Idoso
membro da Academia Brasileira de Letras deseja enfrentar-me num duelo. Declarou
isto a mim pelo telefone, mas sem explicar como se efetuará o confronto, se com
espadas, ou peixeiras, ou revólveres, ou motosserras, ou metralhadoras...
Contendo o riso, propus que o embate se realize em Buenos Aires, pois aqui no
Brasil as nossas leis não permitem duelos sangrentos. Sugeri: eu e o meu
adversário, lá na capital da Argentina, usaremos como armas dois guarda-chuvas,
de cabos bem compridos. E à maneira de espadas, um guarda-chuva se baterá
contra o outro. Depois, o primeiro que ficar arrebentado, estraçalhado,
reduzido a tiras, será o do perdedor...
Qual
o motivo desse desafio grotesco? Simples, o provecto membro da ABL se enfureceu
ao ler o meu livro A Academia do fardão
e da confusão, pois nele apresento a verdadeira história da Academia
Brasileira de Letras, de maneira clara, segura, honesta, rigorosamente
documentada. Com voz senil, infantil, fininha, fraquinha, o embolorado
acadêmico soltou estes zurrinhos pelo telefone:
-
Senhor Fernando Jorge, o senhor é muito, muito, muito perigoso, uma cobra cheia
de veneno. Mas não tenho medo do senhor, ouviu? Quero ver se é capaz de me
enfrentar num duelo, quero ver!
Eu
respondi:
-
Prezado e deteriorado acadêmico, garanto, sou capaz, porém estabeleço duas
condições. Primeira, a luta terá de ser com guarda-chuvas, lá em Buenos Aires,
no picadeiro de um circo. Segunda, o senhor se fantasiará de palhaço.
Após
me xingar com sonoros palavrões, o carunchoso acadêmico desligou o telefone.
Doeu-me
a barriga, de tanto gargalhar, e logo me lembrei daquela imagem do poeta
francês Catulle Mendès (1843-1909), fundador do Parnasianismo:
“O
riso é o ruído que produz o bater das asas da alegria” ...
(“Et le rire, c’est le bruit d’aile que fait
la joie”...)
As
informações do meu livro A Academia do
fardão e da confusão, lançado pela Geração Editorial, continuam a irritar
diversos membros da ABL. Dou um exemplo. Eles não se conformam, insultam-me,
porque mostrei, nas páginas 229 e 230 dessa obra, como a Academia Brasileira de
Letras mandou queimar, em 1940, um livro correto sobre ela, na lavra de
Fernando Nery, diretor da sua secretaria. O referido livro, com prefácio de
Afrânio Peixoto, descreve a safadeza dos membros da ABL na feitura dos verbetes
do Dicionário da língua portuguesa,
idealizado por Laudelino Freire e patrocinado pela casa dos “imortais” mortais.
Durante dez anos, os acadêmicos incumbidos da redação do dicionário, não
fizeram nada, mas recebiam à guisa de pagamento, todas as semanas, uma alta
quantia. Que imoralidade!
Também
evoco, no capítulo 35, o desrespeito aos restos mortais do acadêmico Elmano
Cardim, cujo corpo foi expulso do seu túmulo, no mausoléu da Academia, para
ceder lugar a outro corpo, o de Darcy Ribeiro. Fato que gerou na Justiça um
processo contra a ABL, movido pelo filho de Cardim, o senhor Elmano Gomes
Cardim Júnior. E a Academia saiu derrotada, por causa da sentença da 18ª Câmara
Cível do Tribunal de Justiça da cidade do Rio de Janeiro, que a condenou, no
dia 25 de fevereiro de 1999, a indenizar a família Cardim, pois os filhos do
falecido não autorizaram a ABL a realizar a exumação do corpo do acadêmico.
O
desvario do débil mental da Academia, quando falou comigo pelo telefone, sem
dizer o seu nome, revela o insano desespero da instituição a qual ele pertence,
diante dos vergonhosos fatos expostos na minha obra.
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