O ator James Dean (1931-1955) personificou a juventude americana rebelde. Ele tinha duas paixões: amava os animais e as motocicletas. Crescera no Meio Oeste dos Estados Unidos, frequentando em Los Angeles a Universidade da Califórnia. Quem o incentivou a ser ator foi a professora Adeline Nall, que era uma frustrada atriz de arte dramática. James fez pontas nos filmes comerciais de TV e em Nova York se tornou aluno do prestigioso Actors Studio, onde Marlon Brando havia estudado.
Impressionada com o desempenho do rapaz na peça The immoralist, sucesso da Broadway em 1953, quando James se destacou no papel de um homossexual árabe, a Warner Bros Pictures, um dos maiores estúdios de Hollywood, resolveu contratá-lo. Então ele brilhou no filme East of Eden (“Vidas amargas”), de 1955, dirigido por Elia Kazan e baseado num best-seller de John Steinbeck. Nesse filme, James é o filho carente e atormentado de Raymond Massey.
Duas películas, do ano de 1955, aumentaram a sua fama: Rebel whithout a cause (“Juventude transviada”), do diretor Nicholas Ray, e Giant (“Assim caminha a humanidade”), do diretor George Stevens.
No mundo inteiro os jovens se identificaram com a inquietação, o inconformismo, o comportamento neurótico dos personagens cinematográficos de James Dean e isto o transformou num mito, no símbolo de uma geração inimiga dos valores convencionais.
Pouco tempo depois, a caminho da cidade de Salinas, o moço James Dean morreu num acidente automobilístico, pois em alta velocidade o seu Porsche Spyder se chocou contra outro carro.
A morte trágica desse ator lhe deu a aura imperecível de uma lenda, da mesma categoria das lendas que mais tarde iriam cercar os Beatles, os Rolling Stones, Janis Joplin, Jimi Hendrix, o festival de Woodstock.
Caro leitor, agora vou narrar uma coisa que é muito estranha.
Após o acidente, os destroços do automóvel de James Dean foram levados a uma oficina. O motor do veículo despencou sobre o mecânico e quebrou-lhe as duas pernas.
Um médico, em seguida, comprou o motor e o colocou num carro de corrida. Logo o médico faleceu.
Consertaram numa oficina o Porsche de James Dean. Sem demora, um incêndio destruiu a oficina...
Exposto na cidade de Sacramento, capital do estado da Califórnia, o automóvel fatídico caiu do suporte e quebrou a bacia de um rapaz.
Lá no Oregon, o caminhão que transportava o carro, depois de derrapar, arrebentou a vitrina de uma loja.
Finalmente, no ano de 1959, o Porsche partiu-se em onze pedaços, enquanto se achava assentado sobre suportes de aço.
Eu não alimento a menor dúvida: o automóvel no qual James Dean morreu, ficou possuído pelo demônio. Nunca devem descrer da crueldade deste os católicos, os protestantes, os evangélicos, os espíritas, porque essa criatura maligna existe e tem diversos nomes: Lúcifer, Tentador, Satanás, Excomungado, Pé-de-Pato, Bode-Preto, Cão Tinhoso, Bruxo do Inferno, Principe das Trevas, Espírito do Mal. Abram a Bíblia e leiam nos versículos 1 e 2 do capítulo terceiro do livro de Zacarias:
“Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do Senhor, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor.
Mas o Senhor disse a Satanás: o Senhor te repreende, ó Satanás, o Senhor que escolheu a Jerusalém, te repreende”...
Há na Bíblia outras referências ao demônio. Leiam, por exemplo, o versículo 26 do capítulo doze do Evangelho de São Mateus e o versículo 23 do capítulo três do Evangelho de São Marcos.
Ainda consoante a Bíblia, no capítulo quatro do Evangelho de São Mateus, o diabo tentou Jesus num monte bem alto e lhe ofereceu todos os reinos do mundo e a glória deles, proferindo estas palavras:
“Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.”
Jesus o repeliu, como alguém que esmaga uma víbora:
“Retira-te, Satanás, porque está escrito: ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto”.
O assassinato é um dos prediletos meios de ação do Porco Sujo. Ele é o “Senhor da Morte”, conforme salienta o versículo 14 do capítulo dois da Epístola aos Hebreus:
“...aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo”.
Examinem o começo do versículo 44 do capítulo oito do Evangelho de São João:
“Ele (o diabo) foi homicida desde o princípio...”
Assim como o demônio pode invadir uma casa, apoderar-se de uma alma, também é capaz de se instalar num automóvel e levar quem o dirige à morte. Creio que tal fato ocorreu com James Dean. Portanto, amigo leitor, convém em certas circunstâncias mandar benzer o seu carro ou exorcizá-lo.
sábado, 26 de fevereiro de 2011
domingo, 20 de fevereiro de 2011
UM LIVRO REPLETO DE ERROS DE PORTUGUÊS
Um livro de Paulo Coelho, intitulado O demônio e a srta. Prym está repleto de cacofonias, redundâncias, disparates, lugares-comuns, afirmativas absurdas, deficiências linguísticas, frases mal construídas e erros de regência verbal e colocação pronominal. Além disso, o escritor carioca não sabe inserir as vírgulas nos seus devidos lugares. Não sabe virgular. Também ignora que não se separa por vírgula o verbo do sujeito.
Mais do que o enredo anêmico, fragilíssimo, o que impressiona no livro é a enorme quantidade de solecismos, de erros de português. Examinemos alguns desses erros, apenas uma pequena parte. Já na página 35 encontrei este:
“...começou a rezar para sua avó, morta há algum tempo atrás...”
Eis aí uma expressão redundante. A ideia de passado está bem presente no verbo haver, não sendo necessário, portanto, o uso do advérbio atrás. Paulo Coelho repete o erro em outras páginas do livro:
“Há muitos anos atrás...” (página 36) – “Há três anos atrás...” (página 49) – “Há quatro dias atrás...” (página 58) – “...há milênios atrás” (página 60) – "Há três dias atrás..." (página 67).
Paulo não sabe usar a combinação da preposição em com o pronome demonstrativo aquele, na sua forma feminina, como se vê na página 37 de “O demônio e a srta. Prym”:
“De modo que resolveu matá-lo aquela mesma noite...”
A noite decidiu matar alguém, era uma criminosa? Se pudesse ser claro, correto, Paulo teria escrito assim:
“De modo que resolveu matá-lo naquela mesma noite...”
Monumental erro de concordância resplandece na página 121:
“Nada de apostas: aquele povo não merecia a fortuna que quase tiveram ao alcance das mãos.”
O verbo concorda com o sujeito em número e pessoa. É a regra geral, acima violada. Convido o amigo leitor para corrigir, junto de mim, a frase do Paulo Coelho:
“Nada de apostas: aquele povo não merecia a fortuna que quase teve ao alcance das mãos."
Paulo Coelho não conhece as regras básicas de colocação pronominal, é incapaz de meter o pronome se no seu devido lugar:
".. .desconhecendo que na maior parte das vezes comportam-se. . ." (página 23).
Eu e você, amigo leitor, vamos agora corrigir o autor de “O alquimista”:
“...desconhecendo que na maior parte das vezes se comportam...”.
Mas Coelho é teimoso, insistente e reincidente. Para ele o que não atrai pronome se:
“... o que mais temia transformou-se em realidade” (página 98) – "...há um momento em que um homem importante aproxima-se de Jesus" (página 138) – "E que, durante todos estes anos, tornou-se...” (página 160) – “... de modo que ninguém ali descobrisse que, em sua curta viagem até a cidade, transformara-se numa mulher rica”. (página 211).
Observem o cacófato da última frase: “numa mulher”. Aliás, na página 40 há este cacófato medonho: “uma maneira macabra”... É mamar demais, sem ter muito leite!
Aconselho a editora do Paulo Coelho a contratar um professor do nosso idioma para corrigir os gravíssimos erros de português desse escritor. Tais erros ensinam os seus leitores a falar errado, fazem a propaganda da ignorância.
Mais do que o enredo anêmico, fragilíssimo, o que impressiona no livro é a enorme quantidade de solecismos, de erros de português. Examinemos alguns desses erros, apenas uma pequena parte. Já na página 35 encontrei este:
“...começou a rezar para sua avó, morta há algum tempo atrás...”
Eis aí uma expressão redundante. A ideia de passado está bem presente no verbo haver, não sendo necessário, portanto, o uso do advérbio atrás. Paulo Coelho repete o erro em outras páginas do livro:
“Há muitos anos atrás...” (página 36) – “Há três anos atrás...” (página 49) – “Há quatro dias atrás...” (página 58) – “...há milênios atrás” (página 60) – "Há três dias atrás..." (página 67).
Paulo não sabe usar a combinação da preposição em com o pronome demonstrativo aquele, na sua forma feminina, como se vê na página 37 de “O demônio e a srta. Prym”:
“De modo que resolveu matá-lo aquela mesma noite...”
A noite decidiu matar alguém, era uma criminosa? Se pudesse ser claro, correto, Paulo teria escrito assim:
“De modo que resolveu matá-lo naquela mesma noite...”
Monumental erro de concordância resplandece na página 121:
“Nada de apostas: aquele povo não merecia a fortuna que quase tiveram ao alcance das mãos.”
O verbo concorda com o sujeito em número e pessoa. É a regra geral, acima violada. Convido o amigo leitor para corrigir, junto de mim, a frase do Paulo Coelho:
“Nada de apostas: aquele povo não merecia a fortuna que quase teve ao alcance das mãos."
Paulo Coelho não conhece as regras básicas de colocação pronominal, é incapaz de meter o pronome se no seu devido lugar:
".. .desconhecendo que na maior parte das vezes comportam-se. . ." (página 23).
Eu e você, amigo leitor, vamos agora corrigir o autor de “O alquimista”:
“...desconhecendo que na maior parte das vezes se comportam...”.
Mas Coelho é teimoso, insistente e reincidente. Para ele o que não atrai pronome se:
“... o que mais temia transformou-se em realidade” (página 98) – "...há um momento em que um homem importante aproxima-se de Jesus" (página 138) – "E que, durante todos estes anos, tornou-se...” (página 160) – “... de modo que ninguém ali descobrisse que, em sua curta viagem até a cidade, transformara-se numa mulher rica”. (página 211).
Observem o cacófato da última frase: “numa mulher”. Aliás, na página 40 há este cacófato medonho: “uma maneira macabra”... É mamar demais, sem ter muito leite!
Aconselho a editora do Paulo Coelho a contratar um professor do nosso idioma para corrigir os gravíssimos erros de português desse escritor. Tais erros ensinam os seus leitores a falar errado, fazem a propaganda da ignorância.
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
O CARRO CELESTIAL DE AYRTON SENNA
Apesar de não gostar de automobilismo, no qual enxergo uma loucura e não um esporte, eu admirava a coragem de Senna. O seu patriotismo me comovia. Mesmo sem querer, lutando contra os meus próprios sentimentos, a emoção se apoderava da minha alma, quando via Ayrton Senna agitar a nossa bandeira, após ser o vencedor de uma corrida internacional. Um nó se formava na minha garganta e eu engolia a seco. Aquele rapaz modesto, erguendo a nossa bandeira, me devolvia o orgulho de ser brasileiro e conseguia tirar do meu coração, por alguns momentos, o ódio, a fúria, a revolta que nunca deixei de alimentar contra os nossos políticos corruptos.
Sim, ele estufava o nosso peito, fazia desabrochar em nossas caras, mesmo que não fosse na primavera, a nacarada flor do sorriso, da alegria apetecida. Ofertava esse prazer ao povo e ainda o socorria, pois só agora se sabe, depois de sua morte, que ele ajudou em segredo, às ocultas, deficientes físicos e à entidades assistenciais. Deu milhares de dólares à Fundação Abrinq, à Associação de Assistência à Criança Defeituosa, ao Centro de Reabilitação do Hospital das Clinicas. Graças aquele piloto de ar tímido e gestos simples, máquinas carissimas foram adquiridas no exterior, como o aparelho Cybex, utilizado nas avaliações musculares. Com o dinheiro que ganhava nas pistas, arriscando sua vida, Ayrton Senna patrocinou o tratamento de centenas de crianças carentes, portadoras de distúrbios cerebrais ou neurológicos.
Ele salvou a vida da jovem Regiane Maria dos Reis, que sofria de cirrose hepática crônica e necessitava urgentemente de um transplante de fígado. Os 65 mil dólares doados por Senna pagaram a operação da moça. E a sua bondade também favoreceu, no estado do Acre, uma instituição de assistência médica a índios e seringueiros, fundada pelo Chico Mendes. Inimigo do espalhafato, da caridade ruidosa e ostensiva, Senna exigia que essas ações jamais fossem reveladas.
Rapaz de olhar meio triste, Ayrton Senna declarava que durante as corridas, quase sempre, tinha o costume de conversar com Deus. Aliás, em 1988, após conquistar o seu primeiro título mundial no Japão, ele afirmou que havia contemplado Jesus Cristo num trecho do autódromo, antes do fim da prova. Leiam as suas palavras:
-Eu estava agradecendo a Deus pela vitória. Deus me presenteou. Era um presente enorme, essa vitória. Mesmo rezando, eu estava super concentrado, me preparando para uma curva longa, de 180 graus, quando vi a imagem de Jesus. Ele era tão grande, tão grande... Não estava no chão. Estava suspenso, com a roupa de sempre, e uma luz em volta. O seu corpo inteirinho subia para o céu, alto, alto, alto, ocupando todo o espaço. Eu vi essa imagem incrível, enquanto guiava o carro de corrida. Guiava com precisão, com força, com...
Ai, nesse momento, Ayrton Senna ficou mais emocionado, os seus olhos se umedeceram e ele acrescentou:
-É de enlouquecer, não é? É de enlouquecer...
Que moço estranho, o Ayrton Senna! Pairava no seu rosto a melancolia das criaturas que morrem cedo. Ayrton era um místico, um médium com o dom de ter visões, um ser repleto de bondade, de espiritualidade.
Agora eu o vejo como um espírito de luz, guiando no espaço negro da morte um belíssimo e resplandecente carro de corrida. Para onde vai esse carro etéreo, mais veloz do que os carros de corrida do nosso planeta? Vai em direção à Luz suprema, à Luz de todas as luzes, à Luz que ressuscita os mortos e que se chama Deus. E de onde vem a força desse carro celestial do Ayrton? Vem de sua alma, da sua bondade, da sua piedade, da humana ternura do seu coração sensível e extremamente generoso...
domingo, 6 de fevereiro de 2011
JÂNIO QUADROS, NO PALÁCIO DA ALVORADA, FEZ O EMBAIXADOR DOS ESTADOS UNIDOS ENTRAR NO SEU GUARDA-ROUPA!
Fiz esta pergunta a Jânio Quadros, durante um dos meus almoços com ele, na sua casa da rua 9 de Julho, em Santo Amaro:
-Houve muita pressão dos Estados Unidos para o senhor apoiar a ação armada que o governo do presidente Kennedy planejava contra Cuba?
Eufórico, com o rosto mais vermelho, Jânio Quadros fitou-me. Bebeu um pouco de vinho e de modo desembaraçado, às vezes escandindo as sílabas de algumas palavras, começou a rememorar:
-Um mês depois da minha posse na presidência da República, nos fins de fevereiro de 1961, desembarcou em Brasília o Adolfo Berle Jr. Este, no ano de 1945, como embaixador dos Estados Unidos, havia contribuído para a derrubada do Estado Novo, da ditadura de Getúlio Vargas, mas eu jamais iria tolerar qualquer interferência do governo norte-americano em nossa política interna. Nem quis recebê-lo, pois não ignorava que o seu plano consistia em forçar o Brasil a participar de uma ação jurídica e diplomática cujo objetivo era legalizar a intervenção direta dos Estados Unidos em Cuba, como aconteceu na Coréia e no Congo, sob os auspícios da OEA e da ONU.
Indaguei, repleto de curiosidade:
-E de que maneira o senhor descascou o pepino?
-Eu não o descasquei. Quem o descascou foi o Afonso Arinos de Melo Franco, o meu ministro das Relações Exteriores, a quem incumbi de falar com o Berle. O enviado de Kennedy, vendo que não conseguia nada, pediu socorro ao John Moors Cabot, embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Cabot, na ânsia de agradar o Berle e o Kennedy, ousou interferir em nossa vida política.
-Bem, e aí, o que o senhor fez?
-Impaciente, fervendo de indignação, mandei chamar o John Moors Cabot. Ele, muito sem jeito, entrou no meu gabinete. Decerto já sabia que eu me achava bem informado sobre o seu vil procedimento. Sentou-se na minha frente, diante de uma mesa baixa, e fui direto ao assunto: “embaixador Cabot, o senhor é o representante de um país com o qual a minha pátria, o Brasil, mantém tradicionais laços de amizade, desde a época de Tiradentes, mas agora o senhor não está se comportando bem!”
-O senhor teve a coragem de dizer isto?
-Sim, é claro, pois era a pura verdade!
-E ele, qual foi a sua reação?
-Ficou pálido. Eu o encarei de modo firme, sem desviar o meu olhar irado dos seus olhos, enquanto lhe dizia: “o senhor está metendo o bedelho em nossa vida política. Asseguro, o senhor não tem o direito de fazer isto, assim como o nosso embaixador em Washington não tem o direito de interferir nos assuntos internos dos Estados Unidos”.
-E aí, presidente, o que ele disse?
-Nervoso, a gaguejar, quis me contradizer. Reagi: “não, não, não, o senhor não me desminta, eu posso apresentar as provas! Vou adverti-lo, ou o senhor pára de meter o bedelho em nossa vida política, ou serei obrigado, para o bem dos tradicionais laços de amizade entre o Brasil e os Estados Unidos, a pedir ao seu governo a sua substituição por outro embaixador. Escolha”.
-E como acabou o encontro, presidente?
-Levantei-me e o despedi, sem lhe apertar a mão. Ele estava tão nervoso, tão atarantado, que em vez de sair pela porta do gabinete, entrou no meu guarda-roupa!
Eu e a dona Eloá rimos a valer, provocando os latidos dos três cães do casal.
_______________________________________________________
Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, lançado pela Editora Novo Século
-Houve muita pressão dos Estados Unidos para o senhor apoiar a ação armada que o governo do presidente Kennedy planejava contra Cuba?
Eufórico, com o rosto mais vermelho, Jânio Quadros fitou-me. Bebeu um pouco de vinho e de modo desembaraçado, às vezes escandindo as sílabas de algumas palavras, começou a rememorar:
-Um mês depois da minha posse na presidência da República, nos fins de fevereiro de 1961, desembarcou em Brasília o Adolfo Berle Jr. Este, no ano de 1945, como embaixador dos Estados Unidos, havia contribuído para a derrubada do Estado Novo, da ditadura de Getúlio Vargas, mas eu jamais iria tolerar qualquer interferência do governo norte-americano em nossa política interna. Nem quis recebê-lo, pois não ignorava que o seu plano consistia em forçar o Brasil a participar de uma ação jurídica e diplomática cujo objetivo era legalizar a intervenção direta dos Estados Unidos em Cuba, como aconteceu na Coréia e no Congo, sob os auspícios da OEA e da ONU.
Indaguei, repleto de curiosidade:
-E de que maneira o senhor descascou o pepino?
-Eu não o descasquei. Quem o descascou foi o Afonso Arinos de Melo Franco, o meu ministro das Relações Exteriores, a quem incumbi de falar com o Berle. O enviado de Kennedy, vendo que não conseguia nada, pediu socorro ao John Moors Cabot, embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Cabot, na ânsia de agradar o Berle e o Kennedy, ousou interferir em nossa vida política.
-Bem, e aí, o que o senhor fez?
-Impaciente, fervendo de indignação, mandei chamar o John Moors Cabot. Ele, muito sem jeito, entrou no meu gabinete. Decerto já sabia que eu me achava bem informado sobre o seu vil procedimento. Sentou-se na minha frente, diante de uma mesa baixa, e fui direto ao assunto: “embaixador Cabot, o senhor é o representante de um país com o qual a minha pátria, o Brasil, mantém tradicionais laços de amizade, desde a época de Tiradentes, mas agora o senhor não está se comportando bem!”
-O senhor teve a coragem de dizer isto?
-Sim, é claro, pois era a pura verdade!
-E ele, qual foi a sua reação?
-Ficou pálido. Eu o encarei de modo firme, sem desviar o meu olhar irado dos seus olhos, enquanto lhe dizia: “o senhor está metendo o bedelho em nossa vida política. Asseguro, o senhor não tem o direito de fazer isto, assim como o nosso embaixador em Washington não tem o direito de interferir nos assuntos internos dos Estados Unidos”.
-E aí, presidente, o que ele disse?
-Nervoso, a gaguejar, quis me contradizer. Reagi: “não, não, não, o senhor não me desminta, eu posso apresentar as provas! Vou adverti-lo, ou o senhor pára de meter o bedelho em nossa vida política, ou serei obrigado, para o bem dos tradicionais laços de amizade entre o Brasil e os Estados Unidos, a pedir ao seu governo a sua substituição por outro embaixador. Escolha”.
-E como acabou o encontro, presidente?
-Levantei-me e o despedi, sem lhe apertar a mão. Ele estava tão nervoso, tão atarantado, que em vez de sair pela porta do gabinete, entrou no meu guarda-roupa!
Eu e a dona Eloá rimos a valer, provocando os latidos dos três cães do casal.
_______________________________________________________
Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, lançado pela Editora Novo Século
Assinar:
Postagens (Atom)