domingo, 17 de março de 2019

“Toninho Malvadeza” assustava e apavorava

Prefeito de Salvador em 1967, no tempo do governador Luiz Viana Filho, o Antônio Carlos desfechou um tiro num amigo do general João Costa, o vereador Antonino Casaes, mais conhecido pelo apelido de  “Chuteirinha”. Isto aconteceu no Fórum Rui Barbosa. Deu o tiro e acertou. Alguns dizem que a bala do “Toninho” se alojou numa das nádegas do “Chuteirinha”, e outros garantem que não se cravou nas nádegas e sim nos seus testículos...
Cinco jornalistas, Rui Xavier, Ancelmo Góis, Maurício Dias, Marcelo Pontes e Miriam Leitão, ouviram o próprio Antônio Carlos Magalhães descrever todos os seus conflitos. Registraram o depoimento do “Toninho” no livro Política é paixão, lançado em 1995 pela Editora Revan.
Sebastião Nery, no livro Folclore político 2 (Editora Record, Rio de Janeiro, 1976, páginas 53 e 54), narra a conversa telefônica entre o senador Rui Santos, vice-líder da ARENA, e o “Toninho Malvadeza”, quando este era governador da Bahia. O Rui ouviu a voz do governador em Brasília e o “Toninho” advertiu, com dois amigos-testemunhas dentro do seu gabinete:
-Senador, dou-lhe um prazo final para o senho parar de andar fazendo intrigas contra mim, conversinhas, fuxicos, batendo língua nos gabinetes e apartamentos.
Rui Santos contestou, sustentando que ele, no dia anterior, havia elogiado o “Toninho” diante de “uma alta personalidade”. “Toninho” não se rendeu:
-Eu soube. Foi com o ministro Leitão de Abreu. Até nisso o senhor é mesmo o senhor. Como não tem caráter e sabe que o ministro Leitão de Abreu não gosta de conversa fiada e o repeliria, o senhor falou bem de mim, me elogiou. Mas saiu de lá e continuou intrigando pelos cantos.
Sentindo-se acuado, o senador disse que o Antônio Carlos não poderia provar isto. Contudo, o “Toninho” se manteve firme: podia sim, e além do mais tinha em suas mãos documentos bancários comprometedores, entregues pelos ministros Miguel Calmon e Edgar Santos. Se o senador continuasse a falar mal dele, “Toninho”, os tais documentos seriam divulgados.
Depois de expelir esta ameaça, conta o Sebastião Nery, o governador da Bahia declarou ao senador que o general Juracy Magalhães lhe dissera que ele, Rui Santos, estava esclerosado. Sereno, impávido, após ser presenteado com todas essas amabilidades, o senador pediu licença para desligar o telefone, pois o “Toninho” o havia tirado de em almoço bem agradável para ouvir uma conversa muito desagradável. O governador replicou:
-Muito mais desagradável, senador, é a sua má língua. Até outra oportunidade.
Vejam, o Antônio Carlos Magalhães, além de estar sempre bem informado, conhecia todos os “podres” de vários figurões da nossa vida pública e fez desse conhecimento uma aniquiladora arma política. Arma que o ajudou a se transformar, antes de sua renúnica ao cargo de senador, no mais temido político brasileiro de sua época.
Dono de arguta inteligência e de apurado senso psicológico, Antônio Carlos Magalhães logo resolveu tirar proveito da sua imagem de “cabra macho”. Imagem capaz de impressionar a mídia, os políticos, a opinião pública e o sofrido e injustiçado povo nordestino, cheio de energias primitivas.
Antônio Carlos cometeu o maior erro de sua vida no ano 2001. Foi mal calculado o seu plano de querer derrubar o senador Jader Barbalho. Ele raciocinou assim: “se eu impedir que o Jader seja o meu sucessor, na presidência do Senado, vou provar como sou o político mais forte do Brasil”. Com tal objetivo, o ACM chegou a mandar imprimir um livro onde há uma vasta documentação contra o ex-governador do Pará, mas o tiro saiu pela culatra. Jader tornou-se o presidente do Senado.

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