Foi marcante a
influência de Victor Hugo na literatura brasileira. Sentimos isto, de modo
muito marcante, nos versos de Castro
Alves, repletos de imagens arrojadas.
Admirem agora o
pujante lirismo do paralelo que Victor Hugo traçou entre o homem e a mulher, a
extraordinária força poética das suas comparações:
“O homem é a mais
sublime das criaturas; a mulher, o mais sublime dos ideais.
Deus fez para o
homem um trono; para a mulher um altar. O trono exalta, o altar santifica.
O homem é o
cérebro; a mulher o coração. O cérebro produz a luz, o coração produz o amor. A
luz fecunda, o amor ressuscita.
O homem é um gênio;
a mulher um anjo. O gênio é incomensurável, o anjo indefinível. O
incomensurável é contemplado, o indefinível é admirado.
A aspiração do
homem é a suprema glória; a aspiração da mulher é a virtude suprema. A glória
cria a grandeza, a virtude a divindade.
O homem tem a
supremacia; a mulher, a preferência. A supremacia significa a força, a
preferência o direito.
O homem é forte
pela razão, a mulher é invencível pelas lágrimas. A razão convence, as lágrimas
comovem.
O homem é capaz de
todos os heroísmos; a mulher, de todos os martírios. O heroísmo enobrece, o
martírio purifica.
O homem é um
código; a mulher um sacrário. Ante o templo nos descobrimos, mas ante o
sacrário nos ajoelhamos.
O homem pensa, a
mulher sonha. Pensar é ter no cérebro uma lava, sonhar é ter na fonte uma
auréola.
O homem é um
oceano, a mulher é um lago. O oceano tem a pérola que embeleza, o lago tem a
poesia que deslumbra.
O homem é a águia
que voa; a mulher, o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço, cantar é
conquistar a alma.
O homem tem um
fanal: a consciência; a mulher tem uma estrela: a esperança. O fanal guia, a
esperança salva.
O homem, enfim,
está colocado onde termina a Terra; a mulher, onde começa o céu...”
As feministas de
hoje talvez achem que Victor Hugo era um machista. Jamais poderão aceitar estas
afirmativas do insigne poeta: o homem é o cérebro, a mulher é o coração; ele é
o gênio, ela é o anjo; ele aspira “a suprema glória”, ela “a virtude
suprema”... Mas as nossas feministas, se condenaram o poeta por causa de tais
comparações, esqueceram-se deste fato importante: Victor Hugo foi um cidadão do
século XIX, de uma época onde o romantismo se caracterizou pelo predomínio da
sensibilidade e da imaginação sobre as frias leis da lógica.
Sou a favor dos
direitos da mulher. Ela, em minha opinião, tem sido vítima dos estúpidos e
milenários preconceitos masculinos. Contudo, os movimentos femininos geraram
centenas de mulheres viris, masculinizadas. Felizmente ainda existem milhões de
feministas bem femininas. Viva a mulher que é bem mulher, mil vezes viva!
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Escritor e
jornalista, Fernando Jorge é autor de “Drummond e o elefante Geraldão”,
que acaba de ser lançado pela Editora Novo Século e cuja primeira edição já
está quase esgotada.
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