É lamentável que Lula, um homem que se considera de Esquerda, tenha apoiado um acordo de caráter fascista, a medida imposta por pequeno grupo de acadêmicos, sem qualquer consulta aos intelectuais, aos jornalistas, aos professores, aos estudantes, ao povo.
Há uma grande reação em Portugal contra o Acordo Ortográfico, esse monstrengo com cara de Mussolini. Um abaixo-assinado de mais de cem mil pessoas, lá na “santa terrinha”, exige a revisão do assunto. Vários escritores lusos chamam a decisão de “bizarrice” e acusam o texto do Acordo de conter “inúmeras contradições e até mesmo equívocos”. Só três jornais de lá resolveram adotar o novo procedimento. Magoado por causa desses fatos, o “imortal” mortal Arnaldo Niskier declarou no artigo “A reação à bizarrice”, publicado pela “Folha de S.Paulo”:
“O que dói um pouco, nisso tudo, é a posição de alguns escritores de Lisboa. Escrevem contra o Acordo e contra o Brasil, acusando-nos de tentativa de neocolonialismo” (11-3-2009).
Niskier, esses escritores não exageraram. Trata-se, é inquestionável, de uma tentativa de neocolonialismo lingüístico, estúpida como todas as tentativas dessa natureza.
Vasco Graça Moura, escritor português de prestígio, condena o Acordo e acha difícil a sua implementação na pátria de Gil Vicente. Nascida em Coimbra, no ano de 1962, a escritora Inês Pedrosa também se mostra contra o aborto parido pela Academia Brasileira de Letras. Ela recebeu em Portugal o Prêmio Máxima de Literatura, com o livro “Nas tuas mãos”, e afirma, categórica:
“Sou contra, porque, para começar, o Acordo é um produto falso, um produto pirata. Na verdade, ele não estabelece um acordo. Significa, então, jogar livros fora”.
O repórter da “Folha de S.Paulo” que a entrevistou, no inicio de 2009, quis saber o motivo pelo qual ela não vê o novo sistema como um acordo. Inês Pedrosa respondeu:
“Porque ele cria muita confusão, é inútil e prejudicial. É um acordo em desacordo. O hífen, por exemplo, gera confusão” (4-1-2009).
Mas a revolta contra o código fascista não ocorre apenas em Portugal. Acontece também no Brasil. Informa Ancelmo Gois, de “O Globo”, no comentário “Desacordo na ABL”: circula no meio editorial um e-mail atribuído a Sérgio Pachá, contendo pesadas críticas a essa lei de unificação do idioma português. Pachá, chefe do Serviço de Lexicografia e Lexicologia da Academia Brasileira de Letras, é um gramático competente. Ele estava sob as ordens do acadêmico Evanildo Bechara, o principal responsável pela gestação do Acordo, este feto repulsivo. Aqui vai um trecho do citado e-mail:
“As mudanças impostas pelos podres poderes da República, não pedem menos que a rejeição maciça [do Acordo] por parte da sociedade” (“O Globo”, 25-3-2009).
Baiano de Itaparica, ocupando na ABL a cadeira número 34, o escritor João Ubaldo Ribeiro meteu o pau no mussolinico regulamento-jumento, durante uma entrevista concedida ao “Correio Braziliense”. Segundo ele, autor de mais de um milhão de livros vendidos em dezesseis países, “ninguém vai levar muito a sério esta reforma”. Na sua tranquila opinião, ela contribuirá para piorar o conhecimento da língua portuguesa. Eis como Ubaldo explica a quase geral falta de respeito pela amalucada alteração ortográfica:
“Porque, em primeiro lugar, é muito perfunctória, pequena, apesar de afetar um número grande de palavras. Para mim, não enriquece em nada o entendimento da língua com qualquer um dos seus falantes. Sinceramente, não vejo nessa reforma nenhuma perspectiva realmente nova, a não ser dinheiro trocando de mãos” (“Correio Braziliense”, 4-1-2009).
A reforma, no entender de Ubaldo, criou a confusão e ainda por cima despesas, programas de texto para computador. Como exemplo da bagunça, ele diz que devido ao fim do trema, hoje ninguém sabe se a pronúncia correta é liquidificador (sem trema) ou liqüidificador (com trema).
Disparates se tornaram bem visíveis no acordo fascista. Um deles: não deve mais ser usado o acento diferencial entre as palavras homógrafas (com a mesma grafia). Exemplos: para (conjugação do verbo parar) e para (preposição simples); pelo (conjugação do verbo pelar) e pelo (substantivo). Todavia, foi mantido o acento diferencial da palavra pôde (terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do verbo poder), a fim de distingui-la de pode (terceira pessoa do singular do presente do indicativo do mesmo verbo). Quanta complicação e confusão!
Vejam agora a seguinte frase da manchete de um jornal:
“Crise mundial para o comércio”
Esta frase, por causa da reforma ortográfica, é ambígua. A crise parou o comércio ou apenas o ameaça?
Outra insensatez: o acento gráfico dos ditongos ei, eu, oi, desaparece nas palavras paroxítonas (vocábulos nos quais o acento tônico cai na penúltima sílaba), como idéia, epopéia, assembléia, bóia, jibóia. Todos sem acento. No entanto, em compensação, o acento agudo permanece nas palavras oxítonas (vocábulos nos quais o acento tônico cai na última sílaba), como rói, dói, herói, anéis, pastéis, céu, réu, troféu, papéis, chapéus.
Coitado do povo! Para escrever certo, ou melhor, errado, precisa compreender estas sutilezas gramaticais, aceitar estas regras esdrúxulas!
Jornal cheio de boas intenções, “O Estado de S.Paulo” convidou Evanildo Bechara para esclarecer em artigos dominicais as dúvidas sobre a reforma. Evanildo escreve corretamente mal. Dos seus textos retorcidos como cólicas hepáticas, pinga a chatice. Lê-lo é mergulhar não no sono, mas num pesadelo. E como é pernóstico! Em vez de usar a palavra usuário, emprega a palavra utente. Adora o substantivo ortógrafo. O seu estilo complicadíssimo é mais indigesto do que uma azeda macarronada coberta de mofo, baratas e percevejos. Amostra da sua linguagem trevosa, tediosa e misteriosa:
“Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido”.
Entenderam? Foi assim, com a sua escrita idêntica a um tenesmo (forte desejo de defecar ou urinar, acompanhado de sensação dolorosa), que o Evanildo ganhou fama...
Concluindo: ele produziu diversos artigos para O Estadão e é como se não tivesse feito nenhum.
2 comentários:
Deve-se, em todos os casos, consultar a população. O que não foi feito e, muito provavelmente, não será. Por mais eruditas que sejam as mudanças, repito: deve-se consultar a opinião do povo. Dessa forma, além de promover o exercício da liberdade de expressão, o governo acaba inserindo de maneira mais abragente o cidadão brasileiro, o qual, infelizmente, está completamente alheio ao que acontece no Brasil. Por fim, o governo deveria fazer jus ao tipo de governo que ostenta.
O acordo é traição. Todos os que concordem devem ser torturados e executados para o bem comum patriota
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