Pergunto se Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita
presidenta do Brasil, ainda é marxista, deixou de ser adepta do filósofo alemão
Karl Marx, autor do revolucionário O capital. No transcorrer de uma
entrevista de Dilma, concedida ao semanário ISTOÉ (edição de 12-5-2010), um
jornalista indagou:
–A senhora é católica?
Ela respondeu:
–Sou. Quer dizer, sou antes de tudo cristã. Num segundo
momento sou católica. Tive minha formação no Colégio Sion (colégio de freiras,
em Belo Horizonte).
No dia 13 de novembro de 2008, coberta com um véu negro e
junto de Lula e da ex-primeira-dama, Maria Letícia, a filha do marxista Pedro
Rousseff visitou o papa Bento XVI. E também, durante a campanha eleitoral, ela
foi ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, o maior centro de peregrinação
católica do Brasil, onde rezou cheia de humildade.
O demônio da dúvida me perturba. Dilma já deu provas
suficientes de que tem fé, de que acredita em Jesus, em Deus? Ou ela fez tudo
isto apenas com o único objetivo de impressionar o eleitorado católico?
Apresentei estes fatos porque há uma oposição entre o
Marxismo e o Cristianismo. Geralmente quem é cristão não consegue ser marxista,
ou vice-versa. As duas doutrinas se repelem, não se misturam. Teólogo e
sociólogo, o padre Fernando Bastos de Ávila asseverou na sua obra Solidarismo,
publicada em 1965:
“Por várias razões, um cristão não pode aceitar a filosofia
comunista. Primeiro, porque o Marxismo é ateu, nega a existência de Deus. Para
o Comunismo, a origem de tudo é a matéria e tudo se explica pela evolução
dialética da matéria. Para ele, Deus é uma criação da alienação religiosa... A
segunda razão da incompatibilidade do Cristianismo com o Marxismo reside no
fato de que o materialismo comunista é um relativismo moral. Não existe para
ele uma moral absoluta, isto é, princípios morais válidos para todos os
tempos.”
A conclusão a que chegamos nos leva a estabelecer três
hipóteses. Primeira hipótese: Dilma era marxista e deixou de ser por causa da
sua fé em Cristo. Segunda hipótese: Dilma continua marxista, porém se mostra
cristã, a fim de receber o apoio do eleitorado católico. Terceira hipótese:
Dilma é ao mesmo tempo cristã e marxista, colocou num altar, lado a lado, Jesus
Cristo e Karl Marx, “o Alto Pastor do universal rebanho” e o barbudo filósofo
alemão atormentado por furúnculos nas nádegas, tão atormentado que escreveu
estas palavras numa carta enviada a Engels, no dia 13 de fevereiro de 1866:
“Ontem eu estava novamente por terra, porque rebentou um
velhaquíssimo furúnculo do lado esquerdo... Mas depois apareceu um novo
furúnculo, de modo que até agora não avancei... é preciso que eu possa pelo
menos estar sentado.”
Em 23 de agosto de 1867, numa outra carta para Friedrich
Engels, o sofrido Karl Marx declara:
“...seja como for, espero que a burguesia pense durante
toda a sua vida em meus furúnculos. Quão porcos e cães ele são, eis agora mais
uma prova!”
Não sei se Dilma Rousseff tomou conhecimento dos
persistentes furúnculos de Karl Marx, se chegou a pensar que esses antipáticos
nódulos doloridos talvez tenham contribuído para aumentar a ira do autor de O Capital
contra os industriais da Inglaterra, “sórdidos exploradores da martirizada
classe operaria”.
Encerro dizendo que Dilma, na primeira semana como
presidenta, fez esta mudança no seu gabinete: mandou retirar a Bíblia
da sua mesa e um crucifixo da parede, colocado por Lula. Após saber disso,
formulei duas perguntas a mim mesmo. Dilma, no fundo, bem no fundo, é atéia? Ou
é cristã, mas não quer que as coisas sagradas se embaralhem com a profanas?
Última hipótese: ela é agnóstica, só aceita os
conhecimentos obtidos pela razão, julgando inviável, por não ter um sólido
ponto de apoio, qualquer tese teológica e metafísica que sustente a existência
de Deus.