domingo, 15 de março de 2020

A NATUREZA HUMANA É ASSIM


Muitos psicólogos sustentam: ninguém é totalmente mau e ninguém é totalmente bom. Diversos fatos históricos, todavia, desmentem esta afirmativa.
Será possível falar em vocação para o homicídio, como se fala a respeito de uma tendência para a música? Certas criaturas possuem no recesso de suas almas o irrefreável desejo de matar, como outras sentem a vontade de fazer o bem ao próximo? Já se nasce com o estigma do crime, ou com a auréola dos santos e a nobreza dos espíritos generosos? Um criminoso assassina por ser visceralmente mau, devido à natureza dos seus cromossomos, e um missionário se sacrifica em prol dos nossos semelhantes porque é visceralmente bom?
O exame frio dos fatos nos levou a esta conclusão: muitos criminosos são mesmo perversos e tal característica independe da cultura, da educação, dos fatores econômicos, da influência dos agentes externos.
A perversidade, em nossa opinião, é a principal característica da maior parte dos criminosos. Todavia, qual é a fonte oculta dos maus instintos? Se o leitor já conhece a natureza humana, sabe como esta é complexa, não ignora que em nosso planeta existem criaturas frias, insensíveis, de coração duro. Não é uma filosofia barata, é a realidade. E provamos isto com episódios da vida de certos personagens históricos.
Mohamed-Bey, um general egípcio, recebeu o apelido de "Homem das Moscas", porque o seu divertimento predileto era pegar os tais insetos. Certa ocasião, na hora em que se entregava a esse passatempo, um pobre camponês foi apresentar-lhe uma queixa. Ele havia sido roubado e espancado por um guarda. Ao ver o camponês, Mohamed esbravejou:
-Quem é este cão que ousa perturbar-me? Levai-o ao "Juiz de paz".
Agarraram o queixoso e o colocaram na frente do "Juiz de paz", isto é, na boca de um canhão que estava sempre carregado. E de modo rápido, portanto, o miserável varou o espaço, atingiu as alturas...
O episódio aqui evocado nos trouxe à memória aquela história da rã e do escorpião.
Em certo dia de forte calor, perto do rio Ganges, lá na Índia, uma floresta começou a arder num incêndio colossal. Zonzo, encurralado entre o fogo e o rio, um escorpião se agitava. Nesse instante dramático, ao ver uma rã que ia atravessar as águas, ele suplicou:
-Por favor, coloque-me nas suas costas!
O batráquio respondeu:
-Tenho medo, o seu ferrão é mortífero, traiçoeiro.
-Ora - argumentou o escorpião - se eu a picar, nós dois morreremos...
A rã teve de admitir:
-Sim, é verdade, então suba!
E o escorpião montou nas costas da rã. No meio do rio, porém, ela sentiu uma dolorosa picada. A sua vista escureceu, foi perdendo o fôlego e balbuciou estas palavras, já muito fraquinha:
-Como? Isto não faz sentido, nós dois vamos morrer!
-Eu sei - disse o escorpião - mas esta é a minha natureza...
Centenas ou milhares de criminosos são iguais a este escorpião: eles matam porque as suas naturezas os impelem a violar a lei dos homens e o quinto mandamento da lei de Deus.
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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.

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