Rosas... Todas as almas sensíveis amam as rosas. Elas são o símbolo dos sentimentos nobres, puros, verdadeiros, dos sentimentos que não nascem no abismo da mentira, da hipocrisia e da traição, mas sim no jardim esplendidamente florido do amor, do carinho e da sinceridade. Jardim do mundo espiritual, onde as víboras não rastejam. Talvez andem nesse jardim, repleto de rosas deslumbrantes, as almas boas dos que sofreram muito aqui na Terra.
Narra uma lenda chinesa: as rosas brancas abrem o chão onde lançamos os maus pensamentos; as amarelas secam as lágrimas dos incompreendidos, dos injustiçados, dos sofredores; as vermelhas escancaram as portas magníficas da alegria e da esperança.
Tanto Homero como Anacreonte enalteceram a rainha das flores – a rosa – essa flor que brota no meio de espinhos, porque todas as coisas raras, sutis, preciosas, nascem entre mil perigos, entre mil dificuldades. A soberana das flores apareceu, segundo Anacreonte, no momento em que Vênus surgia das águas do mar, quando a alva espuma do corpo perfeito da deusa, a escorrer devagarinho, transformava-se em rosas de uma brancura imaculada.
Cleópatra, querendo seduzir Júlio César, forrou os ladrilhos de sua sala de banquetes com espesso tapete de pétalas de rosas. Mais tarde, em outra ocasião, ofereceu a Marco Antônio uma coroa de rosas, porém envenenadas, a fim de provar isto: ela poderia matá-lo, sem gerar a menor desconfiança no espírito do cônsul romano.
Santa Radegonda, ao homenagear o poeta Fortunato com uma ceia no seu mosteiro de Poitiers, mandou substituir a toalha de mesa por uma camada de pétalas de rosas. A santa agiu de modo correto, pois as pétalas dessa flor são tão delicadas como a alma dos poetas e dos sonhadores...
Quando Nossa Senhora surgiu diante de Santa Bernardete na gruta de Massabielle, onde uma roseira brava se cobria de rosas brancas na primavera, em cada um dos pés da aparição havia uma rutilante rosa amarela. É oportuno frisar que a rosa se tornou, depois do fim do simbolismo pagão, o emblema da Virgem Maria. Esta é chamada pelos católicos de “Rosa Mística”.
Uma lenda de Sardenha conta a história de um par de namorados. Eram dois adolescentes, unidos por um grande amor. Mas certo dia o rapaz morreu. Logo em seguida, angustiada pela saudade, a moça também fechou os olhos.
Ficaram enterrados em dois túmulos, um a pouca distância do outro. Então uma roseira começou a alongar a sua haste – de onde pendia uma imperecível rosa branca – de um túmulo para outro túmulo, como se quisesse aproximar os dois jovens que a morte cruelmente tinha separado. E a rosa da haste não murchava, porque o amor verdadeiro é uma flor que nunca fenece. As pétalas da rosa branca caíam nos túmulos, sem parar, como infinitas lágrimas da cor da plumagem dos cisnes. Esse milagre só cessou quando os camponeses deixaram os dois túmulos bem juntinhos.
Ora, amigo leitor, por que estou contando estas histórias, talvez ridículas para o gosto de certas pessoas? É porque tenho alma, coração, sensibilidade, e amo as coisas belas e espirituais.
Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro “Vida, Obra e Época de Paulo Setúbal, Um Homem de Alma Ardente”, publicado pela Geração Editorial