domingo, 15 de março de 2009

O CARRO CELESTIAL DE AYRTON SENNA - Artigo mais lido.


Livro inédito:
FHC, COLLOR, ITAMAR, MALUF, SARNEY E ENEAS SEM MÁSCARAS

(E TAMBÉM ACM, ROBERTO MARINHO, BRESSER PEREIRA, JÂNIO QUADROS, JUSCELINO KUBITSCHEK, ETC)


Capitulo: XXXIV

O CARRO CELESTIAL DE AYRTON SENNA

Evoquei neste livro as figuras de várias dos nossos políticos. Apareceram o Fernando Henrique, o Collor, o Maluf, o Sarney, o ltamar Franco, o Enéas, o Amaral Netto, o Antônio Carlos Magalhães, o Jânio Quadros, o Juscelino Kubitschek, etc, etc. Políticos vivos e mortos. Descrevi os lances de suas existências e, de alguns, os seus negativos aspectos morais. Confesso: ao narrar certos fatos me senti enojado. Pois bem, a fim de formar um contraste com esses aspectos negativos e com esses fatos, eu resolvi evocar, no Ultimo capitulo deste livro, um brasileiro já falecido, que não era político, que nunca ocupou qualquer cargo público, mas cuja vida curta foi um belo exemplo e um grande estimulo para todos nós, filhos de uma pátria onde a política se tornou sinônimo dos substantivos ‘mentira, hipocrisia, ladroeira, falsidade, incapacidade, corrupção’. Refiro-me a Ayrton Senna.
Eu não sou esportista e nunca fui adepto de nenhum esporte. Não sei nadar, nunca corri como um atleta e detesto as lutas de boxe. Também não gosto de automobilismo. Sou apenas um escritor, um cerebral, um homem apaixonado por livros e pela cultura. Não há para mim maior prazer do que o de ler e escrever, mas confesso que a morte do piloto Ayrton Senna me causou uma profunda emoção. Fiquei muito triste e o meu coração se encheu de pena.
Apesar de não gostar de automobilismo, no qual enxergo uma loucura e não um esporte, eu admirava a coragem de Senna. O seu patriotismo me comovia. Mesmo sem querer, lutando contra os meus próprios sentimentos, a emoção se apoderava da minha alma, quando via Ayrton Senna agitar a nossa bandeira, após ser o vencedor de uma corrida internacional. Um nó se formava na minha garganta e eu engolia a seco. Aquele rapaz modesto, erguendo a nossa bandeira, me devolvia o orgulho de ser brasileiro e conseguia tirar do meu coração, por alguns momentos, o ódio, a fúria, a revolta, que nunca deixei de alimentar contra os nossos políticos corruptos.
Ayrton Senna, nesses instantes, foi para mim a imagem do Brasil dinâmico, valente, idealista, vitorioso. Os dois se mesclavam, Senna e o Brasil. Ambos eram campeões, ou Senna era o Brasil e este era o Senna.
Quem poderia, como ele, encher o nosso peito de orgulho? O Antonio Rogério Magri, ex-ministro do Trabalho e da Previdência Social, que aceitou um suborno de 30 mil dólares? O deputado José Geraldo, do PMDB de Minas Gerais, que metendo a mão nos cofres públicos os criou três entidades sociais fantasmas, com sedes também fantasmas? O risonho, o vaidosíssimo Fernando Henrique Cardoso, deslumbrado presidente da Republica que entregou o Brasil aos agiotas do FMI e que não fez nada, absolutamente nada, em prol do seu país?
Esta gente sempre nos desiludiu. Mas Ayrton Senna estufava o nosso peito, fazia desabrochar em nossas caras, mesmo que não fosse na primavera, a nacarada flor do sorriso, da alegria apetecida. Ofertava esse prazer ao povo e ainda o socorria, pois só agora se sabe, depois de sua morte, que ele ajudou em segredo, às ocultas, deficientes físicos e entidades assistenciais. Deu milhares de dólares à Fundação Abrinq, à Associação de Assistência a Criança Defeituosa, ao Centro de Reabilitação do Hospital das Clinicas. Graças aquele piloto de ar tímido e gestos simples, máquinas caríssimas foram adquiridas no Exterior, como o aparelho Cybex, utilizado nas avaliações musculares. Com o dinheiro que ganhava nas pistas, arriscando a vida, Ayrton Senna patrocinou o tratamento de centenas de crianças carentes, portadoras de distúrbios cerebrais ou neurológicos.
Ele salvou a vida da jovem Regiane Maria dos Reis, que sofria de cirrose hepática crônica e necessitava urgentemente de um transplante de fígado. Os 65 mil dólares doados por Senna pagaram a operação da moça. E a sua bondade também favoreceu, no estado do Acre, uma instituição de assistência médica a índios e seringueiros, fundada pelo Chico Mendes. Inimigo do espalhafato, da caridade ruidosa e ostensiva, Senna exigia que essas ações jamais fossem reveladas.
Rapaz de olhar meio triste, Ayrton Senna declarava que durante as corridas, quase sempre, tinha o costume de conversar com Deus. Aliás, em 1988, após conquistar os seu primeiro título mundial no Japão, ele afirmou que havia contemplado Jesus Cristo num trecho do autódromo, antes do fim da prova. Leiam as suas palavras:
- Eu estava agradecendo a Deus pela vitória. Deus me presenteou. Era um presente enorme, essa vitória. Mesmo rezando eu estava superconcentrado, me preparando para uma curva longa, de 180 graus, quando vi a imagem de Jesus. Ele era tão grande, tão grande... Não estava no chão. Estava suspenso, com a roupa de sempre, e uma luz em volta. O seu corpo inteirinho subia para o céu, alto, alto, alto, ocupando todo o espaço. Eu vi essa imagem incrível, enquanto guiava o carro de corrida. Guiava com precisão, com força, com...
Ai, nesse momento, Ayrton Senna ficou mais emocionado, os seus olhos se umedeceram e ele acrescentou:
- É de enlouquecer, não é? É de enlouquecer...
Que moço estranho, o Ayrton Senna! Pairava no seu rosto a melancolia das criaturas que morrem cedo. Ayrton era um místico, um médium com o dom de ter visões, um ser repleto de bondade, de espiritualidade.
Agora eu o vejo como um espírito de luz, guiando no espaço negro da morte um belíssimo e resplandecente carro de corrida. Para onde vai esse carro etéreo, mais veloz do que os carros de corrida do nosso planeta? Vai em direção a Luz Suprema, à luz de todas as luzes, à luz que ressuscita os mortos e que se chama Deus. E de onde vem a força desse carro celestial do Ayrton? Vem de sua alma, da sua bondade, da sua piedade, da humana ternura do seu coração sensível e extremamente generoso...

A mocidade é bela, mas a desses cretinos é horrenda

No dia 10 de fevereiro de 2009, o calouro Bruno Ferreira, de vinte e um anos, do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Anhanguera, em Leme, no interior do estado de São Paulo, foi levado em coma alcoólico para a Santa Casa daquela cidade. Dezenas de veteranos, aos berros, ou melhor, aos zurros, no decorrer de um trote, agrediram Bruno e outros calouros com chibatadas, obrigando-os a comer ração de cachorro, a nadar numa lama fedorenta, a ingerir grande quantidade de vodca e cachaça, a tomar banho no meio de montes de estrume, de restos de animais mortos. Um espetáculo ignóbil, de pura selvageria, de legitimo sadismo.
Na Universidade Federal de Goiás, os veteranos também embebedaram os calouros. Depois puseram coleiras neles. Uma jovem de dezenove anos desmaiou, mergulhada na embriaguês. Foi conduzida às pressas, em agudo estado de coma etílico, para o Hospital de Urgência de Goiânia.
Priscila Muniz, grávida de três meses, caloura de dezoito anos, teve de ser internada num hospital da cidade de Santa Fé do Sul, a 625 quilômetros de São Paulo, após sofrer no trote queimaduras de segundo grau, tanto nas costas como nas pernas e nos braços. A veterana que a atacou, valendo-se de forte mistura líquida de tiner e creolina, é aluna do curso de Pedagogia, ambiciona ser professora... Ela se aproximou da vítima e garantiu:
-Se eu não pegar você agora, vou pegar amanhã.
Tentando escapar, Priscila respondeu que estava grávida, mas mesmo assim a cretina despejou o líquido. Atingida, bem queimada, a caloura começou a passar mal, a perder os sentidos, antes de ser atendida no pronto-socorro.
O trote violento, bárbaro, tornou-se instituição sagrada no Brasil, pois os que o praticam, na maioria das vezes, não são punidos. A lei não existe para esses criminosos sádicos.
Em 1999, o estudante Edison Tsung Chi Hsueh morreu afogado numa piscina na USP, durante um trote regado a álcool, maconha e lança-perfume. Vomitando insultos, palavrões, os veteranos do curso de Medicina dessa universidade, mais de cinquenta, atiravam os calouros na água e pisavam nas mãos dos que, agarrados às bordas da piscina, queriam sair. Edison, rapaz tímido, de pesados óculos de grau, não sabia nadar. Ao fazer a autópsia, os legistas não encontraram, no seu cadáver, vestígios de álcool ou de drogas.
O DHPP, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, investigou o caso. Logo veio a público um vídeo onde Frederico Carlos Jana Neto, o “Ceará”, sextanista do curso de Medicina, afirmou sorridente numa choperia, junto de vários amigos:
-Eu matei o japonês. Sim, eu matei o japonês que se afogou!
Interrogado pela polícia, ele disse:
-Juro, isto foi apenas uma brincadeira de mau gosto!
“Ceará” ficou quatro dias preso. Alunos e mestres da Faculdade de Medicina protestaram contra a sua detenção. Oito professores da USP o visitaram, hipotecando-lhe solidariedade.
Quatro veteranos, acusados de causar a morte de Edison, livraram-se da ação penal no ano de 2006, porque o Supremo Tribunal de Justiça trancou a ação, devido a “falta de justa causa para embasar a denúncia”.
Hsueh Feng Ming, engenheiro civil e pai do estudante Edison Tesung Chi Hsueh, perdeu a esperança de ver a condenação dos assassinos do seu filho e morreu de desgosto em 2008.
Amigo leitor, faço questão de salientar: rapazes como esses estudantes criminosos pensam que ser jovem é mostrar-se perverso, imbecil, débil mental. Não, seus idiotas. Ser jovem é agir como criatura inteligente, repleta de alma, de coração, de sentimentos nobres.
A mocidade é bela, mas a desses cretinos é horrenda

Sou, modéstia à parte, um escritor e jornalista superorganizado. Nunca abro a boca, nos debates dos programas de rádio ou de televisão, para falar sobre assuntos que não conheço. Já deixei nesses debates muita gente em situação difícil, pois estou extremamente bem informado. Documento tudo, posso provar tudo, graças às informações extraídas do meu rico arquivo, fruto de mais de quarenta anos de minuciosas pesquisas, de cuidadoso recolhimento de dados.
Adoto também esse método para escrever os meus livros e os meus artigos. Portanto o que vou informar aqui não pode ser posto em dúvida.
No ano de 1962, os veteranos de Medicina da PUC de Sorocaba, agarraram um calouro e o despiram. Em seguida ele foi colocado num barril cheio de água e volumosa quantidade cal. Consequência: o calouro morreu com a pele em fogo, toda queimada. E observem, os jovens cretinos que fizeram isto eram estudantes de Medicina! Imagine agora, amigo leitor, quantos pacientes eles mataram, se lograram concluir os seus cursos...
Em 1973, calouros da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz, de Piracicaba, foram obrigados a comer grama com urina de porco. Resultado: tiveram diarréias e vários pegaram graves infecções intestinais.
Em 1980, num trote, o jovem Carlos Alberto Sousa, por não permitir o corte dos seus cabelos, recebeu golpes nos rins, no estômago, no fígado, no peito. O agressor teve uma pena leve: apenas cinco anos de prisão.
Ainda em 1980, na Academia Militar de Realengo, do Rio de Janeiro, um calouro, depois de ser amarrado a trilhos de trem, sofreu um enfarte fatal.
Em 1992, surrado por veteranos do curso de Educação Física da Faculdade Maria Teresa, de Niterói, o calouro Roberto Alcântara de Oliveira quase perdeu a vida.
Em 1994, os veteranos queimaram vinte calouros com o corrosivo nitrato de prata, na Escola Técnica Conselheiro Antônio Prado (ETECAP), de Campinas.
Em 1997, desfigurado por socos e pontapés, a sangrar, o calouro Mário César Caliman tentou fugir do ataque dos veteranos, internando-se num matagal, onde aranhas venenosas o picaram, Submetido aos cuidados de médicos e enfermeiras de um hospital, Mário conseguiu sobreviver.
Em 2006, quinze veteranos da Universidade Federal de Uberlândia, forçaram um calouro a se deitar sobre um enorme formigueiro. O moço, sob centenas de picadas, ficou com o corpo todo ferido, inchado, ensanguentado. Dores insuportáveis o atenazaram no leito de um hospital, ele nem podia dormir. Dois dos seus agressores foram expulsos da universidade e treze ficaram suspensos por quatro meses. Pena leve...
A ferocidade dos jovens cretinos se expande de todas as maneiras. Orgulham-se de ser burros e perversos. As feras carniceiras – os tigres, os leões, os abutres, os crocodilos – são melhores do que eles, porque matam por imposição da lei da sobrevivência, mas os jovens cretinos ferem, espezinham, torturam, assassinam, por cálculo e sadismo, pelo exclusivo prazer de causar o mal.
Há poucos dias um estudante da Universidade Mackenzie agrediu sem nenhuma razão, no Jardim Guanabara de Campinas, o mendigo Irenaldo Onofre Salvador Júnior, homem fraco, doente, quase cego. O estudante raspou-lhe a cabeça, quebrou os seus dentes e encharcou as suas roupas com álcool.
Eu sinto pena do Brasil, ao olhar esses jovens degenerados. Poderemos confiar neles, quando se tornarem médicos, advogados, professores, engenheiros, políticos?
O poeta latino Ovídio escreveu estas palavras nas “Heroïdes”, coletânea de versos elegíacos:
“Ars fit, ubi a teneris crimen condiscitur annis” (verso 25 do capítulo IV).
É um verso que pode ser traduzido assim, de modo mais extenso:
“Quem desde os seus primeiros anos se acostuma com a maldade, faz logo do crime uma arte”.