terça-feira, 23 de junho de 2009

A MULHER, NO FUTURO, FICARÁ CARECA?

Tenho um amigo que se lamenta e se desespera porque está perdendo os pêlos do crânio. Cada manhã, ao passar o pente, este lhe arranca um punhado de cabelos, com raiz e tudo. Já experimentou uma grande quantidade de remédios. De nada valeu. Passou, então, a empregar o óleo de rícino, a gema de ovo, o azeite, e até, pasme o amigo leitor, matérias mal cheirosas... Esforço inútil, sua cabeça continua a ser devastada, à semelhança de uma floresta que não resiste à fúria do vendaval. No começo eu costumava lhe perguntar:
-Como é, os cabelos ainda estão caindo?
Ele fazia uma cara tão aborrecida que eu ficava com pena, não me atrevendo a articular nenhuma frase de consolo. Agora me calo... Porém vejo que o meu amigo se encontra cada vez mais calvo. O que lhe falta, sem dúvida, é resignação, espírito esportivo. Julga a calvície uma calamidade, olvidando que diversos indivíduos a temem por causa desse espantalho horrendo, denominado convencionalismo.
O homem é que inventa, inchado de vaidade, os seus figurinos estéticos. Se fosse hábito rotineiro toda gente andar de crânio à mostra, ninguém ficaria triste, deprimido.
Entre os caldeus, a plebe usava a cabeça completamente raspada. O mesmo acontecia com os assírios e babilônios. No velho Egito, o povo e os escravos tinham costume semelhante. Apenas a aristocracia enfeitava a caixa craniana com suntuosas cabeleiras postiças, das quais restam alguns exemplares nas coleções arqueológicas.
Mas tudo isso é relativo. Variam os cânones de beleza. Há quem se extasie diante de um quadro cubista e sinta náuseas contemplando uma paisagem de Corot.
O bípede implume de Platão é o ser mutável por excelência. Daqui a uns cem ou duzentos anos, derrubará talvez quase todos os padrões consagrados. Muita coisa que hoje é feia, ridícula, amanhã possivelmente será bela e graciosa.
Informa Tom Antongini que ao contrário de Júlio César e de Domiciano, o poeta e escritor Gabriele D’Annunzio nunca se queixou da sua calvície. Certo dia ele chegou mesmo a responder a uma dama impertinente, que lhe indagara a opinião a esse respeito:
-Minha senhora, a beleza futura será calva.
Os poetas às vezes se tornam videntes. D’Annunzio fez esta declaração antes dos prognósticos efetuados pelos cientistas contemporâneos, os quais asseguram que nos séculos vindouros a mulher ostentará uma cabeça lisa, pelada e brilhante. Na hipótese de que esta previsão se concretize, a célebre sentença de Schopenhauer sobre a mulher pode ficar desprovida de sentido, pois ela não será mais “um animal de inteligência curta e cabelos compridos”. Aliás, ela nunca foi burra ou pouco inteligente. Burros e pouco inteligentes são os homens que não conseguem compreendê-la.
Afrânio Peixoto, no seu livro Trovas Brasileiras, publicado em 1944 pela Companhia Editoria Nacional, divulgou esta quadra:

Esse teu cabelo louro
É que me faz confusão;
Nas tranças deste cabelo
Perdeu-se o meu coração.

Um comentário:

Unknown disse...

Tenho, todos os dias, me deliciado com a obra Lutero e a Igreja do Pecado. O texto é fruto do trabalho tenaz do Fernando Jorge, escritor de altíssima inteligência e que, por onde passa, inspira todos ao redor.

Fernando Jorge é daqueles sujeitos vibrantes, corajosos, fortes. É mais que isso. É resistente ao extremo. Que grandes polemistas temos na atualiadade? Raríssimos. Nenhum igual ao Fernando. Tão genial, justo, implacável.

Fernando é também um amigo imcomparável. Mestre na arte de conquistar os corações de colegas, é infinitamente bondoso e leal.

Visitei este blog para deixar um grande abraço e para agradecer pelo exemplo de sempre.

Abraço amigo,

Fábio Pereira