domingo, 12 de maio de 2013

OS RATOS NO PORÃO DE UM NAVIO


No seu livro Porque me ufano do meu país, publicado em 1901, o Conde Afonso Celso declarou que uma das características do brasileiro era a honradez no desempenho das funções públicas ou particulares”. E depois garantiu:
“Os homens de Estado costumam deixar o poder mais pobres do que nele entram... Casos de venalidade enumeram-se raríssimos, geralmente profligados. A República apoderou-se de surpresa dos arquivos do Império: nada encontrou que o pudesse desabonar... Quase todos os homens políticos brasileiros legam a miséria às suas famílias. Qual o que já se locupletasse à custa do benefício público?”
Afonso Celso escreveu estas palavras no início do século XX, há mais de cem anos. Imaginem quantos políticos desonestos, safados, ladrões, teríamos de citar, se a pergunta do conde fosse aplicada aos dias atuais. Lendo o trecho acima reproduzido, somos obrigados a exclamar:
-Meu Deus do Céu, como o Brasil retrocedeu, como mudou para pior!
O assalto aos cofres públicos é o progresso, dirá alguém, é a consequência fatal do crescimento da nação. Todavia, se o raciocínio é este, vamos indagar, como se estivéssemos recitando uma ladainha:
Foi o progresso do Brasil que fez o Tribunal de Contas da União mostrar que no primeiro semestre de 1991 os órgãos das administrações, o Poder Judiciário e os ministérios da Educação e da Infra-estrutura praticaram 1.031 irregularidades?
Foi o progresso do Brasil que fez a Polícia Federal de Alagoas reunir documentos, em junho de 1992, com os quais foi possível provar que a primeira-dama Rosane Collor deu presentes aos seus pais, amigos e primos, valendo-se de verbas da Legião Brasileira de Assistência?
Foi o progresso do Brasil que fez o Ministério da Saúde contratar sem licitação, durante o governo Collor, a Masters Consultores Associados, por 18 bilhões de cruzeiros?
Foi o progresso do Brasil que fez o Ministério da Saúde adquirir na gestão de Alceni Guerra, com preços acima do mercado, 22 mil guarda-chuvas, 23 mil bicicletas, 60 mil filtros de água, 250 mil caixas de hidratação e 8 mil e 400 toneladas de feijão quase podre?
Foi o progresso do Brasil – e eu paro aqui, senão esta coisa não tem fim – foi o progresso do Brasil que fez o ministro Jarbas Passarinho declarar, em 23 de março de 1992, que “não dá para impedir que ministro roube”? (Consultar a edição desse dia do jornal O Estado de S.Paulo).
E a solução? Qual é a solução? Há pouco tempo tive um sonho: eu vi, no decorrer desse sonho, todos os canalhas que lesam os nossos cofres públicos no porão de um navio, com o aspecto de ratos. Quando este navio se achava num alto mar cheio de tubarões, ele afundou. Aí as feras começaram a devorar os canalhas. Tubarões comendo ratos gorduchos, para o bem do povo e a felicidade geral da nação... Que maravilha! Depois acordei. Oh, tristeza, era apenas um sonho!

BRASIL, O PAÍS DAS BUNDAS


O repórter Guilherme Samora, da revista Marie Claire, entrevistando a cantora Rita Lee Jones, disse que ela, em 1997, num clipe da música “Obrigado não”, causou polêmica ao fazer dois homens se beijarem, vestidos de militares. Comentário da cantora, depois de ouvir isto:
“Aconteceu a mesma coisa no fim do ano passado, quando mostrei a bunda num show em Brasília. Me crucificaram, mas mostrar a bunda é tão rock’n roll, tão antigo, tão normal. Palhaço mostra a bunda no circo. Estamos no país do carnaval, no país da bunda. Qual é o problema?”
Todavia, antes da Rita Lee apresentar o seu glúteo, o encenador Gerald Thomas, um dos mais controvertidos do moderno teatro brasileiro, arriou as calças no palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com o objetivo de exibir a sua pálida, romântica bunda, sob as vaias da plateia. Gerald procedeu dessa maneira para se vingar dos “espectadores obtusos”, incapazes de compreendê-lo. Daí se conclui: a bunda é também arma de protesto.
Durante muitos anos não era de bom tom, ação decente, pronunciar em voz alta o substantivo feminino bunda, originário da palavra africana mbunda. E nem os seus aumentativos bundaça e bundão. Nem o adjetivo bundudo, aplicável à pessoa dotada de nádegas desenvolvidas, como as da Vênus Calipígia, célebre estátua do Museu de Nápoles. O motivo disso: as quatro são palavras fortes, sonoras, estrondosas, e feriam os ouvidos puritanos dos moralistas farisaicos.
Mas é um fato indiscutível, a bunda da mulher brasileira adquiriu fama internacional. Afirmou Paul Walker, ator do filme Velozes e furiosos:
“As brasileiras possuem bundas incríveis”.
E a atriz americana Megan Fox, considerada uma das mulheres mais sensuais do mundo, confessou ao ver os desfiles das escolas de samba, no carnaval carioca:
“Quem me dera ter o bumbum igual ao da brasileira!”
Tudo indica, a bunda das nacionais revela esta acentuada característica: tendência para crescer. Os fãs da atriz Cláudia Raia, por exemplo, perguntam a si mesmos:
-Onde a bunda dela vai parar?
E acrescentam:
-O bumbum da Cláudia, na telenovela Salve Jorge, ficou bem maior do que estava na telenovela A favorita.
Se é assim, eu indago:
-De qual tamanho ficará a bunda de tanajura da Cláudia Arraia, na sua próxima telenovela?
A nossa patrícia Valesca Popozuda, dona de traseiro incomensurável, explicou a razão do seu sucesso esmagador:
“Minha bunda é tão sexy, tão atraente, que me fez ir para a Europa.”
Ao expor a sua monumental carnosidade no país do femeeiro Berlusconi, ela se expandiu:
“Estou com a minha bunda vitoriosa e bizarra aqui na Itália.”
Precavida, a funkeira Valesca Popozuda colocou o seu bumbum no seguro, por cinco milhões de reais. Inspirado na sua magnífica região glútea, o meu amigo Paulo Régis, doutor em Bundologia, compôs os seguintes versos:

“É uma bunda
que treme,
que anseia,
que suspira,
bunda de raça,
que rodopia.
Oh, eu juro,
nunca havia visto
bunda assim
tão cheia de graça,
tão cheia de magia!”

As nádegas mais carnudas do Brasil pertencem, no entanto, à dançarina Andressa Soares, a Mulher Melancia. Ela, com as suas próteses de silicone nessas nádegas oblongas, agigantadas, foi vítima de um incidente. Submetida a uma cirurgia, os médicos encaixaram o silicone nos devidos lugares da superabundante bunda de Andressa. Louca de alegria, frenética, a Mulher Melancia voltou aos palcos. E rebolou tanto, no decorrer de um show, empinou tanto a soberba, a esplendorosa bunda, que um fulano em delírio não se conteve, agarrou ferozmente, alucinadamente, aquele traseiro incomparável, arrebentando os pontos da cirurgia. Resultado, a bundaça encolheu, à semelhança de um balão que se esvazia, porém a dançarina se recuperou:
“Fui logo ao médico e ainda bem que não tive de sofrer outra cirurgia. O doutor me deixou em forma. Retornarei aos meus shows.”
A mulher Melancia pode se considerar sortuda, pois se fosse agarrada pelo bundomaniaco americano Johnny Guillen, seria mil vezes pior. Esse psicopata, munido de canivete, arrancou pedaços das nádegas de treze mulheres, num shopping de Fairfax, nos Estados Unidos, quando as vítimas se encontravam distraídas. Era procurado há oito anos pela polícia do estado da Virginia. Refugiou-se em Lima, capital do Peru, e ali o prenderam.
Talvez devido à alimentação, as brasileiras ostentam bundas mais avantajadas do que as das americanas. Milhares de filhas do Tio Sam desejam dilatar as nádegas. A imprensa noticiou que uma jovem de vinte e três anos, de Detroit, chamada Karmella, recebeu cinquenta e quatro injeções de silicone, para ver o crescimento da sua bunda. Injeções aplicadas por uma aventureira, sem licença médica. Um facultativo, após examinar o rabioste artificial da americana, garantiu que o silicone excessivo, depositado nele, tornara-se esponjoso, ameaçando a vida da jovem. A próxima aplicação é capaz de matá-la, advertiu. Contudo, apesar disso, ela quer receber mais trinta e oito aplicações nas suas nádegas insatisfeitas,
Viva portanto o Brasil, o “país da bunda”, segundo a expressão de Rita Lee, terra na qual a loura Carine Felizardo, Miss Bumbum 2012, não precisou de injeções de silicone no seu belo, suculento e alvo traseiro, para o encantamento de milhões de bundófilos.
Quem devia morar aqui, em nossa pátria, é a americana Jacqueline Stalone, de Los Angeles. Inventora da “técnica rumpológica”, ela consegue prever, ao olhar as fotos das bundas grandes de mulheres, o futuro que as aguarda. Ora, nos Estados Unidos há carência de volumosos traseiros femininos e por conseguinte a senhora Jacqueline não tem, lá na Califórnia, muita chance de examinar os bumbuns nédios, bem arredondados. Instale-se pois em Salvador, na Bahia, ou no bairro de Copacabana, da cidade do Rio de Janeiro, a fim de contemplar as rotundas nádegas das baianas e das cariocas. Seguindo o meu conselho, a senhora Stalone logo verá o interminável desfile de milhares e milhares de gorduchonas bundas trêfegas, lúbricas, risonhas, cantantes, palpitantes, assanhadas, gulosas, maravilhosas...