domingo, 11 de janeiro de 2015

O ASSALTO DO GOVERNO LADRÃO


Sujeira, porcaria, fez o presidente Collor, antes do confisco da poupança decretado por ele, como revela esta manchete da edição do dia 22 de agosto de 1992 do “Jornal do Brasil”:

          “Collor e PC Farias escaparam do bloqueio dos cruzados em 1990”.

          E eis a manchete, também de primeira página, na mesma data, da “Folha de S.Paulo”:

          Dinheiro de Collor foi sacado na véspera do confisco da poupança.

          No dia 13 de março de 1990, véspera do feriado bancário, a senhora Ana Acioli, secretária do presidente, retirou da conta deste, no BMC de Brasília, uma quantia que hoje corresponde a 443 milhões de reais. Segundo o depoimento da secretária à CPI, “nunca saiu um centavo daquele banco, sem o prévio conhecimento de Collor”.

          Portanto, como salientou o “Jornal do Brasil”, o presidente, poucas horas antes do bloqueio do dinheiro, “tratou de salvar a própria pele”. Aqui podemos evocar a velha frase de um político desonesto, porém “moralista” para efeitos externos:

          -Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço.

          Já existe esta outra prova: os assessores da ex-ministra Zélia Cardoso de Mello receberam 320 mil dólares do Esquema PC. Uma empreiteira, de modo suspeito, fez a reforma do seu apartamento, reforma que custaria agora, corrigidos pela variação do câmbio livre, 351 milhões de reais! E Zélia era “uma mulher pobre, sem recursos”.

          Quando houve o sequestro do suado dinheiro do povo, um grupo de jornalistas foi entrevistar a ex-ministra. Sentados em várias cadeiras, aguardavam as suas declarações, quando ouviram as gargalhadas que ela soltava através da porta semi-aberta, junto dos seus assessores:

          -Ha, ha, ha, ha! Este zé-povinho estava pensando que eu era mole! Ha, ha, ha, ha, ha, ha! Eu não sou mole, não! Ha, ha, ha, ha! Este zé-povinho está muito mal acostumado, só quer consumir! Mas comigo vai ser duro, pois eu sou a Margareth Tatcher, a dama de ferro da economia brasileira! Ha, ha, ha, ha! E essa gente pode desmaiar e até morrer lá nas filas dos bancos, das agências das caixas-econômicas, porque comigo é assim, não tem conversa, não! Ha, ha, ha, ha, ha, ha!

          Oito jornalistas ouviram estas palavras e estas gargalhadas da Zélia, atrás da porta. Tenho no meu arquivo o depoimento deles, narrando isto, com as assinaturas reconhecidas em tabelionatos.

          Logo após o confisco do dinheiro, determinado pelo governo Collor, o senhor Lourival Ricardo Drewnick, de sessenta e um anos, sofreu um derrame cerebral. Ele morava em Santos, num apartamento da Praia Grande, e tinha 750 mil cruzeiros numa caderneta de poupança. Quis retirar esse dinheiro bloqueado, com o objetivo de tratar da saúde, mas o Banco Central não permitiu. Drewnick se sentia humilhado, profundamente deprimido, por ter de pedir empréstimos a parentes e amigos. Técnico em sistemas de refrigeração, o sexagenário recebia, na qualidade de aposentado, cerca de 60 mil cruzeiros mensais, dinheiro insuficiente para cobrir as despesas do seu tratamento médico. Repleto de angústia, de desespero, ele resolveu suicidar-se no Dia do Aposentado, como forma de protesto. Disparou um tiro na cabeça e deixou este bilhete:

          “Deus me perdoe, mas não aguento mais tanta dor e ver a miséria chegando. Maldito Collor, ladrão de velhos e aposentados. Dedico a ele a minha morte”.

          (Consultar a notícia “Poupança presa leva aposentado ao suicídio”, publicada na edição do dia 21 de janeiro de 1991 do jornal “O Estado de S. Paulo”).

          Ao decretar o confisco da poupança, ao trair a sua palavra, Collor apunhalou o povo pelas costas. Naquela época eu comentei:

          -Estamos diante de uma canalhice monumental, de uma prova sólida, incontestável, de absoluta falta de caráter.

          O assalto do governo Collor, desse governo ladrão, gerou uma crise gravíssima no comércio e na indústria. Esta deixou de produzir e o comércio de vender, pois o consumo caiu verticalmente. Ninguém tinha dinheiro. Consequência: veio a crise social, a recessão, o desemprego.

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