No ano
de 1955,
o eleitorado de Jaboatão,
em Pernambuco, elegeu
vereador um bode. O animal
chamava-se Cheiroso e teve
460 votos, o dobro do que necessitava um cidadão daquele município para se
eleger seu representante.
Três anos depois, candidato à Câmara
dos Vereadores de São Paulo, o rinoceronte Cacareco foi o mais votado. Em
seguida, decorridos vários anos, o macaco Tião, do Jardim Zoológico do Rio de
Janeiro, teve a sua candidatura fictícia lançada pelo também fictício PBB
(Partido Bananista Brasileiro). E há pouco tempo, no Balneário Camboriú, de
Santa Catarina, um cachorro de rua, o Sorriso, tornou-se candidato a
deputado. O seu comitê de
propaganda era dirigido pelo jornalista Nagel de Mello...
O
eleitor desses lugares, bastante desiludido com a política, fez bem em votar num bode, num rinoceronte, num
macaco e num cachorro.
Votos do protesto, da revolta.
É melhor eleger um bode do que certos
cidadãos da nossa infeliz República. Lá no Nordeste o sertanejo costuma dizer:
“Deus te
dê o que deu ao bode: catinga, barba
e bigode.”
Mas é mil
vezes preferível o fedor do bode, a sua catinga, do que o cheiro nauseabundo da alma dos nossos
políticos corruptos. Um esgoto furado não fede tanto como a alma podre desses canalhas.
É preferível
votar
num rinoceronte do que em certos fulanos
da nossa infeliz República, porque ele, o rinoceronte, mamífero de pele espessa e
dura, não sabe roubar.
Só
sabe
roncar e comer capim. Além ser muito perigoso, esse bicho nunca meteu as suas patas no orçamento federal e o lesou.
É preferível
votar num macaco do que em certos sujeitos da nossa infeliz República, porque o
macaco, se sabe brincar, guinchar, pular de
galho
em galho, comer banana, fazer caretas, por outro lado não sabe trair, mentir e apoderar-se do dinheiro
público, a fim de o esconder nos
bancos da Suíça e nos paraísos fiscais. Viva pois o macaco e as suas macaquices!
Abaixo o político
corrupto
e as suas canalhices! É
preferível votar num cachorro do que em certos políticos cachorros da nossa
infeliz Republica, porque ele, o cachorro, como disse Victor Hugo, é “a virtude
transformada em animal”, e o político corrupto é a podridão mais asquerosa transformada em gente. Aliás, chamar
um desses crápulas de cachorro equivale a xingar os cães.
A
safadeza de dezenas dos nossos políticos gerou estas palavras de Rui Barbosa:
“De
tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver
crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser
honesto.”
Quando o povo decidiu votar nos animais
evocados neste bate-papo, pelo menos não apoiou os patifes que ganharam milhões
com obras superfaturadas. Juro, amigo leitor, prefiro ouvir os berros do bode,
os bramidos do rinoceronte, os assobios do macaco, os uivos do cachorro, do que
as palavras cínicas dos nossos políticos salafrários, exímios na arte de
mentir, de enganar, de roubar, de afivelar no rosto a máscara da hipocrisia.
Os fariseus da política brasileira
falam como moralistas e agem como ladrões. Se exibissem no rosto as suas verdadeiras
naturezas - a imundice de suas almas - os nossos estômagos ficariam
embrulhados, vomitaríamos de nojo.
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