sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

POBREZA NÃO É DESONESTIDADE


A excelente revista "Istoé Dinheiro”, cuja redação é dirigida por Carlos José Marques, publicou a reportagem "O drama da família Silva", muito bem feita pelo colega Marco Damiani. Essa reportagem mostra a situação de penúria da família de sua excelência, o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil. Substantivo feminino, convém acentuar, a palavra penúria, oriunda do latim, designa o estado de pobreza extrema, de miséria.
Fiquei sabendo, graças ao texto claro e preciso de Marco Damiani, que Frei Chico, o chefe do clã Silva, irmão de Lula, é o autor deste desabafo:
“Nossa vida virou um inferno de angústia e depressão."
Outro irmão de Lula, o sem recursos Genival Inácio da Sil­va, o Vavá, sofreu parada cardíaca, após uma crise de hipertensão. Ele exi­be noventa pontos em cada perna, devido a retirada das veias safenas.
Ruth, a irmã caçula de Lula, não consegue realizar o seu único sonho, que e o de construir um muro em redor da sua casa humilde. Precisa de dinheiro para comprar tijolos e cimento. Empregada de uma escola municipal e sofrendo de tendinite, ela limpa as salas de aula.
Jaime, irmão de Lula, com 68 anos, tem problemas nas ar­ticulações das pernas. Acorda todos os dias às cinco da manhã, a fim de tra­balhar. Deseja construir um cômodo sobre a laje de sua casa, mas falta-lhe o dinheiro.
Maria Baixinha, outra irmã de Lula, ficou viúva, anda deprimida e submeteu-se a delicada operação no intestino. Também sem dinheiro, precisa de uma cirurgia para reduzir o estômago.
José Ferreira de MeIo, o Frei Chico, irmão de Lula, voltou a andar depois de ter sofrido um enfarte. Ele disse a Marco Damiani:
“...hoje eu não posso chegar perto do meu irmão... Lula se preocupa com todos nós, mas não tem agenda para nos ver."
Impressionou-me a matéria da revista “Istoé Dinheiro”, que apresenta todos estes fatos. E veio à minha memória a seguinte provérbio:
“Um amigo é sempre um irmão, porém um irmão nem sempre é um amigo.”
Se Frei Chico, como ele confessou, não consegue chegar perto do seu irmão Lula, e se este, consoante as suas palavras, não tem agenda para ver os próprios irmãos, eu pergunto: Lula é um bom irmão?
O aspecto do nosso presidente forma um grande contraste com o triste aspecto dos seus manos. Lula está eufórico, adiposo, bem nu­trido, róseo como uma aurora tropical e talvez recorrendo “a um antigo há­bito que todo mundo sabe qual é” segundo a feliz expressão do meu brilhan­te colega Olavo Nunes.
Na “Bíblia", no versículo 21 do capítulo quarto da primeira Epístola de São João, há este conselho:
"... aquele que ama a Deus, ame também a seu irmão.”
Amar os nossos irmãos, portanto, complementa o nosso amor ao Criador. E o irmão se conhece nas horas de angústia, nos transes aper­tados, conforme se deduz da leitura, ainda na “Bíblia", do versículo 17 do capítulo dezessete dos Provérbios de Salomão.
Lula, o poder político é efêmero, mas os laços de sangue são eternos. Ajude os seus irmãos, de maneira correta. Receba-os, visite-os. Só assim você se tornará, realmente, o irmão deles.

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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins

sábado, 14 de dezembro de 2019

A IMBECILIDADE É INFINITA


Uma coisa que sempre me impressionou, neste mundo, é ver a enorme quantidade de pessoas que fazem questão de provar como são débeis mentais. Eu as encontro em toda parte, nas ruas, nos bares, nos restauran­tes, nos lugares públicos. Logo identifico o cretino satisfeito com a sua própria cretinice. Burros verdadeiros, e, portanto, incapazes de se corrigirem, de não se mostrarem ridículos e importunos, eles aumentam a minha admiração por gatos, girafas, cachorros, camelos e elefantes, pelas centenas de criaturas do reino animal. Perto desses idiotas, qualquer quadrúpede me dá a impressão de ser um Einstein, um Rui Barbosa.
Há pouco tempo fui almoçar num restaurante da rua Haddock Lobo, com várias salas. Escolhi uma dessas salas e somente um casal se achava ali, a distância de oito metros da minha mesa. Era um homem de meia idade e uma jovem bem bonita, de 18 ou 20 anos. Comecei a ler o jornal que havia trazido, enquanto o prato não vinha. Ouvi o homem maduro dizer, bai­xinho:
            -Ele está nos olhando?
            A moça me fitou, disfarçadamente, e respondeu:
            -Não.
            O homem franziu a testa, preocupado. De fato, eu não estava olhando os dois, de modo direto, mas embora com os meus olhos postos no jornal, podia vê-los, sem que percebessem. Aí o fulano soltou as seguintes palavras:
            -Querida, como você é linda! Me dá um beijo forte, gostoso!  
            Falou bem alto, para eu ouvir. Meio constrangida, a jovem o atendeu. Então o cretino quis saber:
            -Olhe de novo, veja se ele está nos olhando.
            Continuei a ler o jornal, porém tenho a capacidade de ouvir e enxergar a certa distância, com os olhos abaixados. O cretino, grudado na moça, voltou a perguntar:
                -Ele está nos olhando?
            Outra vez a moça respondeu:
            -Não.
            De cara fechada, irritado, o debilóide pediu:
            -Me dá mais um beijo forte, gostoso.
            Algo envergonhada, ela o beijou de leve na face, mas ele
reagiu:
            -No rosto não, querida, quero um beijo bem longo, forte e gostoso na minha boca! Um beijão!
            Ao pedir isto, o homem me fitou com o rabo do olho. Eu continuei a ler o jornal e disse a mim mesmo: o cretino quer que eu o admire e sinta inveja dele, mas não vou lhe dar este prazer!
                Concentrei-me na leitura do jornal, apesar do meu prato já ter chegado. Frenético, o exibicionista não sabia mais como agir, a fim de chamar a atenção. Acariciava os cabelos da moça, o seu rosto, beijava a sua boca, pedia para ela o beijar, sussurrava-lhe palavras melosas no ouvido, sempre com o rabo do olho na direção da minha pessoa.
            Firme, apesar de estar vendo tudo isto com os meus olhos abaixados, continuei mergulhado na leitura do jornal.
            Eles já. haviam terminado a refeição e o sujeito teve de chamar o garçom. Pagou a conta e ambos se levantaram. Ao passar perto de mim, o fulano me olhou com ódio, com fúria, e graças a Deus foi embora. O garçom me disse, após eu lhe contar o que aconteceu:
            -Doutor, esse homem é um empresário muito rico e a sua mania é a de querer ser invejado pelos outros homens, pois pensa que é um grande conquistador de mulheres. Respondi:
            -Não, ele não é um grande conquistador de mulheres. É ape­nas um grande cretino!
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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins

domingo, 8 de dezembro de 2019

VIVA A LIMPEZA, A HIGIENE!


Professor da Universidade de Munique, o arguto Justus von Liebig (1803-1873) descobriu o método de transformar o álcool em ácido acé­tico, de maneira instantânea. Esse notável químico alemão é o autor da seguinte frase:
“O progresso dos povos se pode avaliar pelo consumo de sabão.”
Liebig, a quem a Ciência também deve a descoberta da pre­paração artificial do ácido tartárico, achava que quanto mais uma pessoa usa a água para eliminar a sujeira do seu corpo, mais civilizada ela é. E fica mais sadia, acrescento, pois um velho provérbio garante:
“Água e sabão, fazem o homem são.”
Bourdeau informa, na “Histoire de L “ habillement et de la parure”: o rei Luis XIV, da França, só tomou um banho durante toda a sua vida. Aliás, vejam outro absurdo. Médico famoso da Idade Média, o doutor Gazius se atreveu confessar:
“...o uso dos banhos é um prazer, não destituído de perigo. Talvez seria melhor não falar sobre o medo de cheirar mal. Eu, que nun­ca tomei um banho, sinto-me muito bem, graças a Deus”
Insigne historiador, Michelet comenta, ao evocar aquela época:
"Nem um banho durante mil anos! A sociedade da Idade Mé­dia temia a ablução como um pecado e é triste pensar que todos esses esbeltos cavaleiros, todas essas damas etéreas, Tristão, Parsifal, Isolda, não se lavavam nunca!"
Os monges do Mosteiro dos Carmelitas, na cidade de Pádua, do norte da Itália, também não gostavam de tomar banho. Assim procediam para castigar a carne, vista por eles como a origem de todos os nos­sos males, de todas as nossas imperfeições. Sempre exalavam odores nausea­bundos e cumprimentá-los, pedir-lhes a benção, era torturar o olfato. Após visitar o referido mosteiro, um viajante declarou:
"Nunca pude compreender porque há homens que se reúnem para feder juntos, em honra de um Deus que criou noventa mil espécies de flores."
D. João VI, refugiado no Brasil, não tomava banho. As suas ceroulas caiam apodrecidas e ele metia nos seus bolsos engordura­dos, sem parar, as coxinhas de frango que mastigava com gula insaciável. Imaginem como esse homem fedia... Patrício do rei português, o doutor Baleisão era bem porco. Certa senhora ousou aludir, diante dele, à sua falta de higiene. Assumindo um ar grave, o doutor Baleisão respondeu:
-Pois, minha excelente senhora, de tomar banho tem morrido muita gente, e de porcaria nunca ninguém morreu!
Mas D. João VI, no tempo do Brasil-Reino, não foi o único que detestava a água. Rose de Freycinet (1794-1832), escritora francesa, visitou o nosso país nessa época e descreveu a imundice do Rio de Janei­ro, a qual atingia o auge entre os nobres:
“Uma dama nobre que acabava de tomar uma criada de quar­to francesa, quase a pôs fora de casa só porque esta lhe oferecia um vaso cheio de água para lavar as mãos. Em cólera, disse-lhe a mesma dama que uma pessoa de sua qualidade não tinha nunca necessidade de lavar as mãos, atendendo a que nada de sujo tocava, e que isso de lavar era bom para os cria­dos e o povo.”
Luiz Edmundo colocou estas palavras de Rose de Freycinet no seu livro “O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis”, publicado em 1932 pela Imprensa Nacional. A descrição de Rose mostra o horror à água daquelas pessoas. E se a frase de Liebig expressa a verdade – “O progresso dos povos se pode avaliar pelo consumo de sabão” - o brasileiro evoluiu extraordinariamente, quanto à higiene, pois ao contrário de milhares de europeus, adora tomar banho...

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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.