sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Luís Schwarcz é vítima do seu Departamento Editorial

Estou impressionado com o desleixo, a incompetência, a leviandade, a desorganização, a falta de cultura, de sensatez, do Departamento Editorial da Companhia das Letras, do talentoso Luís Schwarcz, no qual vejo sobretudo o escritor e não o editor. A sua editora está sendo muito prejudicada por esse departamento. Agora pude compreender porque vários livros da Companhia das Letras se mostram com enorme carência de vírgulas, de frases corretas, bem construídas, e repletos de gravíssimos erros de português. Já anotei dezenas desses erros. Posso provar.
Luís Schwarcz precisa reorganizar, o mais depressa possível, o seu departamento editorial, pois se não proceder assim, a sua editora vai ficar bastante vulnerável.
Inocente Luís Schwarcz! Ele me dá até a impressão de ser um meigo cordeirinho de presépio, no meio de pastores tontos, desorientados! A rigor, o Luís é uma crédula vítima das lacunas, do despreparo, do apedeutismo de gente que troca as mãos pelos pés e cujas cabeças, se fossem cortadas, subiriam aos ares como balões, perder-se-iam nas alturas.
Recebi do Luís (escritor de talento, reafirmo), três livros de sua autoria, com dedicatórias. Para retribuir a gentileza, enviei-lhe a sexta edição do meu vitorioso romance satírico “O grande líder”, reeditado pela Geração Editorial, também com dedicatória. O que fez o desastrado Departamento Editorial da Companhia das Letras? Não entregou o meu livro ao Luís Schwarcz, pensando que eu queria vê-lo relançado pela Companhia! O Luís, coitado, gasta o seu dinheiro com esses zonzos, especializados em confundir, embaralhar, fazer saladas não de alface mas de besteiras, de cretinices, de disparates.
Telefonei para o babélico Departamento e um fulano me atendeu. Educadamente expliquei ao fulano que o meu livro “O grande líder” foi enviado ao escritor Luís Schwarcz e não ao caótico Departamento Editorial da Companhia das Letras. Eu o mandei para o escritor Luís Schwarcz e não para o editor, sem lhe pedir nada. Pura e desinteressada gentileza de um escritor em relação a outro escritor. Eis a resposta idiota que ouvi:
-Houve confusão, um mal-entendido. O Departamento achou que era para reeditar.
Eu não me contive:
-Quanta estupidez! Não pedi nada a vocês!
Desliguei o telefone e após ver o imbróglio do desorganizado departamento, dirigido pela senhora Bagunça, lembrei-me das seguintes palavras do capítulo CXXIII do romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis:
“A confusão era geral”.
E Rui Barbosa estava certo:
“Eu acho que a desorganização é o estado da anarquia. O nosso corpo se anarquiza muitas vezes nas suas funções e a medicina pode ainda acudir em tempo de vencer; quando a desorganização começa, a vida está comprometida em seus elementos principais e as forças humanas já não valem para debelar a catástrofe”.
(“Obras completas” de Rui Barbosa, volume XLVI, tomo II, página 37).
Inspirando-me no texto do imortal baiano, eu aconselho o Luís Schwarcz a eliminar a doença do seu Departamento Editorial. Sabem o nome da moléstia que o atinge? Ela tem dois nomes: Incompetência e Desorganização. Aja como um bom cirurgião, Luís, arranque desse organismo bem enfermo os órgãos profundamente lesados por uma crônica e incurável estupidez. E memorize este provérbio latino:
Aerogroto mortuo sero venit medicus
(“Tarde vem o remédio, depois que o doente morreu”)
Vou apresentar, no fim deste meu comentário, outra prova eloquente da incompetência do Departamento Editorial da Companhia das Letras. A “Folha de S.Paulo”, na sua edição do dia 21 de abril de 1999, revelou que esse departamento havia recebido, seis meses antes, uma novela intitulada “Casa Velha”, sem o nome do autor. O departamento não quis apurar de quem era a novela, rejeitou-a de maneira sumária. Pois bem, a referida obra, esclareceu a “Folha de S.Paulo”, é de Machado de Assis, e foi publicada no jornal “A Estação” do Rio de Janeiro, de janeiro de 1885 a fevereiro de 1886...
Que imensa ignorância! Vejam como é incomensurável a cegueira mental do pretensioso departamento. Preciso dizer mais alguma coisa? Não, é o suficiente.
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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro “Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido”, lançado pela Editora Novo Século