sexta-feira, 10 de abril de 2020

MEU DEUS, QUANTA BURRICE!


O exame Prova Brasil, realizado pelo Ministério da Educação, mostrou isto: a maioria dos estudantes brasileiros de escolas públicas urbanas, na 4ª série, têm dificuldades de leitura. Após quatro anos de estudos, eles alcançaram um rendimento visto como "crítico", no teste de língua portuguesa. Tal exame avaliou 1,0 milhão de alunos, que foram reprovados em dezesseis estados, por causa das suas besteiras.
Sejamos justos, os nossos políticos também não param de soltar besteiras, de cometer atentados contra a língua portuguesa. Errar, neste sentido, não é um privilégio dos estudantes da 4ª série. Informou a jornalista Hildegard Angel, por exemplo, que o prefeito de Araruama, ao candidatar-se à reeleição, tinha o costume de dizer nos comícios:
"Quero reganhar! Meu povo e minha pova, com a minha fé e a fé de vocês, vamos juntar as nossas fezes!”
Esse prefeito é um gênio da língua portuguesa, pois inventou o verbo reganhar, o substantivo feminino pova e o plural fezes, aliás bem fedorento.
O episódio que agora vou descrever mereceu até uma notícia na primeira página do matutino O Globo.
Na câmara municipal de uma cidade do interior de São Paulo, certo vereador pronunciou no meio do seu discurso o adjetivo óbvio, o qual serve para designar a coisa muito visível, clara, manifesta, patente. Um segundo vereador o aparteou:
-Perdão, nobre colega, a pronúncia correta é obvio, sem acento no primeiro o.
Aí um terceiro vereador reagiu:
-Discordo! A pronúncia correta é óbvio, com acento no primeiro o.
-Não, é obvio, sem acento! - ornejou um quarto vereador.
Estabeleceu-se o bate-boca, o tumulto. Todos os vereadores entraram no debate.
-A pronúncia correta é obvio - zurrava um.
-Não, não, em absoluto, é óbvio com acento.
-Protesto, é obvio sem acento - relinchava outro, talvez querendo comer capim e com as ferraduras frouxas nas quatro patas.
Sua excelência, o presidente da câmara municipal, a fim de solucionar o gravibundo problema, colocou o assunto em votação. Resultado: os defensores da pronúncia obvio, sem acento no primeiro o, saíram ganhando de maneira esmagadora.
Altamente inspirado, eu compus este poeminha:

Óbvio ou obvio?
Berravam num rodopio,
repletos de maus odores,
de furores,
os senhores vereadores.
E a maioria,
com ares de muares,
cérebro vazio,
a pular como macacos no cio,
gritava “obvio”!
Caiam as suas frouxas ferraduras,
roncavam os seus estômagos sem capim,
perdiam as composturas,
até pareciam os bêbados de um botequim!

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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.

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