sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Fernando Jorge, comentando os dois Livros de Tira Neto.

Declarei no programa “Quebrando a banca”, no Canal 9, TV Aberta e no mesmo programa da Rede Brasil de televisão, transmitido para todo o país, que o Sr. Lira Neto deve passar a se chamar Tira Neto, pois nas suas biografias capengas de José de Alencar e do Padre Cícero, ele só soube usar a cola e a tesoura, isto é, essas biografias apresentam mais de 80% de aspas.
O Sr. Lira Neto é perito na arte de entupir as suas desastradas biografias com aspas. Eu lhe dei portanto os justos apelidos de Aspudo e de Tira Neto.
Qualquer página dos seus livros serve de exercício para a correção de textos. Tira Neto não pára de cometer erros gravíssimos de português. Já anotei de mais 200 nos seus aleijões biográficos.
Eu o aconselho a em vez de ser biografocida (assassino de biografias) a abrir uma fábrica de cola e também uma fábrica de tesouras. Assim poderá recortar e colar os textos alheios com mais facilidade.

domingo, 25 de setembro de 2011

COMO AS SOGRAS SÃO CALUNIADAS!

Conta Augusto de Lima que foi visitar, num dos arrabaldes de Ouro Preto, o romancista Bernardo Guimarães. O autor de A escrava Isaura vivia os seus últimos anos quase na miséria, numa deprimente e humilhante pobreza. Queixando-se da sorte, lamentou:
- O meu destino é de tal ordem, meu amigo, que a minha sogra tem o nome de Felicidade!...
Estaria sendo injusto o iniciador do sertanismo no romance nacional? Não compreenderia sua sogra, como Leandro, personagem de Aluisio de Azevedo? Afirma um dito popular, registrado por Perestrello da Câmara na sua Collecção de proverbios, adagios, rifãos, anexins, sentenças moraes e idiotismos da lingoa portuguesa, que “amizade de genro é sol de inverno”.
Pobres criaturas! Corno são caluniadas! Poucos sabem compreende-las. Tanto os povos selvagens como os civilizados vem revelando, através dos séculos, uma invencível sografobia...
Os cafres jamais vivem com elas. Nem lhe pronunciam, muito menos, o nome. Os índios omáguas, da América do Norte, não permitiam que tivessem comunicação direta com os genros. Em Minahaça era proibido, a estes, mencionar o nome da sogra. Se, por distração, o nome lhes escapava, cuspiam logo no solo, exclamando:
- Enganei-me!
Os espanhóis costumam soltar este provérbio:
Suegra, ni aun de azúcar es buena.
Mas nem todas sogras são inimigas íntimas...
Edgar Allan Poe teve em Marie Clemm, mãe de sua esposa, um anjo tutelar. A senhora Clemm lhe arranjava dinheiro quando não tinha um níquel, consolava-o nas desventuras, fazia-o adormecer perpassando a mão rechonchuda pela sua atormentada fronte. O poeta amou-a como se fosse sua progenitora. Numa carta, das últimas que escreveu, confessou:
“Você tem sido tudo... tudo para mim, querida e sempre amada mãe, a mais querida e verdadeira amiga."
E a mãe da meiga Virgínia, depois que o autor de "O Corvo" desapareceu, disse um dia:
"Jamais gostava de ficar sozinho, e eu costumava sentar-me com ele, muitas vezes até as quatro horas da madrugada. Ele, na sua mesa, escrevendo, e eu cochilando na minha cadeira. Quando estava compondo 'Eureka', costumávamos passear para lá e para cá no jardim, abraçados um ao outro, até ficar eu tão cansada, a ponto de não poder mais andar. Ele parava alguns minutos e me explicava as suas ideias, perguntando-me se o entendia. Sempre me sentava perto dele quando estava escrevendo, e dava-lhe uma xícara de café quente, de uma ou de duas em duas horas. Em casa era simples e afetuoso como uma criança e durante todos os anos que viveu comigo, não me recordo de uma só noite em que tenha deixado de vir beijar sua ‘mãe’, como me chamava, antes de ir para a cama."
Que dirão, lendo este sentimental depoimento, os inimigos das sogras?
Excelente sogra, não podemos deixar de lembrar, foi a imperatriz Maria Teresa da Áustria, que persuadiu sua filha, a leviana Maria Antonieta, a respeitar o augusto e bonachão marido, Luís XVl. Chegou mesmo, esta dedicada sogra, a passar severa descompostura na rainha de França, ao ver que esta se havia referido ao esposo de maneira irônica:
“Que linguagem! – exclama a austríaca numa carta dirigida à filha – Le pauvre homme! Onde estão o respeito e a gratidão por tanta bondade?”.
Terêncio escreveu no ano 165 antes de Cristo, uma comédia chamada Hecyra, na qual mostra uma sogra bondosa, simpática, ideal, cujo nome é Sostrata. Talvez, por causa disto, sua peça não obteve sucesso ao ser representada...
Goldoni, na comédia La famiglia dell’ antiquario, explorou o antagonismo de uma sogra com a nora. A sogra "satânica" chama-se Isabella e a nora "seráfica" Doralice...
Há uma curiosa narrativa de Salomão Jorge, da qual me permito, com ousadia, fazer uma transposição literária. Narra que certo califa recebeu como presente de um soberano chinês um estranho metal. Segundo afirmava o ofertante, este não se derretia de nenhum modo. Não existia fornalha capaz de torná-lo menos frio, mais inconsistente. Era um metal único na terra. O califa fez diversas experiências e verificou que realmente possuía natureza inamolgável. Não obstante, mandou apregoar por todo o país que se alguém conseguisse alterá-Io, ainda que fosse de maneira mínima, ganharia três valiosos prêmios. O primeiro era uma cornucópia de bronze, contendo mil rubis mais rubros do que as sedas de Damasco. O segundo, um palácio de alabastro, coberto de topázios, com portas de ouro, todo pavimentado de esmeraldas, onde num lago de águas verdes e nenúfares de flores amarelas, deslizavam peixes azuis e prateados. O terceiro, uma dançarina circassiana, de lábios mais vermelhos que os abrunhos escarlates, cútis tão alva como o lódão sagrado dos egípcios, e olhos merencórios, à semelhança de uma ave cujas asas estivessem partidas
Surgiram três candidatos. O califa mandou colocar o metal em cima de uma rígida pedra e reclinou-se em fofas almofadas de seda. Ia presenciar as experiências cercado por lânguidas odaliscas cobertas de véus transparentes. Guardavam sua sagrada pessoa trinta núbios de torsos desnudos, trajados de bombachas brancas e calçados com pantufas encarnadas.
O primeiro que surgiu, disposto a vergar o singular metal, era um homem de barba ruiva, carregando um alfanje esguio, curvo como o crescente. Trazia escudo oblongo, onde se desenhava um dragão alado, de bocarra ignescente. Vestia uma cota feita de couro de javali e via-se, pelo seu punhal de cabo lavrado, pelo seu elmo cintilante, que era um guerreiro. Avançou com passos hieráticos, marciais... Ergueu o alfanje e desferiu no metal um violento golpe, que silvou como a mais rápida das serpentes. Não aconteceu nada. Apenas sua arma encurvou-se ainda mais...
Depois surgiu um gigante de quase quatro metros de altura. Segurava, numa das manzorras calosas, um pesado machado de ferro. Cada brinco de cobre que pendia de suas orelhas acabanadas, semelhantes às de um orangotango, tinha a largura e a espessura de um grosso bracelete. Levantou, qual homem das cavernas, sua tosca arma, e arremessou-a, num relâmpago, sobre o metal. O machado pulverizou-se em estilhas, espalhando no ar uma tênue poeira clara.
Por fim apareceu um mercador franzino, rosto lívido, cabelos crescidos até as costas, traje curto e surrado, de mãos amarelas e finas como pergaminhos. Desamarrou, ante o olhar surpreso de todos, um minúsculo embrulho. Dentro se achava um pedacinho róseo, sanguíneo, de carne. Com muita delicadeza encostou, de leve, aquela matéria flácida, roxa, mal cheirosa, no elemento invencível, que por escárnio parecia rebrilhar com fulgor diabólico. Uma chispa acendeu-se e ouviu-se um pavoroso estrondo. A sala foi invadida por calor causticante. Todas fisionomias ficaram congestionadas e o ambiente, dando a impressão de haver sido incendiado, tornou-se purpúreo. O califa levantou-se, lesto, dos seus macios coxins e correu para perto do metal que se tinha transformado, ó milagre!, em matéria visguenta, pastosa, a esparramar-se pelo chão.
- Homem! - exclamou louco de espanto o califa - de que extraordinária substância é feito o teu talismã maravilhoso? Que naco de carne é este, tão virulento que é capaz de derreter o mais sólido, o mais vigoroso, o mais inabalável de todos os corpos? Diga-me, por Alá!
- Emir dos Crentes - respondeu o homenzinho - este talismã tão poderoso é apenas um pedaço da língua de minha sogra...