O Percival de Souza continua a ser humilhado
pelo Marcelo Resende no programa Cidade Alerta, da TV Record. Milhares de
telespectadores ficam chocados com a violência, a estupidez do Marcelo, e a inércia,
o conformismo, a passividade de boi manso de Percival, incapaz de reagir, de
mostrar que possui brio, auto-estima. Várias pessoas costumam me perguntar:
-Aquilo é combinado?
Tenho respondido:
-Se é combinado, ainda assim é cena de
crueldade e também de cínico desrespeito aos telespectadores, pois estes estão
sendo vítimas de uma tapeação.
Há outra hipótese: o Marcelo sofre do distúrbio
psíquico gerador do gozo sexual quando se causa sofrimento ou humilhação a um
parceiro. Resumindo, ele me parece um sádico. E o Percival, por seu turno,
talvez seja vítima do distúrbio psicológico no qual um homem ou mulher só obtém
o prazer pela dor que lhe é infligida. Em síntese, o Percival me parece um
masoquista, vocábulo derivado do nome do escritor austríaco Leopold von
Sacher-Masoch (1836-1895), cujo interesse sexual se centrava na ânsia
compulsiva de padecer e de se humilhar.
O programa Cidade Alerta, da TV Record, assume
diante de mim o aspecto de um espetáculo de sadomasoquismo, termo criado por
Sigmund Freud (1856-1939), o pai da Psicanálise, pois nesse programa duas taras
se uniram, completaram-se, o sadismo do Marcelo Resende com o masoquismo do
Percival de Souza. Casamento lindo, emocionante!
Freud observou: “o sádico é sempre e ao mesmo
tempo um masoquista”. Tal fato não impede que o lado ativo, ou o lado passivo
da sua perversão, possa predominar.
O relacionamento do Marcelo com o Percival me
traz à memória, de forma constante, o relacionamento sadomasoquista do
personagem Alexei Ivanovitch, do romance O
jogador, de Dostoiewski, publicado em 1866, com a perversa e caprichosa
Paulina, sua cunhada. Aliás, inspirado nesse romance autobiográfico, o russo
Serguei Prokofiev compôs, no ano de 1916, a ópera O jogador.
Imaginei uma cena, após o diário espetáculo de
sadomasoquismo, oferecido pelo Marcelo e pelo Percival. Feliz, realizado, este
se volta para o outro e confessa:
-Marcelo, adorei a sua humilhação. Que delícia!
E o Marcelo responde:
-Eu também adorei humilhar você. Juro, senti um
prazer imenso, indescritível!
Numa dessas cenas de sadomasoquismo do Cidade
Alerta, o Marcelo escarneceu do septuagenário Percival de Souza, nascido em 1943:
-Você tem mais de mil anos!
Ora, e o Marcelo? A sua cara amarrotada já é a
de um pré-cadáver amarelo, prestes a ser comido pelos esfomeados vermes cor de
pus das sepulturas!
Vejamos duas humilhações impostas pelo Marcelo
ao submisso Percival.
Humilhação do dia 5 de outubro de 2015,
segunda-feira. Marcelo, na frente do Percival:
-Cala a boca. Você está se metendo aonde não é
chamado. Cala a boca.
Ponho de lado a grosseria e corrijo o erro de
português do Marcelo: o certo é cale a
boca. Se o bruto o aconselhou a silenciar, empregando o tratamento você, o correto é usar a primeira pessoa
do presente do subjuntivo (que eu cale
ou que você cale) e não o presente do
imperativo (cala tu).
Humilhação do dia 6 de outubro de 2015,
terça-feira. Marcelo, em frente do Percival:
-Você já acordou? Estava dormindo? Não me
interrompa, que falta de assunto!
O humilhado, depois de ouvir a esculhambação,
sorriu como um fanático, alegre masoquista, depois de receber monumentais
porradas nas bochechas flácidas.
E Marcelo Resende, por favor, deixe de estuprar
a idosa senhora Língua Portuguesa. Respeite-a, não ensine os telespectadores a
falar errado. Aprenda a pronunciar de maneira correta os verbos do nosso
idioma. O senhor não para de defecar esta frase:
-Dá trabalho prá fazê.
Não é fazê,
senhor Marcelo, é fazer, com r no
fim...
Mais um dos seus estupros, repetido dezenas de
vezes:
-Pensa
no seguinte.
Não é pensa,
é pense, um conselho. Pensa se aplica à terceira pessoa do
presente do indicativo do verbo pensar:
eu penso, tu pensas, ele pensa. Eis a primeira pessoa do presente do subjuntivo
desse verbo: que eu pense ou que você
pense. Compreendeu, Marcelo?
Sem descanso, a todo momento, o algoz do
Percival chama uma repórter de capitão.
Precisa meter isto na sua cabecinha, Marcelito: o feminino do substantivo
masculino capitão é capitã ou capitoa. Apresento como exemplo esta frase, extraída de uma notícia
da Folha de S. Paulo:
“A capitã Sochaki disse também que os sérvios
da Bósnia foram avisados sobre a ação”.
Forneço mais um exemplo, colhido da página 200
do volume primeiro do Dicionário prático
da língua portuguesa, de J. Mesquita de Carvalho (Editora Egéria, São
Paulo, 1966), lexicógrafo que era diretor geral do Instituto de Educação do
Estado de Minas Gerais:
“Capitoa
(ô), S.F. Mulher, esposa de capitão... Mulher que dirige ou comanda outras”.
Teimando em chamar a repórter de capitão, como se ela fosse um homem
dotado de colhões exuberantes, um membro do Exército brasileiro, o apedeuta
Marcelo Resende prova como o poeta e dicionarista inglês Samuel Johnson
(1709-1784), na Letter to Drummond,
de 13 de agosto de 1766, acertou ao garantir que quem voluntariamente persevera
na sua ignorância, torna-se culpado de todos os crimes produzidos por ela” (He that voluntarily continues ignorance is
guilty of all the crimes which ignorance produces).
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