sábado, 9 de maio de 2009

Um filho que tem mãe, tem todos os parentes

Reproduzi num álbum os mais belos versos e os mais expressivos pensamentos sobre as mães. Do poeta santista Martins Fontes, que evoquei no meu livro Vida e poesia de Olavo Bilac (Editora Novo Século, 5ª edição) são estes dois lindos versos:

"Ao pé das nossas mães, todos nós somos crentes...
Um filho que tem mãe, tem todos os parentes”

Eis aqui a mais bela quadra popular sobre as mães:

"Eu vi minha mãe rezando
Aos pés da Virgem Maria:
Era uma santa escutando
O que outra santa dizia."

Guerra Junqueiro, na opinião de Unamuno, era "el primeiro de los poetas portugueses" e também "uno de los mayores del mundo". Estas palavras do insigne ensaista se acham no livro “Por tierras de Portugal y de España.” O entusiasmo de Unamuno se justificava, pois Junqueiro foi um poeta extraordinário, dotado de imenso talento verbal, conforme podemos constatar, lendo estes versos do seu livro “A velhice do Padre Eterno”:

"Minha mãe, minha mãe! ai que saudade imensa
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.
Caía mansa a noite, e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares
Suspensos do beiral da casa onde nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras,
Dormia quieto e manso o impávido lebréu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
E a lua branca, além, por entre as oliveiras,
Como a alma dum justo, ia em triunfo ao céu!...
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.
Por todos eu orava e por todos pedia,
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as máguas,...
Pelos míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem lua e num barco sem velas
Errantes através do turbilhão das águas.
O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de Pai!"

Foi o indestrutível amor materno que deu ao grande lírico português a inspiração para compor esta magnífica poesia. Talvez alguns amantes da poesia moderna a julguem retórica, verbosa, palavrosa, mas um insigne poeta moderno, Stéphane Mallarmé, após ouvir uma queixa do pintor Degas, soltou a seguinte afirmação:
- Não é com idéias que se fazem versos, é com palavras.
Sim, é a pura verdade, pois as palavras são para os poetas o que os sons são para os músicos...

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