Muitos psicólogos sustentam: ninguém é
totalmente mau e ninguém é totalmente bom. Diversos fatos históricos, todavia,
desmentem esta afirmativa.
Será possível falar em vocação para o
homicídio, como se fala a respeito de uma tendência para a música? Certas
criaturas possuem no recesso de suas almas o irrefreável desejo de matar, como
outras sentem a vontade de fazer o bem ao próximo? Já se nasce com o estigma do
crime, ou com a auréola dos santos e a nobreza dos espíritos generosos? Um
criminoso assassina por ser visceralmente mau, devido à natureza dos seus cromossomos,
e um missionário se sacrifica em prol dos nossos semelhantes porque é
visceralmente bom?
O exame frio dos fatos nos levou a esta
conclusão: muitos criminosos são mesmo perversos e tal característica independe
da cultura, da educação, dos fatores econômicos, da influência dos agentes
externos.
A perversidade, em nossa opinião, é a
principal característica da maior parte dos criminosos. Todavia, qual é a fonte
oculta dos maus instintos? Se o leitor já conhece a natureza humana, sabe como
esta é complexa, não ignora que em nosso planeta existem criaturas frias,
insensíveis, de coração duro. Não é uma filosofia barata, é a realidade. E
provamos isto com episódios da vida de certos personagens históricos.
Mohamed-Bey, um general egípcio, recebeu o
apelido de "Homem das Moscas", porque o seu divertimento predileto
era pegar os tais insetos. Certa ocasião, na hora em que se entregava a esse
passatempo, um pobre camponês foi apresentar-lhe uma queixa. Ele havia sido
roubado e espancado por um guarda. Ao ver o camponês, Mohamed esbravejou:
-Quem é este cão que ousa perturbar-me?
Levai-o ao "Juiz de paz".
Agarraram o queixoso e o colocaram na
frente do "Juiz de paz", isto é, na boca de um canhão que estava
sempre carregado. E de modo rápido, portanto, o miserável varou o espaço,
atingiu as alturas...
O episódio aqui evocado nos trouxe à
memória aquela história da rã e do escorpião.
Em certo dia de forte calor, perto do rio
Ganges, lá na Índia, uma floresta começou a arder num incêndio colossal. Zonzo,
encurralado entre o fogo e o rio, um escorpião se agitava. Nesse instante
dramático, ao ver uma rã que ia atravessar as águas, ele suplicou:
-Por favor, coloque-me nas suas costas!
O batráquio respondeu:
-Tenho medo, o seu ferrão é mortífero,
traiçoeiro.
-Ora - argumentou o escorpião - se eu a
picar, nós dois morreremos...
A rã teve de admitir:
-Sim, é verdade, então suba!
E o escorpião montou nas costas da rã. No
meio do rio, porém, ela sentiu uma dolorosa picada. A sua vista escureceu, foi
perdendo o fôlego e balbuciou estas palavras, já muito fraquinha:
-Como? Isto não faz sentido, nós dois
vamos morrer!
-Eu sei - disse o escorpião - mas esta é a
minha natureza...
Centenas ou milhares de criminosos são iguais a
este escorpião: eles matam porque as suas naturezas os impelem a violar a lei
dos homens e o quinto mandamento da lei de Deus.
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Escritor e
jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio
de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.
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