quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A BURRICE É INCURÁVEL



Eu costumo afirmar: a burrice é incurável. Quando uma pessoa é burra, ela não muda, será sempre burra. Pode até se esforçar para adquirir um pouco mais de inteligência, estudar, ler dezenas de bons livros, comer peixes, a fim de nutrir o cérebro com fósforo. Tarefas estéreis, inúteis. Burro é burro, como o sapo é um batráquio e o macaco um símio. A burrice só será eliminada se um dia houver transplantes de cérebros.
Prefiro um canalha inteligente do que um burro chapado, se eu tiver de optar, antes de fechar um negócio, pois o burro, de forma quase invariável, nos prejudica, e o canalha inteligente, por ser inteligente, pode agir de maneira correta, durante algum tempo.
Já encontrei, ao longo da minha vida, diversos tipos de burros: o burro orgulhoso, o burro mau, o burro doutor, o burro rico, o burro bonito, o burro elegante, o burro recalcado, o burro deputado, o burro prefeito, o burro bundudo, o burro corno, etc.
Outro dia eu vi um desses burros andando pela Avenida Paulista. Deteve-se, zurrou, isto é, cumprimentou-me, e as suas palavras idiotas soaram nos meus ouvidos como os relinchos de um muar faminto. Senti a imperiosa vontade de colocar, no seu focinho comprido, um capim bem verde, vem viçoso, e de lhe dizer:
-Jumentos como você, caminhando pelas calçadas, contrariam as posturas municipais. Recolha o seu rabo e vá logo, na rua, puxar uma carroça.
Mas o burro não tem culpa de ser burro, como o gambá de ter fedor. A propósito disso, evoco aqui o caso do jornalista que após escrever um texto cretino contra o polígrafo Nestor Vítor, assim se desculpou na frente dele:
-Você sabe, Nestor, eu não fiz por mal...
O polígrafo respondeu:
-Eu sei, você não fez por mal, você fez porque é burro.
Amigo leitor, não se irrite, se receber os coices de um jerico da raça humana, pois é da sua natureza aplicar patadas, do mesmo modo que é da natureza da doninha catinguenta levantar a cauda e as patas traseiras ao se ver ameaçada, e esguichar um líquido de cheiro insuportável.
Uma atriz lindíssima, porém curta de inteligência, soltou estas palavras diante de Sophie Arnould (1744-1802), célebre e espirituosa cantora de Ópera:
-Os meus admiradores não me dão sossego. É um verdadeiro exército a me perseguir!
Sophie Arnould aconselhou-a:
-Ora, é muito fácil você derrotar esse exército. Basta abrir a boca e falar.
Inúmeras pessoas são como essa atriz, pois a burrice as leva a defecar asneiras em jorro contínuo, a bostejar pela boca, e a feiúra das suas pobrezas de inteligência forma um estarrecedor contraste com a beleza dos seus rostos.
Devemos aceitar a burrice e até gostar dos burros, dar valor a eles. Como poderíamos saber o que é a inteligência, se a burrice não existisse? Nunca se deve revoltar contra ela, nunca! Estava certo o poeta e dramaturgo alemão Johann Christoph Friedrich Schiller (1759-1805), por ter colocado a seguinte frase no ato III da sua peça Die Jungfrau von Orleans (“A donzela de Orleans”):
“Os próprios deuses lutam em vão com a burrice.”
(“Mit der Dummheit kämpfen Götter selbst vergebens”).

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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor de “Drummond e o elefante Geraldão”, que acaba de ser lançado pela Editora Novo Século e cuja primeira edição já está quase esgotada.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A MORTE ESPIA OS EDITORES DO LIVRO “JOSEPH ANTON”



A insensatez de Salman Rushdie e dos seus editores (para não dizer burrice), sempre me impressionou muito, pois o livro Os versículos satânicos (“The satanic verses”) desse escritor nascido na Índia, é pura estupidez, insulto pesado, autêntica blasfêmia contra o profeta Maomé e a fé dos muçulmanos.
Li a obra cretina. Maomé, no livro, registra novos versículos do Alcorão, transmitidos pelo diabo, que estava disfarçado de arcanjo Gabriel. Noutro trecho, as prostitutas de um bordel são esposas do profeta.
Eu afirmo, isto é uma infâmia, uma baixeza tão grande como sustentar que Jesus Cristo cumpria as ordens do demônio e que a Virgem Maria era dona de um prostibulo. Pergunto: se o mentecapto Salman Rushdie lançasse estas ignomínias, nós, os cristãos, deveríamos aplaudi-las?
A reação dos muçulmanos, portanto, não poderia ser outra. Salman Rushdie difamou Maomé e o Alcorão. E foram insanos os editores que publicaram a porcaria em vários países. Todos eles, sem exceções, correm risco de vida, o risco de cerrar os olhos de maneira trágica, como prova a fatwa (decreto religioso) do aiatolá Khomeini, sentenciando Rushdie à morte, no dia 14 de fevereiro de 1989:
“Declaro a todos os fiéis muçulmanos, no mundo, que o autor do livro intitulado Versículos satânicos, escrito, editado e distribuído contra o Islã, o Profeta e o Alcorão, todos os editores e os responsáveis pela sua divulgação, conhecedores do seu conteúdo, se acham, com o presente decreto, condenados à morte. Conclamo todos os zelosos muçulmanos, em qualquer parte do mundo, a executar esta sentença, a fim de ninguém mais ousar insultar as prescrições islâmicas... Se alguém morrer nesta ação, será considerado mártir e seguirá diretamente para o Céu. Que Alá os abençoe.”
A sentença do aiatolá Khomeini não demorou a surtir efeito. “Quem semeia ventos, colhe tempestades”, reza o velho provérbio. Naquele ano de 1989, em Beirute, junto de um retrato gigante do aiatolá, uma menina de dez anos exibiu num cartaz, com palavras em inglês, o seu desejo de matar o blasfemo dos Versículos satânicos:
We are ready to kill Rushdie
Ettore Capriolo, o tradutor para o italiano do livro-excremento, foi esfaqueado em sua casa.
Hitoshi Igarashi, o tradutor da obra nauseabunda para o japonês, também foi esfaqueado, mas numa sala da universidade onde lecionava.
William Nygaard, o editor na Noruega da putrefação parida pelo cérebro talvez sifilítico de Salman Rushdie, recebeu seis tiros e apesar de ficar bastante ferido, conseguiu sobreviver.
Luiz Schwarcz, o editor brasileiro da Companhia das Letras, publicou em 1998 o fedorento Versículos satânicos, sem ter sofrido, milagrosamente, nenhum atentado...
Agora os editores do último livro de Rushdie, o indigesto Joseph Anton, correm o risco de ser fuzilados, porque nessa obra fecal, confusa, tediosa, o seu autor chama o aiatolá Khomeini de “velho assassino” e ridiculariza venerados líderes islâmicos, como o anglo-indiano Kalim Siddiqui (1939-1996). Ora, os muçulmanos enxergam dois santos em Khomeini e Kalim. Atacá-los é despertar neles o ódio feroz, vingativo, sagrado, capaz de gerar o rápido assassinato de Rushdie e dos seus editores.
Esse perigo agora cresceu, pois o aiatolá Hassan Sanaee, do Irã, aumentou de 2,8 milhões de dólares, para 3,3 milhões, a recompensa a ser paga pelo assassinato de Rushdie. Palavras de Hassan:
“O filme Inocência dos muçulmanos, ofensivo ao profeta Maomé, não existiria e nem haveria outros casos de blasfêmia, se a sentença do aiatolá Khomeini, de 1989, já tivesse sido cumprida. Matem Salman Rushdie! Qualquer um que cumprir esta minha ordem, ganhará os 3,3 milhões de dólares”.
Como Hassan oferece tal quantia pela morte de Salman Rushdie, talvez queira dar mais três milhões pelo assassinato dos editores do livro Joseph Anton. É uma conclusão lógica, o fruto de um raciocínio frio.

Não sou a favor de sentenças de morte, de medidas violentas, porém vejo o fato indiscutível, a realidade, e esta, conforme assegurou o escritor Gabriele D’Annunzio (1863-1938), “é uma escrava cuja obrigação consiste em obedecer” (la realtà è una schiava che non deve se non obbedire).

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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor de Drummond e o elefante Geraldão, que acaba de ser lançado pela Editora Novo Século e cuja primeira edição já está quase esgotada.
 

domingo, 14 de outubro de 2012

O erro do Toninho Mendes



Toninho Mendes é idealista e inteligente, mas deixou aparecer este grande erro na página 17 do primeiro volume da História da ditadura militar, obra útil e bem redigida, lançada pela Editora Sampa:
Le Bresil n’est pas un pays sérieux
(O Brasil não é um país sério)
Charles De Gaulle, recusando-se a receber Carlos Lacerda, que fora a Paris como representante pessoal do presidente Castello Branco, para explicar a Revolução.”
Ora, De Gaulle nunca declarou que “o Brasil não é um país sério.” Tal frase, na verdade, saiu da boca do diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza. Este mostrou a origem da frase no livro Um embaixador em tempos de crise, publicado pela Editora Francisco Alves no ano de 1979. Narra o diplomata, nas páginas 316 e 317 do citado livro, que certo dia, durante a ridícula “Guerra da Lagosta”,os dois se encontraram em Paris, ele e o general De Gaulle. Ambos analisaram, de modo afável, o problema dos pesqueiros franceses, nas proximidades das nossas águas territoriais. Depois, concluída a entrevista, o embaixador foi a uma recepção na casa do deputado Chaban-Delmas e ali, segundo as suas palavras, aconteceu o seguinte:
“Repentinamente, surgiu diante de mim o jornalista Luiz Edgar de Andrade, hoje editor-chefe da TV Globo (estas linhas do embaixador são de 1979). Insistiu para que eu lhe dissesse algo sobre minha entrevista com o general De Gaulle. Respondi-lhe que não daria nenhuma entrevista. Mas, não poderia deixar de ter uma conversa amistosa com uma pessoa por quem sempre tive a maior consideração. Falei-lhe sobre o tal samba carnavalesco, ‘A lagosta é nossa’, as caricaturas do presidente De Gaulle e terminei a conversa dizendo: Luiz Edgar, ‘le Brésil n’est pas un pays sérieux’. Provavelmente ele telegrafou ao Brasil, não deixando claro se a frase era minha ou do general De Gaulle, com quem me avistara poucas horas antes desse nosso encontro casual.”
Na última linha do seu livro, o embaixador Carlos Alves de Souza afirmou: é de sua autoria, e não da autoria do general De Gaulle, a frase “o Brasil não é um país sério”. E Alves de Souza repetiu esta afirmativa numa entrevista concedida a Jacinto de Thormes, publicada na edição de 9 de maio de 1979 do Jornal do Brasil.
Portanto, Toninho Mendes, eu o aconselho a suprimir, na segunda edição da História da ditadura militar, o erro por mim aqui apontado.
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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor de Drummond e o elefante Geraldão, que acaba de ser lançado pela Editora Novo Século e cuja primeira edição já está quase esgotada.

domingo, 30 de setembro de 2012

Vejam o absurdo, a insensatez



A notícia, publicada pela Folha de S.Paulo, chocou a minha sensibilidade: o Ceará pagou mais de 3 milhões de reais ao tenor espanhol Plácido Domingo, para ele participar do show de inauguração de um megacentro de eventos na capital desse estado. O megacentro foi erguido, na maior parte, com o dinheiro público do governo cearense e custou 467 milhões de reais.
Vejam o absurdo, a insensatez. Lá no Ceará o governo de um estado pobre, carente, sujeito a secas, deu mais de 3 milhões de reais a um tenor medíocre, já em decadência, a fim de ouvir, naquele lugar de nababos, durante 40 minutos, os seus trinados de pássaro idoso, de voz enfraquecida, fatigada. Mais de 3 milhões de reais, repito, nessa terra cheia de miseráveis castigados pela fome, pelas secas devastadoras.
Que governo é este, o do senhor Cid Gomes, do PSB? É o governo de um irresponsável ou de um louco?
O tenor Plácido Domingo recebeu o dinheirão, explicou o perdulário Cid, por ser um dos cantores preferidos da presidenta Dilma Rousseff. No fundo, portanto, a escolha correspondeu a um ato de bajulação, de servilismo, de agachamento diante do governo federal. Mas a presidenta Dilma, talvez envergonhada ou enojada, não compareceu no evento, e enviou, à inauguração do luxuoso megacentro, a ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, como sua representante.
Cerca de 3 mil convidados, de barrigas intumescidas, gulosas, estiveram lá, sorrindo, comendo, bebendo, arrotando, enquanto milhares de cearenses se acham na miséria, famintos, sedentos, sob as garras aduncas da seca assassina.
Que governo é este, o do Ceará? Infeliz povo cearense! Agora me vem à memória os versos do eloquente e genial Guerra Junqueiro, nos quais descreveu a fome na terra de José de Alencar, no decorrer de uma anterior seca devastadora:

E por sobre esta imensa, atroz calamidade,
Sobre a fome, o extermínio, a viuvez, a orfandade,
Sobre os filhos sem mãe e os berços sem amor,
Pairam sinistramente em bandos agoireiros
Os abutres, que são as covas e os coveiros,
Dos que nem terra têm para dormir, Senhor!

Durma bem, governador Cid Gomes, durma bem depois de autorizar o pagamento de mais de 3 milhões de reais ao decadente tenor Plácido Domingo, para este soltar o seu gorgeio já algo danificado pelos corrosivos ácidos do tempo. Ronque muito, governador, com a consciência em paz, tranquila, e dispare melodiosos puns durante o sono, pois o megacentro de Fortaleza custou apenas a bagatela de 467 milhões de reais, quantia indigna de ser usada no socorro de milhares de cearenses açoitados pela seca, torturados pela fome. E o grande orador romano Marco Túlio Cícero acertou de maneira total quando escreveu isto no seu De petitione consulatus:
“A estupidez é a mãe de todos os males.”
(“Omnium malorum stultitia est mater”)