O livrinho não parece uma biografia. Parece uma obra de ficção, uma novela mal estruturada. É por isto que eu chamo o imaginoso Paulo Eduardo Nogueira de ficcionista. Imaginoso porque no seu livrinho Paulo Francis – polemista profissional, lançado pela Imprensa Oficial de Estado de São Paulo, ele biografou um Francis bonzinho, de excelente caráter, que nunca existiu, a não ser na sua fantasia. Aliás, o Francis não era polemista profissional e sim um xingador profissional. Mostrava-se exímio na arte sórdida de achincalhar as pessoas. Investia contra as honras alheias, covardemente, protegido por longa distância, a salvo dos revides imediatos, dos murros dos ofendidos, pois morava em Nova York. Devido aos seus insultos, às difamações que ia expelindo como o vômito de uma hiena fedorenta, ele foi esbofeteado pelo escritor Guilherme Figueiredo num restaurante e pelo ator Adolfo Celi no palco do teatro Aurimar Rocha, diante de uma platéia lotada, lá no Rio de Janeiro.
O ator Paulo Autran, fiel amigo da atriz Tônia Carrero, vítima das infâmias do Paulo Francis, quando viu este na entrada de um teatro, aproximou-se dele e escarrou na sua cara. Paulo Francis não reagiu, aceitou a merecida cusparada... É um depoimento da atriz Cacilda Becker.
Após ler o meu livro Vida e obra do plagiário Paulo Francis – O mergulho da ignorância no poço da estupidez, publicado pela Geração Editorial, a jornalista Irene Solano Vianna, editora da Folha de S.Paulo, afirmou o seguinte num artigo, ao comentar essa minha obra:
“O sr. Paulo Francis escrevia mal, plagiava sobretudo citações e ideias, errava feio nas ostentações de sua pseudo cultura. E o mais grave de todos os pecados, não tinha compromisso algum com a exatidão dos fatos, ou respeito pela honra e dignidade alheias”.
Veja, amigo leitor, é este o Paulo Francis que o ficcionista Paulo Eduardo Nogueira admira com entusiasmo, é este o Paulo Francis que era “jornalista” entre aspas, desonesto, caluniador, racista, incapaz de escrever de forma simples e correta, larápio literário descarado, plagiador das frases de Shakespeare, James Baldwin, Winston Churchill, Dostoievski, Albert Einstein, Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Roberto Campos, Artur Azevedo, Sérgio Porto, Ibrahim Sued, etc, etc.
Sustento, a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, dirigida pelo competente Hubert Alquéres, não devia ter lançado o livrinho do ficcionista Paulo Eduardo Nogueira sobre o difamador Paulo Francis. A senhora Cecília Scharlach, coordenadora editorial, e a senhora Viviane Vilela, assistente editorial, são profissionais de valor e tiveram de cuidar – sinto pena delas – de uma obra falsa, aleijada, muito defeituosa e lacunosa. Ambas cometeram o ato heróico de ler o texto indigesto do ficcionista Paulo Eduardo Nogueira. Livrinho anêmico, capenga, arrasado pelo jornalista Luís Eblak, que escreveu estas palavras num artigo publicado na edição do dia 22 de maio de 2010 da Folha de S.Paulo:
“A principal falha do biógrafo, porém, é não dialogar com outros livros sobre Francis. Nogueira só cita em poucas linhas um livro que deveria ser mais bem explorado: Vida e obra do plagiário Paulo Francis (1997), de Fernando Jorge. A obra de Jorge é a grande crítica publicada em livro durante a vida de Francis”.
Paulo Eduardo Nogueira, nas páginas 83 e 84 do seu livrinho caolho, daltônico e manquitola, declara que o meu livro pretendia provar que Paulo Francis era racista, ignorante, plagiário. Vou corrigir o ficcionista Nogueira: pretendia não, eu provei, senhor ficcionista. E provei de tal modo que o senhor é incapaz de garantir que eu menti. Prove, vamos!
Querendo fazer pouco caso do meu livro, o ficcionista Nogueira acrescentou:
“Acuado pelo processo judicial, Francis comentou com amigos e familiares que a Petrobras estava por trás da publicação, para desmoralizá-lo. Jamais leu o livro ou pensou em medidas judiciais contra o autor (Fernando Jorge). Recebeu apenas uma cópia de uma resenha, enviada por amigos, mas jogou-a no lixo sem lê-la, dando de ombros”.
Desfechei uma retumbante gargalhada, ao ler estas linhas. Quanta mentira! A Petrobras nunca me financiou. E se o Paulo Francis ousasse processar-me, iria perder de maneira estrondosa. Outra coisa, ele leu o meu livro sim, eu soube por intermédio de uma fonte idônea. Na opinião do jornalista Alberto Dines, expressa numa entrevista concedida ao Correio Popular de Campinas, o meu livro, e o processo da Petrobras contra o Francis, causaram a sua morte. Verdade ou exagero? Se é verdade, sou o pai do “primeiro livro assassino do mundo” e mereço aparecer no Guinnes, o livro dos recordes...
No próximo bate-papo exibirei uma prova indestrutível do racismo do Paulo Francis, do seu ódio contra os negros, os nordestinos. Acertou em cheio o estadista, ensaísta e filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626), quando escreveu esta frase nos seus Essays:
“Não há prazer comparável ao de pisar firme no vantajoso terreno da verdade”
(“No pleasure is comparable to the standine upon the vantage ground of truth”)
O ficcionista Paulo Eduardo Nogueira, no seu livrinho sobre Paulo Francis, não quis frisar que em outubro de 1996, no programa de televisão Manhattan Connection, o leviano e destabocado Francis, sem apresentar nenhuma prova, acusou Joel Rennó, presidente da Petrobras, e os outros diretores dessa empresa, de terem “formado a maior quadrilha de assaltantes do Brasil”. Que fez o senhor Joel Rennó, de forma correta? Entrou na Justiça americana com um pedido de indenização de 100 milhões de dólares. Paulo Francis tremeu, apavorou-se. E Sônia Nolasco, sua esposa, disse que o processo da Petrobras era “sórdido”. Eu pergunto: sórdido por quê? Então qualquer fulano tem o direito de achincalhar uma honesta e poderosa empresa do nosso país, cobrindo-a de lama podre, prejudicando-lhe a reputação? Isto deve ser aceito? E fato incrível, o jornalista Elio Gaspari hipotecou solidariedade ao difamador!
Paulo Eduardo Nogueira distorceu a verdade. Tentou exibir o Paulo Francis como vítima, porém se houve uma vítima, esta foi a Petrobras, acusada, sem qualquer prova, de estar agindo como uma bandida!
Nogueira se mostra tão cego diante do Francis, que nas páginas 77 e 78 do seu livrinho falso, omisso, procurou provar, sem conseguir, que ele não era racista ou preconceituoso. Era sim! Vou agora descrever um episódio nojento da vida do Paulo Francis, revelador do seu racismo empedernido, tão desumano como o sádico racismo dos nazistas em relação aos judeus.
Quando o meu livro Vida e obra do plagiário Paulo Francis foi lançado no ano de 1997, pela Geração Editorial, três meses antes da morte do Francis, a sucursal do Jornal do Brasil, aqui em São Paulo, convidou-me para dar uma entrevista. Fui à sucursal e lá o repórter Júlio Fonseca me disse:
-Trabalha aqui um fanático admirador do Paulo Francis. Desejo apresentá-lo ao senhor.
Eu respondi:
-Não faça isto. O meu livro é contra o Francis e talvez esse homem queira me agredir. Ai vou revidar, pois não sou covarde. Vai ser muito desagradável.
O jornalista me tranquilizou:
-Não se preocupe. Ele é calmo, bem educado.
Fiquei inquieto. Afinal de contas, se o sujeito era um fanático admirador do Francis, o seu fanatismo não podia combinar com tranquilidade... Logo surgiu na minha frente um homem de cor, baixo, atarracado, nordestino. Dirigindo-se a mim, perguntou:
-É o senhor que escreveu um livro contra o Paulo Francis?
Preparei-me para reagir, disposto a lhe aplicar um rabo-de-arraia, se ele avançasse contra mim. Sou capoeirista. Explico, o rabo-de-arraia é o golpe certeiro com o qual o capoeirista arremessa o corpo, num rápido movimento giratório, e joga a perna na direção das pernas do adversário, cortando-as por baixo e atingindo-lhe a cabeça. Mas não foi preciso, o homem sorriu de maneira doce e soltou estas palavras:
-Se o senhor escreveu um livro contra o Paulo Francis, eu agradeço, fico feliz. Odeio o Francis.
-E por que o senhor o odeia?
Ele informou:
-O meu nome é Sebastião Ferreira da Silva. Todos aqui no Jornal do Brasil me chamam de Ferreirinha. Nasci em Pernambuco e trabalhava como motorista para a Folha de S.Paulo. Um dia o meu chefe me disse: olhe, o Paulo Francis veio de Nova York e você, amanhã, deve ir ao seu apartamento para o levar aonde ele quiser.
Algo emocionado, o Ferreirinha fez uma pausa e prosseguiu:
-No dia seguinte, às onze horas da manhã, fui lá no apartamento do Francis. Ele estava sentado num sofá e quando me viu, falou assim: você já chegou meu escravo?
-Ele o chamou de escravo?
-É, ele me chamou de escravo. Eu respondi: olhe, doutor, não sou escravo de ninguém. Ai ele respondeu: é meu escravo sim, porque você é preto, nordestino, pernambucano.
-E o senhor, o que fez?
-Respondi: não sou seu escravo. Mas ele insistiu: é meu escravo sim, porque eu sou branco e você pertence a uma raça inferior, que só existe para obedecer a nós, os brancos, de raça superior.
-O Francis não estava bêbado ou drogado?
-Não, não estava. Durante os quinze dias em que ele ficou aqui, só me chamava de escravo. Na frente dos outros não fazia isto. Eu protestava. Ele dizia: se está achando ruim, faço você perder o seu emprego.
-Depois, o que aconteceu?
-O meu chefe me chamou, após alguns dias, e me disse: amanhã o Paulo Francis vai voltar para Nova York. Vá lá no apartamento dele, a fim de levá-lo até o aeroporto e pegar as suas várias malas de lona. Eu não quis ir e falei pro meu chefe: tô cansado de ser humilhado, não vou, mas ele disse que eu tinha de ir.
-E o senhor foi?
-Fui. Quando cheguei lá, o Paulo Francis, sentado no sofá, logo me disse: você já chegou meu escravo? Respondi: é melhor o senhor parar com isto, hoje não estou com a cabeça boa, a minha cuca tá quente. Aí ele gritou: cala a boca, escravo, senão eu faço você perder o seu emprego!
-E aí, o que houve?
-Aí, doutor, eu perdi a cabeça. Avancei na direção dele, cuspi na sua cara e xinguei o Francis de f. da p., sem parar. Depois, com a ponta do meu sapato bicudo, arrebentei com pontapés as suas doze malas de lona. Ele gritava, parecia um doido. Antes de ir embora, cuspi mais uma vez na sua cara, bati a porta do seu apartamento com toda a minha força e ele ficou lá sozinho, berrando como um bezerro desmamado.
-O senhor perdeu o emprego de motorista da Folha de S.Paulo?
-Não, mas fui transferido para outro setor...
Eis aqui a prova indestrutível, meus amigos, do racismo do Paulo Francis, do seu ódio aos pretos, aos nordestinos. Racismo e ódio que o ficcionista Paulo Eduardo Nogueira, num livrinho clorótico, farisaico, repleto de lacunas, não quis ver.
Endereço do Ferreirinha, no nordestino Sebastião Ferreira da Silva, prova viva, grande vítima do racismo do ídolo do ficcionista Nogueira: Parque Cecap, Bloco 13, apartamento D21, Condomínio Paraná, Guarulhos, São Paulo, CEP: 07190-905
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Fernando Jorge é escritor e jornalista, autor do livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, lançado pela Editora Novo Século