O
substantivo nepotismo se originou da
palavra nepote, que em latim é
"sobrinho". Alguns papas davam proteção especial aos seus sobrinhos,
fazendo-os príncipes, duques, bispos, cardiais, e por causa desse amparo nasceu
o referido substantivo, o qual agora designa na vida política o uso do dinheiro
público, das verbas do Estado, a fim de se efetuar a contratação de parentes.
Ficou
famoso em nosso país o nepotismo da oligarquia Acióli, do Ceará. Eu mostrei
como ele funcionou na minha obra Getúlio
Vargas e o seu tempo, lançada pela Editora T.A. Queiroz. Quem exercia as
funções de governador do Ceará, no ano de 1910, era o doutor Nogueira Acióli,
"o Babaquara". E o seu secretário do Interior se chamava José Acióli
A direção da Secretaria da Higiene Pública coube ao doutor Meton de Alencar,
cunhado de um filho de Acióli, e a da Inspeção Veterinária ao doutor Thomaz
Pompeu Filho, sobrinho de Acióli. Este também nomeou o marido de uma das suas
sobrinhas, o senhor Sebastião Araújo, para ocupar o cargo de diretor da Escola
de Aprendizes Artífices, e entregou o comando do Batalhão de Segurança ao seu
genro, o capitão Raimundo Borges. Um primo de Acióli, o deputado José Pinto,
dirigia os Correios.
Os
Aciólis se encontravam em toda parte, na Faculdade de Direito, na Escola
Normal, na Intendência Municipal, na Assembleia Legislativa do estado e até no
Senado da República. Se o amigo leitor quiser obter mais informações sobre
estes fatos, deve consultar o livro O
oligarca do Ceará - a crônica de um déspota, de Frota Pessoa, Obra
publicada em 1910 no Rio de Janeiro, pela tipografia do “Jornal do Commercio”.
Após
a queda de Getúlio Vargas, em outubro de 1945, a chefia do Poder Executivo caiu
nas mãos do doutor José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal.
Durante três meses, até a posse do general Enrico Gaspar Dutra na presidência
da República, o austero doutor Linhares não parou de dar empregos aos membros
de sua família. E ele era um juiz, um magistrado!
Forneceram
ótimos empregos às suas esposas, de acordo com as "belas tradições"
da oligarquia Acióli, os parlamentares Jackson Pereira, Ubiratan Aguiar,
Vicente Arruda e Salatiel Carvalho, todos do PSDB do Ceará, exceto o último.
São "maridos exemplares", não se pode negar...
Dois
parlamentares do Maranhão, da terra de José Sarney, nutrem grande amor por suas
filhas, Davi Alves da Silva, do PFL desse estado, obteve um cargo para a
senhorita Dilvana Souza Silva, e o senhor Costa Ferreira, do PMDB, abiscoitou
um outro para a sua querida Ana Ruth Ferreira... Oh, que coisa linda e
comovente, que pais meigos, repletos de ternura! Vou derramar algumas lágrimas
enternecidas ... Como é bom, fácil, prático e econômico, oferecer provas de
amor, de ternura, de amizade, de solidariedade, com a ajuda do dinheiro dos
trouxas, isto é, com o dinheiro público!
Condeno
os atos de nepotismo, aqui evocados. Acho imoral um deputado colocar parentes
no seu gabinete, como assessores, às custas do dinheiro do povo. Afinal de
contas, eleger um político não deve equivaler a arrumar um emprego para um
parente desse político... Quando vejo um deputado, nepotista, logo me vem à
memória aquela frase popular
"Mateus,
primeiro os meus, depois os teus!"