Depois que Jânio Quadros venceu a eleição de 1954 para o governo
paulista, com 660.264 votos de diferença, contra 641.960, dados a Ademar de
Barros, quatro prostitutas, vítimas da violência de um grupo de policiais,
foram apresentar as suas queixas ao novo governador. Elas lhe disseram:
-Nóis semo prostituta.
Ex-professor de português do Colégio Dante Alighieri, o político nascido
em Mato Grosso protestou:
-“Nóis semo prostituta”, não, o correto é “nós somos prostitutas”.
Arregalando os olhos, muito espantadas, as quatro mulheres quiseram
saber:
-Puxa, intão o sinhor também é?
Vermelho, indignado, Jânio não se conteve:
-Retirem-se imediatamente!
O episódio é anedota, mas aqui ficou bem claro que Jânio Quadros
corrigiu a frase errada das quatro mulheres. Se esta frase fosse uma variante
linguística, ele não as corrigiria. Sim, porque variante linguística é uma
coisa e erro de português é outra.
Alguns professores querem ser “modernos”, “avançados”, e embora consigam
ver os clamorosos solecismos de certas frases, preferem aceitá-los. Tal atitude
faz com que eles se tornem mais simpáticos, junto dos seus alunos. É uma
estratégia.
Discordo da senhora Thaís Nicoleti de Camargo, consultora de língua
portuguesa da Folha de S.Paulo. Ela sustentou, na edição do dia 31 de outubro
de 2002 desse jornal:
“O que se considera ‘erro’, entretanto, depende do padrão tomado como
referência e está longe de ser uma questão objetiva”.
A senhora Thaís reprova quem corrige as expressões “nós vai lá” e “os
menino”. Reprova e ainda sentencia:
“Esse comportamento [o de corrigir estas expressões] não revela mais que
o desejo de afirmar uma suposta superioridade sobre os demais num mundo de
desigualdades... não falta quem se dê o direito de discriminar aqueles que
‘erram’”...
Vamos ser objetivos. Um erro de português numa frase é erro mesmo.
Corrigi-lo não é “discriminar” quem errou. O professor Pasquale Cipro Neto,
colaborador da Folha, vive corrigindo na sua seção as frases com erros de
português dos textos dos seus leitores. Eu pergunto: ele os discrimina? Sérgio
Rodrigues, na seção “Língua Viva” do Jornal do Brasil, publicada nas edições de
domingo, também adota esse método. Volto a perguntar: ele está “discriminando”
os seus leitores? Os dois desejam “afirmar uma suposta superioridade sobre os
demais num mundo de desigualdades”? Não, senhora Thaís Nicoleti de Camargo,
tanto o Pasquale como o Sérgio Rodrigues apenas pretendem, com singeleza e
modéstia, ajudar o povo brasileiro a falar de maneira correta. Eles não
aplaudem as pessoas que se expressam assim:
-Nóis vai lá nas casa dus homi pra elis integrá us livru, as roupa i us
papel.
-As moça i ais sinhora fórum gastá us dinheiru dela nas loja.
Estas duas frases não são variantes linguísticas. Construções desse tipo
mostram apenas a ignorância, a falta de cultura.
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