sábado, 10 de agosto de 2019

É PURA MACAQUEAÇÃO


Manchete da primeira página, na edição de 21 de agosto de 2005 da Folha de S. Paulo:
"Planalto se arma para blindar Palocci.”
Na mesma edição, em outra página, li esta manchete:
"Relator blindou PT e governo em 7 casos.”
O texto é de Kennedy Alencar, da sucursal de Brasília. E mais adiante, ainda na mesma edição da Folha de São Paulo, li na página A 18 a seguinte manchete, sob uma foto de Lula e da primeira-dama Maria Letícia:
“Governo quer blindar Palocci para tranquilizar o mercado.”
Rubens Valente e Marta Salomon, ambos também da sucursal de Brasília, são os autores do texto. Portanto, numa só edição da Folha, três manchetes com o verbo que se tornou um cacoete de vários repórteres pouco inventivos. Três! Sim, reafirmo, agora o verbo blindar assumiu o aspecto, nas matérias desses jornalistas, de teimoso cacoete linguístico. É blindar aqui e acolá, no frio ou no calor, no Norte e no Sul, em dezenas de revistas e jornais. Sempre o antipático blindar e os seus derivados blindado e blindagem. Uma coisa ridícula, cansativa, irritante. Parece inundação sem fim, que de maneira sádica afoga a nossa paciência. Quer mais provas, amigo leitor? Eu as dou. Manchete da reportagem de Ronald Freitas, na edição do dia 29 de agosto de 2005 da. revista Época:
“Blindagem trincada”
Manchete na seção de Economia, da edição de 20 de agosto de O Globo:
“Blindagem arranhada"
Manchete do Jornal do Brasil, no mesmo dia:
“Denúncia testa a blindagem”
Manchete da edição de 18 de agosto de O Globo, também na seção de Economia:
“Blindagem que vem de fora”
Sempre ficando neste ano de 2005, manchete da reportagem de Luiz Cláudio Lima, na edição de 17 de agosto da revista Veja:
“Lula reforça a blindagem”
Trecho da reportagem “Planalto para à espera de Dirceu”, de Renata Moura e Paulo de Tarso Lyra, publicada na edição de 1º de agosto do Jornal do Brasil:
"Dirceu não teria gostado de ver, pelos jornais, que o governo estaria negociando uma lista de cassações - com sua cabeça em primeiro lugar - para blindar o gabinete presidencial."
Manchete na edição do dia 17 de julho da Folha de S. Paulo:
“A verdadeira blindagem”
Manchete da reportagem de Milton F. da Rocha Filho, na edição de 25 de março de O Estado de S. Paulo:
“Mentor tenta blindar Marta com ameaça a prefeitos”
Segunda manchete da reportagem de Gerson Camarotti, na edição de 26 de fevereiro de O Globo:
“Planalto montou operação para tentar blindar o presidente de ataques.”
Mostrei apenas uma pequena parte do excesso do emprego do verbo blindar e dos seus derivados, neste ano de 2005, em nossa grande imprensa. É uma praga como o curuquerê, a lagarta que ataca as folhas e os brotos novos do algodoeiro. O verbo blindar metamorfoseou-se no curuquerê da grande imprensa brasileira.
Chega, não aguento mais, juro! Pergunto a esses jornalistas desvairadamente apaixonados pelo verbo blindar: por que não substituir este verbo muito gasto, deteriorado, pelo trivial proteger? E que tal usar proteção, em vez de blindagem? Viva a simplicidade!
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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.

Um comentário:

strunfim disse...

Continua o "blindar":

Para blindar Eduardo Bolsonaro, Rodrigo Maia não vai pautar projeto sobre nepotismo
Kim Kataguiri (DEM-SP), relator da proposta, disse que o projeto já tem apoio de deputados do Novo, do PT, PDT e PCdoB e que vai passar com folga na Comissão de Trabalho da Câmara, onde será votado na próxima semana

https://revistaforum.com.br/noticias/para-blindar-eduardo-bolsonaro-rodrigo-maia-nao-vai-pautar-projeto-sobre-nepotismo/?utm_source=notificacaopush&utm_medium=onesignal