domingo, 30 de dezembro de 2018

Jânio foi cassado por causa do seu beliscão numa bunda


Conforme narrei no meu livro Drummond e o elefante Geraldão, fui amigo íntimo do presidente Jânio Quadros. Ele morava perto do meu lar, numa casa térrea da rua 9 de Julho, número 880, em frente à Chácara Flora, no bairro Alto da Boa Vista, da cidade de São Paulo. Aos sábados, no período da manhã, Jânio costumava telefonar para mim. E muitas vezes ouvi esta súplica:
-Socorro, Fernandinho, socorro, estou morrendo!
Eu respondia:
-O senhor está doente, passando mal?
Palavras invariáveis do marido da dona Eloá:
-Estou morrendo de tédio, não aguento mais!
-Por que, presidente?
A explicação era dada num tom de angústia:
-Candidatos aos cargos de vereador, de deputado, e até de prefeito, invadem o meu tugúrio, o meu sacrossanto lar, na ânsia de serem fotografados junto de mim. Nem sequer os conheço! É gente de cabeça completamente vazia. Se fossem guilhotinados, como a Maria Antonieta, as suas cabeças subiriam aos ares como balões, perder-se-iam nas alturas!
Jânio então solicitava:
-Por favor, Fernandinho, almoce comigo. A Eloá vai servir o meu prato predileto, camarões com quiabo. Venha aqui e falaremos sobre arte, poesia, literatura, coisas elevadas. Comentaremos as parvoíces, os destrambelhos dos nossos políticos. Assim me sentirei melhor...
E eu, dezenas de vezes, ia almoçar com o Jânio. A conversa se estendia por horas a fio, só se encerrando ao anoitecer. Ele se abria comigo, não escondendo nada, nem mesmo pormenores de sua vida sexual, porém longe, é claro, da presença discreta da dona Eloá.
Quando a Adelaide Carraro (o sarcástico Agrippino Grieco a chamava de Adelaide Escarraro) lançou em 1963 o seu romance autobiográfico Eu e o governador, perguntei ao Jânio:
-Já leu este livro, presidente?
O mato-grossense não escondeu a verdade:
-Fiz fuki-fuki com a Adelaide, numa banheira, mas ela carecia de carne, era ossuda, e sou carnívoro como os tigres, os leões.
Rindo como um garoto travesso, prosseguiu:
-Sabe quem é o governador, no livro?
-Não.
-Sou eu.
Influenciado por esse depoimento de Jânio, coloquei no capítulo XIII do meu romance satírico O Grande líder, atualmente na sexta edição, a seguinte passagem, a fim de descrever um dos hábitos do personagem principal, Piranha da Fonseca Albuquerque:
“No palácio acolhia os secretários em cuecas, ou dentro da banheira, enquanto a impudica Joana D’Arc beijava as unhas dos pés do seu amado, sinuosas como roscas e orladas de preto.”
Certa vez eu e o Jânio estávamos à beira da piscina da sua casa, sentados em cadeiras de lona. De repente, bebendo uísque, ele soltou estas palavras:
-Perdi os meus direitos políticos, fui cassado em 1964, por causa do beliscão que dei numa bunda.
A princípio pensei que se tratava de brincadeira, mas ele continuou, de cara séria:
-Numa recepção, antes do Golpe de 1964, eu havia me excedido no uísque e belisquei a rechonchuda nádega esquerda da dona Yolanda Costa e Silva, esposa do comandante do II Exército, o general Artur da Costa e Silva. Ele tomou conhecimento desse episódio lamentável. Arrependo-me de ter agido de maneira tão soez, tão imprópria de um censor dos atos imorais.
-E como o Costa e Silva veio a saber disso?
-Creio que a própria dona Yolanda, mulher honrada, queixou-se a ele. Talvez ela tenha ficado com a bunda roxa, pois a belisquei fortemente.
Algo eufórico, sob o efeito dos vapores do uísque, o Messias do bairro de Vila Maria acrescentou:
-Fernandinho, sou um bundófilo, apaixono-me por nédios bumbuns femininos, gosto de comprimi-los, mas depois o remorso me atormenta. There is another man with’n me that’s angry with me.
Arregalei os olhos e ele me esclareceu:
-É uma frase do filósofo inglês Thomas Browne, no seu livro Religio Medici. Vou traduzi-la. “Dentro de mim há um outro homem que está contra mim.”

Perguntei como o vigoroso aperto na bunda da dona Yolanda gerou o processo causador da perda dos seus direitos políticos. Explicou:
-Logo após o Golpe de 1964, o general Humberto de Alencar Castelo Branco enviou-me um pedido. Queria que eu redigisse um documento, para incentivar os civis a apoiá-lo por sua investidura no cargo de presidente da República. Eu o atendi. O documento, assinado por mim, foi divulgado de forma ampla pelas emissoras de rádio e de televisão, pelos jornais do Brasil inteiro. Portanto, eu, Jânio Quadros, era visto com simpatia no círculo dos militares do Golpe, eles não me consideravam corrupto, ou subversivo, ou inimigo. O Castelo me admirava, pretendia convocar-me no futuro.
E aí, presidente?
-Aí, na primeira lista de cassações, o almirante Augusto Rademaker e o brigadeiro Francisco Assis Correia de Melo, integrantes do Comando Supremo do movimento revolucionário, não incluíram o meu nome nessa lista. Depois de examiná-la, o general Artur da Costa e Silva, ministro do Exército, lembrando-se do beliscão que apliquei na bunda da dona Yolanda, exigiu a inclusão do meu nome. Devido ao seu ódio, ao seu rancor, ao seu espírito vingativo, com base no Ato Institucional número 1 (AI-1), fui cassado no dia 10 de abril de 1964.
Teci este comentário:
-Presidente, pequenas causas, grandes efeitos. Evoco a afirmativa do filósofo Blaise Pascal: um diminuto grão de areia, un petit grain de sable, na bexiga de Olivier Cromwell, chefe da revolução inglesa de 1645 que destronou e executou o rei Carlos I, tirou a vida de Cromwell. Resultado, o grãozinho modifica a história da Inglaterra...
Jânio Quadros deduziu, após beber um gole de uísque:
-E querido amigo, o rumo da minha vida foi alterado por causa do meu beliscão no glúteo opulento, perturbador, da dona Yolanda.
Rimos a valer. Aliás, esse beliscão histórico é também descrito, sem as minucias aqui apresentadas, nas páginas 112 e 113 do livro As armadilhas do poder, do jornalista Gilberto Dimenstein, lançado em 1990 pela Summus Editorial e pela Folha de S.Paulo.
 

domingo, 9 de dezembro de 2018

Em defesa de Jesus Cristo e Nossa Senhora


Meu pai, o grande poeta, orador e escritor Salomão Jorge, deputado em São Paulo na Assembleia Constituinte de 1947, líder da bancada do Partido Social Progressista no governo de Ademar de Barros, costumava sempre me dizer:
– Filho, este mundo é um mundo imundo.
Verdade pura, cristalina, irrefutável. Convenci-me disso mais uma vez, ao ler, cheio de nojo, as blasfêmias assacadas contra Jesus Cristo e a sua mãe, Nossa Senhora, inseridas na revista Mundo Estranho, da editora Abril. E pergunto ao cidadão Victor Civita Neto, presidente do Conselho Editorial da Abril:
– Por que o senhor não vetou essa porcaria lançada em cima de Jesus e Nossa Senhora, ofensiva aos sentimentos cristãos do povo brasileiro?
O texto infame, nauseabundo, idêntico ao vômito branco e podre de uma cadela sifilítica, acentua com o mais absoluto descaramento:
“...ele (Jesus) teria matado um coleguinha que esbarrara em seu ombro. Também deixava cegas as pessoas que corriam até seus pais para reclamar dele. Nesses casos, Maria dava a bronca no menino”.
Incrível, o autor dessa imundice nos apresenta um Jesus irritadiço, violento, temperamental, assassino frio, capaz de matar homem ou mulher devido a simples esbarrão! Um Jesus odiado, desequilibrado, tão cruel, tão impiedoso que cegava as pessoas! Maria, sua mãe, vivia reprovando a conduta do filho, mau menino, perfeito monstro sádico...
A diarreia sem penico do autor desse texto infecto, provavelmente um ateu cínico, descarado, prossegue assim:
“Existem na Bíblia sinais de que Cristo rejeitou a mãe e os irmãos, e foi perseguido pela família. Jesus chegou a dizer uma frase famosa, quando ela levou os outros filhos para conversar com ele. ‘Quem são minha mãe e meus irmãos?’ Sinal de que não se entendia bem com Maria”.
Amigo leitor, quanto absurdo! O fulano do texto deturpou a frase simbólica, proferida pelo Verbo Divino, à maneira de quem pega uma rosa loura e a escurece com um escarro. Segundo o capítulo doze do Evangelho de São Mateus (versículos 46, 47, 48, 49 e 50), Jesus, certa vez, falava ao povo e alguém lhe disse que a sua mãe e os seus irmãos queriam vê-lo, conversar. Então o Salvador indagou:
“Quem é a minha mãe e quem são meus irmãos?”
Após proferir tais palavras, Jesus estendeu a mão, apontando os discípulos, e garantiu:
“Eis a minha mãe e meus irmãos, porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
Portanto se torna bem claro, a frase de Jesus é mesmo simbólica, pois no plano espiritual ele via os fiéis seguidores de Deus como a sua família. O autor do texto asqueroso não quis aceitar esta sutileza, adulterou o sentido da frase, difamou Jesus Cristo.
O epigramista inglês Charles Caleb Colton (1780-1832), no capítulo II do livro Lacon, publicado em 1820, salienta que a calunia sempre deixa num pior lugar o caluniador e nunca o caluniado (Calunny makes the calumniator worse, but the calumniated never). De pleno acordo. E conheço o lugar onde permanece agora o caluniador de Jesus Cristo e da Virgem Santíssima: jaz no fundo de uma latrina fedida, antes do puxamento da descarga.
Faço um apelo ao senhor Victor Civita Neto, presidente – repito – do Conselho Editorial da Abril:
– Por favor, impeça que esse redator-caluniador continue a jogar o vômito branco e podre de uma cadela sifilítica nas imagens muito queridas de Jesus Cristo e de sua mãe, a Virgem Santíssima.
Tenho certeza de outra coisa. As almas justas de Victor Civita (1907-1990) e de Roberto Civita (1936-2013), lá na Mansão dos Justos, edificada por Deus, na qual badalam sinos de ouro, estão me apoiando firmemente, não desejam que a Abril, fruto da inteligência e da capacidade de ambos, transforme-se na editora da ignominia, do enxovalho, da deturpação.