A
pior coisa que pode acontecer na carreira de um jornalista é divulgar
inverdades. Como escritor e jornalista sempre tive a preocupação de não mentir,
de apontar o erro, doa a quem doer. Nas minhas críticas jamais atingi a honra
alheia, pois evito o ataque pessoal, só me baseio em documentos, nos fatos que
não podem ser contestados. No meu livro “Vida e obra do plagiário Paulo
Francis”, por exemplo, mostrei o racismo e os plágios do Francis. Esta obra,
lançada pela Geração Editorial, já está na segunda edição e até o presente
momento não apareceu uma pessoa capaz de me dizer:
-
Fernando Jorge, você difamou o Paulo Francis!
Apresentar
a verdade com provas não é difamar, é ser sincero, honesto.
Pois
bem, agora vou desmentir a afirmativa do meu colega Alberto Dines, em cuja
terceira edição da sua biografia do escritor Stefan Zweig, publicada pela
Editora Rocco, declarou que a biografia de Santos Dumont, escrita pelo
americano Paul Hoffman, é “incômoda, porém correta”.
O
livro de Hoffman foi lançado em nosso país com o título “Asas da loucura”
(“Wings of Madness”, Editora Objetiva, 2004). Trata-se de uma biografia
desonesta, pois o autor garantiu, no capítulo 16, que Santos Dumont nunca
demonstrou interesse por mulheres. Aliás, Hoffman tenta provar o seguinte, a
todo custo e sem nenhum fundamento: o “Pai da Aviação" era efeminado, um
homossexual enrustido.
Sou
autor da biografia “As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont”, já na
quinta edição, um lançamento da Editora Novo Século. Tal obra me custou oito
anos de pesquisas e foi muito bem recebida pela grande imprensa. Não gosto de
me gabar, mas graças a esta minha biografia ganhei em 1973 a Medalha Pioneiros da
Aeronáutica, concedida pela Fundação Santos Dumont; o Medalhão Comemorativo do
Centenário do Nascimento de Alberto Santos Dumont, também em 1973, concedido
pelo Ministério da Aeronáutica; e neste ano de 2004 a Medalha Mérito Santos
Dumont, concedida pelo Ministério da Defesa, por intermédio do
tenente-brigadeiro-do-ar Luiz Carlos da Silva Bueno, comandante da
Aeronáutica.
Paul
Hoffman garantiu, repito, que o nosso inventor nunca demonstrou interesse
pelas mulheres. Mas eu provo na minha biografia: ele amou apaixonadamente uma
atriz francesa de certa projeção, com a qual chegou a viver algum tempo.
Depoimento de dois amigos seus: do mecânico André Gasteau e do comandante
Amadeu Saraiva.
Outra
mulher que apaixonou Santos Dumont: a jovem Yolanda Penteado, da alta sociedade
paulista. Quando a via, o aeronauta ficava elétrico. Conto isto na página 259
do meu livro. A mãe da jovem resmungava, ao ver o interesse de Dumont pela
filha:
-Esse velho, mais velho do
que eu, e namorando a minha filha, só porque pensa que voa!
Desejam
ver mais uma prova do interesse de Dumont pelas mulheres? Aí vai. Em 1926, ele
quis casar-se com a francesinha Janine Voisin, de 17 anos, filha do seu amigo
Gabriel Voisin, mas o pai da mocinha não permitiu o enlace, devido a diferença
de idade, pois Dumont já passava dos 50 anos.
Dumont
também se apaixonou por uma francesa casada, madame Lettelier, “fabulosamente
linda” e esposa do diretor do diário parisiense “Le Journal”. Ficou tão
apaixonado que quando voava punha em volta do seu pescoço uma fina e delicada
meia dessa francesa...
Concluindo,
amigo leitor, diga-me se não é desonesta a biografia do americano Paul Hoffman.
Como é que ele pôde afirmar que Santos Dumont nunca demonstrou interesse por
mulheres? E como o Alberto Dines teve a coragem de chamar essa biografia de
correta? Dines, por favor, seja mais cauteloso!
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Fernando Jorge é escritor e
jornalista, autor do livro "As lutas, a glória e o martírio de Santos
Dumont", já na 5ª edição, um lançamento da Editora Novo Século