sábado, 27 de junho de 2020

O MULTIPLICADOR DE CRETINICES


Na página 57 do seu livro “Polígono das secas”, lançado em 1995 pela Companhia das Letras, o Diogo Mainardi se refere a três “cadáveres sufocados”. Eis aí mais um dos numerosos disparates do Dioguinho: os defuntos respiram e portanto vivem, amam, odeiam, suspiram, sofrem, gozam. Qualquer pessoa, ao estrangulá-los, é capaz de lhes tirar a vida, sensacional! Lógico!
            Um grave erro gramatical do Mainardi, na sua coluna da “Veja”. (edição de 7-9-2005), continua ali, de maneira escandalosa:
            “O resultado foram a perda de controle do Congresso e a eleição de Severino Cavalcanti.”
                Como já salientei, o Dioguinho evocou, na frase acima, apenas um e não vários resultados. Teria acertado se o início do período ficasse assim:
            “Os resultados (no plural) foram..."
            Vejam este outro erro de português do Dioguinho:
            “...que Deus Todo-Misericordioso infligira-lhe... (“Polígono das secas”, página 49).
            Mainardi ignora isto: a conjunção que atrai os pronomes lhe, se e o, além de outros. Apresento aqui três frases do referido livro do Dioguinho:
            "...O pouco que resta de seu bando dispersa-se..." (página 31).
            “Não é estranho que um tribunal torne-se...” (página 34)
            “À medida que o jerico arrasta-o­...” (página 111)
            Meta na sua cabeça, Dioguinho: o que, nas três frases, atrai os pronomes se e o. Compreendeu?
            Os textos desse colunista da “Veja” estão abarrotados de erros gramaticais. Trôpego no manejo do nosso idioma, autor de frases mal azeitadas nas molas, que necessitam urgentemente de lubrificante - fra­ses capengas e vítimas de um artritismo crônico - ele também ignora que a preposição para atrai os pronomes. Abri ao acaso o caótico “Polígono das secas” e encontrei estes erros:
            “...ansioso para unir-se ao bando..." (página 30).
“...para apropriar-se de todas as reservas hídricas..."
(página 76).
“. . .Catarina Rosa oferece para sacrificar-se no lugar do filho..." (página 87).
            Dioguinho, decore esta regra: a preposição para atrai normalmente os pronomes pessoais, objetivos e terminativos. Quer ver dois bons exemplos? Eu os dou de graça:
            “Que coração o vosso para se oferecer a defendê-la.”
          (Jorge Ferreira de Vasconcelos, “Eufrosina”,atoV, cenaV).
“Já para se entregar quase rendidos,
            À fortuna das forças africanas,”
(Camões, “Os lusíadas”, canto IV, estrofe 20).
Além dos infindáveis erros de português e dos disparates ultra malucos, o que me choca nos livros do Dioguinho, embora eu seja a favor do livre direito de expressão, é ver como ele generaliza a torto   e a direito:
            "A brasileira é a mulher mais detestável do universo” (página 21 do livro “Contra o Brasil”).
            "Muito melhor que uma criança é um macaco. Ter um filho equivale a enfiar um estranho dentro de casa. É como se eu levasse o geren­te do meu banco para morar comigo e, ainda por cima, passasse a sustentá-lo" (página 141 do livro “A tapas e pontapés”).­
            Amigo leitor, envie-me a sua opinião sobre o que acabo de escrever. Eu a comentarei.

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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

A verdade é uma rainha que nunca usou máscara


É enorme, no Dicionário enciclopédico ilustrado Veja Larousse, a quantidade de textos omissos, imprecisos ou mal redigidos. Domingos Caldas Barbosa - salienta um verbete da página 308 do terceiro volume – “tinha talento improvisador”. Falta aí a clareza, um adjetivo e a preposição de: “talento musical de improvisador”. E Domingos, diz em seguida o verbete, compôs “cantigas de embalo preguiçoso e dolente”. Redundância, superfluidade de palavras. Pergunto: qual é a cantiga de embalo que não é assim? O substantivo embalo indica a natureza lenta da cantiga...
Além disso o verbete garante que Caldas nasceu no Rio de Janeiro. Ora, isto não ficou provado, pois segundo esclarece Pereira da Silva na obra Varões ilustres do Brasil durante os tempos coloniais, ele nasceu na Bahia, e segundo informa Francisco Adolfo de Varnhagen no Florilégio da poesia brasileira, o autor da Viola de Lereno veio à luz em pleno mar, num navio, no ano de 1738.
Outro verbete mal redigido é o de Rui Barbosa, na página 308 do terceiro volume. Eis uma frase absurda do verbete:
"Como ministro da Fazenda e vice-presidente do governo provisório, editou o Encilhamento”.
Mas o Encilhamento é o nome dado à desordem financeira ocorrida na capital do Brasil, entre 1890 e 1892, no decorrer do Governo Provisório da República. Eu indago: como Rui Barbosa poderia “editar” o tal Encilhamento? Rui era editor, comandava uma editora? Quem escreveu o verbete quis dizer que a “Águia de Haia" causou essa desordem financeira...
Além desse erro de português, o verbete desastrado apresenta mais um disparate: Rui Barbosa fundou a Academia Brasileira de Letras. Já provei que quem fundou a ABL foi Lúcio de Mendonça. Não, Rui não fundou a ABL, porém o verbete afundou o Dicionário enciclopédico ilustrado Veja Larousse...
Os Novíssimos estudos da língua portuguesa, do filólogo e gramático Mário Barreto, apareceram em 1914 e não em 1921, como registra o verbete sobre ele, na página 314 do citado volume. Consultar a página 40 do Dicionário biobliográfico de escritores cariocas, de J .S. Ribeiro Filho, publicado em 1965 pela Livraria Brasileira Editora.
Mais um erro do terceiro volume do dicionário da dupla Veja Larousse. Encontra-se na página 319. Leôncio Basbaum, autor da História sincera da República, membro do Partido Comunista Brasileiro, não nasceu em 1902 e sim em 6 de novembro de 1907. O dicionário da dupla Veja Larousse fez Leôncio Basbaum nascer cinco anos antes do parto que o trouxe ao mundo! Consultar a página 578 do volume I do Dicionário histórico-biográfico brasileiro (2º edição), lançado pela editora da Fundação Getúlio Vargas.
­Na página 100 do primeiro volume do dicionário da Veja e do Larousse, o verbete sobre o poeta português Filinto de Almeida revela que ele fundou a Academia Brasileira de Letras. Está errado, quem fundou a ABL, conforme provei no meu livro A Academia do fardão e da confusão, publicado pela Geração Editorial, foi o jornalista Lúcio de Mendonça. Isto aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, em 20 de julho de 1897, após sete reuniões preparatórias, efetuadas na sala da redação da Revista Brasi­leira, dirigida pelo crítico José Veríssimo.
Tudo que exibi aqui é a verdade. Eu obedeço a este provérbio:
“Segue tu sempre a verdade e a razão, embora a uns agrade e a outros não”.
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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.