sexta-feira, 8 de maio de 2020

SANTOS DUMONT ESTÁ SOFRENDO ATÉ AGORA


Encontrei enorme quantidade de erros nos verbetes do Dicionário enciclopédico ilustrado Veja Larousse. Aqui vão alguns exemplos.
No verbete adjetivo, da página 45, há um erro gramatical: "para mudar-lhe o significado". Ora, como ensina Cândido de Figueiredo no livro O problema da colocação dos pronomes, a preposição para atrai de modo normal os pronomes pessoais. Entre vários exemplos, Figueiredo reproduziu estas palavras simples de Machado de Assis: “...para lhe não perguntar nada”.
Georgina de Albuquerque, insigne pintora brasileira, não morreu em 1962, segundo informa o seu verbete da página 79, mas sim em 1956. O dicionário é milagroso, prolongou-lhe a vida, fez a pintora viver mais seis anos... Consultar a página 43 do 1º volume do Dicionário brasileiro de artistas plásticos, publicado em 1973 pelo Instituto Nacional do Livro e pelo Ministério da Educação e Cultura.
Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, não construiu o Santuário do Nosso Senhor Bom Jesus de Matozinhos em Congonhas do Campo, como assegura na página 86 o verbete sobre o nosso genial artista. Quem empreendeu a construção do santuário, no século XVIII, foi o eremita Feliciano Mendes, porém Iá o Aleijadinho esculpiu na pedra sabão as estátuas dos profetas Isaías, Jeremias, Baruque, Ezequiel, Daniel, Oséias, Jonas, Joel, Amós, Naum, Abdias e Habacuque.
No verbete sobre Salvador Allende, da página 99, aparece esta construção errada:
“Foi derrotado por um golpe militar... durante o qual suicidou-se."
O certo é ”durante o qual se suicidou”, pois os escritores de elocução vernácula costumam fazer proclítico o pronome pessoal objetivo e terminativo, quando precedido, dentro da mesma frase, pelos pronomes que, cujo, qual. Dois exemplos, o primeiro do padre Antônio Vieira, e o segundo de frei Luís de Sousa:
“... diante do qual se ajoelhou”
“... do qual se afirma..."
Achei todos estes erros por acaso, folheando o volume 1 do Dicionário enciclopédico ilustrado Veja Larousse. Examinarei agora, também sem esforço, o volume 2 da obra.
O poeta, escritor e folclorista Amadeu Amaral não nasceu na cidade paulista de Capivara, como podemos ler num verbete da página 117. Esta cidade não existe no Estado de São Paulo. Capivara é o nome de um rio de Sergipe e de uma lagoa do Amazonas. Amadeu veio ao mundo em 6 de setembro de 1875, numa fazenda que pertencia ao município paulista de Monte Mor, emancipado em 1871.
Ubaldino do Amara!, político, jurista, professor, teatrólogo, não nasceu na cidade paulista de Vila da Lapa, consoante informa um verbete da página 118. Vila da Lapa é outra cidade que não existe e nunca existiu em São Paulo. Nascido em 27 de agosto de 1842, o eclético Ubaldino não era paulista e sim paranaense...
Malazarte não é ensaio ou crítica literária, como se deduz da leitura do verbete sobre Graça Aranha, na página 190. Não, Malazarte é um drama lírico de Lorenzo Fernandez, baseado num libreto do autor de Canaã. Aliás, convém não o confundir com a ópera-cômica Malazarte, de Camargo Guarnieri, cujo libreto é da autoria de Mário de Andrade.
Anotei dezenas de outros erros, mas vou parar aqui, devido a falta de espaço.

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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.

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