domingo, 23 de setembro de 2018

Jair Bolso Reacionário afirmou: “pobre não sabe fazer nada”


Eu acuso o Jair Bolsonaro, aliás, Jair Bolso Reacionário, candidato à presidência da República, de vomitar mentiras, cretinices, disparates, pois garantiu no programa Roda Viva, da TV Cultura: os portugueses nunca pisaram no solo da África e foram os próprios negros desse continente que capturavam os escravos. Ora, os lusos pisaram, sim, no solo africano, nas terras de Cabo Verde, Angola, Guiné, Moçambique, São Tomé e Príncipe, etc.
Pergunto: um ignorante de tamanha envergadura merece ser eleito presidente da República? Fato estranho, não sei porque ao empregar a palavra envergadura, eu me lembrei desta outra palavra: cavalgadura. Prezado leitor, explique-me, ficarei grato.
A monumental, a jumental besteira expelida como um cagalhão pelo boquirroto Jair Bolso Reacionário, entusiasmou a desembargadora Marilia de Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Inchada de orgulho, quase estourando de imensa admiração, como quem solta um peido infinito e muito sonoro, ela pariu esta mensagem em inglês:
“Go Bolsonaro, go!!! Let’s make Brazil great again!!!” (Vai, Bolsonaro, vai!!! Vamos fazer o Brasil grande de novo!!!”)
Existe agora em nosso idioma, o verbo desinformar, que significa informar de maneira errada (verbete desinformar, na página 486 do Dicionário de usos do Português do Brasil, de Francisco S. Borba, Editora Ática, São Paulo, 2001). Também existe o adjetivo desinformado, para designar a pessoa carecida de cultura, ignorante. Pois bem, Marília de Castro Neves me dá a impressão de ser desinformadadora e não desembargadora...
Dona Marília também parece multiplicadora e não desembargadora, pois multiplica as suas asneiras, como os cangurus se multiplicam na Austrália. Cito uma: difamou Marielle Franco, assassinada em março de 2018, assegurando, sem prova, que ela, Marielle, pertencia a uma rede de traficantes de drogas. Outra burrice da desinformadora: ofendeu, cheia de nojo, de desprezo, de impiedade, os portadores da síndrome de Down, as crianças e os jovens vítimas dessa anomalia.
Numa crítica à notícia da reabertura das investigações sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog, ocorrida no dia 25 de outubro de 1975, na sede do Doi-Codi de São Paulo, iniciativa do Conselho Interamericano de Direitos Humanos, a desembargadora, aliás, a desinformadora Marília de Castro Neves sugeriu que esse órgão “deve chupar um parafuso até ele virar prego.” Conselho duplamente infeliz, desastrado, primeiro porque o órgão está certo, o assassinato de Herzog deve mesmo ser esclarecido de modo total, e segundo porque o parafuso, a rigor, conforme explicam os dicionários, é um prego de cabeça chata com um sulco no meio. Então a senhora Marília, fanática admiradora do Jair Bolso Reacionário, aconselhou o Conselho Interamericano de Direitos Humanos chupar um prego até esse prego virar prego. Frase tão idiota como aconselhar alguém a comer um quiabo, até ele virar quiabo, a mastigar uma banana, até ela virar banana...
Marília poderá tornar-se ré, por causa de suas várias e estrondosas mensagens de apoio a Jair Bolso Reacionário. Ela é alvo de investigação na Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça, que veda, aos membros dos tribunais de Justiça, essas manifestações de solidariedade, por serem e caráter político.
Um amigo me perguntou se o preconceito é capaz de adquirir a forma humana. Eu respondi que ele já adquiriu, virou deputado federal pelo PSL, chama-se Jair Bolso Reacionário, a personificação do preconceito falante, com cabeça, braços, pernas, apto a mijar e cagar pela boca.
Ao contrário de Victor Hugo, paladino das vítimas de uma sociedade injusta, como revela no seu épico romance Les misérables, publicado em 1862, o Jair Bolso Reacionário detesta os pobres. Quando era vereador no Rio de Janeiro, na década de 1990, ele sustentou: “pobre não sabe fazer nada”. Na sua opinião, os filhos de pobres nunca deviam nascer. E prosseguiu, dizendo não adiantar nada distribuir camisinhas, preservativos, para os moradores das favelas, pois os filhos desses favelados transformariam as camisinhas em balões pequenos, em brinquedo voador.
A impiedade do Jair Bolso Reacionário não parou aí. Nos seus discursos proferidos nas últimas décadas, sempre defendeu a ideia de esterilizar os pobres, de impedi-los de ter filhos. O Estado, no entender do Jair Bolso Reacionário, deve exercer um rígido controle da natalidade. Só este controle, salientou em julho de 2008, “pode nos salvar do caos”.
Essa posição tipicamente nazista é um desrespeito à Lei 9.263, do ano de 1996, sobre o planejamento familiar. Tal lei, de forma bem clara, inequívoca, proíbe o controle demográfico e qualquer tipo de esterilização. Apenas, em poucos casos, é admitida a esterilização cirúrgica, a vasectomia ou a laqueadura.
Outro aspecto da sinistra personalidade de Jair Bolso Reacionário: ele é um fervoroso admirador do major Carlos Brilhante Ustra (1932-2015), comandante do Doi-Codi paulista entre os anos de 1970 e 1974, que era torturador, um assassino sádico, especializado na arte de espancar, afogar e eletrocutar. Jair Bolso Reacionário o vê como “grande brasileiro, notável patriota, digno de ser idolatrado por todos nós”.
Se o Jair, nascido em Campinas no dia 21 de março de 1955, ex-paraquedista e ex-planejador de explosão de bombas, com o capitão Fábio Passos da Silva, for eleito presidente da República, será uma desgraça para o Brasil. Mergulharemos num inferno que nos parecerá o lago de fogo e de enxofre descrito na Bíblia, no Apocalipse. Inferno aplaudido pela desembargadora Marília de Castro Neves, aliás, desinformadora.
E a desgraça será ainda maior, devido a mentalidade do vice de Jair Bolso Reacionário, o general da reserva Antônio Hamilton Mourão, pois este disse que “o povo brasileiro herdou a indolência do índio e a malandragem do africano”. Daí se conclui, nós, os brasileiros, somos preguiçosos, vagabundos, vigaristas, criaturas sem energia, inimigas do trabalho. Mourão, além de agredir os índios e os negros, agrediu todos nós, inclusive os brasileiros descendentes de diversas raças.
O Jair Bolso Reacionário, não há dúvida, soube escolher o seu vice. Ambos são o vinho azedo, intragável, de um tonel de madeira carcomido, guardado na caverna do conde Drácula, lugar tenebroso, macabro, no qual voam milhares de morcegos sedentos, ávidos de beber, até as derradeiras gotas, o sangue quente dos brasileiros lúcidos, patriotas, inimigos do racismo, do fascismo, dos preconceitos ferozes, do espancamento e assassinato de mulheres e homossexuais.
Como sobrevivo no país da mentira, da hipocrisia, e as condeno, sou um escritor e jornalista perigoso, da classe dos meus amigos José Nêumanne, de O Estado de S. Paulo; de Marcos Caldeira Mendonça, de O Trem Itabirano, de Mino Carta e Nirlando Beirão, da CartaCapital; de José Paulo de Andrade e Salomão Esper, da rádio Bandeirantes.
Possuo no meu arquivo rica documentação para provar que tudo mostrado neste artigo, até os mínimos detalhes, é a fiel imagem da Verdade. Eu me senti, ao escreve-lo, idêntico a um elefante da Índia, esmagando trinta escorpiões com uma única patada...

terça-feira, 11 de setembro de 2018

NÃO É PRECISO XINGAR


A polêmica é a discussão pela imprensa, ou pelos livros, ou pelos meios de comunicação, de assuntos literários, políticos, científicos, históricos, econômicos, sociológicos, sexológicos, etc, etc. O substantivo polêmica vem do vocábulo grego polemikòs, que significa combatente. Portanto, polêmica é combate. Combate em prol de ideias, para sustentar opiniões baseadas na lógica, na razão, nos fatos concretos. E se é combate, ela não está a serviço dos medrosos, dos cagarolas.
Viva a polêmica e abaixo a covardia! Polêmica é bravura, independência, democratismo. Bem sei que ao afirmar isto eu me mostro polêmico. E daí, qual é o problema?
Quem quer defender as suas ideias com ardor, firmeza, caráter, sinceridade, tem de ser polêmico. Silenciar diante do erro e da injustiça é agir como um poltrão. Três coisas me causam um profundo nojo na vida, embrulham o meu estômago. São estas: olhar a cara de um político corrupto, ver um rato morto, em estado de decomposição, apodrecendo numa sarjeta, todo coberto de moscas varejeiras, e conhecer fulanos dúbios, que não possuem a coragem de expressar de modo firme e claro os seus pensamentos, de defender as suas ideias com as armas da lógica, da razão e das verdades insofismáveis.
Não é preciso xingar, agredir as honras alheias, para alguém obter a vitória numa polêmica. Basta não ser burro, ter cultura e saber usar, em vez dos ataques pessoais, a ironia, o sarcasmo, desde que ela, a ironia, e ele, o sarcasmo, sejam inspirados pelos erros de raciocínio e pelas besteiras do nosso adversário.
Numa polêmica, no choque de duas opiniões opostas, a ordem deve ser esta: empregar sempre a dialética, alicerçada na realidade dos fatos e nunca nos sofismas, nos argumentos falsos com a aparência da verdade.
Por que a polêmica desapareceu da vida cultural brasileira? Por que não temos mais polemistas como o Carlos de Laet e o Oswald de Andrade? É porque quase todos os nossos intelectuais se acomodaram, tornaram-se covardes. Aceitam tudo passivamente e não querem discutir, refutar. Perderam a virilidade mental.
Além disso são metidos a besta, vivem citando o Joyce, o Mallarmé, a Clarice Lispector, o Jorge Luís Borges. Isto lhes dá um sentimento de superioridade. Pensam que pertencem a uma “elite”. Não gostam, portanto, de polêmicas. Brigar no terreno das ideias, oh, meu Deus, como isto para eles seria vulgar, inútil e impróprio!
Jornais como o Estadão e a Folha de S. Paulo falam sempre dos mesmos autores. Parecem os discos emperrados das velhas vitrolas. Frequentemente publicam reportagens de páginas inteiras sobre o Jorge Luís Borges, grande escritor, sem dúvida, mas que foi também um racista empedernido e um asqueroso fascista, admirado e prestigiado pelos nossos “gorilas”, pelos militares brasileiros que deram o Golpe de 1964.
Rachel de Queiroz não merece receber tanta cobertura da nossa imprensa, pois ela apoiou a Censura na época do regime militar e tornou-se amiga dos generais da Linha Dura. Ela pertencia à ridícula e anacrônica Academia Brasileira de Letras. Academia tão estéril como o útero de uma mula.
Detesto os intelectuais sofisticados, aristocratizados, desvirilizados, incapazes de se aproximarem do povo. O povo, para eles, é “a plebe ignara e malcheirosa”. Tais fulanos não gostam de polêmicas. Só querem elogiar o Joyce, o Ezra Pound, a Clarice Lispector e o Jorge Luís Borges. Todos eles precisam levar surras de natureza cultural. Precisam receber porradas literárias, tabefes nas bochechas flácidas dos seus minguados intelectos.
Repito: viva a polêmica e abaixo a covardia!

“A discussão fortalece a agudeza”
(“Perspicuitas enim argumentatione elevatur”)
(Marco Túlio Cícero, De natura deorum, III, IV).

“Quando uma coisa deixa de ser assunto de controvérsia, deixa de ser assunto de interesse”
(“When a thing ceases to be a subject of controversy, it ceases to be a subject of interest.”)
(William Hazlitt, Works, volume XII, página 384).