O Altíssimo já ia pronunciar a fatídica sentença, quando surgiu um anjo:
-Esperai, Senhor, esperai! Desejo depositar uma coisa no lado direito da balança!
O serafim trazia o pão lançado pelo senhor Pierre na cabeça do mendigo. Entretanto o demônio, que estava presente, protestou:
-Como podeis colocar do lado direito um pão arremessado por ódio à cabeça de um pobre?
-Pouco importa – respondeu o anjo – ele largou esse pão ao desditoso que lhe evocara o nome de Deus.
E dizendo isto o pôs no prato vazio.
Maravilha das maravilhas! Este pequeno pão, sujo e amassado, fez desaparecer as obras malignas que repousavam à esquerda. No mesmo instante a balança inclinou-se do lado direito. O senhor Pierre mal pôde conter um grito de júbilo. Molhado de suor, despertou com os olhos cheios de lágrimas.
A partir dessa noite compreendeu o valor da esmola, transformando-se num homem caridoso.
Conhecem o caso verídico do menino inglês que legou, num testamento, os seus brinquedos a um amigo, pouco antes de falecer?
Aconteceu em Londres. O garoto Michael Leslie, de dez anos, acordou durante a noite e viu que seus pais adotivos estavam mortos, em consequência de terem inalado gás, uma vez que, por descuido, deixaram aberta a torneira do fogão. Meio tonto, o menino ainda conseguiu escrever um bilhete, onde declarou que ia morrer, razão pela qual deixava seus brinquedos ao colega de escola Roger Simpson.
Este acontecimento abalou a opinião pública. Todos se emocionaram com a trágica história dessa criança que prestes a abandonar o mundo não se esqueceu de executar um tocante ato de bondade.
Michael, procedendo desta forma, deu aos adultos uma singela e eloquente lição de amor ao próximo.
Quem se mostra caridoso não dá apenas. Recebe também, embora isto pareça paradoxal. Porque ao protegermos os deserdados da sorte, nossa alma se acrisola, purifica-se, perde as arestas. O Egoísmo, horrendo Narciso, foge do indivíduo solidário com a dor universal.
Algumas esmolas, em lugar de empobrecer, tornam mais rico o ofertante.
São Pedro, descrevendo Cristo ao centurião Cornélio, proferiu estas palavras simples e comoventes:
“Passou fazendo o bem”
Oxalá todos os homens pudessem ter na sepultura semelhante epotáfio!
Um sacerdote quis incutir no coração de certo crente o sentimento da generosidade. Por isto começou a perguntar:
-Supõe, meu filho, que tu possuis duas casas e a igreja está na pobreza. Serias capaz de vender uma das casas para ajudar a tua igreja?
O crente respondeu:
-Sem dúvida, padre.
-E se possuísses duas fazendas, sacrificarias uma em favor da igreja, se preciso fosse?
-Claro, por que não?
O sacerdote prosseguiu:
-Se por acaso possuísses dois cavalos, não venderias um, doando o seu valor à Caixa de Socorro da igreja?
-Sim, sim, com toda certeza.
-Muito bem, meu filho. Mas se tivesses só duas vacas não venderias uma, a fim de auxiliar a igreja?
-Perfeitamente.
O religioso estava encantado com o espírito magnânimo do crente. De modo que voltou a indagar:
-Suponhamos que não possuísses senão duas cabritas. Venderias uma, para dar esmola à tua igreja?
-Isto não! – exclamou o crente – isto não!
-Estranho que negues uma cabrita em benefício da igreja – disse o padre, surpreso – foste tão generoso em sacrificar casa, fazenda, cavalo e vacas...
-O motivo – explicou o crente – é que eu não possuo nem casas, nem fazendas, nem cavalos, nem vacas. Tenho apenas duas cabritas!
Quanta gente é semelhante a este homem! Quanta gente só consegue ser generosa com aquilo que não tem! Mas na hora do desprendimento, da filantropia, quando se pede o mínimo sacrifício em prol de uma ação meritória, a boa vontade desaparece, evapora-se como fumaça, restando apenas os despojos inúteis das palavras vãs...
São João, o Esmoler, gostava de contar a história do senhor Pierre, um recebedor da fazenda pública que vivia em Alexandria. Funcionário endinheirado, nunca dava esmolas, repelindo os pobres com expressões ásperas.
Um mendigo, certa vez, perguntou aos companheiros:
-Qual de nós conseguiu receber esmolas do senhor Pierre?
Os infelizes se calaram. Um deles afirmou:
-Pois bem, irei à procura do senhor Pierre e me comprometo a obter uma esmola.
Tentaram dissuadi-lo. Mas ele se dirigiu à casa do mau cristão. Ao chegar encontrou o padeiro sobraçando uma cesta de pães. O senhor Pierre apareceu e o pedinte logo lhe solicitou uma “esmolinha, pelo amor de Deus”.
-Vagabundo – bradou o impiedoso – vá embora!
O mísero, porém, insitiu. Colérico, o senhor Pierre abaixou-se para apanhar uma pedra, a fim de jogá-la no desgraçado. Não a encontrando, agarrou um dos pães e o lançou à cabeça do importuno:
-Retira-te, sem vergonha!
O mendigo pegou o pão e escapuliu:
-Obrigado, senhor Pierre, obrigado! Que o bom Deus vos recompense pela esmola que acabais de me conceder!
À noite, o inclemente recebedor da fazenda pública teve um sonho tétrico. Havia morrido e achava-se no tribunal do Padre Eterno. Ecoava um côro lúgubre de vozes celestiais, enquanto o envolvia uma atmosfera pressaga. Enxergou em frente de si uma balança, cujo prato da esquerda continha todos os pecados da sua vida. Apavorado, ele os contemplava. O medo cresceu ao observar que não existia uma única obra louvável no prato direito. Jesus Cristo, ali perto, cercado de querubins, apresentava um rosto severo. Os arcanjos repetiam, tristemente:
-Não há nada para colocar no lado direito!...
O Altíssimo já ia pronunciar a fatídica sentença, quando surgiu um anjo:
-Esperai, Senhor, esperai! Desejo depositar uma coisa no lado direito da balança!
O serafim trazia o pão lançado pelo senhor Pierre na cabeça do mendigo. Entretanto o demônio, que estava presente, protestou:
-Como podeis colocar do lado direito um pão arremessado por ódio à cabeça de um pobre?
-Pouco importa – respondeu o anjo – ele largou esse pão ao desditoso que lhe evocara o nome de Deus.
E dizendo isto o pôs no prato vazio.
Maravilha das maravilhas! Este pequeno pão, sujo e amassado, fez desaparecer as obras malignas que repousavam à esquerda. No mesmo instante a balança inclinou-se do lado direito. O senhor Pierre mal pôde conter um grito de júbilo. Molhado de suor, despertou com os olhos cheios de lágrimas.
A partir dessa noite compreendeu o valor da esmola, transformando-se num homem caridoso.
Conhecem o caso verídico do menino inglês que legou, num testamento, os seus brinquedos a um amigo, pouco antes de falecer?
Aconteceu em Londres. O garoto Michael Leslie, de dez anos, acordou durante a noite e viu que seus pais adotivos estavam mortos, em consequência de terem inalado gás, uma vez que, por descuido, deixaram aberta a torneira do fogão. Meio tonto, o menino ainda conseguiu escrever um bilhete, onde declarou que ia morrer, razão pela qual deixava seus brinquedos ao colega de escola Roger Simpson.
Este acontecimento abalou a opinião pública. Todos se emocionaram com a trágica história dessa criança que prestes a abandonar o mundo não se esqueceu de executar um tocante ato de bondade.
Michael, procedendo desta forma, deu aos adultos uma singela e eloquente lição de amor ao próximo.
Quem se mostra caridoso não dá apenas. Recebe também, embora isto pareça paradoxal. Porque ao protegermos os deserdados da sorte, nossa alma se acrisola, purifica-se, perde as arestas. O Egoísmo, horrendo Narciso, foge do indivíduo solidário com a dor universal.
Algumas esmolas, em lugar de empobrecer, tornam mais rico o ofertante.
São Pedro, descrevendo Cristo ao centurião Cornélio, proferiu estas palavras simples e comoventes:
“Passou fazendo o bem”
Oxalá todos os homens pudessem ter na sepultura semelhante epotáfio!
domingo, 27 de março de 2011
ATCHIM! VOCÊ ESPIRROU?
Informa Heródoto, o “Pai da História”: na manhã da célebre batalha de Maratona, travada no ano 490 antes de Cristo, o jovem Hípias soltou um espirro tão forte, tão retumbante, que este o obrigou a expelir um dente. Aquilo foi considerado como um sinal de morte. De fato, Hipias morreu no decorrer da famosa batalha e todos os gregos viram no fim do jovem um justo castigo, uma severa punição, por ter empunhado a sua espada contra o seu próprio país.
Mas nem sempre, na Grécia, o espirro estrondoso era contemplado como um péssimo sinal, o anúncio de uma calamidade.
Penélope, certa vez, estava orando pelo regresso de Ulisses, o seu esposo, que viajara para combater na guerra de Tróia. Aí, nesse momento, a sua casa estremeceu, abalada por espirro fortíssimo de Telêmaco, o filho de ambos. Pois bem, a partir desse instante, Penélope alimentou a certeza de que Ulisses voltaria ao lar, e apesar da demora, das notícias falsas sobre o seu falecimento, ela nunca perdeu a fé, a esperança.
Conforme esclarece Teócrito, o poeta grego criador do gênero bucólico ou pastoril, o espirro procedente da narina direita era um bom aviso e proporcionava um raro prazer...
Os romanos fitavam o espirro como sinal de azar. Portanto, se qualquer cidadão espirrasse, eles pediam a proteção de Júpiter, o deus iroso e temperamental das nuvens, dos raios, dos trovões, das tempestades.
A Itália, no ano de 591, foi assolada por uma epidemia devastadora. Essa peste oferecia curiosa particularidade: os doentes espirravam, antes de morrer. Querendo impedir o avanço do mal, o papa Gregório Magno ordenou a celebração de missas, em todas as igrejas. Então, nessas ocasiões, quando alguém espirrava, o sacerdote punha a mão na cabeça da pessoa e diziz em latim:
- Dominus tecum! (“Deus te ajude!”)
Tais palavras são usadas por nós até hoje, diante de pessoas que espirram.
Um caipira chamado Bertolino, segundo narra Cornélio Pires, ficou impressionado com esta expressão, ouvida por ele em Goiás e no centro de Minas. E decidiu, após retê-la na memória:
-Vô levá esse “Tómenostéco” pro sertão... Quanto mais se viaja, mais se aprende!
Ao chegar a Caiapó, ele ouviu o espirro de um cumpadre:
-Atchim!
Bertolino não vacilou:
-“Tómenostéco”, compadre!
O outro quis saber:
-Uai Que negócio de “Tómenostéco” é esse?
O caipira respondeu:
-Compadre... Eu não sei o que é... Mais é muito bom pra espirro...
Uma quadrinha popular brasileira, maldosa e injusta:
“Se a mulher espirrasse
Cada vez que nos ilude,
Seria o mundo ocupado
Só em dizer: Deus te ajude!”
Mas nem sempre, na Grécia, o espirro estrondoso era contemplado como um péssimo sinal, o anúncio de uma calamidade.
Penélope, certa vez, estava orando pelo regresso de Ulisses, o seu esposo, que viajara para combater na guerra de Tróia. Aí, nesse momento, a sua casa estremeceu, abalada por espirro fortíssimo de Telêmaco, o filho de ambos. Pois bem, a partir desse instante, Penélope alimentou a certeza de que Ulisses voltaria ao lar, e apesar da demora, das notícias falsas sobre o seu falecimento, ela nunca perdeu a fé, a esperança.
Conforme esclarece Teócrito, o poeta grego criador do gênero bucólico ou pastoril, o espirro procedente da narina direita era um bom aviso e proporcionava um raro prazer...
Os romanos fitavam o espirro como sinal de azar. Portanto, se qualquer cidadão espirrasse, eles pediam a proteção de Júpiter, o deus iroso e temperamental das nuvens, dos raios, dos trovões, das tempestades.
A Itália, no ano de 591, foi assolada por uma epidemia devastadora. Essa peste oferecia curiosa particularidade: os doentes espirravam, antes de morrer. Querendo impedir o avanço do mal, o papa Gregório Magno ordenou a celebração de missas, em todas as igrejas. Então, nessas ocasiões, quando alguém espirrava, o sacerdote punha a mão na cabeça da pessoa e diziz em latim:
- Dominus tecum! (“Deus te ajude!”)
Tais palavras são usadas por nós até hoje, diante de pessoas que espirram.
Um caipira chamado Bertolino, segundo narra Cornélio Pires, ficou impressionado com esta expressão, ouvida por ele em Goiás e no centro de Minas. E decidiu, após retê-la na memória:
-Vô levá esse “Tómenostéco” pro sertão... Quanto mais se viaja, mais se aprende!
Ao chegar a Caiapó, ele ouviu o espirro de um cumpadre:
-Atchim!
Bertolino não vacilou:
-“Tómenostéco”, compadre!
O outro quis saber:
-Uai Que negócio de “Tómenostéco” é esse?
O caipira respondeu:
-Compadre... Eu não sei o que é... Mais é muito bom pra espirro...
Uma quadrinha popular brasileira, maldosa e injusta:
“Se a mulher espirrasse
Cada vez que nos ilude,
Seria o mundo ocupado
Só em dizer: Deus te ajude!”
sábado, 19 de março de 2011
Só ama de verdade quem enxerga além da aparência
Recebi uma carta, na qual a autora fez esta confissão:
“Tenho 25 anos, sou bonita, instruída, solteira, moderna, porém me desculpe a franqueza, só dou valor às coisas novas. Sei que o senhor não é jovem, mas o admiro por que nos seus textos sempre encontro bons conselhos e grande conhecimento da vida.”
A moça declara, nessa carta, estar amando um homem de 60 anos. E mostra-se confusa, pois contra a sua vontade, a sua natureza, agora o seu coração palpita por um sexagenário:
“Talvez eu tenha enlouquecido. Amar um velho, eu que sempre detestei as coisas velhas! Mas é verdade, eu o amo com muita ternura, há cinco anos. O tempo me provou isto. Diga-me, escritor Fernando Jorge, eu sou uma anormal, uma degenerada? Devo procurar um psiquiatra?”.
Prezada desconhecida, acalme-se. Jano, deus da mitologia romana, era representado com uma cabeça de duas faces contrapostas, uma voltada para frente e outra para trás. Pois bem, o deus Amor tem mais de mil faces. Não existe um só tipo de amor. As pessoas podem amar uma alma ou apenas um rosto, amar movidas pela atração física ou pela atração espiritual. Se é por causa da alma é o amor de Carolina pelo franzino e epilético Machado de Assis, se é por causa do físico, é o amor da grande atriz Sarah Bernhardt pelo belo ator Jacques Damala...
Resiste a tudo, o amor verdadeiro, nem a velhice e a morte conseguem destruí-lo. A grega Eós, isto é, a Aurora, irmã de Hélios, o Sol, e de Selene, a Lua, apaixonou-se pelo maravilhoso Titono e pediu a Zeus a graça de conceder a imortalidade ao amado. Mas ela se esqueceu de solicitar a esse rei do Olimpo, para Titono, a juventude eterna. Pobre Titono, os seus cabelos se embranqueceram, enrugou-se-lhe o rosto. Eós tentou rejuvenescer o companheiro, alimentando-o com a ambrósia, o manjar dos deuses. Desgostosa, inconformada, a núncia do Sol encerrou Titono num recanto sombrio, onde ele perdeu a aparência humana e ficou do tamanho de uma cigarra. Então Eós o transformou nesse inseto.
Minha jovem que ama um senhor de 60 anos: se o amor da Aurora dos “dedos cor-de-rosa”, como Homero a chamou, fosse espiritual e não físico, ela aceitaria a decrepitude de Titono. Amaria até a sua velhice, os seus cabelos brancos, as suas mãos enrugadas, porque o amor verdadeiro transforma a feiúra em poesia e beleza.
Só ama de verdade quem enxerga além da aparência. E a propósito disso, reproduzo aqui o soneto “Feia”, do poeta português Júlio Dantas:
“Não te amei. E por quê? Porque não há em ti
A graça que perturba, o sorriso que enleia:
Porque eu sou cego, filha, e porque tu és feia,
Porque te olhei, amor, e porque não te vi.
Foste minha e - vê lá! - nunca te conheci.
A tua alma, tão bela e tão nobre - ignorei-a.
Quis beleza, frescura - e construi na areia:
Só comecei a amar-te, hoje, que te perdi.
Amor espiritual, amor sem esperança,
Amor que não deseja e, por isso, não cansa,
Amor contrito e puro, arrependido e triste...
Hoje estou convencido, ó minha gloriosa:
A paixão sem beleza é a mais perigosa;
O amor por uma feia é o maior que existe.”
Júlio Dantas acertou. Quem ama uma pessoa sem se importar com a sua aparência, ama mais, bem mais.
Concluo este bate-papo dizendo à minha prezada desconhecida: se você, com os seus 25 anos, ama de fato esse homem de 60 anos, você não é uma anormal e nem deve procurar um psiquiatra. Devem procurar os psiquiatras, entretanto, todos aqueles que por preconceito se escandalizam diante dos amores verdadeiros.
_______________________________________________________
Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, lançado pela Editora Novo Século
“Tenho 25 anos, sou bonita, instruída, solteira, moderna, porém me desculpe a franqueza, só dou valor às coisas novas. Sei que o senhor não é jovem, mas o admiro por que nos seus textos sempre encontro bons conselhos e grande conhecimento da vida.”
A moça declara, nessa carta, estar amando um homem de 60 anos. E mostra-se confusa, pois contra a sua vontade, a sua natureza, agora o seu coração palpita por um sexagenário:
“Talvez eu tenha enlouquecido. Amar um velho, eu que sempre detestei as coisas velhas! Mas é verdade, eu o amo com muita ternura, há cinco anos. O tempo me provou isto. Diga-me, escritor Fernando Jorge, eu sou uma anormal, uma degenerada? Devo procurar um psiquiatra?”.
Prezada desconhecida, acalme-se. Jano, deus da mitologia romana, era representado com uma cabeça de duas faces contrapostas, uma voltada para frente e outra para trás. Pois bem, o deus Amor tem mais de mil faces. Não existe um só tipo de amor. As pessoas podem amar uma alma ou apenas um rosto, amar movidas pela atração física ou pela atração espiritual. Se é por causa da alma é o amor de Carolina pelo franzino e epilético Machado de Assis, se é por causa do físico, é o amor da grande atriz Sarah Bernhardt pelo belo ator Jacques Damala...
Resiste a tudo, o amor verdadeiro, nem a velhice e a morte conseguem destruí-lo. A grega Eós, isto é, a Aurora, irmã de Hélios, o Sol, e de Selene, a Lua, apaixonou-se pelo maravilhoso Titono e pediu a Zeus a graça de conceder a imortalidade ao amado. Mas ela se esqueceu de solicitar a esse rei do Olimpo, para Titono, a juventude eterna. Pobre Titono, os seus cabelos se embranqueceram, enrugou-se-lhe o rosto. Eós tentou rejuvenescer o companheiro, alimentando-o com a ambrósia, o manjar dos deuses. Desgostosa, inconformada, a núncia do Sol encerrou Titono num recanto sombrio, onde ele perdeu a aparência humana e ficou do tamanho de uma cigarra. Então Eós o transformou nesse inseto.
Minha jovem que ama um senhor de 60 anos: se o amor da Aurora dos “dedos cor-de-rosa”, como Homero a chamou, fosse espiritual e não físico, ela aceitaria a decrepitude de Titono. Amaria até a sua velhice, os seus cabelos brancos, as suas mãos enrugadas, porque o amor verdadeiro transforma a feiúra em poesia e beleza.
Só ama de verdade quem enxerga além da aparência. E a propósito disso, reproduzo aqui o soneto “Feia”, do poeta português Júlio Dantas:
“Não te amei. E por quê? Porque não há em ti
A graça que perturba, o sorriso que enleia:
Porque eu sou cego, filha, e porque tu és feia,
Porque te olhei, amor, e porque não te vi.
Foste minha e - vê lá! - nunca te conheci.
A tua alma, tão bela e tão nobre - ignorei-a.
Quis beleza, frescura - e construi na areia:
Só comecei a amar-te, hoje, que te perdi.
Amor espiritual, amor sem esperança,
Amor que não deseja e, por isso, não cansa,
Amor contrito e puro, arrependido e triste...
Hoje estou convencido, ó minha gloriosa:
A paixão sem beleza é a mais perigosa;
O amor por uma feia é o maior que existe.”
Júlio Dantas acertou. Quem ama uma pessoa sem se importar com a sua aparência, ama mais, bem mais.
Concluo este bate-papo dizendo à minha prezada desconhecida: se você, com os seus 25 anos, ama de fato esse homem de 60 anos, você não é uma anormal e nem deve procurar um psiquiatra. Devem procurar os psiquiatras, entretanto, todos aqueles que por preconceito se escandalizam diante dos amores verdadeiros.
_______________________________________________________
Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, lançado pela Editora Novo Século
quinta-feira, 17 de março de 2011
QUEM VÊ CARA NÃO VÊ CORAÇÃO
Julgo o povo, inúmeras vezes, mais sábio que os maiores sábios. Sua filosofia nasce da soma dos mais variados conhecimentos. Na leitura de um provérbio ou de um dito sentencioso colaboraram multidões tragadas pela voragem do tempo. Quanta profundeza deparamos num rifão! Uma frase popular não é o produto espontâneo de um repente feliz. Custou amarguras, decepções, sendo argamassada com diversas e sofridas experiências. Daí o cunho verdadeiro desses adágios que correm mundo, de autores desconhecidos, mas tão expressivos, tão lapidares, como os melhores aforismos de Pascal, La Rochefoucauld e Anatole France.
Assevera o povo, com instintiva sabedoria, que “quem vê cara não vê coração.” De fato nos enganamos, quando pretendemos avaliar o nosso semelhante pela sua fisionomia. As aparências iludem, escondem a realidade. A natureza quis brincar com o homem, oferecendo-lhe aspectos contraditórios, perturbadores, demonstrando, assim, as deficiências de nossa acuidade.
Se os sentidos estão sujeitos a tantas falhas, que dizer, então, do nosso cérebro?
Todo indivíduo, por mais tolerante, tem sempre encaixadas na cabeça, de forma renitente, algumas ideias convencionais, originadas de uma excessiva padronização da vida coletiva. São essas ideias preconcebidas, milhares e milhares de vezes divulgadas, que prejudicam a nossa visão particular das coisas e a capacidade de penetração psicológica. Por exemplo: em geral achamos que todo fulano com rosto assustador deve ser perigoso. Um tipo mal-encarado, de cicatriz na face, pode nos arrepiar o cabelo. Por qual motivo? É que o cinema e os romances policiais costumam mostrar os bandidos desta maneira...
Existe gente linda, de corpo sedutor, que é ruim como o Capeta, e gente feia, horrível mesmo, que é boa como a alma protetora dos anjos.
Sócrates, segundo Platão, possuía nariz retorcido, lábios grossos, olhos esbugalhados, pescoço bovino. Sua fealdade desaparecia perante a beleza moral que lhe ornava o espírito.
As mulheres Saras-Djinges, do centro da África, deformam com enormes sacrifícios os seus lábios, que ficam gigantescos. Isto, para elas, é a suprema beleza.
Os nativos das ilhas Sandwich, conforme o relato de diversos viajantes, acham que a mulher, quanto mais gorda, mais bonita se torna...
Cleópatra, na opinião de arqueólogos da NationalGeographicSociety, tinha uma boca demasiado pequena e um nariz demasiado grande, não se justificando, por conseguinte, a paixão de Marco Antônio por ela, já que a esposa deste, Otávia, era muito mais bela.
Do exposto, a que conclusão chegamos? Se a formosura é aquilo que nos agrada, então a fealdade, inúmeras ocasiões, é sublime, encantadora. E se a feiúra é, antes de tudo, aquilo que provoca repulsa, má impressão, quanta criatura de belo semblante é desprezível, horrorosa!
Assevera o povo, com instintiva sabedoria, que “quem vê cara não vê coração.” De fato nos enganamos, quando pretendemos avaliar o nosso semelhante pela sua fisionomia. As aparências iludem, escondem a realidade. A natureza quis brincar com o homem, oferecendo-lhe aspectos contraditórios, perturbadores, demonstrando, assim, as deficiências de nossa acuidade.
Se os sentidos estão sujeitos a tantas falhas, que dizer, então, do nosso cérebro?
Todo indivíduo, por mais tolerante, tem sempre encaixadas na cabeça, de forma renitente, algumas ideias convencionais, originadas de uma excessiva padronização da vida coletiva. São essas ideias preconcebidas, milhares e milhares de vezes divulgadas, que prejudicam a nossa visão particular das coisas e a capacidade de penetração psicológica. Por exemplo: em geral achamos que todo fulano com rosto assustador deve ser perigoso. Um tipo mal-encarado, de cicatriz na face, pode nos arrepiar o cabelo. Por qual motivo? É que o cinema e os romances policiais costumam mostrar os bandidos desta maneira...
Existe gente linda, de corpo sedutor, que é ruim como o Capeta, e gente feia, horrível mesmo, que é boa como a alma protetora dos anjos.
Sócrates, segundo Platão, possuía nariz retorcido, lábios grossos, olhos esbugalhados, pescoço bovino. Sua fealdade desaparecia perante a beleza moral que lhe ornava o espírito.
As mulheres Saras-Djinges, do centro da África, deformam com enormes sacrifícios os seus lábios, que ficam gigantescos. Isto, para elas, é a suprema beleza.
Os nativos das ilhas Sandwich, conforme o relato de diversos viajantes, acham que a mulher, quanto mais gorda, mais bonita se torna...
Cleópatra, na opinião de arqueólogos da NationalGeographicSociety, tinha uma boca demasiado pequena e um nariz demasiado grande, não se justificando, por conseguinte, a paixão de Marco Antônio por ela, já que a esposa deste, Otávia, era muito mais bela.
Do exposto, a que conclusão chegamos? Se a formosura é aquilo que nos agrada, então a fealdade, inúmeras ocasiões, é sublime, encantadora. E se a feiúra é, antes de tudo, aquilo que provoca repulsa, má impressão, quanta criatura de belo semblante é desprezível, horrorosa!
sábado, 5 de março de 2011
Estes não viveram!
Não viveram os que ficaram corroídos pela inveja do sucesso de alguém e se encheram de despeito.
Não viveram os que sempre entupiram os seus corações com o mais monstruoso dos ódios irracionais.
Não viveram os que nunca sentiram a presença silenciosa e emocionante da saudade.
Não viveram os que não se solidarizaram com os sofredores e os consolaram.
Não viveram os que procuraram corromper a pureza, a inocência, as virtudes, esmagando beija-flores, lírios, camélias e rosas.
Não viveram os que não acariciaram uma criança, não a beijaram, não brincaram com ela, ou lhe negaram um sorriso, uma palavra de ternura.
Não viveram os que, em nome da verdade, destruíram estupidamente as ilusões das almas ingênuas e sonhadoras.
Não viveram os que aplaudiram com cinismo o erro, o vício, a injustiça, o roubo, o crime, a venalidade, a corrupção, a prostituição.
Não viveram os que não amaram a cultura, a música, a poesia, a obra de arte, a beleza.
Não viveram os incapazes de ter pena de um infeliz, de um desgraçado, e que transformaram os seus corações em barras de gelo.
Não viveram os egocêntricos, que se preocuparam apenas com o seu bem-estar e fizeram de suas vidas uma auto-idolatria, sem ligar para mais ninguém.
Não viveram os jovens que zombaram dos velhos, e os desrespeitaram com a impaciência, a injúria, os cretinos atos de grosseria.
Não viveram os mesquinhos, que se mostraram pequeninos no modo de agir em relação aos nossos semelhantes e jamais tiveram um gesto de nobreza, de altruísmo, de desprendimento.
Não viveram os que só queriam “relaxar e gozar” e que acharam que o principal é encher o estômago, dormir bem, defecar bem e ter voraz e insaciável apetite sexual.
Não viveram os que só se preocuparam com os bens materiais, em detrimento dos bens espirituais, e que converteram os seus corações em metálicas caixas registradoras, cujo som é assim: dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro.
Não viveram os que, praticando uma ação vil, traíram a confiança de quem neles acreditava e assim emporcalharam as suas almas, cobrindo-as com fedorentos mantos de excremento.
Não viveram os falsos, os hipócritas, que Cristo comparou a “sepulcros brancos, caiados por fora, mas cheios de ossos de mortos e de podridão por dentro”.
Não viveram os que foram racistas, preconceituosos, e que por orgulho tolo, por se sentirem superiores, humilharam e maltrataram pessoas.
Não viveram os que não sentiram a dor indescritível de perder, levada pela morte, uma pessoa querida, pois como disse o poeta Francisco Otaviano, em versos nos quais a verdade resplandece:
Quem passou pela
vida em branca
nuvem e em plácido
repouso adormeceu,
quem não sentiu
o frio da desgraça,
quem passou pela
vida e não sofreu,
foi espectro de
homem, não foi
homem, só passou
pela vida, não viveu.
Meus amigos, viver é emocionar-se, no bom sentido, é sentir que temos alma, amor, sonhos, esperanças, coração, lágrimas, bondade, piedade, saudade. Quem não possui tudo isto não está vivo, é como um campo desprovido de flores, árvores, pássaros, sombras aconchegantes, só habitado por vermes, ossadas, escorpiões, mortíferas cobras geradas na região do horror e do espanto.
Não viveram os que sempre entupiram os seus corações com o mais monstruoso dos ódios irracionais.
Não viveram os que nunca sentiram a presença silenciosa e emocionante da saudade.
Não viveram os que não se solidarizaram com os sofredores e os consolaram.
Não viveram os que procuraram corromper a pureza, a inocência, as virtudes, esmagando beija-flores, lírios, camélias e rosas.
Não viveram os que não acariciaram uma criança, não a beijaram, não brincaram com ela, ou lhe negaram um sorriso, uma palavra de ternura.
Não viveram os que, em nome da verdade, destruíram estupidamente as ilusões das almas ingênuas e sonhadoras.
Não viveram os que aplaudiram com cinismo o erro, o vício, a injustiça, o roubo, o crime, a venalidade, a corrupção, a prostituição.
Não viveram os que não amaram a cultura, a música, a poesia, a obra de arte, a beleza.
Não viveram os incapazes de ter pena de um infeliz, de um desgraçado, e que transformaram os seus corações em barras de gelo.
Não viveram os egocêntricos, que se preocuparam apenas com o seu bem-estar e fizeram de suas vidas uma auto-idolatria, sem ligar para mais ninguém.
Não viveram os jovens que zombaram dos velhos, e os desrespeitaram com a impaciência, a injúria, os cretinos atos de grosseria.
Não viveram os mesquinhos, que se mostraram pequeninos no modo de agir em relação aos nossos semelhantes e jamais tiveram um gesto de nobreza, de altruísmo, de desprendimento.
Não viveram os que só queriam “relaxar e gozar” e que acharam que o principal é encher o estômago, dormir bem, defecar bem e ter voraz e insaciável apetite sexual.
Não viveram os que só se preocuparam com os bens materiais, em detrimento dos bens espirituais, e que converteram os seus corações em metálicas caixas registradoras, cujo som é assim: dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro.
Não viveram os que, praticando uma ação vil, traíram a confiança de quem neles acreditava e assim emporcalharam as suas almas, cobrindo-as com fedorentos mantos de excremento.
Não viveram os falsos, os hipócritas, que Cristo comparou a “sepulcros brancos, caiados por fora, mas cheios de ossos de mortos e de podridão por dentro”.
Não viveram os que foram racistas, preconceituosos, e que por orgulho tolo, por se sentirem superiores, humilharam e maltrataram pessoas.
Não viveram os que não sentiram a dor indescritível de perder, levada pela morte, uma pessoa querida, pois como disse o poeta Francisco Otaviano, em versos nos quais a verdade resplandece:
Quem passou pela
vida em branca
nuvem e em plácido
repouso adormeceu,
quem não sentiu
o frio da desgraça,
quem passou pela
vida e não sofreu,
foi espectro de
homem, não foi
homem, só passou
pela vida, não viveu.
Meus amigos, viver é emocionar-se, no bom sentido, é sentir que temos alma, amor, sonhos, esperanças, coração, lágrimas, bondade, piedade, saudade. Quem não possui tudo isto não está vivo, é como um campo desprovido de flores, árvores, pássaros, sombras aconchegantes, só habitado por vermes, ossadas, escorpiões, mortíferas cobras geradas na região do horror e do espanto.
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Mande benzer ou exorcizar o seu automóvel!
O ator James Dean (1931-1955) personificou a juventude americana rebelde. Ele tinha duas paixões: amava os animais e as motocicletas. Crescera no Meio Oeste dos Estados Unidos, frequentando em Los Angeles a Universidade da Califórnia. Quem o incentivou a ser ator foi a professora Adeline Nall, que era uma frustrada atriz de arte dramática. James fez pontas nos filmes comerciais de TV e em Nova York se tornou aluno do prestigioso Actors Studio, onde Marlon Brando havia estudado.
Impressionada com o desempenho do rapaz na peça The immoralist, sucesso da Broadway em 1953, quando James se destacou no papel de um homossexual árabe, a Warner Bros Pictures, um dos maiores estúdios de Hollywood, resolveu contratá-lo. Então ele brilhou no filme East of Eden (“Vidas amargas”), de 1955, dirigido por Elia Kazan e baseado num best-seller de John Steinbeck. Nesse filme, James é o filho carente e atormentado de Raymond Massey.
Duas películas, do ano de 1955, aumentaram a sua fama: Rebel whithout a cause (“Juventude transviada”), do diretor Nicholas Ray, e Giant (“Assim caminha a humanidade”), do diretor George Stevens.
No mundo inteiro os jovens se identificaram com a inquietação, o inconformismo, o comportamento neurótico dos personagens cinematográficos de James Dean e isto o transformou num mito, no símbolo de uma geração inimiga dos valores convencionais.
Pouco tempo depois, a caminho da cidade de Salinas, o moço James Dean morreu num acidente automobilístico, pois em alta velocidade o seu Porsche Spyder se chocou contra outro carro.
A morte trágica desse ator lhe deu a aura imperecível de uma lenda, da mesma categoria das lendas que mais tarde iriam cercar os Beatles, os Rolling Stones, Janis Joplin, Jimi Hendrix, o festival de Woodstock.
Caro leitor, agora vou narrar uma coisa que é muito estranha.
Após o acidente, os destroços do automóvel de James Dean foram levados a uma oficina. O motor do veículo despencou sobre o mecânico e quebrou-lhe as duas pernas.
Um médico, em seguida, comprou o motor e o colocou num carro de corrida. Logo o médico faleceu.
Consertaram numa oficina o Porsche de James Dean. Sem demora, um incêndio destruiu a oficina...
Exposto na cidade de Sacramento, capital do estado da Califórnia, o automóvel fatídico caiu do suporte e quebrou a bacia de um rapaz.
Lá no Oregon, o caminhão que transportava o carro, depois de derrapar, arrebentou a vitrina de uma loja.
Finalmente, no ano de 1959, o Porsche partiu-se em onze pedaços, enquanto se achava assentado sobre suportes de aço.
Eu não alimento a menor dúvida: o automóvel no qual James Dean morreu, ficou possuído pelo demônio. Nunca devem descrer da crueldade deste os católicos, os protestantes, os evangélicos, os espíritas, porque essa criatura maligna existe e tem diversos nomes: Lúcifer, Tentador, Satanás, Excomungado, Pé-de-Pato, Bode-Preto, Cão Tinhoso, Bruxo do Inferno, Principe das Trevas, Espírito do Mal. Abram a Bíblia e leiam nos versículos 1 e 2 do capítulo terceiro do livro de Zacarias:
“Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do Senhor, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor.
Mas o Senhor disse a Satanás: o Senhor te repreende, ó Satanás, o Senhor que escolheu a Jerusalém, te repreende”...
Há na Bíblia outras referências ao demônio. Leiam, por exemplo, o versículo 26 do capítulo doze do Evangelho de São Mateus e o versículo 23 do capítulo três do Evangelho de São Marcos.
Ainda consoante a Bíblia, no capítulo quatro do Evangelho de São Mateus, o diabo tentou Jesus num monte bem alto e lhe ofereceu todos os reinos do mundo e a glória deles, proferindo estas palavras:
“Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.”
Jesus o repeliu, como alguém que esmaga uma víbora:
“Retira-te, Satanás, porque está escrito: ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto”.
O assassinato é um dos prediletos meios de ação do Porco Sujo. Ele é o “Senhor da Morte”, conforme salienta o versículo 14 do capítulo dois da Epístola aos Hebreus:
“...aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo”.
Examinem o começo do versículo 44 do capítulo oito do Evangelho de São João:
“Ele (o diabo) foi homicida desde o princípio...”
Assim como o demônio pode invadir uma casa, apoderar-se de uma alma, também é capaz de se instalar num automóvel e levar quem o dirige à morte. Creio que tal fato ocorreu com James Dean. Portanto, amigo leitor, convém em certas circunstâncias mandar benzer o seu carro ou exorcizá-lo.
Impressionada com o desempenho do rapaz na peça The immoralist, sucesso da Broadway em 1953, quando James se destacou no papel de um homossexual árabe, a Warner Bros Pictures, um dos maiores estúdios de Hollywood, resolveu contratá-lo. Então ele brilhou no filme East of Eden (“Vidas amargas”), de 1955, dirigido por Elia Kazan e baseado num best-seller de John Steinbeck. Nesse filme, James é o filho carente e atormentado de Raymond Massey.
Duas películas, do ano de 1955, aumentaram a sua fama: Rebel whithout a cause (“Juventude transviada”), do diretor Nicholas Ray, e Giant (“Assim caminha a humanidade”), do diretor George Stevens.
No mundo inteiro os jovens se identificaram com a inquietação, o inconformismo, o comportamento neurótico dos personagens cinematográficos de James Dean e isto o transformou num mito, no símbolo de uma geração inimiga dos valores convencionais.
Pouco tempo depois, a caminho da cidade de Salinas, o moço James Dean morreu num acidente automobilístico, pois em alta velocidade o seu Porsche Spyder se chocou contra outro carro.
A morte trágica desse ator lhe deu a aura imperecível de uma lenda, da mesma categoria das lendas que mais tarde iriam cercar os Beatles, os Rolling Stones, Janis Joplin, Jimi Hendrix, o festival de Woodstock.
Caro leitor, agora vou narrar uma coisa que é muito estranha.
Após o acidente, os destroços do automóvel de James Dean foram levados a uma oficina. O motor do veículo despencou sobre o mecânico e quebrou-lhe as duas pernas.
Um médico, em seguida, comprou o motor e o colocou num carro de corrida. Logo o médico faleceu.
Consertaram numa oficina o Porsche de James Dean. Sem demora, um incêndio destruiu a oficina...
Exposto na cidade de Sacramento, capital do estado da Califórnia, o automóvel fatídico caiu do suporte e quebrou a bacia de um rapaz.
Lá no Oregon, o caminhão que transportava o carro, depois de derrapar, arrebentou a vitrina de uma loja.
Finalmente, no ano de 1959, o Porsche partiu-se em onze pedaços, enquanto se achava assentado sobre suportes de aço.
Eu não alimento a menor dúvida: o automóvel no qual James Dean morreu, ficou possuído pelo demônio. Nunca devem descrer da crueldade deste os católicos, os protestantes, os evangélicos, os espíritas, porque essa criatura maligna existe e tem diversos nomes: Lúcifer, Tentador, Satanás, Excomungado, Pé-de-Pato, Bode-Preto, Cão Tinhoso, Bruxo do Inferno, Principe das Trevas, Espírito do Mal. Abram a Bíblia e leiam nos versículos 1 e 2 do capítulo terceiro do livro de Zacarias:
“Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do Senhor, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor.
Mas o Senhor disse a Satanás: o Senhor te repreende, ó Satanás, o Senhor que escolheu a Jerusalém, te repreende”...
Há na Bíblia outras referências ao demônio. Leiam, por exemplo, o versículo 26 do capítulo doze do Evangelho de São Mateus e o versículo 23 do capítulo três do Evangelho de São Marcos.
Ainda consoante a Bíblia, no capítulo quatro do Evangelho de São Mateus, o diabo tentou Jesus num monte bem alto e lhe ofereceu todos os reinos do mundo e a glória deles, proferindo estas palavras:
“Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.”
Jesus o repeliu, como alguém que esmaga uma víbora:
“Retira-te, Satanás, porque está escrito: ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto”.
O assassinato é um dos prediletos meios de ação do Porco Sujo. Ele é o “Senhor da Morte”, conforme salienta o versículo 14 do capítulo dois da Epístola aos Hebreus:
“...aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo”.
Examinem o começo do versículo 44 do capítulo oito do Evangelho de São João:
“Ele (o diabo) foi homicida desde o princípio...”
Assim como o demônio pode invadir uma casa, apoderar-se de uma alma, também é capaz de se instalar num automóvel e levar quem o dirige à morte. Creio que tal fato ocorreu com James Dean. Portanto, amigo leitor, convém em certas circunstâncias mandar benzer o seu carro ou exorcizá-lo.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
UM LIVRO REPLETO DE ERROS DE PORTUGUÊS
Um livro de Paulo Coelho, intitulado O demônio e a srta. Prym está repleto de cacofonias, redundâncias, disparates, lugares-comuns, afirmativas absurdas, deficiências linguísticas, frases mal construídas e erros de regência verbal e colocação pronominal. Além disso, o escritor carioca não sabe inserir as vírgulas nos seus devidos lugares. Não sabe virgular. Também ignora que não se separa por vírgula o verbo do sujeito.
Mais do que o enredo anêmico, fragilíssimo, o que impressiona no livro é a enorme quantidade de solecismos, de erros de português. Examinemos alguns desses erros, apenas uma pequena parte. Já na página 35 encontrei este:
“...começou a rezar para sua avó, morta há algum tempo atrás...”
Eis aí uma expressão redundante. A ideia de passado está bem presente no verbo haver, não sendo necessário, portanto, o uso do advérbio atrás. Paulo Coelho repete o erro em outras páginas do livro:
“Há muitos anos atrás...” (página 36) – “Há três anos atrás...” (página 49) – “Há quatro dias atrás...” (página 58) – “...há milênios atrás” (página 60) – "Há três dias atrás..." (página 67).
Paulo não sabe usar a combinação da preposição em com o pronome demonstrativo aquele, na sua forma feminina, como se vê na página 37 de “O demônio e a srta. Prym”:
“De modo que resolveu matá-lo aquela mesma noite...”
A noite decidiu matar alguém, era uma criminosa? Se pudesse ser claro, correto, Paulo teria escrito assim:
“De modo que resolveu matá-lo naquela mesma noite...”
Monumental erro de concordância resplandece na página 121:
“Nada de apostas: aquele povo não merecia a fortuna que quase tiveram ao alcance das mãos.”
O verbo concorda com o sujeito em número e pessoa. É a regra geral, acima violada. Convido o amigo leitor para corrigir, junto de mim, a frase do Paulo Coelho:
“Nada de apostas: aquele povo não merecia a fortuna que quase teve ao alcance das mãos."
Paulo Coelho não conhece as regras básicas de colocação pronominal, é incapaz de meter o pronome se no seu devido lugar:
".. .desconhecendo que na maior parte das vezes comportam-se. . ." (página 23).
Eu e você, amigo leitor, vamos agora corrigir o autor de “O alquimista”:
“...desconhecendo que na maior parte das vezes se comportam...”.
Mas Coelho é teimoso, insistente e reincidente. Para ele o que não atrai pronome se:
“... o que mais temia transformou-se em realidade” (página 98) – "...há um momento em que um homem importante aproxima-se de Jesus" (página 138) – "E que, durante todos estes anos, tornou-se...” (página 160) – “... de modo que ninguém ali descobrisse que, em sua curta viagem até a cidade, transformara-se numa mulher rica”. (página 211).
Observem o cacófato da última frase: “numa mulher”. Aliás, na página 40 há este cacófato medonho: “uma maneira macabra”... É mamar demais, sem ter muito leite!
Aconselho a editora do Paulo Coelho a contratar um professor do nosso idioma para corrigir os gravíssimos erros de português desse escritor. Tais erros ensinam os seus leitores a falar errado, fazem a propaganda da ignorância.
Mais do que o enredo anêmico, fragilíssimo, o que impressiona no livro é a enorme quantidade de solecismos, de erros de português. Examinemos alguns desses erros, apenas uma pequena parte. Já na página 35 encontrei este:
“...começou a rezar para sua avó, morta há algum tempo atrás...”
Eis aí uma expressão redundante. A ideia de passado está bem presente no verbo haver, não sendo necessário, portanto, o uso do advérbio atrás. Paulo Coelho repete o erro em outras páginas do livro:
“Há muitos anos atrás...” (página 36) – “Há três anos atrás...” (página 49) – “Há quatro dias atrás...” (página 58) – “...há milênios atrás” (página 60) – "Há três dias atrás..." (página 67).
Paulo não sabe usar a combinação da preposição em com o pronome demonstrativo aquele, na sua forma feminina, como se vê na página 37 de “O demônio e a srta. Prym”:
“De modo que resolveu matá-lo aquela mesma noite...”
A noite decidiu matar alguém, era uma criminosa? Se pudesse ser claro, correto, Paulo teria escrito assim:
“De modo que resolveu matá-lo naquela mesma noite...”
Monumental erro de concordância resplandece na página 121:
“Nada de apostas: aquele povo não merecia a fortuna que quase tiveram ao alcance das mãos.”
O verbo concorda com o sujeito em número e pessoa. É a regra geral, acima violada. Convido o amigo leitor para corrigir, junto de mim, a frase do Paulo Coelho:
“Nada de apostas: aquele povo não merecia a fortuna que quase teve ao alcance das mãos."
Paulo Coelho não conhece as regras básicas de colocação pronominal, é incapaz de meter o pronome se no seu devido lugar:
".. .desconhecendo que na maior parte das vezes comportam-se. . ." (página 23).
Eu e você, amigo leitor, vamos agora corrigir o autor de “O alquimista”:
“...desconhecendo que na maior parte das vezes se comportam...”.
Mas Coelho é teimoso, insistente e reincidente. Para ele o que não atrai pronome se:
“... o que mais temia transformou-se em realidade” (página 98) – "...há um momento em que um homem importante aproxima-se de Jesus" (página 138) – "E que, durante todos estes anos, tornou-se...” (página 160) – “... de modo que ninguém ali descobrisse que, em sua curta viagem até a cidade, transformara-se numa mulher rica”. (página 211).
Observem o cacófato da última frase: “numa mulher”. Aliás, na página 40 há este cacófato medonho: “uma maneira macabra”... É mamar demais, sem ter muito leite!
Aconselho a editora do Paulo Coelho a contratar um professor do nosso idioma para corrigir os gravíssimos erros de português desse escritor. Tais erros ensinam os seus leitores a falar errado, fazem a propaganda da ignorância.
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
O CARRO CELESTIAL DE AYRTON SENNA
Apesar de não gostar de automobilismo, no qual enxergo uma loucura e não um esporte, eu admirava a coragem de Senna. O seu patriotismo me comovia. Mesmo sem querer, lutando contra os meus próprios sentimentos, a emoção se apoderava da minha alma, quando via Ayrton Senna agitar a nossa bandeira, após ser o vencedor de uma corrida internacional. Um nó se formava na minha garganta e eu engolia a seco. Aquele rapaz modesto, erguendo a nossa bandeira, me devolvia o orgulho de ser brasileiro e conseguia tirar do meu coração, por alguns momentos, o ódio, a fúria, a revolta que nunca deixei de alimentar contra os nossos políticos corruptos.
Sim, ele estufava o nosso peito, fazia desabrochar em nossas caras, mesmo que não fosse na primavera, a nacarada flor do sorriso, da alegria apetecida. Ofertava esse prazer ao povo e ainda o socorria, pois só agora se sabe, depois de sua morte, que ele ajudou em segredo, às ocultas, deficientes físicos e à entidades assistenciais. Deu milhares de dólares à Fundação Abrinq, à Associação de Assistência à Criança Defeituosa, ao Centro de Reabilitação do Hospital das Clinicas. Graças aquele piloto de ar tímido e gestos simples, máquinas carissimas foram adquiridas no exterior, como o aparelho Cybex, utilizado nas avaliações musculares. Com o dinheiro que ganhava nas pistas, arriscando sua vida, Ayrton Senna patrocinou o tratamento de centenas de crianças carentes, portadoras de distúrbios cerebrais ou neurológicos.
Ele salvou a vida da jovem Regiane Maria dos Reis, que sofria de cirrose hepática crônica e necessitava urgentemente de um transplante de fígado. Os 65 mil dólares doados por Senna pagaram a operação da moça. E a sua bondade também favoreceu, no estado do Acre, uma instituição de assistência médica a índios e seringueiros, fundada pelo Chico Mendes. Inimigo do espalhafato, da caridade ruidosa e ostensiva, Senna exigia que essas ações jamais fossem reveladas.
Rapaz de olhar meio triste, Ayrton Senna declarava que durante as corridas, quase sempre, tinha o costume de conversar com Deus. Aliás, em 1988, após conquistar o seu primeiro título mundial no Japão, ele afirmou que havia contemplado Jesus Cristo num trecho do autódromo, antes do fim da prova. Leiam as suas palavras:
-Eu estava agradecendo a Deus pela vitória. Deus me presenteou. Era um presente enorme, essa vitória. Mesmo rezando, eu estava super concentrado, me preparando para uma curva longa, de 180 graus, quando vi a imagem de Jesus. Ele era tão grande, tão grande... Não estava no chão. Estava suspenso, com a roupa de sempre, e uma luz em volta. O seu corpo inteirinho subia para o céu, alto, alto, alto, ocupando todo o espaço. Eu vi essa imagem incrível, enquanto guiava o carro de corrida. Guiava com precisão, com força, com...
Ai, nesse momento, Ayrton Senna ficou mais emocionado, os seus olhos se umedeceram e ele acrescentou:
-É de enlouquecer, não é? É de enlouquecer...
Que moço estranho, o Ayrton Senna! Pairava no seu rosto a melancolia das criaturas que morrem cedo. Ayrton era um místico, um médium com o dom de ter visões, um ser repleto de bondade, de espiritualidade.
Agora eu o vejo como um espírito de luz, guiando no espaço negro da morte um belíssimo e resplandecente carro de corrida. Para onde vai esse carro etéreo, mais veloz do que os carros de corrida do nosso planeta? Vai em direção à Luz suprema, à Luz de todas as luzes, à Luz que ressuscita os mortos e que se chama Deus. E de onde vem a força desse carro celestial do Ayrton? Vem de sua alma, da sua bondade, da sua piedade, da humana ternura do seu coração sensível e extremamente generoso...
domingo, 6 de fevereiro de 2011
JÂNIO QUADROS, NO PALÁCIO DA ALVORADA, FEZ O EMBAIXADOR DOS ESTADOS UNIDOS ENTRAR NO SEU GUARDA-ROUPA!
Fiz esta pergunta a Jânio Quadros, durante um dos meus almoços com ele, na sua casa da rua 9 de Julho, em Santo Amaro:
-Houve muita pressão dos Estados Unidos para o senhor apoiar a ação armada que o governo do presidente Kennedy planejava contra Cuba?
Eufórico, com o rosto mais vermelho, Jânio Quadros fitou-me. Bebeu um pouco de vinho e de modo desembaraçado, às vezes escandindo as sílabas de algumas palavras, começou a rememorar:
-Um mês depois da minha posse na presidência da República, nos fins de fevereiro de 1961, desembarcou em Brasília o Adolfo Berle Jr. Este, no ano de 1945, como embaixador dos Estados Unidos, havia contribuído para a derrubada do Estado Novo, da ditadura de Getúlio Vargas, mas eu jamais iria tolerar qualquer interferência do governo norte-americano em nossa política interna. Nem quis recebê-lo, pois não ignorava que o seu plano consistia em forçar o Brasil a participar de uma ação jurídica e diplomática cujo objetivo era legalizar a intervenção direta dos Estados Unidos em Cuba, como aconteceu na Coréia e no Congo, sob os auspícios da OEA e da ONU.
Indaguei, repleto de curiosidade:
-E de que maneira o senhor descascou o pepino?
-Eu não o descasquei. Quem o descascou foi o Afonso Arinos de Melo Franco, o meu ministro das Relações Exteriores, a quem incumbi de falar com o Berle. O enviado de Kennedy, vendo que não conseguia nada, pediu socorro ao John Moors Cabot, embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Cabot, na ânsia de agradar o Berle e o Kennedy, ousou interferir em nossa vida política.
-Bem, e aí, o que o senhor fez?
-Impaciente, fervendo de indignação, mandei chamar o John Moors Cabot. Ele, muito sem jeito, entrou no meu gabinete. Decerto já sabia que eu me achava bem informado sobre o seu vil procedimento. Sentou-se na minha frente, diante de uma mesa baixa, e fui direto ao assunto: “embaixador Cabot, o senhor é o representante de um país com o qual a minha pátria, o Brasil, mantém tradicionais laços de amizade, desde a época de Tiradentes, mas agora o senhor não está se comportando bem!”
-O senhor teve a coragem de dizer isto?
-Sim, é claro, pois era a pura verdade!
-E ele, qual foi a sua reação?
-Ficou pálido. Eu o encarei de modo firme, sem desviar o meu olhar irado dos seus olhos, enquanto lhe dizia: “o senhor está metendo o bedelho em nossa vida política. Asseguro, o senhor não tem o direito de fazer isto, assim como o nosso embaixador em Washington não tem o direito de interferir nos assuntos internos dos Estados Unidos”.
-E aí, presidente, o que ele disse?
-Nervoso, a gaguejar, quis me contradizer. Reagi: “não, não, não, o senhor não me desminta, eu posso apresentar as provas! Vou adverti-lo, ou o senhor pára de meter o bedelho em nossa vida política, ou serei obrigado, para o bem dos tradicionais laços de amizade entre o Brasil e os Estados Unidos, a pedir ao seu governo a sua substituição por outro embaixador. Escolha”.
-E como acabou o encontro, presidente?
-Levantei-me e o despedi, sem lhe apertar a mão. Ele estava tão nervoso, tão atarantado, que em vez de sair pela porta do gabinete, entrou no meu guarda-roupa!
Eu e a dona Eloá rimos a valer, provocando os latidos dos três cães do casal.
_______________________________________________________
Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, lançado pela Editora Novo Século
-Houve muita pressão dos Estados Unidos para o senhor apoiar a ação armada que o governo do presidente Kennedy planejava contra Cuba?
Eufórico, com o rosto mais vermelho, Jânio Quadros fitou-me. Bebeu um pouco de vinho e de modo desembaraçado, às vezes escandindo as sílabas de algumas palavras, começou a rememorar:
-Um mês depois da minha posse na presidência da República, nos fins de fevereiro de 1961, desembarcou em Brasília o Adolfo Berle Jr. Este, no ano de 1945, como embaixador dos Estados Unidos, havia contribuído para a derrubada do Estado Novo, da ditadura de Getúlio Vargas, mas eu jamais iria tolerar qualquer interferência do governo norte-americano em nossa política interna. Nem quis recebê-lo, pois não ignorava que o seu plano consistia em forçar o Brasil a participar de uma ação jurídica e diplomática cujo objetivo era legalizar a intervenção direta dos Estados Unidos em Cuba, como aconteceu na Coréia e no Congo, sob os auspícios da OEA e da ONU.
Indaguei, repleto de curiosidade:
-E de que maneira o senhor descascou o pepino?
-Eu não o descasquei. Quem o descascou foi o Afonso Arinos de Melo Franco, o meu ministro das Relações Exteriores, a quem incumbi de falar com o Berle. O enviado de Kennedy, vendo que não conseguia nada, pediu socorro ao John Moors Cabot, embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Cabot, na ânsia de agradar o Berle e o Kennedy, ousou interferir em nossa vida política.
-Bem, e aí, o que o senhor fez?
-Impaciente, fervendo de indignação, mandei chamar o John Moors Cabot. Ele, muito sem jeito, entrou no meu gabinete. Decerto já sabia que eu me achava bem informado sobre o seu vil procedimento. Sentou-se na minha frente, diante de uma mesa baixa, e fui direto ao assunto: “embaixador Cabot, o senhor é o representante de um país com o qual a minha pátria, o Brasil, mantém tradicionais laços de amizade, desde a época de Tiradentes, mas agora o senhor não está se comportando bem!”
-O senhor teve a coragem de dizer isto?
-Sim, é claro, pois era a pura verdade!
-E ele, qual foi a sua reação?
-Ficou pálido. Eu o encarei de modo firme, sem desviar o meu olhar irado dos seus olhos, enquanto lhe dizia: “o senhor está metendo o bedelho em nossa vida política. Asseguro, o senhor não tem o direito de fazer isto, assim como o nosso embaixador em Washington não tem o direito de interferir nos assuntos internos dos Estados Unidos”.
-E aí, presidente, o que ele disse?
-Nervoso, a gaguejar, quis me contradizer. Reagi: “não, não, não, o senhor não me desminta, eu posso apresentar as provas! Vou adverti-lo, ou o senhor pára de meter o bedelho em nossa vida política, ou serei obrigado, para o bem dos tradicionais laços de amizade entre o Brasil e os Estados Unidos, a pedir ao seu governo a sua substituição por outro embaixador. Escolha”.
-E como acabou o encontro, presidente?
-Levantei-me e o despedi, sem lhe apertar a mão. Ele estava tão nervoso, tão atarantado, que em vez de sair pela porta do gabinete, entrou no meu guarda-roupa!
Eu e a dona Eloá rimos a valer, provocando os latidos dos três cães do casal.
_______________________________________________________
Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, lançado pela Editora Novo Século
sábado, 29 de janeiro de 2011
A DEFICIÊNCIA FÍSICA NÃO ELIMINA O VALOR
Recebi uma carta de um jovem que é deficiente físico, na qual ele declara:
"Nasci quase sem pernas e sem braços, com estas duas partes do meu corpo atrofiadas. Às vezes me entristeço, porque nem sempre é fácil, para mim, aceitar tal situação. Talvez o senhor possa animar-me, numa de suas crônicas. Ficarei grato."
Prezado leitor, atendendo ao seu pedido, vou evocar neste bate-papo uma das mais extraordinárias vidas do século XIX. É a de Arthur MacMurrough Kavanagh, nascido no dia 25 de março de 1831, terceiro filho de lady Harriet Margaret Le Poer Trench, segunda esposa de Thomas Kavanagh, parlamentar inglês. Quando Arthur saiu do ventre da mãe, uma empregada exclamou, ao vê-lo:
-Coitadinho! Deus o levará e assim será melhor para todos!
O menino tinha apenas dois cotos de alguns centímetros, no lugar onde deveriam estar os braços, e além disso as pernas lhe faltavam por completo. Mas Deus não quis levá-lo. Iria viver 58 anos, de maneira intensa.
Arthur cresceu. Ele possuía um sorriso franco, límpidos olhos azuis, ombros largos e uma testa espaçosa, indicadora de alta inteligência. Perseverante, aprendeu a escrever usando a caneta com os dentes. E a sua letra era boa. Logo se tornou o mais audacioso cavaleiro dos condados do interior da Irlanda. Como fazia isto? Seguro por correias a uma sela especial, e após empurrar para a frente os ombros largos, ele agarrava as rédeas com os dois cotos de braços.
Mostrou ser um ótimo atirador, de pontaria infalível. Eis o seu método: prendia a arma debaixo do coto do braço esquerdo e com o direito puxava o gatilho. Também foi um pescador habilíssimo. Atreveu-se até a pescar nas águas traiçoeiras das imediações do Círculo Ártico.
Apesar de não ter mãos, Arthur MacMurrough Kavanagh sabia desenhar muito bem e era um pintor de talento.
Em 1848, ele decidiu empreender uma longa viagem com o irmão mais velho, Thomas, e com o seu professor, o reverendo David Wood. Seria uma excursão quase sempre a cavalo, da Suécia até a Índia. E Arthur partiu. Atravessou a Finlândia, foi até a Rússia, desceu pelo Volga, navegou pelo Mar Cáspio, chegou à Pérsia e depois a Bombaim. Durante três anos o destemido homenzinho sem braços e sem pernas sofreu toda a espécie de privações: enfrentou períodos de fome, de doenças, de invernos duríssimos e de calores bárbaros.
No Teerã participou de caçadas ao lado do príncipe persa Malichos Mirza, filho do Xá Fat-Ali. E Arthur, ao ficar doente em 1850, passou a sua convalescença no magnífico harém desse príncipe. Imaginem como foi deliciosa a sua recuperação...
O dinheiro do homem sem pernas e sem braços acabou, mas ele não esmoreceu. Conseguiu arrumar um emprego em Aurugumbad, na Companhia das Índias Orientais. Sabem qual era a sua tarefa? Levar mensagens urgentes, a cavalo!
Contemplando a vida de Arthur, vemos como Goethe não errou ao escrever os seguintes versos na parte nona do poema “Hermann und Dorothea”:
“Aquele que se apoia numa vontade firme,
forja o mundo a seu gosto”
(“Aber wer fest auf dem Sinne beharrt,
Der bildet die Welt Sich” )
Baixinho, de pernas curtas (pernicurto), Napoleão era um gigante, do ponto de vista militar. Ele e o britânico Arthur MacMurrough Kavanagh são a prova de que a deficiência física desaparece, quando quem a carrega tem coragem, tenacidade, personalidade, inteligência, em suma, indiscutível valor próprio.
"Nasci quase sem pernas e sem braços, com estas duas partes do meu corpo atrofiadas. Às vezes me entristeço, porque nem sempre é fácil, para mim, aceitar tal situação. Talvez o senhor possa animar-me, numa de suas crônicas. Ficarei grato."
Prezado leitor, atendendo ao seu pedido, vou evocar neste bate-papo uma das mais extraordinárias vidas do século XIX. É a de Arthur MacMurrough Kavanagh, nascido no dia 25 de março de 1831, terceiro filho de lady Harriet Margaret Le Poer Trench, segunda esposa de Thomas Kavanagh, parlamentar inglês. Quando Arthur saiu do ventre da mãe, uma empregada exclamou, ao vê-lo:
-Coitadinho! Deus o levará e assim será melhor para todos!
O menino tinha apenas dois cotos de alguns centímetros, no lugar onde deveriam estar os braços, e além disso as pernas lhe faltavam por completo. Mas Deus não quis levá-lo. Iria viver 58 anos, de maneira intensa.
Arthur cresceu. Ele possuía um sorriso franco, límpidos olhos azuis, ombros largos e uma testa espaçosa, indicadora de alta inteligência. Perseverante, aprendeu a escrever usando a caneta com os dentes. E a sua letra era boa. Logo se tornou o mais audacioso cavaleiro dos condados do interior da Irlanda. Como fazia isto? Seguro por correias a uma sela especial, e após empurrar para a frente os ombros largos, ele agarrava as rédeas com os dois cotos de braços.
Mostrou ser um ótimo atirador, de pontaria infalível. Eis o seu método: prendia a arma debaixo do coto do braço esquerdo e com o direito puxava o gatilho. Também foi um pescador habilíssimo. Atreveu-se até a pescar nas águas traiçoeiras das imediações do Círculo Ártico.
Apesar de não ter mãos, Arthur MacMurrough Kavanagh sabia desenhar muito bem e era um pintor de talento.
Em 1848, ele decidiu empreender uma longa viagem com o irmão mais velho, Thomas, e com o seu professor, o reverendo David Wood. Seria uma excursão quase sempre a cavalo, da Suécia até a Índia. E Arthur partiu. Atravessou a Finlândia, foi até a Rússia, desceu pelo Volga, navegou pelo Mar Cáspio, chegou à Pérsia e depois a Bombaim. Durante três anos o destemido homenzinho sem braços e sem pernas sofreu toda a espécie de privações: enfrentou períodos de fome, de doenças, de invernos duríssimos e de calores bárbaros.
No Teerã participou de caçadas ao lado do príncipe persa Malichos Mirza, filho do Xá Fat-Ali. E Arthur, ao ficar doente em 1850, passou a sua convalescença no magnífico harém desse príncipe. Imaginem como foi deliciosa a sua recuperação...
O dinheiro do homem sem pernas e sem braços acabou, mas ele não esmoreceu. Conseguiu arrumar um emprego em Aurugumbad, na Companhia das Índias Orientais. Sabem qual era a sua tarefa? Levar mensagens urgentes, a cavalo!
Contemplando a vida de Arthur, vemos como Goethe não errou ao escrever os seguintes versos na parte nona do poema “Hermann und Dorothea”:
“Aquele que se apoia numa vontade firme,
forja o mundo a seu gosto”
(“Aber wer fest auf dem Sinne beharrt,
Der bildet die Welt Sich” )
Baixinho, de pernas curtas (pernicurto), Napoleão era um gigante, do ponto de vista militar. Ele e o britânico Arthur MacMurrough Kavanagh são a prova de que a deficiência física desaparece, quando quem a carrega tem coragem, tenacidade, personalidade, inteligência, em suma, indiscutível valor próprio.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
UM RATO MERECE MAIS ESTIMA QUE CERTOS HOMENS
A senhorita Stella Thompson, de trinta e sete anos, que mora em Havant, Inglaterra, resolveu não se mudar do local onde vive, embora tenha herdado do progenitor uma vasta e moderna residência. O motivo é que ela não se conforma em abandonar um rato pelo qual se afeiçoou, chamado “Will-o’-the-Wild”.
-Se eu deixar esta casa – pergunta a mulher – quem tratará da alimentação de Will? É um ratinho muito tímido e não sabe defender a própria subsistência.
A senhorita Thompson, conforme declarou, já teve em certa ocasião nada menos de vinte e oito ratos soltos no seu apartamento.
-É bastante bonita e confortável a casa do meu pai, no Sussex – disse ela – porém não quero deixar Will sozinho. Levá-lo comigo seria uma solução arriscada, pois ele poderia morrer por estranhar o ambiente.
Esta inglesa sentimental, ao contrário de tantas criaturas do seu sexo, nutre uma profunda simpatia por esses ágeis roedores, que nunca foram, através dos séculos, animais benquistos.
Quase todos os irracionais são símbolos para o homem. A abelha representa a indústria; o galo, a vigilância; a formiga, o trabalho; o boi, a paciência; o leão, a força; a coruja, o estudo; a pomba, a paz; o cão, a fidelidade; a ovelha, a mansuetude... E o rato? Este é símbolo da cupidez e da podridão.
Os hindus veneram a vaca. No estado de Caxemira, aquele que tirar a vida de uma, é castigado com sete anos de cadeia. Em Madagascar, recebe pena de morte quem mata um crocodilo. O tigre, esse belo quadrúpede carniceiro, é adorado em Bengala e nas ilhas de Sonda. Até o urubu, o negro e feio urubu, tem os seus admiradores, porquanto no Daomé os nativos o respeitam como um deus. Mas... e o rato, quem o enaltece, lhe presta homenagens? Se não me engano, o seu único panegirista, na época contemporânea, foi Walt Disney, o criador dos desenhos animados de Mickey Mouse...
Dos outros animais o homem aprendeu inúmeras coisas valiosas. A aranha ensinou-lhe a arte de tecer. Alguns pássaros, como o joão-de-barro, deram exímias lições de engenharia. A raposa mostrou o que é a astúcia; a lebre, o que é a velocidade; a mula, o que é a obstinação... E assim por diante. O rato apenas ensinou o homem a ser guloso e rapinante.
O sexo frágil sempre demonstrou por ele uma tremenda antipatia. A senhorita Stella Thompson é uma exceção. Adora esses tratantes, estremece de ternura ao vê-los. Acha que são lindos, mimosos, encantadores. Nem lhe passa pelo cérebro que os patifezinhos transmitem a peste bubônica e a disenteria bacilar.
O amor é cego, dizem com razão. Eu compreendo, no entanto, porque essa inglesa excêntrica quer bem aos ratos. Solteirona, quase atingindo os quarenta, tem um coração ardente, repleto de meiguice. Como não pode extravasar todo o carinho que ele encerra junto a um esposo e a um filho, volta-se para os tais animalejos.
No fim das contas, aqui entre nós, amigo leitor, um rato merece mais estima que certos homens.
______________________________________________
Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, lançado pela Editora Novo Século
-Se eu deixar esta casa – pergunta a mulher – quem tratará da alimentação de Will? É um ratinho muito tímido e não sabe defender a própria subsistência.
A senhorita Thompson, conforme declarou, já teve em certa ocasião nada menos de vinte e oito ratos soltos no seu apartamento.
-É bastante bonita e confortável a casa do meu pai, no Sussex – disse ela – porém não quero deixar Will sozinho. Levá-lo comigo seria uma solução arriscada, pois ele poderia morrer por estranhar o ambiente.
Esta inglesa sentimental, ao contrário de tantas criaturas do seu sexo, nutre uma profunda simpatia por esses ágeis roedores, que nunca foram, através dos séculos, animais benquistos.
Quase todos os irracionais são símbolos para o homem. A abelha representa a indústria; o galo, a vigilância; a formiga, o trabalho; o boi, a paciência; o leão, a força; a coruja, o estudo; a pomba, a paz; o cão, a fidelidade; a ovelha, a mansuetude... E o rato? Este é símbolo da cupidez e da podridão.
Os hindus veneram a vaca. No estado de Caxemira, aquele que tirar a vida de uma, é castigado com sete anos de cadeia. Em Madagascar, recebe pena de morte quem mata um crocodilo. O tigre, esse belo quadrúpede carniceiro, é adorado em Bengala e nas ilhas de Sonda. Até o urubu, o negro e feio urubu, tem os seus admiradores, porquanto no Daomé os nativos o respeitam como um deus. Mas... e o rato, quem o enaltece, lhe presta homenagens? Se não me engano, o seu único panegirista, na época contemporânea, foi Walt Disney, o criador dos desenhos animados de Mickey Mouse...
Dos outros animais o homem aprendeu inúmeras coisas valiosas. A aranha ensinou-lhe a arte de tecer. Alguns pássaros, como o joão-de-barro, deram exímias lições de engenharia. A raposa mostrou o que é a astúcia; a lebre, o que é a velocidade; a mula, o que é a obstinação... E assim por diante. O rato apenas ensinou o homem a ser guloso e rapinante.
O sexo frágil sempre demonstrou por ele uma tremenda antipatia. A senhorita Stella Thompson é uma exceção. Adora esses tratantes, estremece de ternura ao vê-los. Acha que são lindos, mimosos, encantadores. Nem lhe passa pelo cérebro que os patifezinhos transmitem a peste bubônica e a disenteria bacilar.
O amor é cego, dizem com razão. Eu compreendo, no entanto, porque essa inglesa excêntrica quer bem aos ratos. Solteirona, quase atingindo os quarenta, tem um coração ardente, repleto de meiguice. Como não pode extravasar todo o carinho que ele encerra junto a um esposo e a um filho, volta-se para os tais animalejos.
No fim das contas, aqui entre nós, amigo leitor, um rato merece mais estima que certos homens.
______________________________________________
Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, lançado pela Editora Novo Século
Assinar:
Postagens (Atom)