terça-feira, 25 de agosto de 2009

Palavras para a minha esposa morta

Querida Artemisia, durante um ano, vendo o seu grande sofrimento, quantas vezes eu chorei às escondidas! Quantas vezes os seus olhos se encheram de lágrimas ao me olhar! Quantas vezes você beijou a minha mão, sussurrando:
-Você é o meu amor, a paixão da minha vida!
Querida, você era como uma flor humilde do campo, florzinha modesta, orvalhada, porém tão bela na sua despretensão, na sua singeleza, como a mais perfumada e a mais esplêndida das rosas!
A nossa união durou cinquenta anos. Não foi apenas um amor puro, sincero, o que já é muito, mas também amizade inabalável, compreensão total, solidariedade nas horas difíceis e de dor. O seu coração pulsava junto do meu e o meu junto do seu. Era como se dois corações tivessem se transformado num só.
Quem me devolverá o seu amor, a sua amizade, a sua lealdade, a sua compreensão, a sua mãozinha beijando a minha mão? Creio que Deus me devolverá tudo isto, um dia ou em breve...
O amor eterno é aquele que é despercebido, que parece só amizade, que sereno atravessa o tempo. Ele é silencioso e cria raízes profundas na alma. E quando a Morte inexorável chega, ela dá a impressão de arrancar brutalmente este amor de nós. Mas não, a Morte não consegue destrui-lo. Pelo contrário, a Morte o aviva ainda mais, embora nos cause uma dor indescritível.
Obrigado, querida, por me acompanhar nos momentos mais amargos da minha vida, quando eu chorei por causa da perda dos meus irmãos, dos meus pais, dos meus amigos.
Obrigado, querida, por ter me tratado tão bem nos dias em que estive enfermo. Sua voz, seu olhar, seus cuidados, seu carinho, me curavam mais do que os remédios.
Obrigado, querida, pelas horas de alegria que você me deu, pela sensação de felicidade, vinda exclusivamente de você.
Obrigado, querida, pela sua permanente dedicação ao lar, no qual nunca faltou a ordem, o asseio, o alimento, o amor.
Obrigado, querida, pelos momentos em que você pacificou o meu coração, após este ter sido ferido pelas inevitáveis ingratidões humanas.
Obrigado, querida, pela oferta de duas jóias: os nossos dois filhos.
Querida, espero que Deus me permita reencontrá-la. Se este encontro não for na sua Mansão Celeste, sonorizada por sinos de ouro, que seja pelo menos em qualquer lugar do mundo espiritual.
Querida, querida Artemísia, único amor da minha vida, você era a minha própria vida!
Querida! Querida! Querida! Querida! Lancei tudo isto aqui para que Deus leia e mostre estas palavras a você. É a confissão, por escrito, do meu amor pela minha insubstituível amada.

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