quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

UMA REVISTA ÚTIL, PREJUDICADA PELO EVANILDO

A revista útil é a Nossa Língua, número 29, da editorial Duetto. Essa publicação obteve o apoio da improfícua Academia Brasileira de Letras, grêmio ridículo, anacrônico, repleto de solenes cadáveres ambulantes, sociedade tão estéril como o útero de uma mula. Quem prejudica a revista: o acadêmico Evanildo Bechara, com os seus artigos difusos, prolixos, mal escritos, nos quais os erros de português brilham, cintilam, à semelhança de reluzentes poças de lama sob os raios do sol.
Evanildo tornou-se o principal responsável pela monstruosa reforma ortográfica da língua portuguesa. Reforma nojenta, teratológica, pois tirou o trema das palavras, estabeleceu o caos entre a preposição para e o verbo parar, expulsou o acento de idéia (agora é idêia), de assembléia (agora é assemblêia), além de cometer outras burrices e inegáveis barbaridades.
A dinâmica revista Nossa Língua apresentou um artigo manquitola, necessitado urgentemente de muletas, desse agressor do idioma de Fernando Pessoa. Título do artigo coxo: “Os animais na linguagem dos homens”. Artigo quadrupedal, provido de ferraduras e arreio, inchado de nauseabundos erros de português. Texto que zurra, pateja, solta coices, agita o rabo. Evanildo merece estar na macabra Academia Brasileira de Letras, junto do apedeuta Paulo Coelho, cujos livros, sem qualquer exceção, todos eles, servem de exercício para a correção de textos.
Autor de obras causadoras de dispepsias cerebrais, o Evanildo escreveu logo no inicio do seu péssimo artigo, mixórdia mais indigesta que uma sopa de calhaus:
“Desde muito cedo acostumou-se o homem a conviver com os animais ditos ‘inferiores’ e a deles se aproveitar...”
Horrível, o “a deles”, porque é suficiente dizer “e deles se aproveitar”. Evanildo não se limita, às vezes, a escrever corretamente mal. Ele sempre escreve completamente mal.
Mais adiante esse bombástico gramaticóide salienta que Pangloss, personagem do Candide de Voltaire, chamou o planeta Terra de “o melhor dos mundos”. Citação incorreta. O certo é assim: “o melhor dos mundos possíveis” (“tout est pour le mieux dans le meilleur des mondes possibles”).
Uma frase ambígua do Evanildo:
“... aprendeu o homem a surpreender nos seus primos pobres propriedades, qualidades...”
Que diabo é isto? Vejam a falta de senso estético. Ele usou três palavras que começam com p e rimou propriedades com qualidades. Frase enigmática, de duplo sentido. Afinal de contas, são primos pobres ou pobres propriedades? É caso típico de anfibologia, vício de linguagem que consiste em redigir a frase de um modo que se presta a mais de uma interpretação. Aí vai este exemplo:
“A freguesa, na loja, pedia meia de mulher preta”.
Ela desejava meia preta ou queria comprar tal peça de mulher preta? O Evanildo fez a mesma confusão!
O vocabulário do Bechara é pobríssimo, é um mendigo esfarrapado. Pai da anêmica Gramática escolar da língua portuguesa, digna de receber uma abundante transfusão de sangue, esse Conselheiro Acácio da ABL repete os verbos sem o mínimo critério:
“Um dos animais que o homem tem mais perto de si e, por isso, tem observado...”
Se ele substituísse o primeiro tem pela palavra conserva, eliminaria a visível indigência vocabular...
Evanildo ignora, apesar de se considerar um gramático, que o a preposição para atrai de maneira normal os pronomes pessoais, objetivos e terminativos. Aqui exponho três passagens do seu artigo:
“... para aludir-se ao diabo”...
“... para referir-se as pessoas (falta o acento no as) ou coisas...”
“... para referir-se à zanga e à irritação.”
Aprenda, Evanildo, o correto é desta forma:
“... para se aludir e para se referir”.
Sabichão, quer que eu lhe ofereça exemplos? Ei-los:
“... para se remontarem ao puro idealismo” (Latino Coelho).
“... para se não levantarem ímpetos de ira” (Padre Manuel da Bernardes).
“... para se entregar quase rendidos à fortuna das forças africanas” (Camões).
No meio do seu aranzel, onde os erros de português se esparramam como um lixo fedorento, Evanildo declarou:
“... o português dos nossos dias teve necessidade de distinguir o cavaleiro e o cavalheiro, este empréstimo ao espanhol caballero”.
Preste atenção, Evanildo, não foi a nossa língua que emprestou à língua espanhola o substantivo cavalheiro e sim o contrário: o idioma de Cervantes deu ao idioma de Frei Luís de Sousa o substantivo caballero, transformado em cavalheiro. O professor Silveira Bueno, catedrático de filologia portuguesa da Universidade de São Paulo, mostrou este fato num verbete da página 655 do segundo volume do Grande dicionário etimológico-prosódico da língua portuguesa, obra em nove volumes da Editora Brasília, publicada no ano de 1974.
Não contente de ter lançado este erro abominável, o Evanildo Bechara pariu mais um da mesma natureza:
“Vê o homem no cavalo e demais bestas de carga o símbolo do trabalhador costumaz...”
Ora, a palavra costumaz não existe na nossa língua e sim o adjetivo contumaz, oriundo do latim contumax e que significa teimoso, opiniático, obstinado. Exemplo:
“... o contumaz espírito do erro não se acobarda, na presença dos respeitáveis triunfos de Cristo” (Camilo Castelo Branco)
Evanildo não parou de expelir erros de concordância no seu texto:
“Em algumas regiões de língua portuguesa tais noctívagos se dizem também morcego.”
Corrigindo: o substantivo morcego deve ficar no plural: morcegos. Aliás, a frase está mal escrita. Vamos aperfeiçoá-la:
“Em algumas regiões de língua portuguesa, tais noctívagos se chamam também morcegos”.
Coloquei uma vírgula depois de portuguesa, e substitui se dizem por se chamam. Não ficou melhor?
Evanildo é um pernóstico. Nos artigos que fez para o jornal O Estado de S.Paulo, a fim de justificar a maluca reforma ortográfica que patrocinou, em vez de empregar a palavra usuário, ele emprega o arcaico adjetivo utente. Quanto pedantismo!
Frequentes vezes, na sua lengalenga, Evanildo encaixou frases enigmáticas, abstrusas:
“De se lhe atribuir ao animal o trabalho excessivo deve ser tratado com a rédea curta...”
Entenderam? Trata-se de uma charada indecifrável? De um código secreto da Máfia? É um hieróglifo da época do faraó Akhenaton ou da época do faraó Tutancâmon?
O Evanildo mamou toda a documentação da sua logorréia nos trabalhos da pesquisadora Delmira Maçãs, porém sem citar os títulos desses trabalhos. Que descaramento!
Como uma praga de incômodos piolhos, os erros se multiplicam no blababá do tenaz esfrangalhador da língua portuguesa. Meu Deus, e o Bechara coordena os artigos da revista Nossa Língua! Coitado do pessoal desta publicação, coitados do Janir Hollanda, editor-chefe, do colaborador Caio Barbosa, da assistente Giselle Gomes, das editoras Érika dos Anjos e Márcia Araújo Almeida. Coitadinhos, coitadinhos! Acolham a minha solidariedade. E com o firme propósito de consolá-los, cito no fim do meu texto um pensamento do filósofo inglês Robert Burton (1577-1640), extraído do seu ensaio Anatomy of melancholy, publicado em 1621:
“A esperança e a paciência são dois soberanos remédios para tudo, são o descanso mais seguro e o mais suave coxim, sobre os quais podemos nos inclinar na adversidade.”
(“Hope and patience are two sovereign remedies for all, the surest reposals, the softest cushions to lean on in adversity”)