Sujeira,
porcaria, fez o presidente Collor, antes do confisco da poupança decretado por
ele, como revela esta manchete da edição do dia 22 de agosto de 1992 do “Jornal
do Brasil”:
“Collor e PC Farias escaparam do
bloqueio dos cruzados em 1990” .
E eis a manchete, também de primeira
página, na mesma data, da “Folha de S.Paulo”:
Dinheiro de Collor foi sacado na
véspera do confisco da poupança.
No dia 13 de março de 1990, véspera do
feriado bancário, a senhora Ana Acioli, secretária do presidente, retirou da
conta deste, no BMC de Brasília, uma quantia que hoje corresponde a 443 milhões
de reais. Segundo o depoimento da secretária à CPI, “nunca saiu um centavo daquele
banco, sem o prévio conhecimento de Collor”.
Portanto, como salientou o “Jornal do
Brasil”, o presidente, poucas horas antes do bloqueio do dinheiro, “tratou de
salvar a própria pele”. Aqui podemos evocar a velha frase de um político
desonesto, porém “moralista” para efeitos externos:
-Façam o que eu digo, mas não façam o
que eu faço.
Já existe esta outra prova: os
assessores da ex-ministra Zélia Cardoso de Mello receberam 320 mil dólares do
Esquema PC. Uma empreiteira, de modo suspeito, fez a reforma do seu
apartamento, reforma que custaria agora, corrigidos pela variação do câmbio
livre, 351 milhões de reais! E Zélia era “uma mulher pobre, sem recursos”.
Quando houve o sequestro do suado
dinheiro do povo, um grupo de jornalistas foi entrevistar a ex-ministra.
Sentados em várias cadeiras, aguardavam as suas declarações, quando ouviram as
gargalhadas que ela soltava através da porta semi-aberta, junto dos seus
assessores:
-Ha, ha, ha,
ha! Este zé-povinho estava pensando que eu era mole! Ha, ha, ha, ha, ha,
ha! Eu não sou mole, não! Ha,
ha, ha, ha! Este zé-povinho está muito mal acostumado, só quer consumir! Mas
comigo vai ser duro, pois eu sou a Margareth Tatcher, a dama de ferro da
economia brasileira! Ha, ha, ha, ha! E essa gente pode desmaiar e até morrer lá
nas filas dos bancos, das agências das caixas-econômicas, porque comigo é
assim, não tem conversa, não! Ha, ha, ha, ha, ha, ha!
Oito jornalistas ouviram estas
palavras e estas gargalhadas da Zélia, atrás da porta. Tenho no meu arquivo o
depoimento deles, narrando isto, com as assinaturas reconhecidas em
tabelionatos.
Logo após o confisco do dinheiro,
determinado pelo governo Collor, o senhor Lourival Ricardo Drewnick, de
sessenta e um anos, sofreu um derrame cerebral. Ele morava em Santos, num
apartamento da Praia Grande, e tinha 750 mil cruzeiros numa caderneta de
poupança. Quis retirar esse dinheiro bloqueado, com o objetivo de tratar da
saúde, mas o Banco Central não permitiu. Drewnick se sentia humilhado,
profundamente deprimido, por ter de pedir empréstimos a parentes e amigos.
Técnico em sistemas de refrigeração, o sexagenário recebia, na qualidade de
aposentado, cerca de 60 mil cruzeiros mensais, dinheiro insuficiente para
cobrir as despesas do seu tratamento médico. Repleto de angústia, de desespero,
ele resolveu suicidar-se no Dia do Aposentado, como forma de protesto. Disparou
um tiro na cabeça e deixou este bilhete:
“Deus me perdoe, mas não aguento mais
tanta dor e ver a miséria chegando. Maldito Collor, ladrão de velhos e
aposentados. Dedico a ele a minha morte”.
(Consultar a notícia “Poupança presa
leva aposentado ao suicídio”, publicada na edição do dia 21 de janeiro de 1991
do jornal “O Estado de S. Paulo”).
Ao decretar o confisco da poupança, ao
trair a sua palavra, Collor apunhalou o povo pelas costas. Naquela época eu
comentei:
-Estamos diante de uma canalhice
monumental, de uma prova sólida, incontestável, de absoluta falta de caráter.
O assalto do governo Collor, desse
governo ladrão, gerou uma crise gravíssima no comércio e na indústria. Esta
deixou de produzir e o comércio de vender, pois o consumo caiu verticalmente.
Ninguém tinha dinheiro. Consequência: veio a crise social, a recessão, o
desemprego.
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