domingo, 14 de dezembro de 2014

A ignorância é a maldição de Deus


Quem costuma soltar muitos erros de português é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é também professor. Ele é como o Collor, não conhece a regência do verbo assistir. Olhem estas frases de um dos seus discursos:

“Nós, hoje, acabamos de assistir algumas apresentações...

Eu assisti, das fundações Roberto Marinho e Norberto Odebrecht, esforços na mesma direção... Hoje, nós assistirmos aqui esses chamamentos à sociedade..." (Discurso pronunciado no Rio de Janeiro e reproduzido na edição do dia 18 de março de 1995 do jornal O Estado de S. Paulo).

Vamos corrigir os três erros de português do ex-presidente. Na primeira frase, “assistir algumas apresentações'" não está certo, é “assistir a algumas apresentações'. E o Fernandinho não pode "assistir esforços", ele “assiste a esforços”. Também na última frase esse grande erro de português continua a aparecer. Não é “nós assistirmos aqui esses chamamentos". Falta um a: é “nós assistirmos aqui a esses chamamentos".

            Mais adiante, em outra passagem da arenga, o Fernando Henrique vomitou este erro:

            ”Se tivermos errados, nós mudaremos...”

            Senhor ex-presidente, aprenda agora ou volte a ser aluno de uma escola de ensino fundamental: não é “se tivermos errados”, é “se estivermos errados”. O senhor aprendeu ou quer que eu repita a lição?

            Trecho de outra arenga do professor Fernando Henrique:

            “...cidade, Estado e União são capazes de atender aos reclames da população" (Discurso pronunciado no metrô de Recife e reproduzido na edição do dia 25 de janeiro de 1997 do jornal O Estado de S. Paulo).

            Fernandinho, não é “reclames da população”, é reclamos. Trate de memorizar as minhas palavras: reclames são anúncios comerciais e reclamos são gritos, clamores, reclamações. Entendeu?

Num outro discurso proferido na capital de Pernambuco, o rei Fernando II salientou:

“... lá no Rio Grande do Sul, na terra do nosso ministro dos Transportes, o problema da escravidão pesava como uma nódoa...” (OESP, 25-1-1997).

Que imagem absurda! Desde quando uma nódoa pesa como o chumbo, o aço, o ferro, um soco do Mike Tyson?

A verdade é a seguinte: os discursos do professor Fernando Henrique Cardoso exibem disparates, gravíssimos erros de português e frases obscuras, mal construídas. Dei apenas alguns exemplos. Ele é um verborrágico, e à semelhança do José Sarney e do Fernando Collor de Mello, tem torturado metodicamente a língua portuguesa. Esta, martirizada pelos três, não para de gritar:

            -Socorro, socorro, me salvem! O Sarney, o Collor e o Fernando Cardoso estão me matando, eu não aguento mais! Acudam-me! Deus, Jesus Cristo, Maomé, Buda, padre Cícero, Nossa Senhora Aparecida, me ajudem, sintam pena de mim!

            Concluo este bate-papo citando a seguinte frase que Shakespeare colocou no ato quarto da sua peça Henrique VI:

“A ignorância é a maldição de Deus; o saber, a asa que nos ajuda a voar até o céu”.

                        (“Igonorance is the curse of God,

                          Knowlodge the wing wherewith we

                          fly to heaven”)

domingo, 23 de novembro de 2014

A MEMÓRIA DE ROBERTO MARINHO ESTÁ SENDO DESRESPEITADA


Fátima Sá, editora do Segundo Caderno de O Globo, por favor, corte as besteiras, os disparates, os erros de português da Adriana Calcanhotto. Vejamos algumas imbecilidades da Adriana. Leiam estas palavras da sua crônica. “A verdade dói”, de 23 de março de 2014:

“O Brasil só faz... alianças pragmáticas em vez de programáticas e loteamento de cargos”.

Absurdo, loteamento de cargos corresponde a venda de cargos, a corrupção! Adriana, você estava alcoolizada ao dizer que o nosso país deve lotear cargos?

Admirem outra resplandecente cretinice da Calcanhotto:

“...do hotel para fora estou em Portugal, do hotel para dentro na Península Ibérica” (crônica “O cheiro das ruinas”, 8-4-2014).

Eu pergunto: o país de Gil Vicente saiu dessa península? Agora se acha no Canal da Mancha?

Evocando o falecido ator José Wilker, a colunista o chama de “sedutor irresistível, cachorro”, na crônica “Pirueta felomenal” (20-4-2014). Wilker era buldogue, latia? Ela foi mordida por ele?

Um conselho da Adriana:

“Não classifique as coisas como boas ou más, chiques ou cafonas, certas ou erradas. As coisas são o que são” (crônica “Leve um agasalho”, 4-5-2014).

Genial! Então, segundo este raciocínio, o roubo é aceitável, o assassinato é normal...

Mais um bom conselho da colunista de O Globo, na mesma crônica:

“Não peça um copo d’água a ninguém, levante-se e vá buscar.”

Daí se deduz que um doente na cama, febril e sedento, sem poder andar, deve morrer de sede, como o Tântalo da mitologia grega...

Comentário asnático da Adriana:

“...amam jogar bola jogando bola” (crônica “E começa a partida”, 18-5-2014).

Sensacional! Graças à notável Calcanhotto podemos nos expressar assim: gostam de beber bebendo, de falar falando, de comer comendo.

Fiquei deslumbrado ao ler isto num dos seus textos:

“Canção inventada de maneira inventada” (crônica “Mea culpa”, 27-7-2014).

Puxa, eu não sabia que aula deve ser dada de maneira dada, que espirro deve ser espirrado, que recibo deve ser recebido!

Arregalei os olhos, pois um cachorro vira-lata, segundo a Calcanhotto, “mija os pneus do ônibus” (crônica “Crise de alegria”, 21-9-2014). Meu Deus, como um cão consegue mijar pneus? Como? Por que ele também não mija garrafas e canivetes?

E os erros de português da Adriana? Parecem não ter fim. Se o doutor Roberto Marinho estivesse vivo, ele jamais permitiria que ela fosse dona de uma coluna em O Globo. Aí vão alguns dos seus atentados ao nosso idioma:

“...quando deixando-lhe...” (crônica “Fevereiro e o poeta”, 9-2-2014).

Correção: quando lhe. O quando, advérbio ou conjunção, atrai o pronome.

“...sentado em uma mesa...” (crônica “E começa a partida”, 18-5-2014).

Correção: sentado à mesa. O fulano não pôs a sua bunda em cima da mesa. E há um cacófato: mama. A Calcanhotto aconselha o leitor a mamar?

“...chamou ela...” (crônica “Assinado: SOS”, 1-6-2014).

Correção: chamou-a.

“...tem visão do todo, inteligência, precisão, que engana o zagueiro...” (crônica “A camisa 10”, 15-6-2014).

Correção: que enganam, pois este verbo se refere a três coisas. Erro primário de concordância.

“...aparentemente injuntaveis...” (crônica “Mea culpa”, 27-7-2014).

Correção: a palavra injuntavel não existe, tanto no singular como no plural.
 
“...o que estranhou-se...” (crônica “De galho em galho”, 7-9-2014).
Correção: “o que se estranhou”, pois o pronome relativo influi na colocação dos pronomes pessoais, objetivos e terminativos.
Bem, e os cacófatos ou cacofonias da Calcanhotto? Ela não para de expelir palavras que dão lugar a outras, de sentido diferente ou ridículo. Citaremos apenas três cacófatos dessa gramaticida (assassina da gramática).
“E por rápido” ... (crônica “Pirueta felomenal”, 20-4-2014).
Cacófato: porrá. Esperma de quem? De porco? De homem? De macaco?
“...uma máquina” ... (crônica “Expectativa”, 13-7-2014).
Cacófato: mamá. Adriana quer mamar, virou bebê? Ela agora canta a marchinha de Jararaca e Vicente Paiva, do carnaval de 1937:
 
“Mamãe eu quero,
mamãe eu quero,
mamãe eu quero mamar...
Dá a chupeta,
dá a chupeta,
dá a chupeta
pro bebê não chorar”.
 
Terceiro cacófato: “...que ela tinha” ... (crônica “Ela e os passarinhos”, 24-8-2014). Latinha. De cerveja ou de guaraná?
Confesso, quatro inconformados jornalistas de O Globo me incentivaram a descer o cacete nos solecismos, nos desconchavos, na alta pirâmide de cacaborradas da apedeuta Adriana Calcanhotto.
A memória de Roberto Marinho, zeloso defensor da lógica e da linguagem correta, está sendo desrespeitada no jornal que ele tanto engrandeceu, amou e dignificou.
 
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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor de Drummond e o elefante Geraldão, que acaba de ser lançado pela Editora Novo Século e cuja quarta edição já está quase esgotada.
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Este artigo foi publicado numa rede composta de 40 jornais de São Paulo e de 60 de outros estados.
A acusação de Fernando Jorge também tem sido feita em programas de televisão.
 

domingo, 9 de novembro de 2014

CAÇAS ÀS BRUXAS


As autoridades da Arábia Saudita executaram uma mulher que foi condenada por praticar magia e feitiçaria. Essa mulher, Amina bin Abdul Halin bin Salen Nasser, sofreu a decapitação, cortaram-lhe a cabeça na província de Jawf, no norte do país.

De acordo com Abdullah Al-Mohsen, chefe de polícia, a feiticeira prometia curar doenças e cobrava até oitocentos dólares dos enfermos.

A legislação da Arábia Saudita segue de modo fiel a Sharia. Tal lei islâmica proíbe a bruxaria e inflinge a pena de morte a quem a pratica, em qualquer circunstância.

No meu livro Lutero e a Igreja do pecado, já na sétima edição, lançada pela editora Novo Século, eu evoquei diversos casos de feitiçaria, ocorridos na Idade Média. O que aconteceu agora, na Arábia Saudita, nada mais é do que a sobrevivência de um costume bárbaro, imposto pelo fanatismo religioso.

Reproduzo aqui, neste bate-papo, alguns trechos do capitulo décimo de Lutero e a Igreja do pecado, obra ricamente documentada e traduzida para o italiano pela professora Rina Malerbi Ricci, da Universidade de São Paulo.

No Livro do Êxodo, da Bíblia, a bruxaria é punida com a pena de morte. Está registrado no seu texto:

“Não deixarás a feiticeira viver” (22:18).

Mulheres loucas ou desequilibradas se proclamavam seguidoras de Belzebu ou do Grande Bode Negro de Três Cornos. Segundo informam alguns autores, inúmeras vezes eram queimadas nas fogueiras da Europa, num só dia, mais de trezentas bruxas. Estas, nas noites de sábado, voavam montadas em cima de bodes ou de cabos de vassoura, para ir ao sabá, a medonha reunião presidida por Satã. Ficava sob suspeita a mulher que dormia com a janela aberta, pois decerto ia lançar-se pelos ares, montada num desses cabos de vassoura... Até os católicos acreditavam em tais absurdos. Lendo a Bíblia, vemos Belzebu aparecer no Evangelho de São Lucas, quando Cristo desmoraliza uma calúnia dos fariseus:

“Jesus estava a expulsar um demônio, o qual era mudo. E aconteceu que, saindo o demônio, o mudo falou e a multidão ficou admirada. Mas alguns disseram: ‘É por Belzebu, príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios’” (11:14,15).

No século V, o código dos visigodos, na Espanha, punia com o chicote e a escravidão os “maléficos”, os “geradores de tempestades”, os “evocadores de Satã” e os “perturbadores do espírito”.

Meninos de pouca idade foram queimados vivos, porque se supunha que existiam crianças feiticeiras, “uma das mais hábeis astúcias do diabo”.

Intensas, no território germânico sob a jurisdição da Igreja, eram as “caças às bruxas”, principalmente em Treves, Bamberg, Würzburg, Ellwangen e Mergentlein.

A senhora Alice Kyteler, no ano de 1324, não conseguiu escapar da acusação de ter praticado vários atos diabólicos, junto de outras pessoas. Um bispo a denunciou, Richard de Ledrede, ex-monge franciscano. Isto aconteceu em Kilkenny, na Irlanda. Vejam os crimes da feiticeira, citados no tribunal: infanticídio, assassinatos dos seus esposos, sacrifícios de toda espécie aos demônios, extração da gordura de cadáveres humanos. E ela, além disso, foi acusada de copular com o próprio diabo, que lhe aparecia sob as formas de um gato, ou de um peludo cão selvagem, ou de um indivíduo preto, armado de longa barra de ferro.

Metida numa prisão, após ser excomungada pelo tal bispo, Alice escapou da cela e fugiu para a Inglaterra, porém a sua criada, Petronilla de Meath, e alguns dos seus “cúmplices”, condenados por magia, acabaram morrendo em fogueiras.

Como o amigo leitor pode ver, por estas informações extraídas do meu livro sobre Lutero, as feiticeiras sempre foram execradas pelos líderes religiosos, ao longo dos séculos.

domingo, 5 de outubro de 2014

O CARRO CELESTIAL DE AYRTON SENNA

Apesar de não gostar de automobilismo, no qual enxergo uma loucura e não um esporte, eu admirava a coragem de Senna. O seu patriotismo me comovia. Mesmo sem querer, lutando contra os meus próprios sentimentos, a emoção se apoderava da minha alma, quando via Ayrton Senna agitar a nossa bandeira, após ser o vencedor de uma ­corrida internacional. Um nó se formava na minha garganta e eu engolia a seco. Aquele rapaz modesto, erguendo a nossa bandeira, me devolvia o orgulho de ser brasileiro e conseguia tirar do meu coração, por alguns momentos, o ódio, a fúria, a revolta que nunca deixei de alimentar contra os nossos políticos corruptos.
Sim, ele estufava o nosso peito, fazia desabrochar em nossas caras, mesmo que não fosse na primavera, a nacarada flor do sorriso, da alegria apetecida. Ofertava esse prazer ao povo e ainda o socorria, pois só agora se sabe, depois de sua morte, que ele ajudou em segredo, às ocultas, deficientes físicos e à entidades assistenciais. Deu milhares de dólares à Fundação Abrinq, à Associação de Assistência à Criança Defeituosa, ao Centro de Reabilitação do Hospital das Clinicas. Graças aquele piloto de ar tímido e gestos simples, máquinas carissimas foram adquiridas no exterior, como o aparelho Cybex, utilizado nas avaliações musculares. Com o dinheiro que ganhava nas pistas, arriscando sua vida, Ayrton Senna patrocinou o tratamento de centenas de crianças carentes, portadoras de distúrbios cerebrais ou neurológicos.
Ele salvou a vida da jovem Regiane Maria dos Reis, que sofria de cirrose hepática crônica e necessitava urgentemente de um transplante de fígado. Os 65 mil dólares doados por Senna pagaram a operação da moça. E a sua bondade também favoreceu, no estado do Acre, uma instituição de assistência médica a índios e seringueiros, fundada pelo Chico Mendes. Inimigo do espalhafato, da caridade ruidosa e ostensiva, Senna exigia que essas ações jamais fossem reveladas.
Rapaz de olhar meio triste, Ayrton Senna declarava que durante as corridas, quase sempre, tinha o costume de conversar com Deus. Aliás, em 1988, após conquistar o seu primeiro titulo mundial no Japão, ele afirmou que havia contemplado Jesus Cristo num trecho do autódromo, antes do fim da prova. Leiam as suas palavras:
-Eu estava agradecendo a Deus pela vitória. Deus me presenteou.Era um presente enorme, essa vitória. Mesmo rezando, eu estava superconcentrado, me preparando para uma curva longa, de 180 graus, quando vi a imagem de Jesus. Ele era tão grande, tão grande... Não estava no chão. Estava suspenso, com a roupa de sempre, e umaluz em volta. O seu corpo inteirinho subia para o céu, alto, alto, alto, ocupando todo o espaço. Eu vi essa imagem incrível, enquanto guiava o carro de corrida. Guiava com precisão, com força, com...
Ai, nesse momento, Ayrton Senna ficou mais emocionado, os seus olhos se umedeceram e ele acrescentou:
de enlouquecer, não é? É de enlouquecer...      
Que moço estranho, o Ayrton Senna! Pairava no seu rosto a melancolia das criaturas que morrem cedo. Ayrton era um místico, um médium com o dom de ter visões, um ser repleto de bondade, de espiritualidade.
Agora eu o vejo como um espírito de luz, guiando no espaço negro da morte um belíssimo e resplandecente carro de corrida. Para onde vai esse carro etéreo, mais veloz do que os carros de corrida do nosso planeta? Vai em direção à Luz suprema, à Luz de todas as luzes, à Luz que ressuscita os mortos e que se chama Deus. E de onde vem a força desse carro celestial do Ayrton? Vem de sua alma, da sua bondade, da sua piedade, da humana ternura do seu coração sensível e extremamente generoso...

domingo, 14 de setembro de 2014

Jânio foi cassado por causa do seu beliscão numa bunda


Conforme narrei no meu livro Drummond e o elefante Geraldão, fui amigo íntimo do presidente Jânio Quadros. Ele morava perto do meu lar, numa casa térrea da rua 9 de Julho, número 880, em frente à Chácara Flora, no bairro Alto da Boa Vista, da cidade de São Paulo. Aos sábados, no período da manhã, Jânio costumava telefonar para mim. E muitas vezes ouvi esta súplica:

-Socorro, Fernandinho, socorro, estou morrendo!

Eu respondia:

-O senhor está doente, passando mal?

Palavras invariáveis do marido da dona Eloá:

-Estou morrendo de tédio, não aguento mais!

-Por que, presidente?

A explicação era dada num tom de angústia:

-Candidatos aos cargos de vereador, de deputado, e até de prefeito, invadem o meu tugúrio, o meu sacrossanto lar, na ânsia de serem fotografados junto de mim. Nem sequer os conheço! É gente de cabeça completamente vazia. Se fossem guilhotinados, como a Maria Antonieta, as suas cabeças subiriam aos ares como balões, perder-se-iam nas alturas!

Jânio então solicitava:

-Por favor, Fernandinho, almoce comigo. A Eloá vai servir o meu prato predileto, camarões com quiabo. Venha aqui e falaremos sobre arte, poesia, literatura, coisas elevadas. Comentaremos as parvoíces, os destrambelhos dos nossos políticos. Assim me sentirei melhor...

E eu, dezenas de vezes, ia almoçar com o Jânio. A conversa se estendia por horas a fio, só se encerrando ao anoitecer. Ele se abria comigo, não escondendo nada, nem mesmo pormenores de sua vida sexual, porém longe, é claro, da presença discreta da dona Eloá.

Quando a Adelaide Carraro (o sarcástico Agrippino Grieco a chamava de Adelaide Escarraro) lançou em 1963 o seu romance autobiográfico Eu e o governador, perguntei ao Jânio:

-Já leu este livro, presidente?

O mato-grossense não escondeu a verdade:

-Fiz fuki-fuki com a Adelaide, numa banheira, mas ela carecia de carne, era ossuda, e sou carnívoro como os tigres, os leões.

Rindo como um garoto travesso, prosseguiu:

-Sabe quem é o governador, no livro?

-Não.

-Sou eu.

Influenciado por esse depoimento de Jânio, coloquei no capítulo XIII do meu romance satírico O Grande líder, atualmente na sexta edição, a seguinte passagem, a fim de descrever um dos hábitos do personagem principal, Piranha da Fonseca Albuquerque:

“No palácio acolhia os secretários em cuecas, ou dentro da banheira, enquanto a impudica Joana D’Arc beijava as unhas dos pés do seu amado, sinuosas como roscas e orladas de preto.”

Certa vez eu e o Jânio estávamos à beira da piscina da sua casa, sentados em cadeiras de lona. De repente, bebendo uísque, ele soltou estas palavras:

-Perdi os meus direitos políticos, fui cassado em 1964, por causa do beliscão que dei numa bunda.

A princípio pensei que se tratava de brincadeira, mas ele continuou, de cara séria:

-Numa recepção, antes do Golpe de 1964, eu havia me excedido no uísque e belisquei a rechonchuda nádega esquerda da dona Yolanda Costa e Silva, esposa do comandante do II Exército, o general Artur da Costa e Silva. Ele tomou conhecimento desse episódio lamentável. Arrependo-me de ter agido de maneira tão soez, tão imprópria de um censor dos atos imorais.

-E como o Costa e Silva veio a saber disso?

-Creio que a própria dona Yolanda, mulher honrada, queixou-se a ele. Talvez ela tenha ficado com a bunda roxa, pois a belisquei fortemente.

Algo eufórico, sob o efeito dos vapores do uísque, o Messias do bairro de Vila Maria acrescentou:

-Fernandinho, sou um bundófilo, apaixono-me por nédios bumbuns femininos, gosto de comprimi-los, mas depois o remorso me atormenta. There is another man with’n me that’s angry with me.

Arregalei os olhos e ele me esclareceu:

-É uma frase do filósofo inglês Thomas Browne, no seu livro Religio Medici. Vou traduzi-la. “Dentro de mim há um outro homem que está contra mim.”

Perguntei como o vigoroso aperto na bunda da dona Yolanda gerou o processo causador da perda dos seus direitos políticos. Explicou:

-Logo após o Golpe de 1964, o general Humberto de Alencar Castelo Branco enviou-me um pedido. Queria que eu redigisse um documento, para incentivar os civis a apoiá-lo por sua investidura no cargo de presidente da República. Eu o atendi. O documento, assinado por mim, foi divulgado de forma ampla pelas emissoras de rádio e de televisão, pelos jornais do Brasil inteiro. Portanto, eu, Jânio Quadros, era visto com simpatia no círculo dos militares do Golpe, eles não me consideravam corrupto, ou subversivo, ou inimigo. O Castelo me admirava, pretendia convocar-me no futuro.

E aí, presidente?

-Aí, na primeira lista de cassações, o almirante Augusto Rademaker e o brigadeiro Francisco Assis Correia de Melo, integrantes do Comando Supremo do movimento revolucionário, não incluíram o meu nome nessa lista. Depois de examiná-la, o general Artur da Costa e Silva, ministro do Exército, lembrando-se do beliscão que apliquei na bunda da dona Yolanda, exigiu a inclusão do meu nome. Devido ao seu ódio, ao seu rancor, ao seu espírito vingativo, com base no Ato Institucional número 1 (AI-1), fui cassado no dia 10 de abril de 1964.

Teci este comentário:

-Presidente, pequenas causas, grandes efeitos. Evoco a afirmativa do filósofo Blaise Pascal: um diminuto grão de areia, un petit grain de sable, na bexiga de Olivier Cromwell, chefe da revolução inglesa de 1645 que destronou e executou o rei Carlos I, tirou a vida de Cromwell. Resultado, o grãozinho modifica a história da Inglaterra...

Jânio Quadros deduziu, após beber um gole de uísque:

-E querido amigo, o rumo da minha vida foi alterado por causa do meu beliscão no glúteo opulento, perturbador, da dona Yolanda.

Rimos a valer. Aliás, esse beliscão histórico é também descrito, sem as minucias aqui apresentadas, nas páginas 112 e 113 do livro As armadilhas do poder, do jornalista Gilberto Dimenstein, lançado em 1990 pela Summus Editorial e pela Folha de S.Paulo.

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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, cuja 3ª edição foi lançada pela Editora Novo Século

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Paulo Coelho difamou Jesus Cristo!

Chocou-me a agressão do imerecidamente famoso Paulo Coelho a Jesus Cristo. Entrevistado pelo jornal inglês The Guardian, esse subliterato se atreveu a defecar estas blasfêmias:

"Esqueceram-se de que Jesus foi politicamente incorreto, do início ao fim. Ele era um bon-vivant. Viajava, bebia e tinha uma intensa vida social. Seu primeiro milagre não fui a cura de um cego pobre. Ele transformou água em vinho, e não vinho em água. "

Quando li tamanha cretinice, reproduzida pela revista Veja, senti gana de amordaçar o Paulo Coelho e de obrigá-lo, após abrir sua boquinha, a engolir mijo de gambá e merda de porco. Aplicando-lhe uma chicotada na bunda bem nutrida, branca como a da ministra Marta Suplicy, eu ordenaria:


-Mostre que você é um perfeito suíno.

Para não receber no traseiro outra lambada, o Paulito Coelhito cuincharia assim:

-Cué, cué, cué, cué, cué!

Ah, se eu pudesse, com o meu escaldante sangue árabe, arremessá-lo num chiqueiro cheio de podre lama fedorenta e fazer isto! Como me sentiria bem!
O poeta Quintus Horatius Flaccus (65-8 a.C.) estava certo ao afirmar o seguinte na Epístola aos pisões:


"Quem obteve o que lhe basta, não ambiciona mais nada".
("Quod satis est cui contingit, nil amplius optet").

Corretíssimo. Penso como o protegido de Mecenas, como o mais sutil dos poetas latinos. Se eu castigasse o Paulito Coelhito dessa maneira, ficaria tão feliz, tão realizado! Talvez até daria a alma a Deus, pois Guimarães Passos (1867-1909) expressou a verdade no soneto "A vida", do livro Versos de um simples:


"Muita felicidade também mata"
Vejam as besteiras do Paulito Coelhito. Por que Jesus "foi politicamente incorreto, do início ao fim"? Por quê? Quanta estupidez! O Nazareno deveria estar a serviço do Império Romano? Submeter-se às determinações de Pôncio Pilatos? Outra burrice: dizer que o Verbo Divino era um bon-vivant, um gozador que só viajava, vivia bebendo, como os grã-finos de hoje enfiam nos seus buchos talagadas de vodca, de uísque ou de gim. Mais uma imbecilidade do Paulito Coelhito: garantir que Jesus Cristo "tinha uma intensa vida social", como se ele fosse, naquele tempo, a encarnação masculina da loura e risonha socialite Val Marchiori, sempre a exibir uma reluzente taça com champanhe.

Querendo provar, de qualquer maneira, que o Salvador agia como um cachaceiro, o literatelho do Diário de um mago relincha: "ele transformou a água em vinho, e não vinho em água". Perversidade, canalhice do Paulito Coelhito! Deturpou o primeiro milagre de Jesus, à semelhança de um linguarudo demônio caluniador. Narra a Bíblia que quando se celebravam umas bodas em Caná, na Galiléia, o Messias ali compareceu, junto dos seus discípulos. E Maria, mãe de Jesus, dirigiu-se ao filho:


-Eles não têm vinho.

O Mártir do Calvário, depois de pedir que enchessem de água seis talhas, metamorfoseou essa água em vinho. Então, durante o banquete, os convidados felicitaram os noivos, por causa do bom vinho servido...

Infâmia, o sentido desse episódio tão simples, revelador da infinita bondade de Jesus, foi de forma safada modificado pelo Paulito Coelhito. Este quis provar, desvirtuando a narrativa bíblica, que o Redentor era um beberrão! Autêntica baixeza!
Sustento, é disparate de grosso calibre o jornal inglês The Guardian ter publicado as idiotices desse homem digno de figurar nos dicionários de asneiras, nos bestialógicos.

Ancelmo Gois, na sua coluna de O Globo (edição de 23-1-2013) informou que o Paulo Coelho ia pronunciar uma conferência na Catedral de Milão. O achincalhador de Jesus Cristo sendo prestigiado pela Igreja Católica! Já viram um contra-senso de tal envergadura?

Na reportagem "O arco e a flecha giratório" (o correto é giratórios), publicada na revista Época (edição de 7-4-2014), o jornalista Luís Antônio Giron salienta que em Genebra, na Suíça, num apartamento duplex de 700 metros quadrados, o Paulito Coelhito, no fim da tarde, interrompe o que estiver fazendo, a fim de rezar em silêncio. Eu pergunto: rezar para quem? Um homem que desrespeita Jesus, que o achincalha, que o vê como um bêbado, um bon-vivant, uma criatura mundana, entregue a "uma intensa vida social", um homem assim somente pode rezar para um sujeito horroroso, possuidor destes vários nomes: Beiçudo, Belzebu, Bode Preto, Bruxo do Inferno, Capeta, Coisa Ruim, Lúcifer, Maligno, Mefistófeles, Não-sei-que-diga, Pé de Cabra, Príncipe das Trevas, Porco Sujo, Satanás, Serpente Maldita, etc, etc.


Explodi em gargalhadas, após ler na revista Contigo (edição de 27-3-2014) a reportagem de Nelson Liano Jr. sobre as orações de Paulo Coelho e dos seus amigos a São José, numa festa realizada no Hotel Fortaleza do Guincho, em Cascais, Portugal. Ri sem parar, por saber, devido a essa reportagem, que São José, esposo da Virgem Maria, tornou-se o santo padroeiro do Paulito Coelhito.


Amigo leitor, responda-me: se o Paulito não respeita Jesus Cristo, ele é capaz de respeitar o seu pai terreno, São José?
Em novembro de 2012, o Paulito sofreu duas obstruções nas artérias coronárias. Um médico bruto o examinou e lhe disse que teria apenas dois dias de vida, mas a implantação de dois stents no seu coração impediu a visita da senhora de olhos gelados, munida de uma foice.


Cuidado, Paulito, cuidado! Pare de ofender Jesus Cristo! Se continuar a difamá-lo, o diabo vai raciocinar deste modo: vou jogar no Inferno esse blasfemador, causando-lhe um ataque cardíaco, pois ele me adora, cumpre fielmente as minhas ordens.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

UM CONSELHO PARA OS MEUS LEITORES


Na oitava edição do meu livro Pena de morte: sim ou não? Os crimes hediondos e a pena capital, que logo será lançada pela editora Novo Século, eu descrevo os crimes da freira Cecil e Bombeek (irmã Godofreda). Esta mulher, na década de 1970, exercia as funções de enfermeira-chefe do hospital belga de Wetteren e matou mais de trinta idosos, segundo o depoimento do doutor Jean-Paul Decorte, médico daquele nosocômio. Por que Cecile os liquidava? Apenas para alcançar dois objetivos: roubar o dinheiro dos velhos e assim poder comprar drogas, cocaína.

Eis o método da monstruosa enfermeira: metia insulina nas veias dos anciãos, acima das doses normais, ou os sufocava, despejando sucessivos goles de água pelas suas gargantas.

No ano de 2006, o enfermeiro inglês Benjamin Geen foi condenado por dois homicídios e quinze lesões corporais. Sempre muito calmo, a sorrir, num hospital de Oxfordshire, ele se especializou no processo de injetar doses letais de morfina nos pacientes...

Outro britânico, o enfermeiro Collin Norris, em 2008, extinguiu a vida de quatro mulheres idosas, aplicando nas suas artérias grande quantidade de insulina.

Ainda no mesmo ano de 2008, a enfermeira americana Maria Kelly Whitt, assassinou num hospital do Kentucky, com dose cavalar de morfina, um nonagenário, veterano da Segunda Guerra Mundial.

Não pense, amigo leitor, que só os enfermeiros e as enfermeiras estrangeiros se dedicam à arte de produzir defuntos. Aqui no Brasil existem criminosos desse tipo.

Edson Isidoro Guimarães, auxiliar de enfermagem, confessou em 1999 ter assassinado cinco pessoas num hospital do Rio de Janeiro, mas a polícia carioca acredita que ele enviou mais de 150 doentes para a morte, recorrendo ao cloreto de potássio ou desligando os aparelhos de fornecimento de oxigênio...

Wanessa Pedroso Cordeiro, técnica em enfermagem, quis matar onze recém-nascidos num hospital do Rio Grande do Sul. Declarou o delegado Guilherme Pacífico, da cidade de Canoas: ela sedava os bebês com doses elevadas de morfina e de tranquilizantes. As investigações constataram que entre os dias 5 e 13 de novembro de 2009, os onze recém-nascidos, sob os “carinhosos cuidados” de Wanessa, apresentaram, além da cor arroxeadas nas faces, sinais de asfixia, uma sonolência profunda, diminuição da frequência cardíaca, e até parada respiratória, como no caso do bebê da senhora Adeline Rocha.

Concluo este bate-papo aconselhando os meus caros leitores a serem bem cautelosos, na escolha de enfermeiros e enfermeiras. Excesso de desconfiança é burrice, mas falta de desconfiança também é às vezes boas referências não valem nada. É claro, não devemos condenar uma classe por causa de certos maus elementos, porém olho vivo, principalmente quando se trata de contratar alguém para cuidar de bebês, de deficientes físicos ou mentais, de pessoas idosas. Olho vivo, amigo leitor, olho vivo, lembre-se de que estamos num mundo imundo, repleto de traições, de armadilhas!
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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, cuja 3ª edição foi lançada pela Editora Novo Século

O MARAVILHOSO CORPO HUMANO


Neil Clyde, famoso médico inglês, publicou na revista Family Doctor um artigo interessantíssimo, no qual afirma, de modo categórico, que em mais de setenta por cento dos casamentos felizes, a cor dos olhos do marido é diferente dos da esposa. No seu parecer há uma ligação entre a cor dos olhos e o caráter das pessoas.

“Em outras palavras – elucida o facultativo – as diferentes cores dos olhos significam caracteres dessemelhantes e, como se sabe, caracteres dessemelhantes se completam nos casais.”

O doutor explica que as criaturas de olhos azuis, verdes ou de cor cinza, são compreensivas e revelam senso de responsabilidade. A maioria dos homens de Estado, diz ele, tem olhos azuis. Já as pessoas que apresentam olhos castanhos e suas tonalidades, denotam temperamento impulsivo. Todavia, conforme salienta, não deixam de ser bondosas e muito sensíveis.

Byron nutria aversão às pessoas de olhos cinzentos.

-Você ainda é moço – disse uma vez a um amigo – e pode tirar proveito da regra que vou enunciar: não confie nunca em quem seja dono de olhos cinzentos.

-Mas – respondeu o amigo – você também os tem.

-Exatamente – respondeu o poeta aventureiro – e quanto melhor teria sido, para muitas pessoas que conheço, se houvessem observado a regra em relação a mim!

Dirijamos a nossa vista para o reino dos animais. Torna-se fácil constatar que cada bicho, cada inseto, cada ave, tem um tipo próprio de visão.

O gato, durante o dia, mostra a pupila idêntica a uma racha estreita, vertical. É que ele correu as cortinas do olho, pois assim evita a luz demasiada. À medida que esta vai diminuindo, as cortinas se abrem, aproveitando o resto da claridade.

Os peixes que nadam nas grandes profundidades possuem os olhos colocados em cima da cabeça, de maneira que podem olhar para o alto e para os lados.

Na águia, e outras aves de rapina, os olhos mudam rapidamente de foco. Só desta forma distinguem a presa, que se movimenta depressa, alterando sempre o ponto da sua direção.

Tendo o Criador fornecido esta variedade de visões aos irracionais, é lícito imaginar que foi mais generoso com o homem, criatura feita à Sua imagem e semelhança. Por esta razão deve ter dado a nós uma complexa riqueza interior, que se manifesta através do olhar.

Havendo tantas almas, acho provável que Deus particularizou, por intermédio de algum sinal físico, as qualidades morais de cada indivíduo. Se num semblante as maxilas alongadas indicam voluntariedade, energia, se um lábio grosso, carnudo, é frequentes vezes sinal de apetites materiais, então o olho, na sua cor, pode exprimir as tonalidades da nossa alma, as meias-tintas do nosso temperamento, os claros-escuros da nossa organização nervosa.

Devemos considerar o corpo humano um repositório contínuo de maravilhas. E não se faz mister contemplar os astros para sentir os mistérios do universo: basta ver o nosso invólucro mortal, pois qualquer parte dele merece um estudo, uma reflexão.

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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Vida, Obra e Época de Paulo Setúbal, um Homem de Alma Ardente, cuja segunda edição foi lançada pela Geração Editorial.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O apelido de Lula era este: Taturana


Recebi de Luísa Nogueira Mortensen, minha estimada leitora, uma carta com estas palavras:

          “Já li os seus livros sobre Santos Dumont, o Aleijadinho e o intitulado Vida e poesia de Olavo Bilac. Estou lendo agora outra obra de sua autoria, o Lutero e a Igreja do pecado, cuja sétima edição acaba de ser lançada pela Editora Novo Século. Diga-me uma coisa, o senhor seria capaz de escrever uma biografia do Lula?”

          Cara Luísa, embora eu não seja do PT e eleitor do ex-presidente da República, afirmo que sim. E por uma simples razão: possuo, a respeito do Lula, um idôneo material informativo, colecionado ao longo de mais de vinte e cinco anos. Aliás, o meu arquivo, muito rico, me permite discorrer sobre centenas de assuntos. Orgulho-me de sempre agir como um escritor bem organizado. E sigo este conselho da Bíblia:

          “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem”.

          (Epístola de São Paulo aos coríntios, capítulo 14, versículo 40)

          Jonathan Swift (1667-1745), o satírico autor das Viagens de Guliver, obra na qual escarnece da sociedade inglesa, estava certo quando garantiu que a ordem governa o mundo e que quem causa a confusão é o demônio...

          Luísa Nogueira Mortensen indaga, na sua carta, se posso lhe dar algumas informações curiosas sobre o Lula. Graças ao meu arquivo, onde há ordem e até capricho, extrai dele os dados aqui expostos.

          A mãe de lula era conhecida como dona Lindu. O seu pai, Aristides Inácio da Silva, foi carregador nas docas de Santos.

          No mês de dezembro de 1952, o menino Lula, nascido em 27 de outubro de 1945, enfrentou heroicamente, com a mãe e os irmãos, uma viagem de treze dias num caminhão pau-de-arara, desde Garanhuns, em Pernambuco, até a cidade de Santos. Nesta eles se decepcionaram, pois Aristides havia constituído nova família com uma prima.

          Lula trabalhou como ambulante e depois conseguiu emprego numa tinturaria. Ali o dono, um nipônico, tentou ensiná-lo a falar japonês. Em seguida o rapaz tornou-se office-boy. Decorrido pouco tempo, ingressou numa fábrica de parafusos. Permaneceu nela durante quatro anos, mas já fizera o curso primário, até a 5ª série.

          Em 1964, nas Industrias Villares de São Bernardo do Campo, ele trabalhava doze horas por dia, como torneiro-mecânico. Perdeu nessa época, numa prensa, o dedo mínimo de sua mão esquerda.

          Após isto começou a participar do movimento sindical. No ano de 1975, virou presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, e em 1980, ao lado de alguns políticos e intelectuais, fundou o Partido dos Trabalhadores.

          O resto da sua biografia todos conhecem. Apresentarei agora, entretanto, alguns fatos que não foram divulgados.

          Na adolescência, Lula recebeu o apelido de Taturana, porque se rebolava ao dançar nos bailes populares. Sem dinheiro, tinha o hábito de catar pontas de cigarros no chão, já que não podia comprar o seu preferido, o Continental. Frei Chico, irmão mais velho de Lula, certa vez lhe fez esta ameaça:

          -Se eu pegar você fumando, vou aplicar-lhe uma surra.

          Viúvo, Lula conheceu Marisa, a sua atual esposa, no Sindicato dos Metalúrgicos. Ligava para ela todos os dias e irritou-se ao saber que Marisa saía com outro homem. Então ele intimou:

          -Galega, você vai ter que decidir, ou você fica comigo ou fica com esse cara.

          A primeira mulher de Lula se chamava Maria de Lurdes. Casando-se pela segunda vez, o ex-operário teve quatro filhos com a discreta Marisa, que devido a eficientes operações plásticas, remoçou, e por causa da sua melhor situação econômica, está agora mais elegante.

          Gostou das minhas corretíssimas informações, prezada Luísa Nogueira Mortensen?