domingo, 26 de julho de 2015

IVETE SANGALO, NÃO ODEIE OS GATOS PRETOS!

Informou o meu colega Joaquim Ferreira dos Santos, colunista do jornal "O Globo", que a Ivete Sangalo se tornou persona non grata no Instituto de Proteção aos Animais. O presidente dessa entidade, Mauricio Esteves, ficou indignado com a cantora, pois ela garantiu, num programa de televisão:
-Se eu avistar um gato preto, em qualquer sexta-feira 13, mando matá-lo.
Ivete Sangalo, por favor, não odeie esses pobres felinos. Esta sua atitude é a conseqüência de velha superstição da Idade Média, de um tempo no qual os gatos pretos eram olhados como encarnações do diabo. Naquela época, durante a noite de São João, lançavam centenas deles nas fogueiras. Uma barbaridade oriunda da ignorância, da incurável estupidez humana.
Pessoas supersticiosas sempre ligaram o gato preto ao azar, à desgraça. E nem figuras ilustres deixaram de crer nessa história. Napoleão, pouco antes de batalha de Warterloo, travada em 18 de junho de 1815, quando foi derrotado pelos exércitos do britânico Wellington e do prussiano Blücher, viu em sonho um gato preto que corria várias vezes, de um lado para o outro. Apesar de ser corajoso, Napoleão assustou-se...
Fato interessante, nos séculos VI e XVII, na fase das grandes navegações, um gato, com a condição de que fosse inteiramente preto, trazia felicidade total aos navios. No batismo destes, a madrinha dava um gato preto à tripulação. Os marinheiros o protegiam e o felino, bem nutrido, gordo, satisfeito, não fugia. Se escapava, procuravam o bicho por toda a parte, até nos lugares distantes, pois se não o encontrassem, logo teriam uma difícil ou perigosa travessia dos oceanos.
Após ler isto, a Ivete Sangalo pode concluir que depende de nós enxergar no gato preto um animal que trás o azar ou a boa sorte. Em minha opinião, um gato preto é simplesmente um gato preto, como a escritora norte-americana Gertrude Stein (1874-1946) afirmava que uma rosa é apenas uma rosa, nada mais.
Permita-me lhe oferecer um conselho, Ivete Sangalo: ame os gatos de qualquer cor, seguindo o exemplo da francesa Du Gast. Esta senhora, na primeira década do século XX, inaugurou em Paris, no Boulevard Berthier, um confortável asilo para gatos, onde eles tinham pratos especiais, móveis adequados, camas superpostas e até um vasto campo de recreação.
Sim, Ivete Sangalo, ame os gatos, como os amava a escritora Colette, pseudônimo de Sidonie Gabrielle, que no romance “A gata” (“La chatte”), publicado em 1933, descreveu magistralmente a gata Saha.
Siga o meu conselho, Ivete Sangalo, não odeie os gatos pretos ou de qualquer cor. Ame-os como a princesa Vitória Schleswig-Holstein também os amava. Apaixonada por eles, essa princesa foi a dona de vinte e seis gatos. Construiu para os seus amiguinhos, no parque do Castelo de Windsor, antes da guerra de 1914, uma casa própria, minúscula e proporcional. O telhado e o primeiro pavimento podiam. ser retirados, como a tampa de uma caixa. Eram desmontáveis, a fim de assegurar o asseio dos compartimentos. Nome da residência: Seymour-Lodge.
Ivete Sangalo, inspire-se nos fatos aqui evocados. Pegue um gato bem preto e o beije, e o acaricie, mesmo que seja numa sexta-feira 13...

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