domingo, 24 de novembro de 2019

GRAÇAS A ELAS, HÁ MAIS BELEZA


Daniel Filho, diretor da peça “As mulheres da minha vi­da”, que estreou no Teatro Cultura Artística, proferiu a seguinte frase, publicada no número 1.557 da revista “Contigo”:
“Mulheres inteligentes são chatas para serem esposas.”
Frase infeliz! Eu pergunto se o ator Daniel Filho pertence a essa classe de machistas que adoram mulheres burras ou ignorantes. Aliás, Maria Cristina Mendes Caldeira, ex-esposa de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, após ter sido chamada de burra e alienada por ele, rea­giu com estas palavras, segundo informa a revista “Veja”:
“Não sou uma mulher burra nem alienada. Chega um momento em que muitos fatos esquisitos passam a ser mais do que fatos esquisitos”
É inquestionável, e Maria Cristina não merece esse tipo de ofensa, como tantas outras mulheres acusadas injustamente, cretinamente, por estúpidos maridos machistas. Aliás, ser machista já é ser estúpido...
Muitos homens inteligentes, talentosos, exibiram o seu momento de burrice quando se referiram às mulheres. Na cena terceira do ato IV da peça “Emilia Galotti”, do dramaturgo alemão Gotthold Ephrain Les­sing (1729-1781), um personagem fala desta maneira:
“A moça que pensa é tão estúpida como o homem que se pinta”.
(“Ein Frauenzimmer, das denkt, ist eben, so ekel als ein Mann, der sich schminkt”).
Lessing deve ter colocado o seu próprio pensamento na boca do personagem. Na sociedade daquela época, os homens não aceitavam que as mulheres fossem inteligentes. Os preconceitos contra elas os fazia padecer de uma crônica estreiteza mental.
Chamfort (1741 – 1794), moralista francês, viveu na época de Lessing. Pois bem, ele ousou afirmar isto, na parte sexta das “Maximes et pensées”:
“As mulheres tem no cérebro uma célula de menos, e no coração uma fibra a mais”
(“Les femmes ont dans Ia tête une case de moins et dans le coeur une fibre de plus”)
Famoso por seus epigramas e aforismos cínicos, Chamfort era um pessimista e foi uma vítima da Revolução Francesa. Viveu solitário, cortejado pela nobreza, porém nunca soube compreender as mulheres. A inca­pacidade de centenas de homens de compreendê-Ias, leva esses homens a formular julgamentos errados. Portanto a burrice, sob este aspecto, não es­tá nas mulheres e sim neles. Coberta de razão se achava a americana Marga­ret Mitchell (1900-1949), autora de “Gone With the Wind” (“E o vento levou”), quando disse numa entrevista:
“A desilusão masculina mais comum é descobrir que a mulher pensa”.
Um patrício de Margaret Mitchell, o inteligentíssimo escritor Henry Louis Mencken (1880-1956), garantiu no capítulo “The feminine mind” ("A mente feminina") da sua obra “In defense of women”  (“Em defesa das mu­lheres”) :
“As mulheres, na verdade, não são apenas inteligentes; elas detêm praticamente o monopólio de certas formas sutis e mais úteis de inteligência."
Concordo, Mencken acertou. E uma prova da superioridade mental das mulheres em relação aos homens, é também esta: as mulheres não provocam guerras, não mandam invadir países, não causam a morte de milhões de inocentes, não adotam os métodos sujos de Adolf Hitler e George W. Bus­ch.
Vivam as mulheres, elas são a parte mais limpa e mais bela da humanidade!

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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.

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