quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A INVEJA É UMA CADELA RAIVOSA

É jornalista da chamada Grande Imprensa, redator econômico de jornal poderoso, um dos principais da cidade de São Paulo. Há cerca de três meses, meio alcoolizado, aproximou-se de mim na Alameda Barão de Limeira e insultou-me. Apliquei-lhe uma bofetada. Não se atreveu a reagir.
Devido ao sucesso do meu livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, esse sujeito vive fazendo esta pergunta nas livrarias:
-O livro do Fernando Jorge está saindo?
Ao ouvir que sim, ele empalidece e volta a perguntar:
-Mas sai mesmo, é comprado?
A confirmação o deixa ainda mais pálido, como alguém prestes a desmaiar.
Um vendedor de uma conhecida livraria da Avenida Paulista, meu amigo, percebeu que o fulano é um grande invejoso e ao ouvir a pergunta, responde assim:
-O livro do Fernando Jorge sobre o Obama é um dos mais vendidos.
Aí o invejoso quase desfalece. E o meu amigo exagera, para aumentar a sua inveja:
-Hoje, eu e os meus colegas já vendemos mais de cinquenta exemplares.
De olho amarelo, com a cara esverdeada de quem tem icterícia, o invejoso rosna:
-Não pode ser! Não pode ser! Eu não acredito!
Contendo o riso, o meu amigo confirma:
-É a pura verdade.
Na semana passada esse amigo me disse:
-Seu Fernando, o homem parece que vai morrer, quando garanto que o seu livro está sendo muito vendido. Se eu continuar a falar desse modo, acho que ele vai ter um enfarte.
Soltei estas palavras:
-Você sabe como é o nome da sua doença? Ele sofre de invejaite aguda.
Num domingo o telefone da minha casa tocou, às onze horas da noite, e eu atendi. A voz enrolada, gaguejante e pastosa do grande invejoso, golpeou o meu ouvido:
-Fer... Fer... Fer... Fernando! Vo... Vo... vo... vo...vo... você pensa que... que... que... que... o meu jornal vai... vai... vai publicar uma no... no... no... nota sobre o seu li... li... livro de bos... bos... bos... ta... ta... ta...? Não, não vai não! Eu não vou deixar!
Era a voz de cachaceiro mergulhado num porre monumental. Até o telefone dava a impressão de feder a álcool. Desliguei o aparelho.
Duas semanas depois, outra vez no porre, o pinguço ganiu no telefone:
-Fer... Fer... Fer... Fernando! Eu vou... vou... vou matar o meu colega que elogiou você num artigo aqui do... do... aqui do jornal... vou, vou matar ele, vou, vou, vou, vou!
Ouvi um som que parecia o ronco de um suíno e, em seguida, palavrões, xingamentos. A causa da fúria: o jornal do invejoso de fato havia publicado um artigo cheio de elogios ao meu livro...
O rancor desse animal é explicável. Uma obra de sua autoria, lançada em 2005, não teve nenhuma repercussão. Isto o feriu, azedou-lhe a alma pequenina e a fez ranger de despeito, de revolta louca, digna de ser enfiada em camisola-de-força.
A inveja é uma cadela raivosa, fustigada pelo diabo, e que só quer rosnar e morder.
Pertence à numerosa família dos grandes invejosos o jornalista pau-d’água que me detesta. Um dos seus antepassados, suponho, foi Nonius Asprenas, oficial do imperador romano Augusto (63 a.C – 14 d. C). Devido a um acidente, Nonius ficou aleijado. Sentindo imensa inveja dos seus amigos saudáveis, ofereceu-lhes uma festa, durante a qual cento e trinta deles morreram. O invejoso colocara veneno nos alimentos.
Perigosa, frequentes vezes mortífera, é a família dos grandes invejosos.
Não conseguindo suportar a fama do general Aécio, vencedor do huno Átila nos campos cataláunicos, em 451 da nossa era, o imperador Valentiniano III, do Ocidente, mandou matá-lo.
Açulado pelos latidos da cadela Inveja, cujos dentes pontiagudos não largam as suas presas, Henrique III, rei da França de 1574 a 1584, tornou-se o responsável pela morte do Duque de Guise. Como castigo de Deus, ele tombou assassinado por Jacques Clement, um frade fanático.
Incapaz de aplaudir a genialidade de Mozart, segundo informam vários biógrafos desse músico, o compositor italiano Antonio Salieri o envenenou, agadanhado pela inveja.
Eu sentiria um certo prazer, talvez orgulho, se o jornalista que me execra tivesse algum valor, pois ser invejado por pessoas inteligentes, de talento, equivale a receber uma homenagem...
O poeta Antônio Sales (1868-1940), fundador da célebre Padaria Espiritual do Ceará e autor de belas quadrinhas publicadas diariamente no Correio da Manhã do Rio de Janeiro, produziu estes versos, comparando a inveja ao estrume:
“Deixa que a gente invejosa
Fale de ti com ciúme:
A flor precisa de estrume
Para ficar mais viçosa”
Embora não me considere um lírio ou um cravo, eu posso dizer: o jornalista invejoso, obcecado por mim, é o estrume do meu florido e bem cuidado jardim de sonhos, de poesia, de elevadas aspirações...

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