domingo, 23 de março de 2014

Carta para Dilma


Presidente Dilma Rousseff:

Isento de qualquer paixão política, sinto-me no dever moral de alertar a presidenta do meu país no sentido de aconselhar o Ministério da Cultura a não dar apoio financeiro a espetáculos teatrais que ferem os sentimentos cristãos do povo brasileiro. Refiro-me à peça Jesus Cristo Superstar, onde o Redentor é mostrado como amante de Maria Madalena, os apóstolos como bêbados, Judas como figura simpática, etc.

A peça irrita profundamente os católicos, os protestantes, os evangélicos, os batistas, os espiritas, que somados representam milhões de votos.

Foi um ato burro, cretino, do Ministério da Cultura, de fornecer o vultoso apoio financeiro de mais de 5 milhões de reais a essa blasfêmia. O procedimento do Ministério joga os cristãos contra o seu governo, prejudicando a sua pessoa, a sua segunda candidatura à presidência da República.

Junto a esta o artigo de minha autoria, já largamente divulgado numa grande rede de jornais.

 Fernando Jorge

domingo, 16 de março de 2014

O BODE VEREADOR


Diário do Nordeste
No ano de 1955, o eleitorado de Jaboatão, em Pernambuco, elegeu vereador um bode. O animal chamava-se Cheiroso e teve 460 votos, o dobro do que necessitava um cidadão daquele município para se eleger seu representante. Três anos depois, candidato à Câmara dos Vereadores de São Paulo, o rinoceronte Cacareco foi o mais votado. Em seguida, decorridos vários anos, o macaco Tião, do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, teve a sua candidatura fictícia lançada pelo também fictício PBB (Partido Bana­nista Brasileiro). E há pouco tempo, no Balneário Camboriú, de Santa Cata­rina, um cachorro de rua, o Sorriso, tornou-se candidato a deputado. O seu comitê de propaganda era dirigido pelo jornalista Nagel de Mello...

O eleitor desses lugares, bastante desiludido com a política, fez bem em votar num bode, num rinoceronte, num macaco e num cachor­ro. Votos do protesto, da revolta.

            É melhor eleger um bode do que certos cidadãos da nossa infeliz República. Lá no Nordeste o sertanejo costuma dizer:

            “Deus te dê o que deu ao bode: catinga, barba e bigode.”

Mas é mil vezes preferível o fedor do bode, a sua catin­ga, do que o cheiro nauseabundo da alma dos nossos políticos corruptos. Um esgoto furado não fede tanto como a alma podre desses canalhas.

É preferível votar num rinoceronte do que em certos fulanos da nossa infeliz República, porque ele, o rinoceronte, mamífero de pele espessa e dura, não sabe roubar. sabe roncar e comer capim. Além ser muito perigoso, esse bicho nunca meteu as suas patas no orçamento federal e o lesou.

É preferível votar num macaco do que em certos sujeitos da nossa infeliz República, porque o macaco, se sabe brincar, guinchar, pular de galho em galho, comer banana, fazer caretas, por outro lado não sabe trair, mentir e apoderar-se do dinheiro público, a fim de o esconder nos bancos da Suíça e nos paraísos fiscais. Viva pois o macaco e as suas macaquices! 

Abaixo o político corrupto e as suas canalhices! É preferível votar num cachorro do que em certos políticos cachorros da nossa infeliz Republica, porque ele, o cachorro, como disse Victor Hugo, é “a virtude transformada em animal”, e o político corrup­to é a podridão mais asquerosa transformada em gente. Aliás, chamar um des­ses crápulas de cachorro equivale a xingar os cães.

A safadeza de dezenas dos nossos políticos gerou estas palavras de Rui Barbosa:

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”

                Quando o povo decidiu votar nos animais evocados neste bate-papo, pelo menos não apoiou os patifes que ganharam milhões com obras superfaturadas. Juro, amigo leitor, prefiro ouvir os berros do bode, os bramidos do rinoceronte, os assobios do macaco, os uivos do cachorro, do que as palavras cínicas dos nossos políticos salafrários, exímios na arte de mentir, de enganar, de roubar, de afivelar no rosto a máscara da hipocrisia.

            Os fariseus da política brasileira falam como moralistas e agem como ladrões. Se exibissem no rosto as suas verdadeiras naturezas - a imundice de suas almas - os nossos estômagos ficariam embrulhados, vo­mitariamos de nojo.