domingo, 31 de julho de 2016

FHC nomeou um assaltante dos cofres públicos!

Admito, sou um escritor e jornalista perigoso, mas sincero, amigo da verdade, isento de paixão política. Entretanto, o cinismo, a hipocrisia, o ressentimento, a imensa cara de pau do político Moreira Franco, do PMDB, deixou-me estarrecido. Desde que foi exonerado da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, no final de 2014, após se empenhar na campanha pela reeleição de Dilma Rousseff, esse homem de cabelos brancos, com cara de cotonete, ou segundo Leonel Brizola, de gato angorá, não para de falar mal da Dilma, em conversas reservadas, informou a jornalista Fernanda Krakovics (O Globo, 25-12-2015). Esclareceu a minha colega:
“O ex-ministro é um dos principais defensores do Impeachment.”
Sem desejar defender a presidenta, eu pergunto: possui autoridade moral o senhor Moreira Franco? Respondo: nenhuma. Agora vomita aranhas, cascavéis e escorpiões em cima da Dilma, porque está frustrado, não se conforma, sente falta, muitas saudades, do cargo exercido por ele. O seu coração se entupiu de ódio, de fúria, de inveja, de desassossego, e ao contemplar a sua fisionomia precocemente envelhecida, lembrei-me de um trecho da Bíblia, do versículo 24 do capítulo XXX do Eclesiástico, que afirma: “a inveja e a cólera abreviam os dias, a inquietação traz a velhice antes do tempo.”
Volto a indagar: é dono de autoridade moral, o rancoroso, o despeitado Moreira Franco?
Eleito governador do Rio de Janeiro, no ano de 1987, intermináveis eram as denúncias, durante o seu mandato, de graves irregularidades em processos de licitação, na sede do Departamento Estadual de Trânsito (Consultar a página 2.339 do volume II do Dicionário Histórico – Biográfico Brasileiro, da Editora da Fundação Getúlio Vargas, 2001, verbete assinado pelos pesquisadores Sarah Escorel e Luís Otávio de Sousa).
Em 27 de abril de 1998, o Supremo Tribunal Federal condenou Moreira, por haver cometido ato lesivo ao patrimônio público. O ex-governador, no ano de 1991, usou o dinheiro do povo, do contribuinte, a fim de mandar imprimir o livro Moreira Franco, ele governou para todos. Volume com 274 páginas, 180 fotos coloridas e tiragem de 50 mil exemplares.
Foi condenado em todas as instâncias. Impetrou recursos na Justiça estadual, no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal. Perdeu de forma esmagadora. Aliás, a primeira derrota desse político inescrupuloso ocorreu em 1992, na Quarta Vara da Fazenda Pública do Rio de Janeiro, quando o juiz Ademir Paulo Pimentel o condenou ao ressarcimento de uma quantia equivalente a 150 mil dólares, por descumprimento do Artigo 37 da Constituição Estadual, que veda a autopromoção do administrador na publicidade de atos e obras públicas. Resumindo: o pérfido Wellington Moreira Franco, nascido no Piauí, viu-se obrigado a devolver, aos cofres públicos, o equivalente a 402 mil reais, pelo fato de ter usado a Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro para a publicação de 50 mil exemplares do livro onde é enaltecido como um governador dinâmico, capaz de realizar obras dignas de louvores incondicionais...
A Justiça, naquela época, no intuito de cobrar a dívida do condenado, decidiu leiloar o seu superluxuoso apartamento, localizado em frente da Lagoa Rodrigo de Freitas.
No ano de 1999, como não se elegeu senador, Moreira Franco recebe este convite: ocupar o cargo de assessor especial do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele aceita. Oh, como isto é bonito! Formosa homenagem a um cidadão modestíssimo, repleto de probidade!
Jornalista bem informado, Moacir Japiassu me disse, em Brasília, que a Dilma ignorava o desfalque do Moreira, porém, ao saber, apressou-se a demiti-lo. O FHC, contudo, sabia, e mesmo assim o manteve como seu assessor especial. Num discurso proferido no Palácio da Alvorada, em maio de 1999, o meu xará bradou:
“Eu me orgulho de dizer que este é um governo de moral, e um governo que tem na moral seu fundamento não pode transigir com interpretações equivocadas, levianas!”
Nomeando o Moreira Franco “assessor especial”, FHC mostrou como não existia coerência, entrosamento, entre o seu falar e o seu fazer. A verborragia do ex-presidente me trouxe à memória a frase atribuída a Talleyrand (1754-1838), ministro de Napoleão: “as palavras foram dadas ao homem para disfarçar o seu pensamento” (La parole a eté donné à l’homme pour déguiser sa pensée).
Fernando Henrique Cardoso poderá alegar, em sua defesa, que o mundo está cheio de incoerências. E se é conhecedor de episódios históricos, talvez cite, como exemplo, a batalha de Almança, travada entre ingleses e franceses, no ano de 1707, na qual os primeiros foram comandados por um francês, o Marquês de Ruvigny, e os segundos, os franceses, por um inglês, o Duque de Berwik...
Incoerência, acrescento, existe até nos animais. Curioso é o caso de um cão pastor, narrado pelo naturalista canadense Ernest Thompson Seton (1860-1946) no livro Wild animals i have known (“Os animais selvagens que conheci”), publicado em 1898. Esse cão, durante o dia, era bom, manso, educado, mas à noite fugia e ia viver uma vida de pirata, de bandido, de assassino de galinhas...

Ultimas perguntas. A incoerência de FHC é justificável? Depois de proclamar a moralidade do seu governo, ele não errou ao nomear, como seu assessor especial, um assaltante dos cofres públicos? Aguardo a resposta, xingando os nossos políticos corruptos, querendo enforcá-los. Preciso me controlar!

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Quantos erros de português e de informação!

Uma coisa me identifica muito com o meu colega Marcos Caldeira Mendonça: é a franqueza. Ele é incapaz de ocultar a verdade, pois sabe, como Santo Agostinho, que “os que não querem ser vencidos pela verdade, são vencidos pelo erro” (Qui vinci a veritate nolunt, ab errore vincuntur).
Adorei quando o Marcos, no número de dezembro de 2011 de O Trem Itabirano, exibiu os erros de informação e de português da coleção “Grandes Mestres”, da editora Abril. Ele declarou que precisaria de meses para relatá-los todos. No volume sobre o pintor Claude Monet – salienta Marcos – as palavras realista, sinuoso e impressionista, aparecem assim na página 148: ralista, sinouso e impresionista (sem mais um s). E de modo direto, o meu colega pergunta: estaria bêbado o revisor da coleção, o senhor Paulo Kaiser?
Seguindo o exemplo de Marcos, vou agora apresentar vários erros resplandecentes como as labaredas de uma fogueira, que achei em jornais e outras fontes, ao longo do ano de 2015.
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Erro de Glória Kalil no título de um artigo sobre Gisele Bündchen: “Fica, Gisele!” (O Estado de S.Paulo, 12-4-2015). Correção: “Fique, Gisele!”, pois Glória está dando um conselho. Fica é a terceira pessoa do presente do Indicativo do verbo ficar: eu fico, tu ficas, ele fica. Se fosse o tratamento tu e não o você, então seria fica (imperativo).
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Erro na afirmativa de James Green, historiador e brasilianista americano: a elite do nosso país se mantém no poder desde o Segundo Império (O Globo, 19-6-2015). Correção: nunca houve no Brasil o Segundo Império. O Império foi só um. Houve, sim, o Primeiro Reinado, de D. Pedro I, e o Segundo Reinado, do filho dele. D. Pedro II. Tal erro já havia sido perpetrado por Álvaro Lins (1912-1970), na segunda série do seu Jornal de Crítica.
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Cacófato nesta manchete: “Uma mania que entrou no cardápio dos cariocas” (O Globo, 26-7-2015). Eis aí, de forma bem clara, o encontro de duas palavras que produziu outra de sentido diferente: mama. E mama, é óbvio, pode ser o seio da mulher, o órgão glandular característico dos mamíferos, ou a primeira pessoa do presente do indicativo do verbo mamar. Exemplo do emprego simples desse verbo como intransitivo: “A menina mamou e adormeceu” (Maria da Fonte, livro de Camilo Castelo Branco, publicado em 1885).
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Erro no texto do anúncio do Governo Federal, lido por mim em 16 de julho de 2015, nos jornais: “Avança em São Paulo, Avança no Brasil”. Ora, se é um conselho, uma recomendação, o certo é “Avance em São Paulo, Avance no Brasil.” Aliás, soa mal, o “Avança no Brasil”, porque dá a impressão que o Brasil precisa ser roubado, assaltado... Quem redigiu o anúncio conhece a nossa língua tão bem como eu conheço a língua dos egípcios da época do faraó Tutancâmon...

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Erro num texto a respeito de Rubem Alves: “quando mudou-se com a família”... (Folha de S.Paulo, 1-8-2015). Apesar de não pertencer apenas à categoria das conjunções, a palavra quando, inúmeras vezes, é também advérbio e atrai os pronomes pessoais átonos (sem acento tônico). Dou como exemplo a seguinte frase de Alexandre Herculano: “A águia, quando se arroja sobre a presa”... Portanto o correto é “quando se mudou com a família”...
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Ao som dos gritos “Fica Dilma” (o certo é Fique Dilma”) e de “Não vai ter golpe”, a presidenta Dilma Rousseff participou, no dia 12 de agosto de 2015, do encerramento da Marcha das Margaridas, em Brasília. Num discurso proferido no Estádio Mané Garrincha, ela repetiu isto diversas vezes: “Eu comprimento fulana! Eu comprimento sicrana! Eu comprimento beltrana!” Por favor, Dilma, por favor, raciocine, acalme-se, comprimento é tamanho e cumprimento é a ação de cumprimentar, de saudar.

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Erro na capa da revista Veja: “O real derrete” (12-10-2015). Como a nossa moeda vira líquido, segundo a revista, o correto é assim: “O real se derrete.” Aceitando “o real derrete”, então devemos passar a acreditar que o dinheiro da pátria do “honestíssimo” Eduardo Cunha derrete o gelo ou o chumbo. Eis o exato, o perfeito uso do verbo derreter, na sua forma pronominal: “Ordenou Deus com tão grande milagre, que o maná, que não se derretia ao fogo, se derreteu ao primeiro raio do sol” (padre Antônio Vieira. Sermões, V, 147).
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Erro do colega André Miranda, numa reportagem sobre inéditos de Machado de Assis: este é o fundador da Academia Brasileira de Letras (O Globo, 15-10-2015). Não, quem fundou a ABL foi o jornalista Lúcio de Mendonça, como provo no meu livro A Academia do fardão e da confusão. Machado de Assis se tornou o primeiro presidente daquela casa inútil, ridícula, cagona e tão estéril como o útero de uma velha mula. Cagona porque se cagava de medo diante dos gorilas do golpe de 1964, pois nunca protestou, após esse golpe, contra as torturas, os atos de arbítrio, a censura nazista imposta à imprensa, aos livros, aos espetáculos teatrais.

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Erro do mamífero roedor Eduardo Cunha no seu Facebook, divulgado no mês de agosto de 2015: “É uma acusação grave e que certamente terão outros desdobramentos.” Ai, ai, ai, ai, Eduardo! O terão, vomitado pela sua cachola, é abominável, monstruoso, teratológico! Pare! Aprenda, roedor voraz, o correto é terá, terceira pessoa do futuro imperfeito do indicativo do verbo ter. Entendeu?

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Erro de Frei Beto nesta frase: “A lição descabida de corporativismo é digna dos 40 ladrões de Ali Babá” (Folha de S.Paulo, 16-11-2015). Correção: Ali Babá não chefiava uma quadrilha de 40 gatunos. Ele era um comerciante honesto, como se vê no conto das Mil e uma noites, e penetrou na gruta cheia de riquezas desses bandidos, quando se achavam ausentes. Depois, sabendo da sua visita, os assaltantes quiseram matá-lo, porém a esperta escrava Morgiana, de Ali Babá, conseguiu tirar-lhes a vida, ao derramar azeite fervente nas barricas onde se esconderam.

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No “Programa do Jô” (11-12-2015), o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), ex-diretor geral da Rede Globo de Televisão, falou sobre o seu livro Dialogando com os mortos e expeliu esta frase do tamanho de um cocô redondo, soberbo, magnífico: “Por favor, não morre mais ninguém” Boni, pare de defecar nauseabundos cagalhões, iguais aos dos elefantes e dos dinossauros! Aprenda, Boni, aprenda, como a frase é um pedido, eis o uso correto: “Por favor, que não morra mais ninguém”!

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O Correio Popular de Campinas, na sua edição de 19-12-2015, apresentou uma reportagem sobre a cantora francesa Édith Piaf, comparando-a a um “pequeno passarinho”. Ora, o substantivo passarinho, conforme o Dicionário da língua portuguesa, do Cândido de Figueiredo, significa “pequeno pássaro”. Daí se deduz que dizer “pequeno passarinho” é um excesso, uma redundância, como se vê nestas essas três expressões: “sorriso nos lábios”, “viúva do falecido” e “exclusividade total”.