domingo, 22 de abril de 2012

LAURO JARDIM DIVULGOU FATOS JÁ CONHECIDOS, COMO SE FOSSEM NOVIDADES SENSACIONAIS

Ri bastante com o procedimento do meu colega Lauro Jardim. Ele escreveu estas palavras na sua seção “Panorama – Radar”, da revista Veja: “Um Getúlio Vargas surpreendente emerge das páginas de Getúlio, o primeiro volume da trilogia que o jornalista Lira Neto lança pela Companhia das Letras em maio.” Após escrever isto, o meu colega acrescentou: “Uma das revelações do livro é o discurso de formatura do jovem Vargas, na Faculdade de Direito de Porto Alegre, em 1907. Ali, aos 25 anos, surge um Vargas seduzido pela filosofia de Nietzsche (‘esse alucinado genial’) e crítico à condição da mulher de então (‘amesquinhada, ser inferior, serpente tentadora do mal’)”. Dotados de excelente cultura, vários amigos meus se divertiram, quando leram as linhas acima. Um deles, o professor Luís Alberto Coutinho, de História do Brasil, fez diante dos seus alunos o seguinte comentário: -O senhor Lauro Jardim divulgou na seção “Panorama-Radar”, da revista Veja, fatos já conhecidos, como se fossem novidades sensacionais, pois o escritor Fernando Jorge, no segundo volume de sua obra Getúlio Vargas e o seu tempo, publicada com sucesso em 1994, portanto há mais de dezesseis anos, já havia narrado o que o Lira Neto contou. A obra de Fernando teve tanta repercussão, que ganhou o Prêmio Clio, da Academia Paulistana de História. E o professor leu, em voz alta, os trechos do meu livro nos quais evoco o discurso de formatura do moço Getúlio Dornelles Vargas, analisado por mim nas páginas 140, 141 e 142: “A cerimônia efetuou-se no salão nobre da Faculdade, em 25 de dezembro de 1907... O filósofo Nietzsche, na opinião de Getúlio, era um ‘alucinado genial’... Defende a mulher, não a considera um ser desprezível, a ‘serpente tentadora do mal’”... Luís Alberto Coutinho, tranquilo, continuou a ler para os seus alunos o texto que Lauro inseriu na seção “Panorama-Radar”, mostrando como novidade sensacional a mesma coisa já narrada por mim. Todos alunos riram, gracejaram. E um deles falou, repleto de ironia: -Roberto Civita, editor da Veja, e o Euripedes Alcântara, diretor de redação desse semanário, precisam aconselhar o Lauro Jardim a não divulgar fatos já conhecidos, como se fossem novidades sensacionais. Não fica bem numa revista séria e de categoria como a Veja, aparecer notícias velhas, sabidas por todos, à maneira de quem acha que está exibindo algo novo de grande importância... No encerramento da aula, o professor Luís Alberto Coutinho leu o epílogo do texto do Lauro Jardim, a respeito do livro de Lira Neto. Ainda julgando que ia divulgar uma bela novidade, um fato completamente desconhecido, o Lauro salientou: “Se hoje tal discurso (o da formatura de Getúlio) já causaria polêmica para um político, há 100 anos impediria qualquer carreira de decolar. Por isso os anos se passaram e Vargas trancafiou o libelo...” Depois Lauro informa que Alzira, a filha do gaúcho de São Borja, aconselhou a Fundação Getúlio Vargas a nunca divulgar o discurso: “Não pode e não deve ser publicado, sob hipótese alguma.” Lauro Jardim concluiu: “A orientação, ainda bem, não foi respeitada por Lira Neto”. Em frente dos seus alunos atentos, o professor Luís Alberto Coutinho pronunciou estas palavras: -Vejam agora, após eu ler um trecho do livro do Fernando Jorge, como o Lira Neto e o Lauro Jardim se especializaram no ofício de publicar notícias idosas, atacadas de reumatismo crônico. Os alunos – cabe aqui a vetusta expressão – riram a bandeiras despregadas. E com ar sarcástico o professor leu esta passagem da página 142 da minha biografia de Vargas: “Transcorridos mais de trinta anos, ao notar o interesse da filha Alzira pelo seu discurso de colação de grau, Getúlio declarou: -E agora não pode ser mais lido, quanto mais publicado.” Sentença do professor Luís Alberto Coutinho: -Tanto o Lira Neto como o Lauro Jardim, por divulgarem fatos superconhecidos, que pensam ser novidades sensacionais, parecem dois arrombadores de portas abertas... A gargalhada dos alunos estremeceu as vidraças da sala de aula. Uma até se partiu... Enviei uma carta ao Lauro, solicitando-lhe o obséquio de informar isto aos leitores da Veja: antes do Lira Neto, eu havia comentado o discurso de formatura do Getúlio, no meu livro de 1994. Lauro Jardim não me atendeu. Decerto raciocinou desta forma: -Se eu atender esse sujeito, a minha imagem na Veja poderá ficar danificada, pois fornecerei uma prova eloquente de ser um falso novidadeiro. Não quero arriscar-me. Que o Fernando Jorge vá para os confins do Inferno!