quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Ricardo Noblat, de “O Globo”, não errou!

Leitora assídua da coluna de Ricardo Noblat, do jornal “O Globo”, a professora carioca Ana Rocha Moreira não se conforma com as críticas que ele vem sofrendo no referido matutino, por parte de uma equipe chefiada pelo Aluizio Maranhão. Leiam um trecho da carta de Ana, enviada a mim:
“Aluizio Maranhão condenou o Noblat, da sucursal de Brasília, porque ele disse no texto ‘Boa sorte, Obama!’, publicado na edição do dia 10 de novembro de 2008 de ‘O Globo’, que ‘Lula desfruta de uma popularidade de que presidente algum desfrutou”. Sublinhei o ‘desfruta de’. No entender do Aluizio e do seu grupo, a frase do Ricardo contém um vistoso erro de português, pois o verbo desfrutar, alegam eles, ‘não pede preposição’. Para o grupo o correto é assim: “desfruta uma popularidade”. Ora, volta e meia eu vejo em livros, jornais e revistas, à farta, este verbo com a preposição de. É uma regência aceita no Brasil, há dezenas de anos. Nas questões de linguagem, o uso, em casos dessa natureza, faz a regra. Concorda?”
Eu concordo professora. Basta dizer que no verbete desfrutar, inserido na página 484 do “Dicionário de usos do português do Brasil”, coordenado pelo professor Francisco S. Borba (Editora Ática, São Paulo, 2002), foram registradas estas três construções:
“...o passarinho de minha história desfruta de liberdade ampla e irrestrita.”
“O Brasil desfrutou de condições muito favoráveis.”
“O Sr. Gabriel Bernardes desfrutou de elevado conceito.”
A primeira frase é do jornal “O Popular”, de Goiânia; a segunda é do livro “Os servos da morte”, de Adonias Filho, lançado em 1965; e a terceira é do diário “Correio do Povo”, de Porto Alegre. Exemplos eloqüentes de uma regência adotada por jornais sérios e um escritor culto. Não se justifica, portanto, a crítica do Aluizio Maranhão e da sua equipe ao texto do Ricardo Noblat. Ele, Aluizio, e a tal equipe, precisam atualizar-se e deixar de agir como cegos fiscais da língua portuguesa.
Todavia, a história não acaba aqui. Mereceu mais uma censura da professora Ana Rocha Moreira a crítica irracional do Aluizio e do seu grupo a um outro texto do Ricardo Noblat, intitulado “Como jabuticaba”, aparecido na edição do dia 17 de novembro de 2008 de “O Globo”. Procedendo como um Hitler, como os ditadores do III Reich da Gramaticolândia, eles reprovaram fascistamente, nazistamente, esta construção do Noblat:
“...5% da receita do município servem para pagar os vereadores...”
Correção do Aluizio e da sua turma:
“...servem para pagar aos vereadores”...
Aluizio e o seus cupinchas não evoluíram, só aceitam, com o verbo pagar, o objeto indireto de pessoa. Esconjuram a sintaxe pagar alguém. Ora, Antonio de Moraes e Silva, no clássico “Diccionario da lingua portugueza”, cuja primeira edição é de 1813, já havia apoiado esta regência ao dar quatro exemplos:

I – Pagar as tropas.
II – Pagar os criados.
III – Pagar os trabalhadores.
IV – Pagar as dívidas.

Como observou Antenor Nascentes no livro “O problema da regência”, a primitiva transitoriedade direta do verbo pagar é que permitiu, ao nosso idioma, transformá-lo num transitivo direto, com objeto de pessoa.
Concluindo: a crítica do Aluizio Maranhão e de seus auxiliares aos textos do Ricardo Noblat não foi só injusta. Foi antes de tudo desastrosa e trouxe à nossa memória estas palavras do moralista francês Vauvenargues (1715-1747), colocadas nas “Réflexions et Maximes”:
“O erro é a noite dos espíritos e a armadilha da inocência”.
(“L’erreur est la nuit des esprits et le piège de l’innocence”).

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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do romance satírico “O grande líder”, cuja 5ª edição foi lançada pela Geração Editorial.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O gringo que veio ao Brasil para insultar Santos Dumont

Quem me chamou a atenção para o insulto, o jato de lama podre arremessado por um gringo na imagem de Santos Dumont, foi o meu amigo Emil Farhat, autor de algumas obras clássicas da moderna literatura brasileira:
- Fernando, saiu na “Folha de S. Paulo” um ataque contra Santos Dumont, feito por um jornalista norte-americano. Ele afirmou que o Pai da Aviação "não é ninguém”.
Fui logo comprar a “Folha”, pois sou um dos biógrafos do genial inventor, um dos mais belos símbolos da nossa nacionalidade, autor de “As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont”, obra que me fez ganhar dois prêmios: o diploma Pioneiros da Aeronáutica, da Fundação Santos Dumont, e o diploma e a medalha Ordem do Mérito Aeronáutico, concedidos pela Comissão de Alto Nível do Ministério da Aeronáutica, durante a gestão do brigadeiro Paulo Salema Ribeiro.
O gringo que procurou enxovalhar o imperecível Santos Dumont se chama Barth Schwartz. Eis como ele se refere ao nosso patrício: '
"Tinha um quê de obsessão e talvez de megalomania. Se Brasília não for obsessão e megalomania, então não sei o que pode ser. Se Kubitschek não foi um megalomaníaco, ninguém mais foi. E fracassou. Assim como o Brasil, e Santos Dumont".
Difamador profissional, Barth Schwartz insultou de uma só vez o presidente Juscelino Kubitschek, o Brasil e Santos Dumont, que no seu entender não passam de "três fracassos". Depois este americano arrogante ainda teve a coragem de ridicularizar a Força Aérea Brasileira, da qual Santos Dumont é patrono:
"Fui a Petrópolis e me mostraram a casa de Santos Dumont. Não pude entrar, porque havia a banda da Força Aérea, tocando em homenagem ao Pai da Aviação. Era uma banda felliniana. Todos de uniforme. Sempre que um americano vê um latíno-americano de uniforme, não o leva a sério. Todas as associações com uma república de bananas vêm à cabeça".
Na ânsia de insultar o Brasil, o grosseiro Barth Schwartz observou, referindo-se ao nosso grande inventor.
"É interessante que ele fosse brasileiro. O fracasso dele é muito brasileiro".
Portanto, na sua opinião, Santos Dumont foi um fracassado, como fracassados somos todos nós, brasileiros. Vitoriosos são os filhos do Tio Sam, que levaram uma surra monumental na guerra do Vietnã e que agora, no campo da eletrônica, da tecnologia e da indústria automobilística, estão sendo esmagados pelos japoneses...
Um fato é incontestável: Santos Dumont, em 23 de outubro de 1906, conseguiu voar com o seu 14-bis. Esse vôo foi realizado diante dos membros do Aero Clube de Paris e de uma imensa multidão. Quanto a isto não há dúvidas, e a revista “The Illustrated London News”, a mais importante da Inglaterra, informou no seu número 3.524, do dia 3 de novembro de 1906, evocando essa proeza:
"The first flight of a machine heavier than air: Santos Dumont winning the Archdeacon Prize".
("O primeiro vôo de um aparelho mais pesado que o ar: Santos Dumont ganha o Prémio Archdeacon")
Por que Barth Schwartz está enlameando a glória de Santos Dumont? É simples: ele nasceu em Dayton, no Ohio, na mesma cidadezinha dos irmãos Wright. E o vôo de ambos, segundo asseveram os ianques, ocorreu em Kitty Hawk, na Carolina do Norte, no dia 17 de dezembro de 1903. Mas até os historiadores norte-americanos da aviação duvidam desse vôo, pois David C. Cooke indaga no seu livro “Who really invented the airplane”:
"Será que os Wrights realmente voaram naquele dia, na Colina Kill Devil? E se de fato o fizeram, foram os primeiros a elevar-se nos ares com asas construídas pelo homem? Será que inventaram mesmo o avião"? .
A fúria desvairada de Barth Schwartz contra Santos Dumont, se a analisarmos de modo frio, é o ódio impotente de um gringo que foi derrotado pela verdade histórica.
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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro “As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont”, cuja 5ª edição foi lançada pela Geração Editorial.