José Sarney se vale, no seu poema “Maribondos de fogo”, das rimas fáceis e
dos recursos primários, com o propósito de impressionar o leitor. O resultado é
um desastre, como se vê na página 64:
“Ventos e ventas ardentes
Das minhas tardes videntes”
Puxa, então existem tardes que são videntes?
Tardes mães Diná? Quanto elas cobram por uma consulta? Cinqüenta ou cem reais?
Mas o cúmulo do destrambelho, no “poema" Os maribondos de fogo, aparece na página
50 dessa obra teratológica. Vejam, acreditem, na referida página o Sarney
compara as estrelas a vacas:
“As estrelas são vacas
que vagam e se perdem
nas enseadas da noite”
Bem, se são vacas, devemos pedir a todos
astronautas para levar imensas quantidades de capim ao espaço. Proponho,
transformemos o firmamento num infinito capinzal.
Eu indago, muito curioso: que espécie de capim
elas preferem? O capim-bobó? O capim-açu? O capim-gordura? O capim-guiné? O
capim-jaraguá? O capim-membeca? O capim-bambu? O capim-canudinho? O
capim-de-angola? O capim-elefante? O capim-limão? O capim-marmelada? O capim-de-burro?
O capim-barba-de-bode?
É de vital importância ficar conhecendo o tipo
de capim que as estrelas, ou melhor, as vacas do céu, gostam de devorar. Sim,
pois um desses capins, apenas um, pode ajudá-Ias a produzir mais leite. Aliás,
leite supersadio, espumante, saboroso, extraído das suas magníficas e adiposas
tetas.
Sou grato ao Sarney, pois eu, afundado na minha
infame ignorância, não sabia que as estrelas são quadrúpedes, as fêmeas dos
touros. E suplico, entreguem sem demora a ele o Prêmio Nobel. A sua descoberta
foi sen-sa-cio-nal, revolucionou a ciência cujo objetivo é revelar a natureza
dos astros e analisar as leis que os regem.
Inspirado na asnal (ou genial) descoberta
sarneyana, eu produzi estes versos, enquanto olhava, numa noite suavemente
romântica, a imensidão toda estrelada, ou melhor, toda avacalhada:
Estrelas,
estrelas!
Vocês são
vacas,
porém
vacas cintilantes
que no
céu sem fim,
comem muito
capim,
e que
brilham mais,
muito
mais
do que os
fúlgidos diamantes!
Eu e o
Sarney,
nunca
violamos a lei,
nem somos
pessoas velhacas,
por
chamá-las de vacas.
Adoramos
os seus mugidos
que soam
em nossos ouvidos,
como
doces melodias,
tocadas
pelo Messiasl
Os
astrônomos garantem:
o Sol é
uma estrela
cuja luz
é cor de ouro.
Mentira,
mentira,
isto
desperta a minha ira!
Eu e o
Sarney sabemos
que assim
como as estrelas
são
vacas,
ele, o
Sol,
é um
louro e lindo touro gay!
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Escritor
e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro “O Aleijadinho, sua vida, sua
obra, sua época, seu gênio”, cuja 7ª edição foi lançada pela Editora Martins
Fontes.