Informou o meu
colega Joaquim Ferreira dos Santos, colunista do jornal "O Globo",
que a Ivete Sangalo se tornou persona non grata no Instituto de Proteção
aos Animais. O presidente dessa entidade, Mauricio Esteves, ficou indignado com
a cantora, pois ela garantiu, num programa de televisão:
-Se
eu avistar um gato preto, em qualquer sexta-feira 13, mando matá-lo.
Ivete Sangalo,
por favor, não odeie esses pobres felinos. Esta sua atitude é a conseqüência de
velha superstição da Idade Média, de um tempo no qual os gatos pretos eram
olhados como encarnações do diabo. Naquela época, durante a noite de São João,
lançavam centenas deles nas fogueiras. Uma barbaridade oriunda da ignorância,
da incurável estupidez humana.
Pessoas
supersticiosas sempre ligaram o gato preto ao azar, à desgraça. E nem figuras
ilustres deixaram de crer nessa história. Napoleão, pouco antes de batalha de
Warterloo, travada em 18 de junho de 1815, quando foi derrotado pelos exércitos
do britânico Wellington e do prussiano Blücher, viu em sonho um gato preto que
corria várias vezes, de um lado para o outro. Apesar de ser corajoso, Napoleão
assustou-se...
Fato
interessante, nos séculos VI e XVII, na fase das grandes navegações, um gato,
com a condição de que fosse inteiramente preto, trazia felicidade total aos
navios. No batismo destes, a madrinha dava um gato preto à tripulação. Os
marinheiros o protegiam e o felino, bem nutrido, gordo, satisfeito, não fugia.
Se escapava, procuravam o bicho por toda a parte, até nos lugares distantes,
pois se não o encontrassem, logo teriam uma difícil ou perigosa travessia dos
oceanos.
Após ler isto,
a Ivete Sangalo pode concluir que depende de nós enxergar no gato preto um
animal que trás o azar ou a boa sorte. Em minha opinião, um gato preto é
simplesmente um gato preto, como a escritora norte-americana Gertrude Stein
(1874-1946) afirmava que uma rosa é apenas uma rosa, nada mais.
Permita-me lhe
oferecer um conselho, Ivete Sangalo: ame os gatos de qualquer cor, seguindo o
exemplo da francesa Du Gast. Esta senhora, na primeira década do século XX,
inaugurou em Paris, no Boulevard Berthier, um confortável asilo para gatos,
onde eles tinham pratos especiais, móveis adequados, camas superpostas e até um
vasto campo de recreação.
Siga o meu
conselho, Ivete Sangalo, não odeie os gatos pretos ou de qualquer cor. Ame-os
como a princesa Vitória Schleswig-Holstein também os amava. Apaixonada por
eles, essa princesa foi a dona de vinte e seis gatos. Construiu para os seus
amiguinhos, no parque do Castelo de Windsor, antes da guerra de 1914, uma casa
própria, minúscula e proporcional. O telhado e o primeiro pavimento podiam. ser
retirados, como a tampa de uma caixa. Eram desmontáveis, a fim de assegurar o
asseio dos compartimentos. Nome da residência: Seymour-Lodge.
Ivete Sangalo,
inspire-se nos fatos aqui evocados. Pegue um gato bem preto e o beije, e o
acaricie, mesmo que seja numa sexta-feira 13...
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