Toninho Mendes é idealista e
inteligente, mas deixou aparecer este grande erro na página 17 do primeiro
volume da História da ditadura militar,
obra útil e bem redigida, lançada pela Editora Sampa:
“Le Bresil n’est pas un pays
sérieux”
(O Brasil não é um país sério)
Charles De Gaulle, recusando-se a
receber Carlos Lacerda, que fora a Paris como representante pessoal do
presidente Castello Branco, para explicar a Revolução.”
Ora, De Gaulle nunca declarou que “o
Brasil não é um país sério.” Tal frase, na verdade, saiu da boca do diplomata
brasileiro Carlos Alves de Souza. Este mostrou a origem da frase no livro Um embaixador em tempos de crise,
publicado pela Editora Francisco Alves no ano de 1979. Narra o diplomata, nas
páginas 316 e 317 do citado livro, que certo dia, durante a ridícula “Guerra da
Lagosta”,os dois se encontraram em Paris, ele e o general De Gaulle. Ambos
analisaram, de modo afável, o problema dos pesqueiros franceses, nas
proximidades das nossas águas territoriais. Depois, concluída a entrevista, o
embaixador foi a uma recepção na casa do deputado Chaban-Delmas e ali, segundo
as suas palavras, aconteceu o seguinte:
“Repentinamente, surgiu diante de mim
o jornalista Luiz Edgar de Andrade, hoje editor-chefe da TV Globo (estas linhas
do embaixador são de 1979). Insistiu para que eu lhe dissesse algo sobre minha
entrevista com o general De Gaulle. Respondi-lhe que não daria nenhuma
entrevista. Mas, não poderia deixar de ter uma conversa amistosa com uma pessoa
por quem sempre tive a maior consideração. Falei-lhe sobre o tal samba
carnavalesco, ‘A lagosta é nossa’, as caricaturas do presidente De Gaulle e
terminei a conversa dizendo: Luiz Edgar, ‘le
Brésil n’est pas un pays sérieux’. Provavelmente ele telegrafou ao Brasil,
não deixando claro se a frase era minha ou do general De Gaulle, com quem me
avistara poucas horas antes desse nosso encontro casual.”
Na última linha do seu livro, o
embaixador Carlos Alves de Souza afirmou: é de sua autoria, e não da autoria do
general De Gaulle, a frase “o Brasil não é um país sério”. E Alves de Souza
repetiu esta afirmativa numa entrevista concedida a Jacinto de Thormes, publicada
na edição de 9 de maio de 1979 do Jornal
do Brasil.
Portanto, Toninho Mendes, eu o
aconselho a suprimir, na segunda edição da História
da ditadura militar, o erro por mim aqui apontado.
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Um comentário:
Esse é um dos erros mais divulgados no Brasil. Insistentemente divugado. Se De Gaulle nunca pronunciou tal frase, conforme aí está, por que todo mundo insiste em atribuí-la a De Gaulle?
Flávio Tiné
tine@estadao.com.br
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