domingo, 18 de janeiro de 2015

AS LÁGRIMAS DE JUSCELINO KUBITSCHEK


Num dos meus encontros, em 1975, com Juscelino Kubitschek no Banco Denasa, do qual ele era presidente do Conselho de Administração (o banco era dos seus genros), Juscelino me contou que teve uma crise de choro em Belo Horizonte no Palácio da Liberdade, quando o doutor João Pi­nheiro Neto, seu oficial de gabinete (Juscelino era o governador de Minas), começou a lhe dar informações, na manhã do dia 24 de agosto de 1954, sobre o suicídio de Getúlio Vargas. Eu ousei dizer ao criador de Brasília, naque­la ocasião:

-Presidente, além das suas lágrimas derramadas pela morte do Getúlio, eu sei que o senhor teve outra crise de choro.

Surpreso, abrindo mais os olhos, ele pediu:

-Então me conte como eu tive esta outra crise. Quero ver se você é um escritor muito bem informado.

Comecei a narrar:

-No mês de junho de 1964, devido a uma iniciativa do general Costa e Silva, o seu mandato de senador foi cassado. E os militares, estimulados pelo Costa, também suspenderam os direitos políticos do senhor por dez anos. Não é verdade?

Juscelino concordou:

- Pura verdade. E confesso, decidi sair do Brasil por causa disso. Viajei para a Europa no dia 14 de junho de 1964. Mas prossiga.

Os olhos do ex-presidente, que às vezes forneciam a impres­são de ser de um chinês, revelavam uma viva curiosidade. Eu continuei:

-Centenas de pessoas o acompanharam na sua despedida. Um gru­po de homens ergueu o senhor no ar e o carregou sob palmas, aclamações, até a escada do avião. Repito, eram centenas de pessoas que gritavam “vivas”, e o senhor, emocionado, agitava um lenço branco.

Juscelino confirmou:

verdade, eu me emocionei, senti o amor de povo, o seu

carinho por mim.

-Dentro do avião - prossegui - o senhor não pôde mais se con­trolar e caiu num choro forte. Levou o seu lenço branco ao rosto e o encharcou com as suas lágrimas.

Cheio de espanto, Juscelino Kubitschek admitiu:

-Também é verdade, mas como veio a saber desses fatos?

-Presidente, quem me contou esses fatos foi o meu amigo Silveira Bueno, catedrático de filologia portuguesa da Universidade de São Paulo. Ele já se encontrava naquele avião, quando o senhor entrou. Viu o seu embarque, de uma das janelas do aparelho, e o seu choro, pela fresta de uma cortina grossa. O lugar em que o senhor se acomodou era isolado, no fundo do avião, mas o professor Silveira Bueno estava sentado junto da cortina...

O ex-presidente fez o seguinte comentário:

- Se você escrever a minha biografia, decerto evocará este episódio. Chorei muito, lá dentro do avião, porque eu vi, ao embarcar para o exílio, como o povo brasileiro me amava.

E Juscelino também não impediu o jorro das lágrimas em outra ocasião, pois no ano de 1973, graças a iniciativa do empresário João Abujamra,o Clube Nacional da capital paulista o homenageou com um almoço.

rios oradores enalteceram o estadista nascido na cidade mineira de Dia­mantina. Mas ao ouvir o discurso do meu pai, o grande orador Salomão Jor­ge, que descreveu a sua infância de menino pobre, descalço, filho de uma heróica e modesta professora, Juscelino chorou copiosamente. Ali, naquele momento, todos puderam ouvir até os seus soluços. João Abujamra, leal ami­go do “Peixe Vivo", é testemunha desse fato.

            Um pensamento de Franz Grillpazer (1791-1872), poeta e dramaturgo alemão:

As lágrimas são o sagrado direito da dor.”

(“Die Thränen sind dês Schmerzes helig Recht!”)

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