Evoquei no meu bate-papo “A sogra, esta incompreendida”, uma conversa com um motorista de táxi, que me disse que detestava a sogra, porque esta comia todos os seus franguinhos colocados na geladeira. Tenho vários amigos taxistas. No automóvel fico ao lado deles, para conversar. Pois bem, outro dia um desses profissionais, após me narrar vários episódios de sua vida, fez a seguinte confissão:
-A minha mulher me trata mal, vive dizendo que eu chego tarde em casa pelo motivo de ter uma amante.
-E você tem?
-Não, doutor, nunca tive, mas a peste não acredita, é super desconfiada. Quem me defende é a minha sogra, que é um anjo.
Como podemos ver, de modo bem claro, o meu amigo taxista pertence à classe dos amigos das sogras. Já dissertei sobre os inimigos dessas criaturas tão injustiçadas. É justo, portanto, que eu agora evoque dois homens de valor que eram amigos de suas sogras.
Amigo da sogra foi o grande romancista russo Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski (1821-1881). Sua segunda esposa, Anna Grigoriev¬na Dostoievskaia, reproduziu no livro “Meu marido Dostoievski” (traduzido para o nosso idioma por Zoia Prestes) as palavras desse escritor dirigidas à futura sogra:
“Claro que a senhora já sabe que pedi a mão de sua filha em casamento. Ela concordou em ser minha mulher e estou muito feliz. Gostaria que aceitasse a sua escolha. Anna Grigorievna me falou tão bem da senhora, que me acostumei a respeitá-la. Dou-lhe a minha palavra que farei o possível e o impossível para que ela seja feliz. Para a senhora serei um genro dedicado e amoroso.”
A esposa do autor de “Crime e castigo” admitiu:
“Devo reconhecer que Fiódor Mikhailovitch, realmente, durante os quatorze anos de casamento, sempre foi muito gentil e atencioso com a minha mãe, tratando-a com amor e estima.”
Outro escritor insigne, Edgar Allan Poe (l809-l849), também era amigo de sua sogra, a senhora Marie Clemm. Esta lhe arranjava dinheiro quando ele não tinha um níquel, consolava-o nas desventuras, fazia-o adormecer perpassando a mão rechonchuda pela sua atormentada fronte. Edgar amou-a como se fosse sua mãe. Numa carta, das últimas que escreveu, ele assim se referiu a ela:
“Você tem sido... tudo para mim, querida e sempre amada mãe, a mais querida e verdadeira amiga.”
Depois da morte de Poe, a sua sogra declarou:
“Jamais gostava de ficar sozinho, e eu costumava sentar-me com ele, muitas vezes até as quatro horas da madrugada. Ele, na sua mesa, escrevendo, e eu cochilando na minha cadeira. Quando estava compondo ‘Eureka’, costumávamos passear para lá e para cá no jardim, abraçados um ao outro, até ficar eu tão cansada, a ponto de não poder mais andar... Sempre me sentava perto dele quando estava escrevendo e dava-lhe uma xícara de café quente, de uma ou de duas em duas horas... Durante todos os anos em que viveu comigo, não me recordo de uma só noite em que tenha deixado de vir beijar sua ‘mãe’, como me chamava, antes de ir para a cama.”
Aconselho os inimigos das sogras a seguir os exemplos de Dostoiévski e Edgar Allan Poe, pois a sografobia, a aversão às sogras, além de complicar a vida, ataca logo o fígado, os nervos e a cabeça...
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