O meu colega Diogo Mainardi, na revista “Veja”,
declarou que os paulistas se portaram como “fujões”, durante a Revolução
Constitucionalista de 1932. Esta afirmativa é um absurdo, uma infâmia. Diogo
Mainardi insultou todos os soldados constitucionalistas!
São Paulo porfiou bravamente, a epopéia que ele
esculpiu, nas páginas da nossa História, é imperecível, é tão soberba como a do
grego Leônidas e dos seus trezentos espartanos no desfiladeiro das Termópilas,
as “Portas Quentes” onde esses heróis tentaram deter o imenso exército de
Xerxes, o opulento e enfatuado soberano persa.
Pode-se
afirmar: São Paulo jamais vacilou ou esmoreceu na luta travada contra a
Ditadura. Daí o motivo de não aceitarmos este julgamento de Afonso de Carvalho,
no seu livro “Capacetes de Aço”:
“Mais tarde, quando a técnica militar fizer o
estudo sereno e imparcial da Revolução Paulista, há de reconhecer, por certo,
que o erro principal de São Paulo, com imediato e decisivo fracasso nas
operações militares, foi este: esperar. São Paulo ficou todo o tempo esperando
por alguma coisa, na antevisão de um messianismo redentor. Espera pelo Rio
Grande - e o general Waldomiro Lima atravessa Itararé e parte fundo até Buri.
Espera por Minas - e as tropas da 4ª DI tomam Guaxupé, Casa Branca, São José do
Rio Pardo e, prestes, batem às portas de Campinas. Espera por um novo golpe
pacificador na capital da República. Espera pelo senhor Artur Bernardes. Espera
pelo senhor Borges de Medeiros. Espera pelos navios que devem trazer armamento
da Europa. Espera pelos aviões, que devem vir da Argentina e do Chile. Espera
pelo Anti-Cristo. Nunca se esperou tanto no Brasil!”
Estas palavras são injustas. O erro fundamental
dos paulistas foi o de não terem, logo no início, avançado em direção ao Rio de
Janeiro, pois a investida dos rebeldes, na frente Norte, seria decisiva para
alcançar a vitória. É verdade que os constitucionalistas aguardavam o apoio de
Minas Gerais, de Mato Grosso e do Rio de Janeiro, sem falar das adesões de
outros estados. Mas depois que as esperanças se desvaneceram, e isto não tardou
a acontecer, São Paulo lutou com ardor e tenacidade. Fez um esforço prodigioso,
admirável sob qualquer aspecto: fabricou bombas, morteiros, canhões pesados,
granadas de mão, lança-chamas, máscaras contra gases, diversas espécies de
armas e munições. Todo o povo se ergueu, num magnífico gesto de desassombro:
velhos, jovens, mulheres, crianças, operários, industriais, senhoras da alta
sociedade. São Paulo movimentou-se, pelejou. A sua mocidade, ardente e
idealista, sacrificou-se em Cunha, Cachoeira, Túnel, Mogi, Eleutério, Lorena,
Silveiras, Rio das Almas, no Vale do Paraíba, nos ásperos grotões e
contrafortes da Mantiqueira. São Paulo não esperou, agiu. São Paulo não se
conservou imóvel como um faquir, mas viril, másculo, dinâmico, esplêndido,
resoluto, à semelhança daqueles guerreiros gauleses que, embora de modo desvantajoso, enfrentaram as invictas e compactas legiões romanas.
Ao São Paulo de 1932, ao São Paulo da Revolução Constitucionalista, aplica-se aquelas palavras que Rui Barbosa proferiu em
1919, quando respondeu às observações de um jornalista de “O Imparcial”:
“Porque não se luta só para vencer, luta-se também
para perder. E, às vezes, é mais nobre perder que vencer.”