quinta-feira, 28 de julho de 2016

Quantos erros de português e de informação!

Uma coisa me identifica muito com o meu colega Marcos Caldeira Mendonça: é a franqueza. Ele é incapaz de ocultar a verdade, pois sabe, como Santo Agostinho, que “os que não querem ser vencidos pela verdade, são vencidos pelo erro” (Qui vinci a veritate nolunt, ab errore vincuntur).
Adorei quando o Marcos, no número de dezembro de 2011 de O Trem Itabirano, exibiu os erros de informação e de português da coleção “Grandes Mestres”, da editora Abril. Ele declarou que precisaria de meses para relatá-los todos. No volume sobre o pintor Claude Monet – salienta Marcos – as palavras realista, sinuoso e impressionista, aparecem assim na página 148: ralista, sinouso e impresionista (sem mais um s). E de modo direto, o meu colega pergunta: estaria bêbado o revisor da coleção, o senhor Paulo Kaiser?
Seguindo o exemplo de Marcos, vou agora apresentar vários erros resplandecentes como as labaredas de uma fogueira, que achei em jornais e outras fontes, ao longo do ano de 2015.
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Erro de Glória Kalil no título de um artigo sobre Gisele Bündchen: “Fica, Gisele!” (O Estado de S.Paulo, 12-4-2015). Correção: “Fique, Gisele!”, pois Glória está dando um conselho. Fica é a terceira pessoa do presente do Indicativo do verbo ficar: eu fico, tu ficas, ele fica. Se fosse o tratamento tu e não o você, então seria fica (imperativo).
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Erro na afirmativa de James Green, historiador e brasilianista americano: a elite do nosso país se mantém no poder desde o Segundo Império (O Globo, 19-6-2015). Correção: nunca houve no Brasil o Segundo Império. O Império foi só um. Houve, sim, o Primeiro Reinado, de D. Pedro I, e o Segundo Reinado, do filho dele. D. Pedro II. Tal erro já havia sido perpetrado por Álvaro Lins (1912-1970), na segunda série do seu Jornal de Crítica.
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Cacófato nesta manchete: “Uma mania que entrou no cardápio dos cariocas” (O Globo, 26-7-2015). Eis aí, de forma bem clara, o encontro de duas palavras que produziu outra de sentido diferente: mama. E mama, é óbvio, pode ser o seio da mulher, o órgão glandular característico dos mamíferos, ou a primeira pessoa do presente do indicativo do verbo mamar. Exemplo do emprego simples desse verbo como intransitivo: “A menina mamou e adormeceu” (Maria da Fonte, livro de Camilo Castelo Branco, publicado em 1885).
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Erro no texto do anúncio do Governo Federal, lido por mim em 16 de julho de 2015, nos jornais: “Avança em São Paulo, Avança no Brasil”. Ora, se é um conselho, uma recomendação, o certo é “Avance em São Paulo, Avance no Brasil.” Aliás, soa mal, o “Avança no Brasil”, porque dá a impressão que o Brasil precisa ser roubado, assaltado... Quem redigiu o anúncio conhece a nossa língua tão bem como eu conheço a língua dos egípcios da época do faraó Tutancâmon...

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Erro num texto a respeito de Rubem Alves: “quando mudou-se com a família”... (Folha de S.Paulo, 1-8-2015). Apesar de não pertencer apenas à categoria das conjunções, a palavra quando, inúmeras vezes, é também advérbio e atrai os pronomes pessoais átonos (sem acento tônico). Dou como exemplo a seguinte frase de Alexandre Herculano: “A águia, quando se arroja sobre a presa”... Portanto o correto é “quando se mudou com a família”...
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Ao som dos gritos “Fica Dilma” (o certo é Fique Dilma”) e de “Não vai ter golpe”, a presidenta Dilma Rousseff participou, no dia 12 de agosto de 2015, do encerramento da Marcha das Margaridas, em Brasília. Num discurso proferido no Estádio Mané Garrincha, ela repetiu isto diversas vezes: “Eu comprimento fulana! Eu comprimento sicrana! Eu comprimento beltrana!” Por favor, Dilma, por favor, raciocine, acalme-se, comprimento é tamanho e cumprimento é a ação de cumprimentar, de saudar.

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Erro na capa da revista Veja: “O real derrete” (12-10-2015). Como a nossa moeda vira líquido, segundo a revista, o correto é assim: “O real se derrete.” Aceitando “o real derrete”, então devemos passar a acreditar que o dinheiro da pátria do “honestíssimo” Eduardo Cunha derrete o gelo ou o chumbo. Eis o exato, o perfeito uso do verbo derreter, na sua forma pronominal: “Ordenou Deus com tão grande milagre, que o maná, que não se derretia ao fogo, se derreteu ao primeiro raio do sol” (padre Antônio Vieira. Sermões, V, 147).
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Erro do colega André Miranda, numa reportagem sobre inéditos de Machado de Assis: este é o fundador da Academia Brasileira de Letras (O Globo, 15-10-2015). Não, quem fundou a ABL foi o jornalista Lúcio de Mendonça, como provo no meu livro A Academia do fardão e da confusão. Machado de Assis se tornou o primeiro presidente daquela casa inútil, ridícula, cagona e tão estéril como o útero de uma velha mula. Cagona porque se cagava de medo diante dos gorilas do golpe de 1964, pois nunca protestou, após esse golpe, contra as torturas, os atos de arbítrio, a censura nazista imposta à imprensa, aos livros, aos espetáculos teatrais.

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Erro do mamífero roedor Eduardo Cunha no seu Facebook, divulgado no mês de agosto de 2015: “É uma acusação grave e que certamente terão outros desdobramentos.” Ai, ai, ai, ai, Eduardo! O terão, vomitado pela sua cachola, é abominável, monstruoso, teratológico! Pare! Aprenda, roedor voraz, o correto é terá, terceira pessoa do futuro imperfeito do indicativo do verbo ter. Entendeu?

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Erro de Frei Beto nesta frase: “A lição descabida de corporativismo é digna dos 40 ladrões de Ali Babá” (Folha de S.Paulo, 16-11-2015). Correção: Ali Babá não chefiava uma quadrilha de 40 gatunos. Ele era um comerciante honesto, como se vê no conto das Mil e uma noites, e penetrou na gruta cheia de riquezas desses bandidos, quando se achavam ausentes. Depois, sabendo da sua visita, os assaltantes quiseram matá-lo, porém a esperta escrava Morgiana, de Ali Babá, conseguiu tirar-lhes a vida, ao derramar azeite fervente nas barricas onde se esconderam.

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No “Programa do Jô” (11-12-2015), o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), ex-diretor geral da Rede Globo de Televisão, falou sobre o seu livro Dialogando com os mortos e expeliu esta frase do tamanho de um cocô redondo, soberbo, magnífico: “Por favor, não morre mais ninguém” Boni, pare de defecar nauseabundos cagalhões, iguais aos dos elefantes e dos dinossauros! Aprenda, Boni, aprenda, como a frase é um pedido, eis o uso correto: “Por favor, que não morra mais ninguém”!

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O Correio Popular de Campinas, na sua edição de 19-12-2015, apresentou uma reportagem sobre a cantora francesa Édith Piaf, comparando-a a um “pequeno passarinho”. Ora, o substantivo passarinho, conforme o Dicionário da língua portuguesa, do Cândido de Figueiredo, significa “pequeno pássaro”. Daí se deduz que dizer “pequeno passarinho” é um excesso, uma redundância, como se vê nestas essas três expressões: “sorriso nos lábios”, “viúva do falecido” e “exclusividade total”.

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