A
Justiça determinou: a Assembleia Legislativa de São Paulo está impedida de
pagar o auxílio-paletó, correspondente a 40 mil reais em duas parcelas, aos 94
nobres representantes do povo da terra de Rodrigues Alves.
Eu
chamava esse auxílio (por achar mais apropriado), de auxílio-cueca. Era um
salário-extra, pago no começo e no término de cada ano, a todos os senhores
deputados do Legislativo paulista (o qual se caracteriza pela imensa
austeridade), poderem comprar roupas novas, camisas, gravatas, paletós, calças,
meias, e principalmente, acredito, lindas e cheirosas cuecas de seda, de cor
marrom (da cor das fezes), ou azul, ou vermelha, ou cor-de-rosa gay, ou
verdes-e-amarelas, como prova indiscutível de berrante patriotismo, de
demagógoca paixão pelo Brasil...
Em
sentença de oito páginas, o meritíssimo juiz Luís Fernando Camargo de Barros
Vidal, da 3ª Vara da Fazenda Pública da capital paulista, acolheu a ação civil
do Ministério Público Estadual e impôs, ao Poder Legislativo, o corte da verba
que é denominada “ajuda de custo”, também conhecida como “verba de enxoval”.
A
ação para eliminar o auxílio-cueca tornou-se uma iniciativa, em 2011, dos
promotores Saad Mazloum e Sílvio Antônio Marques, membros da Promotoria de
Justiça do Patrimônio Público e Social, braço do Ministério Público cujo escopo
é realizar investigações sobre atos de desmandos, de corrupção, de improbidade
administrativa.
O
auxílio-cueca foi previsto no artigo 1º da Lei 11.328, de 2002, e no artigo 88
do Regimento Interno da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, mas os
promotores Saad e Sílvio, na ação, mostraram a inconstitucionalidade da
vantagem instituída. Além de violar o artigo 18 da Constituição do Estado, no
entender de ambos, o auxílio-cueca “feria de morte a moralidade”.
Após
esse “humanitário” auxílio ter sido suspenso, o deputado Barros Munhoz, do
PSDB, presidente da Assembleia, declarou de modo firme, sob o domínio de uma
raiva mal disfarçada:
“Não
enxergo problemas no benefício. Existem coisas muito mais imorais em outras
instituições do nosso país. O auxílio é legal, é claro, é transparente, sem
nada de errado”.
Sua
excelência se expressou de forma infeliz, porque salientou que há coisas mais
imorais em nossa pátria. Ora, então eu pergunto: o auxílio-cueca, por ser
“menos imoral”, deixa de ser imoral?
Juro,
amigo leitor, eu compreendo a oculta indignação do deputado Barros Munhoz. E
sinto enorme pena dos seus 93 colegas da Assembleia Legislativa de São Paulo,
pois cada um deles, pobrezinhos, só conta, todos os meses, com o auxílio
moradia de 2.250 reais; com o curto salário de 20 mil reais; com os ridículos
23 mil reais para certos gastos, como Correios, gasolina e compra de jornais;
com a miséria de apenas 94 mil reais mensais, destinados à verba de gabinete,
ao pagamento dos pouquíssimos 32 assessores de cada um...
Vejam
agora os milhões e milhões de reais que os 94 parlamentares de São Paulo custam
aos cofres públicos. Só o auxílio-cueca custava, todos os anos, mais de 3
milhões de reais a esses cofres.
Reprovo
a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo por ter decidido não recorrer
da sentença judicial que acabou com o poético auxílio. Tal medida, tomada pela
Mesa Diretora, teve o respaldo unânime dos líderes de todos partidos.
Deputado
Barros Munhoz e demais parlamentares, eu sustento: os senhores foram duros,
insensíveis, maus, pelo fato de não contestarem o fim do abnegado
auxílio-cueca, pois causaram uma grande mágoa às perfumadas cuecas paulistas de
seda. As coitadinhas estão infelizes, pesarosas, chorando. Elas sentiam tanto
orgulho em resguardar as vossas bem nutridas bundas! Quem as consolará, quem? O
Paulo Salim Maluf? O prefeito João Izael, de Itabira, que sofre de bibliofobia
aguda?
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