sexta-feira, 15 de abril de 2011

A bondade é a ponte de luz entre a lama da Terra e o Céu

A Bondade é a ponte de luz entre a lama da Terra e os páramos estelares, a escada argêntea que Jacó viu em sonhos, pela qual subiam e desciam anjos.
Um sacerdote quis incutir no coração de certo crente o sentimento da generosidade. Por isto começou a perguntar:
-Supõe, meu filho, que tu possuis duas casas e a igreja está na pobreza. Serias capaz de vender uma das casas para ajudar a tua igreja?
O crente respondeu:
-Sem dúvida, padre.
-E se possuísses duas fazendas, sacrificarias uma em favor da igreja, se preciso fosse?
-Claro, por que não?
O sacerdote prosseguiu:
-Se por acaso possuísses dois cavalos, não venderias um, doando o seu valor à Caixa de Socorro da igreja?
-Sim, sim, com toda certeza.
-Muito bem, meu filho. Mas se tivesses só duas vacas não venderias uma, a fim de auxiliar a igreja?
-Perfeitamente.
O religioso estava encantado com o espírito magnânimo do crente. De modo que voltou a indagar:
-Suponhamos que não possuísses senão duas cabritas. Venderias uma, para dar esmola à tua igreja?
-Isto não! – exclamou o crente – isto não!
-Estranho que negues uma cabrita em benefício da igreja – disse o padre, surpreso – foste tão generoso em sacrificar casa, fazenda, cavalo e vacas...
-O motivo – explicou o crente – é que eu não possuo nem casas, nem fazendas, nem cavalos, nem vacas. Tenho apenas duas cabritas!
Quanta gente é semelhante a este homem! Quanta gente só consegue ser generosa com aquilo que não tem! Mas na hora do desprendimento, da filantropia, quando se pede o mínimo sacrifício em prol de uma ação meritória, a boa vontade desaparece, evapora-se como fumaça, restando apenas os despojos inúteis das palavras vãs...
São João, o Esmoler, gostava de contar a história do senhor Pierre, um recebedor da fazenda pública que vivia em Alexandria. Funcionário endinheirado, nunca dava esmolas, repelindo os pobres com expressões ásperas.
Um mendigo, certa vez, perguntou aos companheiros:
-Qual de nós conseguiu receber esmolas do senhor Pierre?
Os infelizes se calaram. Um deles afirmou:
-Pois bem, irei à procura do senhor Pierre e me comprometo a obter uma esmola.
Tentaram dissuadi-lo. Mas ele se dirigiu à casa do mau cristão. Ao chegar encontrou o padeiro sobraçando uma cesta de pães. O senhor Pierre apareceu e o pedinte logo lhe solicitou uma “esmolinha, pelo amor de Deus”.
-Vagabundo – bradou o impiedoso – vá embora!
O mísero, porém, insitiu. Colérico, o senhor Pierre abaixou-se para apanhar uma pedra, a fim de jogá-la no desgraçado. Não a encontrando, agarrou um dos pães e o lançou à cabeça do importuno:
-Retira-te, sem vergonha!
O mendigo pegou o pão e escapuliu:
-Obrigado, senhor Pierre, obrigado! Que o bom Deus vos recompense pela esmola que acabais de me conceder!
À noite, o inclemente recebedor da fazenda pública teve um sonho tétrico. Havia morrido e achava-se no tribunal do Padre Eterno. Ecoava um côro lúgubre de vozes celestiais, enquanto o envolvia uma atmosfera pressaga. Enxergou em frente de si uma balança, cujo prato da esquerda continha todos os pecados da sua vida. Apavorado, ele os contemplava. O medo cresceu ao observar que não existia uma única obra louvável no prato direito. Jesus Cristo, ali perto, cercado de querubins, apresentava um rosto severo. Os arcanjos repetiam, tristemente:
-Não há nada para colocar no lado direito!...
O Altíssimo já ia pronunciar a fatídica sentença, quando surgiu um anjo:
-Esperai, Senhor, esperai! Desejo depositar uma coisa no lado direito da balança!
O serafim trazia o pão lançado pelo senhor Pierre na cabeça do mendigo. Entretanto o demônio, que estava presente, protestou:
-Como podeis colocar do lado direito um pão arremessado por ódio à cabeça de um pobre?
-Pouco importa – respondeu o anjo – ele largou esse pão ao desditoso que lhe evocara o nome de Deus.
E dizendo isto o pôs no prato vazio.
Maravilha das maravilhas! Este pequeno pão, sujo e amassado, fez desaparecer as obras malignas que repousavam à esquerda. No mesmo instante a balança inclinou-se do lado direito. O senhor Pierre mal pôde conter um grito de júbilo. Molhado de suor, despertou com os olhos cheios de lágrimas.
A partir dessa noite compreendeu o valor da esmola, transformando-se num homem caridoso.
Conhecem o caso verídico do menino inglês que legou, num testamento, os seus brinquedos a um amigo, pouco antes de falecer?
Aconteceu em Londres. O garoto Michael Leslie, de dez anos, acordou durante a noite e viu que seus pais adotivos estavam mortos, em consequência de terem inalado gás, uma vez que, por descuido, deixaram aberta a torneira do fogão. Meio tonto, o menino ainda conseguiu escrever um bilhete, onde declarou que ia morrer, razão pela qual deixava seus brinquedos ao colega de escola Roger Simpson.
Este acontecimento abalou a opinião pública. Todos se emocionaram com a trágica história dessa criança que prestes a abandonar o mundo não se esqueceu de executar um tocante ato de bondade.
Michael, procedendo desta forma, deu aos adultos uma singela e eloquente lição de amor ao próximo.
Quem se mostra caridoso não dá apenas. Recebe também, embora isto pareça paradoxal. Porque ao protegermos os deserdados da sorte, nossa alma se acrisola, purifica-se, perde as arestas. O Egoísmo, horrendo Narciso, foge do indivíduo solidário com a dor universal.
Algumas esmolas, em lugar de empobrecer, tornam mais rico o ofertante.
São Pedro, descrevendo Cristo ao centurião Cornélio, proferiu estas palavras simples e comoventes:
“Passou fazendo o bem”
Oxalá todos os homens pudessem ter na sepultura semelhante epotáfio!