Informa Heródoto, o “Pai da História”: na manhã da célebre batalha de Maratona, travada no ano 490 antes de Cristo, o jovem Hípias soltou um espirro tão forte, tão retumbante, que este o obrigou a expelir um dente. Aquilo foi considerado como um sinal de morte. De fato, Hipias morreu no decorrer da famosa batalha e todos os gregos viram no fim do jovem um justo castigo, uma severa punição, por ter empunhado a sua espada contra o seu próprio país.
Mas nem sempre, na Grécia, o espirro estrondoso era contemplado como um péssimo sinal, o anúncio de uma calamidade.
Penélope, certa vez, estava orando pelo regresso de Ulisses, o seu esposo, que viajara para combater na guerra de Tróia. Aí, nesse momento, a sua casa estremeceu, abalada por espirro fortíssimo de Telêmaco, o filho de ambos. Pois bem, a partir desse instante, Penélope alimentou a certeza de que Ulisses voltaria ao lar, e apesar da demora, das notícias falsas sobre o seu falecimento, ela nunca perdeu a fé, a esperança.
Conforme esclarece Teócrito, o poeta grego criador do gênero bucólico ou pastoril, o espirro procedente da narina direita era um bom aviso e proporcionava um raro prazer...
Os romanos fitavam o espirro como sinal de azar. Portanto, se qualquer cidadão espirrasse, eles pediam a proteção de Júpiter, o deus iroso e temperamental das nuvens, dos raios, dos trovões, das tempestades.
A Itália, no ano de 591, foi assolada por uma epidemia devastadora. Essa peste oferecia curiosa particularidade: os doentes espirravam, antes de morrer. Querendo impedir o avanço do mal, o papa Gregório Magno ordenou a celebração de missas, em todas as igrejas. Então, nessas ocasiões, quando alguém espirrava, o sacerdote punha a mão na cabeça da pessoa e diziz em latim:
- Dominus tecum! (“Deus te ajude!”)
Tais palavras são usadas por nós até hoje, diante de pessoas que espirram.
Um caipira chamado Bertolino, segundo narra Cornélio Pires, ficou impressionado com esta expressão, ouvida por ele em Goiás e no centro de Minas. E decidiu, após retê-la na memória:
-Vô levá esse “Tómenostéco” pro sertão... Quanto mais se viaja, mais se aprende!
Ao chegar a Caiapó, ele ouviu o espirro de um cumpadre:
-Atchim!
Bertolino não vacilou:
-“Tómenostéco”, compadre!
O outro quis saber:
-Uai Que negócio de “Tómenostéco” é esse?
O caipira respondeu:
-Compadre... Eu não sei o que é... Mais é muito bom pra espirro...
Uma quadrinha popular brasileira, maldosa e injusta:
“Se a mulher espirrasse
Cada vez que nos ilude,
Seria o mundo ocupado
Só em dizer: Deus te ajude!”
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