Eu acuso o Jair Bolsonaro, aliás, Jair Bolso
Reacionário, candidato à presidência da República, de vomitar mentiras,
cretinices, disparates, pois garantiu no programa Roda Viva, da TV Cultura: os
portugueses nunca pisaram no solo da África e foram os próprios negros desse
continente que capturavam os escravos. Ora, os lusos pisaram, sim, no solo
africano, nas terras de Cabo Verde, Angola, Guiné, Moçambique, São Tomé e
Príncipe, etc.
Pergunto: um ignorante de tamanha envergadura
merece ser eleito presidente da República? Fato estranho, não sei porque ao
empregar a palavra envergadura, eu me
lembrei desta outra palavra: cavalgadura.
Prezado leitor, explique-me, ficarei grato.
A monumental, a jumental besteira expelida como
um cagalhão pelo boquirroto Jair Bolso Reacionário, entusiasmou a
desembargadora Marilia de Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro. Inchada de orgulho, quase estourando de imensa admiração, como quem
solta um peido infinito e muito sonoro, ela pariu esta mensagem em inglês:
“Go Bolsonaro, go!!! Let’s make Brazil great again!!!” (Vai,
Bolsonaro, vai!!! Vamos fazer o Brasil grande de novo!!!”)
Existe agora em nosso idioma, o verbo desinformar, que significa informar de
maneira errada (verbete desinformar,
na página 486 do Dicionário de usos do
Português do Brasil, de Francisco S. Borba, Editora Ática, São Paulo,
2001). Também existe o adjetivo desinformado,
para designar a pessoa carecida de cultura, ignorante. Pois bem, Marília de
Castro Neves me dá a impressão de ser desinformadadora
e não desembargadora...
Dona Marília também parece multiplicadora e não
desembargadora, pois multiplica as suas asneiras, como os cangurus se
multiplicam na Austrália. Cito uma: difamou Marielle Franco, assassinada em
março de 2018, assegurando, sem prova, que ela, Marielle, pertencia a uma rede
de traficantes de drogas. Outra burrice da desinformadora: ofendeu, cheia de
nojo, de desprezo, de impiedade, os portadores da síndrome de Down, as crianças
e os jovens vítimas dessa anomalia.
Numa crítica à notícia da reabertura das
investigações sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog, ocorrida no dia 25
de outubro de 1975, na sede do Doi-Codi de São Paulo, iniciativa do Conselho
Interamericano de Direitos Humanos, a desembargadora, aliás, a desinformadora
Marília de Castro Neves sugeriu que esse órgão “deve chupar um parafuso até ele
virar prego.” Conselho duplamente infeliz, desastrado, primeiro porque o órgão
está certo, o assassinato de Herzog deve mesmo ser esclarecido de modo total, e
segundo porque o parafuso, a rigor, conforme explicam os dicionários, é um
prego de cabeça chata com um sulco no meio. Então a senhora Marília, fanática
admiradora do Jair Bolso Reacionário, aconselhou o Conselho Interamericano de
Direitos Humanos chupar um prego até esse prego virar prego. Frase tão idiota
como aconselhar alguém a comer um quiabo, até ele virar quiabo, a mastigar uma
banana, até ela virar banana...
Marília poderá tornar-se ré, por causa de suas
várias e estrondosas mensagens de apoio a Jair Bolso Reacionário. Ela é alvo de
investigação na Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça, que veda, aos
membros dos tribunais de Justiça, essas manifestações de solidariedade, por serem
e caráter político.
Um amigo me perguntou se o preconceito é capaz
de adquirir a forma humana. Eu respondi que ele já adquiriu, virou deputado
federal pelo PSL, chama-se Jair Bolso Reacionário, a personificação do
preconceito falante, com cabeça, braços, pernas, apto a mijar e cagar pela
boca.
Ao contrário de Victor Hugo, paladino das
vítimas de uma sociedade injusta, como revela no seu épico romance Les misérables, publicado em 1862, o
Jair Bolso Reacionário detesta os pobres. Quando era vereador no Rio de
Janeiro, na década de 1990, ele sustentou: “pobre não sabe fazer nada”. Na sua
opinião, os filhos de pobres nunca deviam nascer. E prosseguiu, dizendo não
adiantar nada distribuir camisinhas, preservativos, para os moradores das
favelas, pois os filhos desses favelados transformariam as camisinhas em balões
pequenos, em brinquedo voador.
A impiedade do Jair Bolso Reacionário não parou
aí. Nos seus discursos proferidos nas últimas décadas, sempre defendeu a ideia
de esterilizar os pobres, de impedi-los de ter filhos. O Estado, no entender do
Jair Bolso Reacionário, deve exercer um rígido controle da natalidade. Só este
controle, salientou em julho de 2008, “pode nos salvar do caos”.
Essa posição tipicamente nazista é um
desrespeito à Lei 9.263, do ano de 1996, sobre o planejamento familiar. Tal
lei, de forma bem clara, inequívoca, proíbe o controle demográfico e qualquer
tipo de esterilização. Apenas, em poucos casos, é admitida a esterilização
cirúrgica, a vasectomia ou a laqueadura.
Outro aspecto da sinistra personalidade de Jair
Bolso Reacionário: ele é um fervoroso admirador do major Carlos Brilhante Ustra
(1932-2015), comandante do Doi-Codi paulista entre os anos de 1970 e 1974, que
era torturador, um assassino sádico, especializado na arte de espancar, afogar
e eletrocutar. Jair Bolso Reacionário o vê como “grande brasileiro, notável
patriota, digno de ser idolatrado por todos nós”.
Se o Jair, nascido em Campinas no dia 21 de
março de 1955, ex-paraquedista e ex-planejador de explosão de bombas, com o capitão
Fábio Passos da Silva, for eleito presidente da República, será uma desgraça
para o Brasil. Mergulharemos num inferno que nos parecerá o lago de fogo e de
enxofre descrito na Bíblia, no
Apocalipse. Inferno aplaudido pela desembargadora Marília de Castro Neves,
aliás, desinformadora.
E a desgraça será ainda maior, devido a
mentalidade do vice de Jair Bolso Reacionário, o general da reserva Antônio
Hamilton Mourão, pois este disse que “o povo brasileiro herdou a indolência do
índio e a malandragem do africano”. Daí se conclui, nós, os brasileiros, somos
preguiçosos, vagabundos, vigaristas, criaturas sem energia, inimigas do
trabalho. Mourão, além de agredir os índios e os negros, agrediu todos nós,
inclusive os brasileiros descendentes de diversas raças.
O Jair Bolso Reacionário, não há dúvida, soube
escolher o seu vice. Ambos são o vinho azedo, intragável, de um tonel de
madeira carcomido, guardado na caverna do conde Drácula, lugar tenebroso,
macabro, no qual voam milhares de morcegos sedentos, ávidos de beber, até as
derradeiras gotas, o sangue quente dos brasileiros lúcidos, patriotas, inimigos
do racismo, do fascismo, dos preconceitos ferozes, do espancamento e
assassinato de mulheres e homossexuais.
Como sobrevivo no país da mentira, da
hipocrisia, e as condeno, sou um escritor e jornalista perigoso, da classe dos
meus amigos José Nêumanne, de O Estado de
S. Paulo; de Marcos Caldeira Mendonça, de O Trem Itabirano, de Mino Carta e Nirlando Beirão, da CartaCapital; de José Paulo de Andrade e
Salomão Esper, da rádio Bandeirantes.
Possuo no meu arquivo rica documentação para
provar que tudo mostrado neste artigo, até os mínimos detalhes, é a fiel imagem
da Verdade. Eu me senti, ao escreve-lo, idêntico a um elefante da Índia,
esmagando trinta escorpiões com uma única patada...