Tenho recebido muitas cartas e e-mails de professores e estudantes de Jornalismo. Eles desejam obter esclarecimentos sobre questões de linguagem, de estilística do idioma português. O jovem Jeová Astério de Farias, de Belo Horizonte, enviou-me esta pergunta:
“Quando o sujeito é um substantivo coletivo, seguido de complemento no plural, o verbo deve ir para o singular ou para o plural?”
Prezado Jeová, tanto faz, é indiferente. Você pode escrever assim:
“Um bando de marginais atacou.”
Ou desta forma:
“Um bando de marginais atacaram.”
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Professor de Jornalismo, porém apaixonado por semântica, ramo da lingüística que estuda a significado das palavras e as suas variações ao longo do tempo, o senhor Luís de Melo Bittencourt, residente em Mogi das Cruzes, quer saber de onde veio o substantivo paraninfo.
Na antiga Grécia e na Roma imperial, o paraninfo era um dos três rapazes que conduziam a noiva à casa do noivo. Palavra oriunda do grego paránymphos (de para, “ao lado de”, e nymphè, “noiva”). Hoje este substantivo significa padrinho, testemunha de casamento ou de formatura universitária, conforme elucida o professor Francisco da Silveira Bueno no seu “Grande dicionário etimológico-prosódico da língua portuguesa.” Aliás, frisa o referido mestre, Santo Agostinho, o mais célebre dos padres latinos, fecundíssimo autor de 93 obras, inclusive da imortal De civitate dei, usou a palavra paraninfo na sua forma latina, paranymphu.
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Selma Lourença Pontes, estudante de Jornalismo em Porto Alegre, indaga se é correto o emprego da expressão devido a.
Cara Selma, os puristas, os gramaticões apegados à leitura dos clássicos, exigem que esta locução causal seja substituída pela expressão por causa de ou em virtude de. Eles não evoluíram. Hoje a expressão devido a é totalmente aceita, até pelos bons gramáticos modernos. Aqui vai este exemplo:
“...devido ao esforço com que são proferidas.”
(J. J. Nunes, “Compêndio de gramática histórica”).
Também a empregou um escritor clássico da literatura portuguesa:
“Mas, devido a uns e a outros, o estado de coisas era intolerável”.
(Alexandre Herculano, “História de Portugal”).
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Antônia Rodrigues de Oliveira Lourenção, estudante de Jornalismo no Rio de Janeiro, declarou isto numa carta:
“Volta e meia encontro palavras, em jornais e revistas, que não se acham nos dicionários. Há poucos dias li esta palavra: dextrofobia. Nem o Aurélio e nem o Houaiss a registraram, apesar de serem considerados dois excelentes dicionários. Sei que é uma fobia, mas de quê?”
Dextrofobia, Antônia, é sentir medo dos objetos colocados à nossa direita, como a acrofobia é o medo dos lugares altos; a amaxofobia, o medo de ficar em frente dos automóveis; a betracofobia, o medo dos sapos e das rãs; a blemofobia, o medo de ser olhado; a ginecofobia, o medo de ver mulheres; a misofobia, o medo de ser contagiado; a odontofobia, o medo de ver os dentes dos animais; a paracavedecatrifobia, o medo da sexta-feira 13; a quelofobia, o medo de ser abraçado; a quinesiofobia, o medo do movimento; a siderodromofobia, o medo viajar pelas estradas-de-ferro; a tricofobia, o medo de tocar em coisas peludas; a urofobia, o medo da urina; a xantofobia, o medo de ver coisas amarelas.
Chega, não agüento mais. Tomei um porre de fobias...
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O leitor Alexandre Sérgio Korag, de Juiz de Fora, pergunta quais são os gentílicos de Buenos-Aires, Guaiaquil, Oxford e Jerusalém. Tentou achá-los nos dicionários e não conseguiu.
Substantivo masculino, gentílico é o nome designativo de naturalidade. Exemplo: bagdali é o gentílico para quem nasce em Bagdá. Portanto, caro Alexandre, os naturais de Buenos Aires são bonaerenses ou buenairenses; os de Guaiaquil, principal porto do Equador, são guaiaquilenhos ou guaiaquileses; os de Oxford, condado da Inglaterra, oxonianos; os de Jerusalém, capital espiritual do povo judeu e cidade santa dos cristãos, hierosolimitas ou hierosolimitanos.
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Jesuina Jacinta da Cunha, de Caetité, cidade baiana, indaga se o diminutivo de núcleo é nuclezinho e o de pico é picozinho. Não, Jesuina, o de núcleo é nucléolo e o de pico é picote e picoto.
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Recebi uma carta de Júlio da Silva Gonçalves, que mora em Petrópolis, e na qual ele comenta:
“No meu entender, está errado o plural da palavra gol, apotuguesamento do vocábulo inglês goal, pois se o plural de lençol é lençóis, o plural de gol dever ser góis. Entretanto, violando a regra gramatical, o brasileiro diz gols. Por quê?”
Júlio, o professor Domício Proença Filho, titular de literatura brasileira da Universidade Federal Fluminense, já mostrou a causa disso no livro “Por dentro das palavras da nossa língua portuguesa”, lançado em 2003 pela Editora Record. O uso contínuo fez o errado ser aceito. A pura verdade é esta: o povo repeliu o plural correto e é ele - o povo - que centenas de vezes, no campo da linguagem, impõe os seus caprichos, a sua maneira de falar, embora o poeta Olavo Bilac tivesse afirmado:
“A pátria não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos – é o idioma criado ou herdado pelo povo. Um povo só começa a perder a sua independência, a sua existência autônoma, quando começa a perder o amor do idioma natal. A morte de uma nação começa sempre pelo apodrecimento da língua”.
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